Uma das cidades pioneiras na Rede Urban95 Brasil, coleciona políticas públicas exitosas na área da primeira infância. Exemplo disso é o programa Mãe Coruja Recife, que há oito anos atende crianças, mães e gestantes de forma intersetorial e contabiliza números significativos: mais de 17 mil mulheres e 13 mil crianças estão cadastradas nos 19 espaços espalhados na cidade, o que proporciona cobertura em 44 bairros. “E não é só isso: há mais sete espaços já aprovados a serem inaugurados em bairros prioritários que foram mapeados por meio de um estudo epidemiológico. Com essa abertura, o Mãe Coruja Recife vai cobrir 53% dos bairros da cidade, que possui 94 no total”, comemora Cláudia Soares, Coordenadora Municipal do Programa Mãe Coruja Recife.
Orgulhosa ao dizer que acompanha a iniciativa desde o início, Cláudia Soares explica que o Mãe Coruja Recife é um programa social que tem parceria com o programa Mãe Coruja Pernambucana, coordenado pelo governo do estado, e que completará 15 anos em 2022. “Este é um ótimo exemplo de integração entre estado e municípios, uma articulação muito bem-sucedida”, avalia.
O Mãe Coruja Recife funciona de maneira intersetorial, ou seja, dialoga com diversas secretarias estaduais e municipais. “Ao todo são oito secretarias envolvidas: desenvolvimento social, educação, segurança ao cidadão, mulher, esporte, turismo e lazer, trabalho e qualificação profissional. O programa foi pensado e espelhado a partir da experiência do Mãe Coruja Pernambucana, mas toda a sua gestão é feita pelo município”, explica Cláudia Soares.
Atenção para gestantes, bebês e cuidadores
O foco do Mãe Coruja está nas crianças, mas o atendimento começa ainda na gestação, cadastrando e acolhendo as mulheres durante a gravidez. Para isso, elas precisam morar em um dos bairros de cobertura e fazer de maneira correta e assídua o pré-natal no Sistema Único de Saúde (SUS). O acompanhamento funciona da seguinte forma: a gestante é cadastrada no sistema e tem a sua gestação acompanhada por diversos profissionais, até o parto e o período de puerpério.
A partir do nascimento, a criança é cadastrada no projeto e passa a ser atendida do seu nascimento até os seis anos de idade. Após esse período, passa a ser acompanhada pela escola, no ensino fundamental. “Essa configuração permite que haja um tempo de dedicação relevante aos participantes. O atendimento é individualizado, levando orientações sistemáticas mês a mês do que é importante para esse acompanhamento. E há, ainda, a possibilidade de participação em grupos que são realizados e facilitados tanto pela equipe do Coruja como pelas outras secretarias”.
Apesar do trabalho integrado entre várias secretarias, Cláudia Soares reforça a importância da saúde como porta de entrada do projeto: “É no primeiro dia de consulta que a gestante recebe seu cartão de pré-natal, realiza os exames de rotina e é encaminhada para o Mãe Coruja. Porém, o programa não faz distinção e se define como ‘porta aberta’, já que também são recebidas diretamente nos espaços mulheres dos bairros atendidos, que são indicadas ou ficam sabendo da importância do projeto na vida de outras famílias”.
Além dos atendimentos, as participantes também têm acesso a alguns equipamentos para auxiliá-las. Um deles é entregue em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social, um kit para o bebê que a mãe recebe ao completar sete consultas de pré-natal, ou seja, ao chegar aos sete meses de gravidez. O kit é composto por banheira, bolsa, fralda descartável, roupinhas, toalha, fralda de pano, entre outros produtos. “Tudo é de muito boa qualidade, fazemos o possível para que essa criança nasça com dignidade”, reforça Cláudia.
Outro viés importante do Mãe Coruja Recife não está diretamente relacionado à gestação ou ao atendimento à criança. Diz respeito à formação profissional das mães e é realizado em parceria com a Secretaria de Educação e de Capacitação Profissional. Por meio dessa articulação são oferecidos cursos de qualificação de até 40 horas. Dentre as áreas atendidas estão design de sobrancelhas, manicure, corte de cabelo com máquina, estimulando a geração de renda das famílias.
O programa também aplica toda a experiência adquirida em oito anos de existência para promover um intercâmbio de ideias e experiências para outras cidades do estado que estão ingressando na rede para fortalecer as políticas de primeira infância. Além disso, atua junto à Unicef em Fortaleza, no que diz respeito às Unidades Amigas da Primeira Infância (UAPIs), participando dessa troca de informações, levando os resultados de todas as ações.
Para subsidiar as atividades que envolvem diretamente mães e crianças, além do trabalho de interlocução com outras secretarias, cidades e estado, o Mãe Coruja Recife se apoia em materiais produzidos em parceria com a Fundação Bernard Van Leer. Fazem parte desse conteúdo uma cartilha para a gestante, um guia de implantação de rodas de gestão para profissionais, uma cartilha de desenvolvimento infantil voltado para pais e cuidadores e um manual operacional do Mãe Coruja.
“Esse material chega para dar apoio ao público atendido e aos profissionais que atuam no projeto. Para a construção dessas publicações houve o cuidado de usar fotos próprias do programa, já que isso gera um sentimento de pertencimento nas mulheres e crianças recifenses quando elas se reconhecem e veem seus filhos retratados ali”, complementa a coordenadora.