Cirandas Formativas sensibilizam profissionais para a pauta da primeira infância
Para implementar, monitorar e garantir a continuidade de políticas públicas de primeira infância, profissionais de diferentes hierarquias – da alta gestão aos profissionais que lidam diretamente com o público-alvo – precisam estar conceitualmente alinhados e engajados com relação à pauta. Para isso, é fundamental ofertar ações de sensibilização e formação para gestores e servidores de diferentes áreas e também para a sociedade.
Seja por meio de cursos, oficinas, rodas de conversa ou campanhas de comunicação, essas iniciativas permitem que as equipes técnicas se mantenham atualizadas, motivadas e confiantes para seguir com esse compromisso, e que a população esteja informada para demandar do poder público o cumprimento dos direitos de bebês, crianças pequenas e seus cuidadores. Um exemplo são as Cirandas Formativas, organizadas pelo CECIP dentro da iniciativa Urban95.
Cirandas em Sobral
A primeira Ciranda Formativa promovida pela Urban95 aconteceu em 2021, no município de Sobral (CE). Na cidade cearense, o objetivo das cirandas foi sensibilizar técnicos e gestores, além de alinhar todos na pauta da primeira infância, tornando-a prioridade nas políticas do município.
Cerca de 230 profissionais de sete secretarias participaram de oito encontros temáticos mensais. A coordenação geral ficou a cargo da Secretaria de Direitos Humanos e Assistência Social (Sedhas), que articulou a participação das demais pastas na organização das atividades de cada encontro.
As reuniões ocorreram de forma híbrida: as equipes se reuniam presencialmente para acompanhar, juntas, a palestra do especialista, realizada de modo virtual. Após a participação dos convidados e a apresentação de conteúdos, havia atividades de discussão e trabalho em subgrupos dentro do tema apresentado.
As Cirandas foram fundamentais para alinhar conhecimentos e fortalecer a integração entre as secretarias de Sobral. Na avaliação realizada ao fim dos encontros, 90% dos participantes afirmaram que a formação ampliou seus conhecimentos sobre a primeira infância e 92%, que contribuiu para a consolidação da intersetorialidade. Antes de participar do ciclo formativo, apenas 31% afirmavam ser capazes de explicar a importância da primeira infância. Após participarem dos encontros, esse número subiu para 68%.
O formato que Sobral adotou, de um encontro por mês e oito encontros no total, funcionou para a cidade, mas outros municípios podem adotar organizações distintas. Algumas orientações, no entanto, são essenciais para ter bons resultados. Uma delas é garantir a presença de secretários, gestores e técnicos de todas as áreas e de diversos níveis hierárquicos, para alinhar o conhecimento e consolidar a visão da gestão pública sobre a primeira infância. “Todos os profissionais – do gestor a quem trabalha diretamente com as crianças – devem entender os conceitos e pensar como sua atuação agrega às outras áreas e como é possível trabalhar junto para fazer uma política pública mais robusta”, afirma Rafaela Pacola, responsável por coordenar as Cirandas Formativas no CECIP.
Cirandas pelas cidades
Nos anos seguintes, as Cirandas Formativas chegaram a outras cidades, com outros formatos – Benevides (PA), Boa Vista (RR), Campinas (SP), Canoas (RS), Caruaru (PE), Cascavel (PR), Colinas (RS), Crato (CE), Pelotas (RS), Salvador (BA) e Teresina (PI) realizaram a formação. Ao todo, quase mil pessoas já participaram da iniciativa nesses municípios.

Os encontros das Cirandas Formativas são uma oportunidade de as equipes de diferentes pastas se encontrarem presencialmente para discutir o trabalho que está sendo realizado sobre a primeira infância. Antes ou depois da palestra realizada por um especialista, sugere-se que os participantes se reúnam em atividades de compartilhamento de informações.
O primeiro momento formativo nas cidades, em geral, acontece com a presença do(a) prefeito(a) e de secretários. Além disso, cada secretaria assume a condução de um encontro cujo tema tenha relação com sua prática. Ao final, um certificado é entregue, o que torna a participação mais efetiva.
Garantir que haja temas variados entre os encontros faz com que diferentes áreas percebam sua influência no desenvolvimento integral das crianças. Entre os temas já abordados, estão: diversidade, inovação dos serviços, educação não violenta, a criança e a cidade, desemparedamento das infâncias e a criança como produtora cultural.
Provocar mudanças de comportamento não é algo que acontece com apenas uma ação. É preciso de várias. É uma conquista contínua e com o máximo de frentes possíveis.
Paula Perim, diretora de Sensibilização da Sociedade da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.
Comunicação para a primeira infância
Além de sensibilizar e formar gestores e servidores, é crucial para as cidades incluir a população nas estratégias de divulgação de conteúdo, para que ela possa demandar políticas públicas eficazes. A equipe de comunicação do município, assim, desempenha um papel fundamental na sensibilização e formação tanto da gestão pública quanto da sociedade. “Essa sensibilização é importante para que as pessoas entendam os direitos da primeira infância”, explica Paula Perim, diretora de Sensibilização da Sociedade da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.
Paula recomenda estratégias como o trabalho com redes sociais e influenciadores que falem sobre o tema, o engajamento da mídia local para a cobertura de eventos, audiências e inauguração de projetos, e até a formação de jornalistas no tema, para que eles considerem a perspectiva da primeira infância em suas pautas cotidianas.
Outra estratégia é a produção de materiais informativos. A cidade de Sobral (CE), por exemplo, produziu um guia resumido do Plano Municipal pela Primeira Infância (PMPI), para apoiar na divulgação das metas do documento para as equipes internas e para a sociedade civil, e fez um mapa-cartilha com o Plano de Bairro Amigável à Primeira Infância (P.BAPI) do Sumaré.