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13.07.2025

Fortalecimento de vínculos e a primeira infância em Cascavel

Parte da iniciativa Urban95 desde 2021, o município paranaense de Cascavel é conhecido por implementar de forma pioneira e em ampla escala o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora – medida de proteção que organiza o cuidado de crianças e adolescentes afastados temporariamente de suas famílias em residências de famílias acolhedoras selecionadas, capacitadas e acompanhadas para cumprir tal função.

Apesar de ser uma política pública de referência e considerada prioritária, o município entendeu que era preciso investir mais em prevenção, assegurando às crianças o direito de conviver com suas famílias e, com esse foco, iniciou em 2021 ações para reforçar a oferta de atividades de fortalecimento de vínculo em famílias com crianças na primeira infância, potencializando o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF) já ofertado nos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) já ofertado nos Centros de Convivência Intergeracional (CCIs), e dando ênfase na primeira infância. “Na época, foi preciso uma mudança de pensamento, pois o atendimento à primeira infância era pequeno, e as técnicas tinham insegurança sobre que tipo de atividade ofertar, ou quais materiais utilizar”, explica Poliana Lauther, assistente social e supervisora de equipes na Secretaria de Assistência Social de Cascavel.

Após a aplicação de um projeto piloto com foco no aumento e na qualificação de atividades para a primeira infância nos CRAS e CCIs, o projeto ganhou escala, entrou na agenda de atendimentos da proteção básica e hoje dá assistência a quatrocentas famílias tanto nas nove unidades de CRAS quanto nos sete CCIs da cidade.

Como parte da institucionalização do programa, ele entrou no Plano Municipal pela Primeira Infância 2022-2032 de Cascavel. Foto: Paulo Edison
Com o aumento da oferta de atividades, o número de crianças de 0 a 6 anos que frequentam as ações dos Centros de Convivência Intergeracional (CCIs) cresceu de 46 em 2019 para 637 em 2023.

No início, dez crianças eram atendidas em um dos Centros de Convivência e sessenta gestantes eram atendidas em grupos que aconteciam em nove unidades socioassistenciais selecionadas para o projeto piloto, que durou seis meses. Para a elaboração e a implementação do projeto piloto, o município contou com a consultoria do CECIP, que acompanhou semanalmente as atividades, e uma formação sobre o brincar livre com o Descobrir Brincando.

Foi implementada, ainda, a primeira Bebeteca em Cascavel, um espaço com livros, brinquedos e mobiliários pensados especialmente para favorecer a autonomia dos bebês. A Bebeteca também recebe reuniões e encontros com cuidadores, sendo um espaço de escuta e acolhimento das suas necessidades. Com os resultados positivos do projeto piloto em um CCI, o município licitou a instalação de Bebetecas nas dezesseis unidades de CRAS e CCIs.

Em Cascavel (PR), a primeira Bebeteca foi instalada como um projeto piloto em um CCI, com atividades periódicas para famílias com bebês. Foto: Paulo Edison

As atividades abriram espaço para crianças e famílias que antes estavam invisíveis. “São famílias em que as violências não eram identificadas e que estavam em alto grau de vulnerabilidade. Conseguimos acolher nos grupos e promover encaminhamentos para outras políticas de transferência ou geração de renda, de saúde, tornando-as mais protetivas para as crianças. É um caminho importante que já trilhamos”, afirma Poliana.

Nas unidades de CRAS que ofertam o PAIF, o atendimento foi dividido para três públicos:

Grupo “Gestar e Construir”

Para pessoas gestantes: oferece um espaço de acolhimento, trocas e informações sobre gestação e o desenvolvimento da parentalidade e dos cuidados com o bebê, além de garantir a participação no programa Beberço, que oferece um kit enxoval para o novo membro da família.

Grupo “Primeiros Passos”

Para bebês de 0 a 3 anos e seus cuidadores: ocorre nas Bebetecas, espaços de brincar livre com equipes preparadas para fazer atividades e rodas com troca de experiências entre as famílias.

Grupo “Universo da Criança”

Para crianças entre 3 e 6 anos: oferece atividades e brincadeiras que estimulam o seu desenvolvimento e o vínculo entre elas. Fonte: Prefeitura de Cascavel

Participação dos homens nas tarefas de cuidado

Desde novembro de 2023, Cascavel deu um passo a mais nesse atendimento: percebendo que o público das atividades era só de mulheres, iniciou uma estratégia de mudança de comportamento chamada FamiliAção, que envolve os cuidadores homens na rede de cuidado.

Para isso, os chamados para as atividades são direcionados a eles, as atividades foram reorganizadas em horários alternativos e foram desenvolvidos jogos e tarefas para serem feitas com as crianças, como a leitura de um livro das emoções. “Estruturalmente, coloca-se a responsabilidade do bem-estar da família e da criança na mulher, que precisa buscar ajuda, interromper a violência, mudar o comportamento dela e o dos homens. A sobrecarga fica clara, por isso é preciso cuidar delas também e mostrar aos homens como eles podem participar”, explica Poliana.

História de vida: estratégia de fortalecimento de vínculo

Como parte da estratégia de fortalecimento de vínculo, foi desenvolvido, também, o álbum “Nossa História – da gestação aos dois anos, os primeiros 1000 dias do bebê”, para ajudar a família a registrar os primeiros momentos da vida da criança. Páginas temáticas têm espaços para serem preenchidos a partir da experiência, informações e memórias de cada família. O material traz sugestões e dicas sobre paternidade positiva, redes de apoio, educação não violenta, brincar livre e na natureza, o uso dos espaços urbanos, amamentação, vacinação e direitos da gestante, da família e do bebê.

Além de fomentar a conexão entre cuidadores e bebês por meio da construção da história e da identidade da nova família, o álbum abre janelas de diálogo entre técnicos e cuidadores: em Cascavel, o álbum está sendo utilizado pelas equipes dos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) e dos Centros de Convivência Intergeracional (CCIs) como um instrumento na hora de desenvolver ações com bebês, famílias e cuidadores.

Fortalecimento de vínculos e primeira infância

Tempo de atuação: Desde 2021.

Público-alvo: Gestantes, pais, bebês, crianças pequenas até os 6 anos.

Secretarias envolvidas: Secretaria de Assistência Social.

Etapas percorridas: 1. Sensibilização das equipes e compreensão da oferta das atividades para a primeira infância > 2. Levantamento de dados do Cadastro Único e Programa Bolsa Família e identificação de famílias com crianças na primeira infância > 3. Organização dos espaços e planejamento das atividades > 4. Execução dos grupos do SCFV e do PAIF em turnos de até 1h30 > 5. Avaliação do projeto piloto > 6. Licitação de espaços de Bebeteca para dezesseis equipamentos (CRAS e CCIs) > 7. Escala do projeto para dezesseis equipamentos da rede de assistência social > 8. Monitoramento e avaliação do programa.