Capital da primeira infância: Como políticas públicas transformaram Boa Vista (RR) em uma cidade para as crianças

Ao andar pelas ruas planas de Boa Vista (RR), o compromisso com a primeira infância é visível: praças convidam crianças a se conectar com a natureza; coloridos caminhos da primeira infância conectam serviços em trajetos lúdicos e arborizados; e nos equipamentos de saúde, educação e assistência, a primeira infância é prioridade absoluta.

Este compromisso irrevogável com as infâncias começa com uma política pública: o Programa Família que Acolhe (FQA) foi instituído em 2013 pela então prefeita Teresa Surita, na lei nº 1.545, com a missão de garantir o desenvolvimento integral das crianças a partir de ações intersetoriais para primeira infância e seus cuidadores, com especial atenção para gestantes e puérperas.

“Costumamos dizer que existe um antes e um depois do Programa Família que Acolhe”, explica Andréia Neres, secretária municipal de projetos especiais. “O programa conseguiu contextualizar a importância da primeira infância para toda a gestão, e isso reverberou na sociedade e nos espaços públicos. Se você falar sobre primeira infância em qualquer lugar da cidade, hoje a população tem entendimento do quanto é importante o cuidado nesta fase da vida.”

Intervenções urbanísticas facilitam deslocamento e fruição da cidade pelas infâncias em Boa Vista (RR) / Crédito: Fernando Teixeira.

Para tornar Boa Vista a capital da primeira infância, mudanças se deram em espaços urbanos e nos atendimentos básicos oferecidos pela rede. 

Boa Vista é uma cidade de formação recente, com 131 anos de idade. Com malha urbana planejada, a formação de suas ruas é radial, convergindo para o centro da cidade. “É uma cidade horizontalizada, praticamente não temos construções verticais. A densidade demográfica é muito baixa, o que permite que as pessoas tenham acesso ao centro com mais facilidade do que outros centros urbanos”, detalha Leonardo Paradela, presidente da Empresa de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (EMHUR).

Embora o planejamento urbano da cidade já incentive a mobilidade pedestal e a fruição de espaços da natureza, a consolidação do Programa Família que Acolhe (FQA) gerou uma transformação vital: a perspectiva das crianças sobre os espaços ganhou lugar e alterou a forma como praças e ruas são pensadas.

“A partir da inclusão da cidade na Rede Urban95, agregamos novos conceitos no urbanismo para fazer a criança usufruir do espaço público, interagindo e crescendo nele. Além das praças, implementamos caminhos da primeira infância, para que crianças e seus cuidadores percorram trajetos arborizados e lúdicos”, relata Leonardo.

Conheças estas e outras iniciativas que conferem à Boa Vista o título de capital brasileira da primeira infância: 

Programa Família que Acolhe (FQA): O programa intersetorial principia a mudança de paradigma sobre primeira infância na cidade. As famílias beneficiárias são convidadas a participar de momentos formativos sobre cuidados na primeira infância, e também recebem uma série de benefícios, como o enxoval e garantia de vagas nas Casas Mãe. O atendimento acontece tanto em grupos – os chamados Grupos FQA – como também em domicílio. Embora no início do programa os serviços tenham se concentrado na sede, nos últimos anos equipamentos de assistência social, saúde e educação também realizam atendimento, primando pela descentralização e pela intersetorialidade da política pública. Os cuidadores têm à sua disposição uma teia de atendimentos de saúde, como acompanhamento psicológico, ortodontia e outras áreas.

Na foto, sede do programa Família que Acolhe (FQA), política pública pioneira em atenção básica e que arvorou as perspectivas de primeira infância para toda a cidade / Crédito: Fernando Teixeira.

Universidade do Bebê: Parte do programa FQA, a Universidade do Bebê é um programa onde os grupos de gestantes, puérperas e cuidadores se reúnem quinzenalmente para aulas sobre temas como parentalidade positiva, fortalecimento de vínculo, estímulo ao desenvolvimento da criança, a brincadeiras e à leitura.

Projeto Selvinha Amazônica: Oito praças da cidade recebem a intervenção urbanística chamada Selvinha Amazônica. Os brinquedos visam aproximar as crianças da fauna e flora do bioma, estimulando o brincar e a conexão com a natureza. A maior delas, no Parque Rio Branco, tem mais de 160 instalações.

Caminhos da Primeira Infância: Próximo à Praça da Primeira Infância Clotilde Tereza Duarte de Oliveira, no bairro Nova Cidade, está o projeto-piloto de travessia segura para crianças e adultos. A ideia é interconectar serviços como creches e UBS em trajetos que ofereçam ludicidade e também contato com espaços verdes.

Casas Mãe: Localizadas em diversos pontos de Boa Vista, as Casas Mãe são espaços de educação para crianças de 2 a 4 anos cujas famílias participam do programa Família que Acolhe (FQA).

Sistema Cidade Social: Em parceria com a Fundação Bernard van Leer e com a AVSI Brasil, a prefeitura da cidade aposta em coleta e monitoramento de dados para melhorar os serviços do programa Família que Acolhe (FQA) e pautar as próximas ações da política pública.

Abrigos de ônibus adaptados: Para incentivar mudanças de comportamento e trazer a primeira infância como pauta para a cidade, alguns pontos de ônibus passaram por transformações, adicionando elementos lúdicos e acessibilidade.

 

1º Encontro Urban95 Brasil.

Nos dias 17 e 18 de maio, representantes das 24 cidades que compõem a rede terão a oportunidade de conhecer de perto estes e outros programas e serviços de Boa Vista durante o 1º Encontro Urban95 Brasil. Toda a visita poderá ser acompanhada em tempo real pelo Instagram da rede Urban95. Acesse: @Urban95br