Nos seis primeiros anos de vida, período chamado de primeira infância, o cérebro forma mais de 1 milhão de conexões cerebrais por segundo. Depois dessa enorme proliferação, as conexões são reduzidas por um processo de “poda”, em que os caminhos mais usados são reforçados e se tornam mais eficientes.
A ciência já demonstrou que, se investirmos na inclusão social na primeira infância, garantindo boas condições de vida às crianças mais vulneráveis com acesso à saúde, afeto, nutrição, segurança e educação de qualidade, aumentaremos muito as possibilidades de que tenham um futuro melhor. Quanto antes essa intervenção acontecer, mais chances teremos de que essas crianças alcancem o seu máximo potencial, tornando-se adultos saudáveis e atuantes na sociedade.
Estudos mostram que a inclusão social na primeira infância reduz o risco de envolvimento em atividades criminosas, as taxas de evasão escolar e o desenvolvimento de comportamentos agressivos.
Há também razões econômicas para aproveitar a janela de oportunidades da primeira infância. Pesquisas que valeram o Prêmio Nobel de Economia ao americano James Heckman, no ano 2000, mostram que o dinheiro aplicado em cuidados com as crianças em situação de vulnerabilidade volta para a sociedade na forma de economia com programas sociais, taxa de violência menor e nível salarial maior (que se traduz em produção maior de riquezas e mais impostos para sustentar os programas de governo). Segundo o próprio Heckman, o retorno sobre o investimento nessa fase é de 13%.
Crianças que têm acesso à educação de qualidade conseguem desenvolver habilidades que as acompanharão por toda a vida escolar até o mercado de trabalho.
Desafios para inclusão social na primeira infância
Muitos obstáculos ainda limitam as crianças brasileiras de um cenário em que todas elas possam desenvolver todo seu potencial e viver com plenitude. São entraves que permeiam as áreas socioeconômicas, educacionais e de saúde.
A pandemia de coronavírus aumentou as desigualdades sociais e impactou diretamente a vida das crianças, principalmente as que vivem em situação de vulnerabilidade. É o que mostra o levantamento feito em 2021 a partir de microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pelo economista Naercio Menezes Filho, pesquisador do Centro de Gestão e Políticas Públicas do Insper e membro do comitê científico do Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI).
Segundo o estudo, o desemprego afetou muito mais os pais com menor escolaridade e as famílias negras, indígenas e pardas. Em 2020, cerca de 57% dos pais menos escolarizados trabalhavam, contra quase 73% entre os mais graduados. Já a taxa de ocupação para pais de famílias com crianças de zero a seis anos caiu 12% entre pretos, pardos e indígenas, contra 7% para pais brancos e amarelos.
Foto de capa: Projetos Mais Morros, em Recife (PE) / Crédito: Prefeitura de Recife.