Cascavel (PR) escuta 9 mil crianças para desenhar políticas públicas para a primeira infância

Cascavel (PR) está construindo seu Plano Municipal pela Primeira Infância (PMPI), política pública que contempla o diagnóstico da Primeira Infância na Cidade, bem como os planos e metas para os próximos 10 anos em diferentes áreas. “O Governo Municipal de Cascavel tomou uma importante decisão em 2021, ter a política da primeira infância como prioridade”, explica Hudson Moreschi Júnior, Secretário de Assistência Social. “Por meio da elaboração do PMPI, iremos construir de maneira coletiva uma ferramenta de gestão e planejamento para implementar programas, ações e serviços de atendimento à crianças de 0 a 6 anos.”

Para inserir a perspectiva das crianças dentro desta política, as Secretarias de Educação e Assistência organizaram uma semana da escuta infantil, ouvindo crianças de 64 escolas, 55 Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI) e 10 equipamentos de Assistência.

Do dia 27 ao dia 30 de junho, 9 mil crianças de 3 a 6 anos foram ouvidas. Elas caminharam pelas ruas ao redor dos equipamentos que frequentam, identificando o que gostam e não gostam nestes trajetos, e deram ideias sobre o querem para o futuro dos territórios. Seus desejos e falas foram registrados em desenhos, fotos e vídeos pelos 870 servidores que conduziram a escuta.

Crianças percorreram bairros próximos aos equipamentos que frequentam, identificando espaços familiares e também quais possíveis melhorias poderiam ocorrer no seu território. Todo o processo de escuta foi registrado em fotos e vídeos / Crédito: SEMED Cascavel

O primeiro passo da articulação desta escuta foi a capacitação sobre participação infantil para coordenadores de todos os equipamentos das redes de educação e assistência. A oficina presencial, coordenada pelas secretarias de Educação e Assistência, apresentou o PMPI e também as ações para a primeira infância que o município tem realizado desde sua inclusão na rede Urban95. Entre os materiais de referência, a cartilha Escuta como Participação Política, organizada pelo Centro de Criação de Imagem Popular CECIP, teve lugar de destaque.

“O tema da oficina foi o bairro da criança. Queríamos que os educadores instigassem as crianças a pensar o que existe nos bairros e o que elas sentem falta. Cada equipamento recebeu um material de base para desenvolver suas atividades, mas também tinha autonomia para conduzir a escuta”, detalha Wesley Santos, coordenador pedagógico dentro da Secretaria Municipal de Educação (SEMED) e articulador do PMPI na cidade.

“A recomendação foi que eles fizessem pesquisa de campo e passeios pelo território junto com as crianças,e que, na volta aos equipamentos, as crianças pudessem registrar em desenho o que sentiram com relação a esta atividade.”

Escuta territorial levou milhares de crianças pelos bairros de Cascavel

Os processos de escuta priorizaram as andanças no território – e fazê-la ao ar livre, no ritmo e a partir da percepção das crianças fez toda a diferença, como relata a diretora Karen Brustolin, do CMEI Darci Ângela Borges:

“Foi a primeira vez que olhamos para o nosso bairro de maneira qualificada. As crianças foram responsivas a tudo que havia no território: elas identificaram equipamentos de saúde e educação que frequentam, comentaram sobre a qualidade das calçadas, e também apontaram que o bairro tem muito comércio, mas que faltam espaços para brincar, como parques.”

Para a coordenadora Karina Satiro, do CMEI Profª Mirian Ana D. Boschetto, ao andar pelo bairro, crianças conseguiram falar sobre temas como mobilidade e pertencimento: “As crianças sabem-se parte da comunidade: sabem os mercados que frequentam, os trajetos que fazem para chegar até a escola. Notaram que as calçadas nem sempre são fáceis de subir, e que muitos espaços vazios poderiam ser reaproveitados com equipamentos públicos. Sentem falta de árvores e de lugares para relaxar.”

Bueiros expostos, calçadas quebradas e outros problemas do espaço público chamaram a atenção das crianças. Na foto, estudantes da Escola da Transparência. / Crédito: SEMED Cascavel

Já para as servidoras de assistência social, área que tem desenvolvido atividades para primeira infância e cuidadores em seus equipamentos com apoio da Rede Urban/CECIP, a participação das crianças reforça a importância de integração de serviços para famílias em vulnerabilidade. “Mesmo com eventuais dificuldades de expressão, as crianças conseguiram apontar o que querem para seus espaços. Elas querem cultura, livros, espaços para brincar, e isso nos faz pensar que precisamos de estratégias de assistência social alinhadas com educação, saúde urbanismo, todo mundo. Para mim, que estou há 22 anos na assistência social, foi um momento histórico”, compartilha Rosângela Benedita Gouveia, pedagoga e gestora de território leste dentro da Secretária de Assistência Social (SEASO).

Todos os servidores entrevistados foram unânimes no desejo de incorporar a participação das crianças como prática cotidiana para qualificar seus espaços e melhorar o atendimento.

Antes de percorrer os bairros, os equipamentos prepararam oficinas com maquetes e fotos dos territórios, para ajudar as crianças na identificação / Crédito: SEMED Cascavel

Sistematização por territórios da primeira infância em Cascavel 

Para responder ao desafio da sistematização da escuta em larga escala, a SEMED e o SEASO montaram um formulário online a ser respondido por cada equipamento que participou das ações da Semana da Escuta Infantil. Entre os pedidos de preenchimento, os servidores puderam avaliar a experiência de escuta, relatar oportunidades e desafios, além de anexar os registros.

Estes formulários geraram uma planilha que está sendo analisada para criar diagnósticos de cada um dos territórios de Cascavel. “A estratégia desta sistematização é organizar os dados por territórios. Quando escuto o relato de um Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) e de uma escola de um determinado bairro, eu tenho um raio-x desta região, e consigo entender não só as demandas do equipamento, mas de todo o território, planejando assim políticas integradas”, explica Wesley.

Os dados por área serão tabulados a partir dos cinco eixos que estruturam o PMPI da cidade: Direito ao espaço urbano, Saúde da criança, Educação infantil, Esporte e lazer e Assistência social. Com este conteúdo sistematizado, será possível escrever um plano alinhado às necessidades da primeira infância da cidade.

“Ouvir a criança em seu desenvolvimento, sua visão de mundo, sua visão de escola, que tipo de sociedade que ela quer, é importantíssimo. Estes relatos gerarão muitos dados e encaminhamentos para traçarmos novas políticas públicas que atendam a primeira infância”, conclui Marcia Baldini, secretária de Educação.

 

*Se você quer saber mais sobre como Cascavel (PR) organizou a escuta de 9 mil crianças e está sistematizando este grande volume de dados, entre em contato com a comunicação da Urban95 (cecilia.garcia@cecip.org.br). Podemos fazer a ponte entre a sua gestão e a de Cascavel. 

**Para escrever esta matéria, nós escutamos 11 servidores públicos de Cascavel. Não foi possível colocar todos os depoimentos na pauta, mas as entrevistas serviram como insumo e inspiração para a construção deste texto. Agradecemos aos seguintes servidores: Vanessa Roseli F. Rocha, Karen Brustolin, Gabriela Rodrigues da Costa, Camila Aquino, Karina Satiro, Josiane R. Romanholi, Vanessa Albiero, Rosangela Benedita Gouveia, Sandra Maria Castilho Demski, Elizangela Zaniolo e Lucas Andrei Alves Teixeira.