Cidades da rede Urban 95 discutem como criar crianças sem violência

Motivados por descobrir quais são as questões básicas que afligem as famílias e que aparecem como desafio nas relações com as crianças, a Fundação Bernard van Leer, por meio da rede Urban95 Brasil, convidou os municípios a pensarem sobre os temas que são necessários para que os gestores se atentem ao apoiar as famílias e garantir os direitos das crianças.

“Para a gente não olhar só para os espaços públicos, para as praças, para este monte de coisa que as cidades também precisam, querem e vão olhar, mas também olhar para as coisas básicas. Foi um processo super bonito de escuta da cidades”, diz a representante da Fundação Bernard van Leer no Brasil, Claudia Vidigal.

“É necessário interromper os ciclos de violência”, afirma psicanalista especialista em comunicação consciente (Foto: Felipe Cardoso/Urban95 Brasil)

Entre os temas levantados com mais urgência estão a não violência e as maneiras de empoderar famílias para criar crianças, tema debatido no dia 4 de fevereiro no “Webinar Chuva de ideias – Educação não violenta”, que teve a educadora parental Elisama Santos como convidada palestrante e foi conduzido pela Allma Hub Criativo, organização especialista em comportamento e parceira técnica da Rede.

“Para muito além do não bater ou não gritar com as crianças é importante percebermos a importância da não violência para as cidades e interromper os ciclos de violência”, afirmou a psicanalista especialista em comunicação consciente.

Elisama motivou os gestores das cidades a entenderem que a violência está inserida em um contexto social que precisa mudar por inteiro, para que mudem as relações interpessoais: “Não é somente sobre bater ou não bater, não é somente o imediato. Estamos falando de uma construção do que é o normal”.

A violência física e psicológica ainda é um grande problema dentro das famílias, aponta a pesquisa “Primeira Infância para Adultos Saudáveis”, realizada com 7.038 cuidadores de crianças de 0 a 5 anos residentes em 16 municípios cearenses, incluindo a capital, Fortaleza.  No total, 84% dos pais entrevistados acreditam ser necessário palmadas ou castigo para educar. Os dados evidenciam a importância de preparar os profissionais que trabalham com as famílias.

“Nós não ensinamos as crianças a lidarem com sentimentos porque também não fomos ensinados. É responsabilidade de todos nós enquanto gestores, enquanto comunidade, ensinar as crianças a lidarem com sentimento porque isso é a base da não violência. A base da não violência é essa responsabilidade emocional, a empatia com o sentimento do outro. Isso só é possível quando sei reconhecer meu limite”, explica Elisama, que é autora do livro “Conversas corajosas: Como estabelecer limites, lidar com temas difíceis e melhorar os relacionamentos através da comunicação não violenta”.

A pesquisa também evidencia as diferenças de gênero que envolvem o tema. As mulheres são as maiores responsáveis pelos cuidados com as crianças e as mais sobrecarregadas mentalmente. “Isso que você está sentindo, essa vontade de esganar essa criança é normal, é humana. Você está cansada”, exemplifica a psicanalista, dirigindo-se às mães. Ela provoca os participantes a pensarem como as políticas públicas podem auxiliar as mães para que tenham um mínimo de apoio possível. “Para que ela não esteja com essa dor. Quando nosso barulho interno está muito alto, qualquer barulho externo vai enlouquecer a gente.”

“Essa mãe não sabe que aquela criança tem dificuldade de entender o conceito de ‘não’, que aquela criança não está desafiando ela. Para entender tudo isso, a gente precisa de apoio, de estudo, de entendimento, pois temos uma uma ignorância gigantesca de como nosso corpo funciona, de como nós funcionamos, as especificidades de cada um de nós”, completa Elisama.

Depois de todo este acúmulo trazido por Elisama, os gestores dos municípios foram convidados a fazer um exercício de propor mudanças na educação e na saúde, numa chuva de ideias. E se as dicas de educação não violenta estivessem na carteira de vacinação das crianças? E se as professoras de Educação Infantil recebessem capacitação sobre alfabetização emocional?

Todas as ideias serão organizadas pela Allma Hub Criativo, que serão sistematizadas e devolvidas para as cidades como estratégias e possibilidades e viabilidade de implantação.

Assista ao webinar completo: