Programa Escola Inovadora, em Jundiaí
Práticas de brincar livre e em contato com a natureza, que fazem sentido para as crianças pequenas e entrelaçam a escola com o território e com a comunidade: este é um dos principais pontos do currículo de educação infantil de Jundiaí (SP). Quando a pedagoga Vastí Ferrari assumiu o cargo de gestora na Unidade de Gestão de Educação, em 2017, ela estava inspirada com as recentes visitas técnicas a experiências pedagógicas de desemparedamento na Alemanha e Holanda. O município, então, começou a tessitura do programa Escola Inovadora que, em 2018, recebeu apoio de parceiros como a Fundação Van Leer e o Instituto Alana.
Em sua primeira etapa de implementação, o programa ofertou uma carta de serviços às escolas, com vivências e formações em diferentes áreas de conhecimento – se a unidade quisesse implantar uma horta, por exemplo, elas podiam acessar o Vale Verde, um espaço de horta em grande escala que abastece as escolas na alimentação, com mudas de hortaliças e legumes; se quisesse inserir práticas tecnológicas, podiam acessar o FAB Lab, um laboratório maker, entre outras opções. Durante o mesmo período, mais de 600 profissionais se debruçaram na elaboração do Currículo Jundiaiense, enquanto várias escolas passaram por uma revitalização dos espaços, tornando-os ambientes de aprendizagem, incluindo obras para acomodar práticas de aula nos pátios.
A aprendizagem ao ar livre é o cerne do programa, refletido tanto na prática pedagógica — com tempo para que as crianças se aventurem e brinquem ao ar livre — quanto no esverdeamento dos espaços educativos, com a arborização, requalificação de pátios escolares e a criação de hortas e pomares, que desempenham um papel ativo na composição de uma merenda integral saudável.
Passo a passo da implementação de projetos
As hortas escolares são um bom exemplo de como a tríade ambiência, formação continuada e desemparedamento funciona. Ante a perspectiva da instalação da horta, faz-se uma grande formação, incluindo uma visita ao Vale Verde, espaço onde é feito o plantio e a distribuição de alimentos que vão para as merendas, além de projetos de PANCs e de mel produzido por abelhas sem ferrão. Mostra-se numa grande escala como se produz uma horta, e como a produção desse espaço, em conjunto com a criança, ativa saberes e aprendizagens relacionadas ao currículo.
Munidos de conhecimentos – e plantas! – é chegada a hora de construir a horta. Ela precisa ser acessível, com rampas para cadeirantes. Também precisa ter espaço para atividades pedagógicas que aconteceriam dentro da sala de aula, mas que podem acontecer ali, ao ar livre. Crianças desenham o que desejam para a horta e participam de sua criação e manutenção. Quando verduras e legumes estão maduros, é hora de ir para a cozinha, experimentar receitas e elaborar a merenda.
Este conhecimento extrapola os muros da escola e chega às casas. “As famílias passam a ter uma alimentação mais saudável. Elas contam que crianças que não comiam legumes hoje pedem cenoura, rabanete, beterraba... Elas experimentaram os alimentos de maneira lúdica e tranquila, sem obrigações, testando como gostam de comer”, relata Tânia Gurgel, gestora adjunta da Unidade de Gestão de Educação de Jundiaí. O currículo da Educação Infantil das escolas incentiva a conexão com os quatro elementos: terra, água, ar e fogo. Em 2023, a professora Gabriela Lima e Silva, da EMEB Profª Angela Rinaldi Bagne, estruturou, juntamente com a equipe escolar, contextos promotores de aprendizagem nos espaços externos da escola, voltados para esses quatro elementos.
Para o elemento terra, puderam plantar e manejar suculentas e girassóis em um canteiro preparado com a participação das próprias crianças e também se esbaldaram na areia dentro de um barco de madeira. No elemento água, elas brincaram com borrifadores. Para o ar, as atividades iam desde brincadeiras de bolha de sabão até soltar pipa. O fogo era o favorito das crianças: elas buscavam galhos para acender uma fogueira e, nela, assaram banana, milho e abacaxi.

“As crianças ao ar livre se sentem mais calmas”, conta Gabriela. “O espaço fechado cansa, traz agitação e choro. No espaço aberto, elas podem correr, se mexer, a imaginação vai longe, vem a calmaria, o choro diminui e elas se concentram. Pode até parecer perigoso mexer numa fogueira, mas elas têm noção do limite, respeitam o espaço, entendem até aonde podem ir”.
Tudo isso conectado com os campos de experiência da Educação Infantil preconizados pela BNCC. “As atividades ao ar livre perpassam os cinco campos de experiência e garantem os seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento”, explica Cristiane Kramer, coordenadora pedagógica da EMEB Profª Angela Rinaldi Bagne.
Ao explorar o ambiente natural, por exemplo, as crianças desenvolvem consciência sobre si, os outros e sobre a interação com o meio ambiente. Ao correr, pular, escalar, rolar, subir, descer, pendurar, escorregar, desenvolvem consciência corporal. “Essas brincadeiras também favorecem o desenvolvimento da colaboração e empatia, ao compartilhar experiências e interagir com a natureza”, conta Cristiane, que complementa: “Elas exploram texturas, cores, formas, sons e odores; percebem diferentes medidas e quantidades enchendo e esvaziando recipientes com elementos da natureza, e compreendem processos de transformação, como o crescimento das plantas”.
Os três pilares do programa Escola Inovadora
Formação dos educadores
Educadores de educação infantil são partícipes da construção do currículo e dispõem de tempo e apoio para processos formativos sobre práticas inovadoras, especialmente por meio da metodologia do Desemparedamento da Escola. São mais de duas mil horas de formação por ano.
Qualidade do Ensino
De materiais não estruturados a aulas de inglês, o uso de tecnologias para investigação e pesquisa, jogos e projetos são parametrizados em favor das aprendizagens. Metas e avaliações auxiliam os educadores da rede a entender o desenvolvimento de cada criança, de toda a turma e da escola buscando as melhores estratégias.
Ambiência
Tudo que existe no espaço é planejado para favorecer o desenvolvimento de competências inerentes à primeira infância, estimular a criatividade e o aprendizado e facilitar o brincar livre dentro e fora da sala de aula. Fonte: Prefeitura de Jundiaí
Escola Inovadora
Local de implementação: Todas as 103 escolas da rede de ensino municipal de Jundiaí (SP), desde a Educação Infantil até a Educação de Jovens e Adultos.
Tempo de atuação: Desde 2018.
Secretarias envolvidas: Unidade de Gestão de Educação (UGE).
Objetivo: O desenvolvimento integral dos estudantes da rede municipal de ensino, com foco em três eixos: ambiência escolar, formação dos educadores e qualidade do ensino.
Público-alvo: Estudantes da rede municipal de ensino, educadores, comunidade escolar, gestores.
Etapas percorridas: 1. Definição dos objetivos, eixos de atuação e estratégias > 2. Formalização por lei (9.059/2018) > 3. Plano Plurianual (PPA) > 4. Criação de ambientes escolares planejados, com ênfase na ocupação dos espaços externos e no conceito de desemparedamento > 5. Capacitação contínua dos educadores, com a implementação de recursos para aulas síncronas e assíncronas > 6. Lives para formação durante a pandemia de Covid-19 > 7. Melhoria do material didático > 8. Adaptação durante a pandemia > 9. Monitoramento com foco nos resultados de aprendizagem > 10. Resultados e projeções > 11. Criação do Centro Internacional de Estudos, Memória e Pesquisas da Infância (Ciempi).