As Ruas de Brincar são uma política democrática, que funcionam bem em qualquer tamanho de cidade – não importa se o município é metrópole, como Brasília ou São Paulo, uma cidade média como Jundiaí (SP) ou pequeno como Uruçuca (BA), cidade de 21 mil habitantes no sul da Bahia. O importante é ter vontade, planejamento, diálogo e trabalho colaborativo.
O webinar “Ruas de brincar”, realizado para as cidades da Rede Urban95, mostrou diferentes experiências brasileiras, que garantiram um espaço público seguro para brincadeiras ao ar livre. O encontro contou com a participação de Letícia Sabino, mestre em planejamento de cidades e design urbano e fundadora da SampaPé, Ursula Troncoso, arquiteta e urbanista do Ateliê Navio, responsável pela implementação do “Rua do Brincar” em Jundiaí e Lívia Barbosa, diretora de cultura de Uruçuca e idealizadora do “Ruas Brincantes” no município.
Durante a conversa, que foi conduzida por Isabella Gregory, coordenadora do Urban95 no CECIP, e por Claudia Vidigal, representante da Fundação Bernard van Leer no Brasil, foram apresentadas três experiências sobre as ruas de brincar.
Rua: espaço público de transformação
Letícia Sabino começou o bate-papo ressaltando a importância das ruas como espaço público de transformação. “Abrir as ruas para as pessoas é promover a cultura do caminhar e humanizar as cidades, principalmente para as crianças que ainda estão formando seu conceito de cidade e convivência”, afirmou.
A fundadora do SampaPé desmistificou a ideia de que um espaço público seja apenas uma praça ou área delimitada, trazendo um conceito de Jan Gehl de que todo espaço entre os edifícios e lotes privados são espaços públicos. “Portanto, as ruas representam a maior parte do espaço urbano. A partir daí devemos refletir sobre o uso que fazemos desses espaços: estão sendo espaços mais inclusivos, de encontros, promovendo brincadeiras e diversão?”, questionou Letícia.
Ainda segundo Letícia, a abertura de ruas para as pessoas é uma estratégia de urbanismo barata, flexível e que gera muitos resultados positivos, pois ajuda a construir a médio e longo prazo um ideal de cidade mais lúdico: a rua deixa de ser uma via de trânsito e passa a ser percebida e vivenciada.
Diálogo, construção conjunta e trabalho integrado
Ao apresentarem suas experiências de Jundiaí (SP) e Uruçuca (BA), respectivamente, Ursula e Lívia destacaram a importância do diálogo constante entre os atores envolvidos e do trabalho integrado – entre poder público, moradores, organizações locais, comunidade escolar, comércio local e outras empresas privadas – para o sucesso do programa.
“As crianças, cuidadores, moradores e membros da comunidade precisam ser envolvidos desde o planejamento até a ativação, o evento em si”, afirmou Ursula Troncoso. A escuta e a participação da comunidade em Jundiaí contou com apoio da organização Cidade Ativa. Foram realizados o mapeamento dos atores locais, lideranças comunitárias, associações e estabelecimentos comerciais. Em seguida, foram realizadas conversas, reuniões, entrevistas e visitas para manter o engajamento dos envolvidos. Por fim, foi realizado o evento ao ar livre com o envolvimento e participação de todos. “Uma das lições aprendidas foi a de que a participação ativa da comunidade desde o planejamento até a ativação é essencial porque potencializa o sentimento de pertencimento e interesse no programa”, afirmou Ursula.
A idealizadora do “Ruas Brincantes” em Uruçuca, Lívia Barbosa, comentou a experiência da cidade baiana: “depende muito mais de recursos humanos do que financeiros”, disse. “Sem a participação de todos não seria possível efetivar a iniciativa. Contamos com apoio das secretarias de Saúde, Esportes, Ação Social, Administração, Comunicação, da comunidade escolar, dos moradores e do comércio local. É um trabalho que precisa ser integrado, os vários atores precisam trabalhar juntos”, afirmou.
Se você perdeu o encontro ao vivo, confira a gravação completa do webinar: