Urban 95

Há mais de duas décadas, o Trevo de Quatro Folhas se destaca como uma jornada na promoção da saúde da primeira infância em Sobral (CE). O programa busca aprimorar a qualidade da atenção a gestantes, puérperas, bebês e crianças pequenas, assegurando apoio social, psicológico e clínico durante o ciclo que vai da gestação aos primeiros dois anos de vida da criança.

Criado em 2001, o Trevo de Quatro Folhas é uma iniciativa da Secretaria de Saúde que, na época, identificou uma série de problemas que contribuíam para os altos índices de mortalidade materno-infantil da cidade. Muitas mulheres apresentavam dificuldades em seguir as instruções médicas, principalmente nos casos que exigiam repouso absoluto, faltavam às consultas e exames pré-natais, por não terem com quem deixar seus outros filhos, ou paravam de amamentar antes do tempo, por precisarem retomar a rotina. Os problemas se agravavam conforme o grau de vulnerabilidade social das famílias.

Em 2010, o Trevo de Quatro Folhas foi regulamentado pela Lei Municipal 1041, consolidando-se como uma política pública da cidade. Ele é dividido em seis frentes de atuação — algumas, inclusive, se desenvolvendo em projetos específicos dentro do Trevo.

Resultados

Ao longo de mais de vinte anos, o Trevo de Quatro Folhas revolucionou a atenção materno infantil de Sobral. Um dos principais resultados foi a redução da taxa de mortalidade infantil.

No ano de criação do programa, em 2001, a cidade registrou 56 mortes infantis a cada mil nascimentos. Em 2020, esse número caiu 62,5%, chegando a 21 mortes infantis a cada mil nascimentos.

No monitoramento da assistência pré-natal, os avanços também foram positivos. Em 2023, 90% das grávidas da cidade, acompanhadas pelo SUS, foram captadas pelo programa durante o primeiro trimestre da gestação, um período crítico que demanda atenção especial. Além disso, 97% das gestantes acompanhadas pelo SUS realizaram todos os exames e consultas previstos no pré-natal.

O Trevo de Quatro Folhas proporcionou acesso a direitos sociais fundamentais, como aquisição de documentação individual básica, cadastro em projetos habitacionais e encaminhamentos para a rede de assistência social. Além disso, por meio da capacitação proporcionada pelo Mães Sociais, houve uma inserção significativa de mulheres no mercado de trabalho.

Esses resultados destacam a saúde como uma porta de entrada para a cidadania, capaz de gerar impactos profundos e duradouros na vida das famílias.

As seis frentes de atuação do Trevo de Quatro Folhas

1. Mães Sociais
   Foi criado para oferecer uma rede de apoio a gestantes. A Secretaria de Saúde capacita mulheres para prestar esse auxílio em um curso com oficinas, dinâmicas de grupo, vivências e estudos de caso. O treinamento inclui cuidados com a gestante/puérpera de risco, aleitamento materno, fortalecimento do vínculo materno-infantil, saúde mental materna, entre outros.
   As Mães Sociais fazem visitas domiciliares para apoiar gestantes, mães, bebês e crianças pequenas que enfrentam risco clínico ou vivem em condições de vulnerabilidade social. Normalmente, o suporte é de uma mãe social da mesma comunidade ou região. O trabalho é remunerado.
2. Acompanhamento social para gestantes usuárias de drogas e álcool
   Pessoas gestantes em situação de vulnerabilidade social e que fazem uso de álcool e drogas normalmente vivem nas ruas e têm resistência em realizar o pré-natal. Nesses casos, a equipe do Trevo de Quatro Folhas desloca-se até elas, proporcionando suporte para que compareçam ao consultório. Quando não é possível levá-las, enfermeiros, médicos, psicólogos e assistentes sociais realizam seus atendimentos a céu aberto, para garantir que elas e as crianças tenham a saúde monitorada e preservada.
3. Projeto Coala
   Focado em bebês prematuros ou com baixo peso, o projeto surgiu em 2013, após a equipe de saúde perceber que a internação prolongada dos recém-nascidos até que completassem o marco de dois quilos aumentava a incidência de infecções e dificultava a amamentação e o vínculo entre mães e bebês. Através do Coala, quando uma criança nasce prematura, a equipe avalia as condições para a alta precoce. Se for possível, mãe e bebê vão para casa e recebem, diariamente, a visita de uma equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF), com agentes comunitários de saúde, técnicos de enfermagem, enfermeiras e neonatologistas. Nas visitas domiciliares, é feita a avaliação do peso e das condições do recém-nascido, além da orientação sobre os cuidados, principalmente em relação ao aleitamento. Caso a puérpera não possua uma boa rede de apoio, é solicitada a atuação de uma Mãe Social.
4. Acompanhamento dos bebês
   Todos os recém-nascidos, incluindo os da rede privada, são monitorados. Em todas as maternidades, profissionais do Trevo de Quatro Folhas dedicam-se em tempo integral a estabelecer o primeiro vínculo com as famílias. Em situações em que uma criança requer cuidados especiais, seja tratamento diferenciado, internação ou até mesmo transferência para outro município, o programa age como intermediário.
5. Comitê de Prevenção da Mortalidade Materna, Perinatal e Infantil (CPMMPI)
   Realiza o monitoramento da mortalidade materna, perinatal e infantil, através da escuta das famílias e análise dos indicadores de atenção à saúde materno-infantil da cidade. Foi instituído no final da década de 1990 e desempenhou um papel crucial na criação do Trevo de Quatro Folhas, sinalizando à gestão pública os altos índices de mortalidade que motivaram a criação do programa. Atualmente, o comitê e o Trevo se retroalimentam: o programa oferece suporte técnico-operacional por meio da investigação e classificação dos óbitos, enquanto o comitê fornece as informações necessárias para delineamento dos caminhos do programa, planejamento de ações e estruturação de novas estratégias.
6. Flor do Mandacaru
   A iniciativa surgiu em 2007, como resposta às estatísticas preocupantes de gravidez na adolescência. Na época, a equipe de saúde constatou que muitas jovens gestantes não realizavam o pré-natal, buscavam esconder a gravidez e, em alguns casos, recorriam a métodos abortivos clandestinos. Assim, o Flor do Mandacaru foi criado para acolher as jovens grávidas sem julgamentos, quebrar barreiras de preconceito e oferecer atendimento médico e apoio integral para garantir a saúde tanto da mãe quanto do bebê. Com uma abordagem baseada no diálogo, acolhimento e empatia, o projeto realiza oficinas em escolas e instituições, além de oferecer atendimentos individuais personalizados.