Caminhos da Primeira Infância em Boa Vista
Imagine uma região da cidade em que a circulação de pedestres – principalmente crianças, cuidadores e pessoas grávidas – seja prioridade, em que a conexão com equipamentos públicos seja fácil e segura e que haja espaço apropriado para brincar ao ar livre. Estas são algumas características que definem uma zona prioritária para a primeira infância. O primeiro projeto de uma zona prioritária para a primeira infância em uma cidade da Rede Urban95 no Brasil foi realizado em Boa Vista (RR), com apoio do Ateliê Navio.
Andreia Neres, secretária de projetos especiais de Boa Vista, destaca que foi a partir da parceria com a iniciativa Urban95 que se ampliou a visão sobre a importância de trabalhar políticas públicas voltadas para a primeira infância não apenas nos serviços oferecidos, mas no próprio espaço urbano. “Tivemos também suporte tecnológico para que pudéssemos melhorar a nossa gestão de dados para tomada de decisões”, conta.
A partir do georreferenciamento dos dados de concentração de bebês e gestantes em Boa Vista, tomou-se a decisão de que o bairro Nova Cidade seria o primeiro a receber a intervenção. O projeto de qualificação conecta a praça Nova Cidade, que foi renovada, um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), três escolas municipais, uma escola estadual, uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e três creches.

O ponto de partida para a implantação de uma zona prioritária para a primeira infância é sempre um equipamento público. A partir desse equipamento, analisam-se quais outros serviços ou atividades são realizados com frequência na região, a fim de qualificar os caminhos que são mais percorridos a pé por cuidadores e crianças.
Do diagnóstico à implantação
O Ateliê Navio iniciou o apoio técnico do projeto em 2018, trabalhando no diagnóstico dos percursos mais realizados no bairro Nova Cidade pelas pessoas gestantes e pelas famílias com bebês: por quais ruas mais circulavam e como eram as fachadas dos equipamentos como posto de saúde e creches. Foram identificadas, ainda, a localização de praças, brinquedos, espaços de sombreamento e de oportunidades de contato com a natureza.
O bairro tinha ruas de terra e, na proposta de pavimentação, tomou-se o cuidado para que o asfalto não tivesse mais prioridade do que a calçada.
Com isso, a proposta contemplou espaços para as pessoas, com foco na caminhabilidade: calçadas boas com acessibilidade, elementos lúdicos no percurso, travessias seguras e velocidade reduzida próximas aos equipamentos.

A prefeitura ficou responsável pelo desenvolvimento do projeto e garantiu, entre um equipamento e outro, pinturas nos pisos e nos muros, que demarcam os caminhos e, ao mesmo tempo, incentivam brincadeiras e promovem interação e estímulo para as crianças.
As praças também foram qualificadas para receber melhor a primeiríssima infância. “Este é um desafio em muitos projetos: os equipamentos tradicionais de lazer normalmente servem crianças de 7 anos para cima, e é preciso pensar em espaços adequados para cuidadores e bebês”, relata Ursula Troncoso, do Ateliê Navio. As diretrizes para as praças priorizaram arborização, brinquedos e brincadeiras com água – pensando também no clima da região.
Na segunda fase do projeto, iniciada em 2023, a seleção dos novos caminhos ficou sob responsabilidade de um comitê intersetorial, levando em conta as conexões entre os equipamentos e incentivando a proximidade de espaços verdes e de áreas de caminhada mais confortáveis. Um outro desejo da cidade é aumentar os espaços de contato com a natureza nas zonas prioritárias, como as praças naturalizadas.
