“A gestão de dados e a tecnologia a serviço da primeira infância”
foi o tema do 2º webinar temático realizado na terça-feira (1/9) para gestores públicos e equipes das 11 cidades que integram a Rede Brasileira para a Primeira Infância Urban95. Cerca de 100 pessoas estiveram no encontro online com Filipe Rocha, consultor de Sistemas de Monitoramento para Primeira Infância da Fundação Van Leer e pesquisador na área de integração de dados da Unicamp e Data Protection Officer.
A Rede Nossa São Paulo (RNSP), iniciativa do Instituto Cidades Sustentáveis que coordena a Urban95 no Brasil, também apresentou sua trajetória e experiência no trabalho com dados relacionados à primeira infância – como os 130 indicadores reunidos no Observatório da Primeira Infância e o Mapa da Desigualdade da Primeira Infância, que teve sua primeira edição em 2017. “Esse instrumento mostra onde precisamos investir na infância, quais são as regiões que, de fato, devem ser priorizadas pelo orçamento municipal”, afirma Carolina Guimarães, coordenadora da RNSP.
Para introduzir o tema, Rocha observou que, ao tratar de assuntos relacionados à primeira infância na cidade, seja na perspectiva dos dados ou na gestão de indicadores, é preciso pensar além dos parquinhos, das escolas ou das creches.
“A primeira infância está muito ligada aos desafios da vida urbana: espaço públicos, serviços e mobilidade”, explica.
“Além disso, há um componente muito importante que é a tomada de decisão baseada em dados”.
A partir disso, Rocha conta que a gestão de dados propicia ações assertivas e direciona para decisões estratégicas. O propósito dos indicadores é conseguir compreender a cidade e planejá-la para a primeira infância.
“Temos que pensar a partir de diversas perspectivas: do serviço que se oferece ao próprio planejamento que a cidade tem que desenvolver”, aponta.
Na prática, os dados devem gerar transformação e, por isso, é necessário divulgá-los em uma linguagem mais simples. Dessa forma, qualquer pessoa, seja quem está na linha de frente do atendimento ao público ou quem planeja as ações, seja a gestão pública ou o terceiro setor, pode agir diante de determinada constatação por meio de indicadores.
“Todas as vezes que traduzimos dados e informações, geramos indicadores. E, se eles não forem utilizados pelo poder público, não vamos conseguir atingir melhorias de fato, impactar a primeira infância”, afirma.
A cultura de dados é uma peça que falta para avançarmos na construção de políticas públicas mais justas e inclusivas para a primeira infância. E é preciso mais do que tecnologia para isso.
“É necessário mudar mentalidades, atitudes e hábitos, incorporando os dados na identidade da gestão”, conta.
Filipe Rocha destaca ainda que o mais importante no processo de implementação da cultura de dados é fazer as pessoas compreenderem o sistema que os coletam e acreditem na informação. Para isso, a gestão (desde o agente comunitário até o prefeito ou prefeita) precisa permitir que as pessoas participem da implantação de indicadores.
O êxito está na transparência, na colaboração e na abertura de dados. Quando todos podem participar de forma colaborativa da coleta de algum dado, é possível se aproximar mais da realidade da cidade, que é dinâmica e se transforma diariamente.
“Todo dia você tem novos buracos na via, calçadas sendo estragadas, entulhos sendo colocados em lugares indevidos. A cidade é viva. Acreditar que a prefeitura vai conseguir ter todos os dados, sem colaboração, apenas com uma equipe interna, está fadado ao fracasso”, complementa Rocha.
A Rede Urban95 é uma iniciativa da Fundação Bernard van Leer e do Instituto Cidades Sustentáveis, reunindo 14 cidades com o objetivo comum de desenvolver e fortalecer programas e políticas para crianças de 0 a 6 anos de idade. Recentemente, integraram a Rede as seguintes cidades: Aracaju (SE), Brasiléia (AC), Campinas (SP), Caruaru (PE), Crato (CE), Fortaleza (CE), Ilhéus (BA), Jundiaí (SP), Niterói (RJ), Pelotas (RS) e Ubiratã (PR).
A iniciativa visa estimular os municípios a incorporarem, no planejamento e na gestão, o foco no desenvolvimento da primeira infância, a partir de ações e políticas públicas efetivas neste campo. Esse workshop foi o segundo de uma série de capacitações do programa.