Cultura como estratégia de fortalecimento de vínculo: conheça o projeto-piloto Lullaby em Jundiaí (SP)

Jundiaí (SP) foi a primeira cidade brasileira a receber o projeto-piloto Lullaby. A iniciativa, financiada pela Fundação Bernard van Leer e presente em mais de 40 países, promove a música como estratégia de fortalecimento de vínculo para famílias em situação de vulnerabilidade social. Cuidadores são convidados a gravar canções autorais para as crianças, contando com o apoio de músicos profissionais na elaboração de letras e melodias.

A coordenação do projeto foi compartilhada entre a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social de Jundiaí (SEMADS) e o Instituto Alana. Nove famílias em situação de alta vulnerabilidade dos bairros São Camilo e Sorocaba foram identificadas e contatadas pelo programa Criança Feliz, que já atuava dentro destes territórios e serviu como ponte entre o Lullaby e as famílias participantes.

Enquanto em outros países a iniciativa trabalha com vínculos partidos e dificuldades de relacionamento, a proposta em Jundiaí (SP) focou-se no empoderamento de mulheres, como explica Raquel Franzim, diretora de educação e cultura no Instituto Alana e, no projeto, responsável pela articulação entre instituto e a cidade de Jundiaí:

“Independentemente da condição financeira das famílias, as mulheres estão geralmente atreladas à enorme responsabilidade que é criar e cuidar de uma criança. O Lullaby acredita que, ao trazer um momento de lazer e de criatividade para elas, melhoramos a qualidade de vínculo entre família e o bebê e trazemos benefícios ao desenvolvimento infantil.”

Sessões do projeto-piloto Lullaby criaram momentos de relaxamento e acolhimento para mães e bebês / Crédito: Comunicação de Jundiaí (SP)

Canções de ninar autorais 

Durante abril e maio de 2022, as famílias tiveram cinco encontros com a equipe da Banda Alana, formada pelas musicistas Adriana Biancolini, Silvanny Rodriguez e o compositor Matheus Crippa. Participantes tiveram contato com todo o processo de criação de uma canção, desde o desenvolvimento da letra, a instrumentalização da música, até sua gravação final.

Renata Romero Lizana, mãe de Adam, de dois anos, foi uma das mães que toparam a experiência: “A princípio eu fiquei resistente, porque nunca compus nada nem gosto do som da minha voz. Os profissionais do projeto, todos muito humanos e sensíveis, me mostraram que seria legal, e que este seria um presente para meu filho. Foi tudo muito emocionante!”

Para sensibilizar mães e cuidadores e inspirá-los durante esta jornada, a Banda Alana trouxe um repertório de canções de ninar que fazem parte da cultura popular brasileira. Cada mãe produziu sua canção de maneira autoral e distinta. “Eu estava com dificuldade de encontrar palavras para expressar o meu amor pelo Adam e colocar em uma canção. Então, o pessoal da banda sugeriu que eu começasse com uma carta para ele. A partir daí, ficou mais fácil fazer a música”, Renata recorda.

Todas as músicas compostas foram instrumentalizadas pela Banda Alana, que tratou-as com o mesmo rigor de uma gravação comercial. No dia 3 de junho, as famílias puderam apresentar suas canções ao vivo para as crianças, familiares e amigos na Fábrica de Infâncias Japy.

No dia 3 de junho, as famílias puderam apresentar suas canções ao vivo para as crianças, familiares e amigos na Fábrica de Infâncias Japy / Crédito: Comunicação da cidade de Jundiaí (SP)

Benefícios para mães e crianças 

O Instituto Alana está produzindo um relatório da experiência piloto, mas, segundo Raquel, já foi possível depreender alguns aprendizados: “Quando uma mãe é apoiada, quando se sente bem, ela consegue desempenhar melhor este papel tão desafiador da maternidade. Este não é um ponto trivial. Com a pandemia, as mulheres viveram uma sobrecarga maior de tarefas domésticas e criação dos filhos. Muitas delas apresentaram queixas sobre saúde mental, com quadros de ansiedade e depressão. E nessas mulheres participantes, conseguimos aferir melhora na saúde mental, o que impacta diretamente na ambiência do desenvolvimento infantil.”

Para Maria Brant, secretária da SEMADS, o piloto abre novas possibilidades para trabalhar mudança de comportamento e primeira infância, eixo central que o município desenvolve na Rede Urban95: “O Lullaby chega como uma proposta de teste, o que é importante para pensarmos mudança de comportamento. Ele possibilita o amadurecimento das ações tanto do Criança Feliz quanto do trabalho de assistência, consolidando a intersetorialidade entre cultura e assistência como forma de empoderar nossas mulheres!”.