Primeira infância, o passo inaugural da jornada

04/04/2022 Sem categoria

Se pensamos a vida como uma jornada, os primeiros mil dias representam nosso primeiro passo, aquele que vai dar o tom da caminhada. Começando com o pé direito, com uma pisada firme e equilibrados por mãos carinhosas, é natural seguirmos com mais confiança pela vida. Até os três anos de idade, cada criança aprende mais do que durante todo o resto da sua vida, sendo um período de grande maleabilidade para moldar sua história. As urgências da primeira infância se endereçam aos cuidadores e a toda a sociedade, reforçando a necessidade de garantir o acesso pleno a serviços e direitos para os jovens cidadãos.

As quarenta semanas de gestação passam rápido e são um momento único para
que as futuras famílias se informem sobre seus direitos, as necessidades do novo
integrante e onde estão localizados os serviços que precisarão acessar. Já o trabalho de parto acontece na escala das horas, onde minutos de espera podem ser suficientes para prejudicar o bebê. Para garantir que as crianças sejam bem atendidas quando chegar o momento certo, a informação precisa chegar com antecedência aos cuidadores e os serviços precisam estar preparados para recebê-las. Quando falamos em desenvolvimento das crianças, o timing é fundamental.

Como cidadãos, temos direitos garantidos em lei mesmo antes de chegarmos ao
mundo. Mas, com o nascimento de um bebê, surge uma grande variedade de necessidades, novos cuidados e estímulos indicados. Especialmente no período neonatal, em que a mãe e a família estão se adaptando e criando rotinas, é importante atenção total para que todas as necessidades da criança sejam atendidas. São nessas quatro primeiras semanas de vida que se concentram as maiores taxas de mortalidade infantil, mesmo que o acesso aos cuidados apropriados possa salvar grande parte das crianças.

Com uma longa trajetória no campo dos direitos de crianças e adolescentes, a
economista Heloisa Oliveira trabalha com o conceito de jornada da infância para entender as inter-relações entre cada passo do desenvolvimento infantil. A diretora do recém-nascido Instituto Opy, que trabalha com a promoção da saúde e melhores condições para a primeira infância, entende a primeira infância como uma janela para a construção do futuro. Para melhorar o acesso das crianças aos serviços de que necessitam, o caminho apontado é a centralidade da criança no sistema, a integração dos serviços e a melhoria do acesso da população a eles.

“As políticas nacionais já preveem a assistência integral, mas muitas vezes o poder
público não conhece todos os desafios das comunidades em sua área de gestão e, por isso, não sabe como atender a suas especificidades”, afirma Heloísa. Como é nas cidades que estão as crianças e suas demandas de atendimento, ao olhar para a jornada infantil é preciso organizar os serviços de forma a atender as demandas daquela população no tempo certo de cada fase.

Incluindo a intersetorialidade no planejamento municipal, as cidades ganham
ferramentas para mapear as famílias que mais precisam de apoio ou que, possivelmente, vão demandar uma atenção extra para apoiar seus bebês. Também na realidade das cidades, informação é poder. Com os dados apropriados sobre o território é possível agir com eficiência, intervindo quando necessário para garantir que nenhuma criança fique para trás.

Cuidar das necessidades da primeira infância é garantir que os primeiros passos de
cada jornada estejam cercados de atenção, e que, no caso de qualquer queda ou desvio de percurso, seja possível ajudar aquele pequeno ser humano a retomar o seu caminho com segurança e qualidade de vida. Quando sociedade e Estado estão atentos às crianças, todos nós ganhamos.

“O agravamento da situação econômica no Brasil trouxe desafios ainda maiores
para a nutrição das famílias. Não é que elas não saibam que a fruta e a proteína são
importantes, mas o dinheiro só dá para comprar miojo e salsicha. Pode ser que ao atingir a idade escolar, a creche também passe a ser um espaço de segurança alimentar. Para tal, é preciso conhecer nossas cidades, entendendo onde estão nossas crianças e quais suas urgências”, reforça Heloísa.