Desde 2021, cidades que fazem parte da Rede Urban95 têm adotado o programa Pé de Infância para incentivar mudanças de comportamento que impactem positivamente a primeira infância e seus cuidadores. O programa é desenvolvido pela Allma Hub, parceria técnica da Urban95, é composto por três caixas de ferramentas: BrincAR Livre, que incentiva brincadeiras em contato com a natureza; Cria na Paz, que valoriza interações positivas e a educação não violenta; Cantar, Brincar e Contar Histórias, que busca trazer interações lúdicas para momentos do cotidiano.
Quando a gestão municipal adota uma ou mais caixas, o primeiro passo é a sensibilização sobre o tema escolhido com profissionais das áreas de educação, saúde e/ou assistência. São esses servidores que levam as caixas de ferramentas, conjunto de materiais digitais e físicos, para trabalhar com as famílias que frequentam escolas, centros sociais e outros equipamentos. Vídeos, cards, e sugestões de atividades compõem as jornadas de Whatsapp. Adesivos, bottons, cartazes e camisetas com as mensagens também possibilitam estratégias variadas para sensibilizar o público.
“As cidades ficam muito entusiasmadas com a caixa porque ela apresenta uma iniciativa que se pluga na agenda do poder público e faz acontecer um movimento”, explica Ana Paula Dugaich, gestora da Allma Hub. “São campanhas engajadoras com o nome, conteúdos, personagens, tudo pronto para rodar. Por trás das ferramentas simples e acessíveis que compõem as caixas, há muita profundidade e técnica para mudar comportamentos”.
Qualquer secretaria do município pode implementar os programas Pé de Infância e suas caixas de Ferramenta.
No último trimestre de 2023, 10 municípios da Rede Urban95 adotaram o programa: Cria na Paz foi implementada em Benevides (PA), Canoas (RS), Caruaru (PE), Cascavel (PR), Mogi das Cruzes (SP) e Uruçuca (BA). Cantar, Brincar e Contar Histórias foi implementada em Boa Vista (RR), Colinas (RS) e Sobral (CE). Teresina (PI) implementou a caixa BrincAR Livre.
Para mensurar o impacto dessa implementação, o Instituto de Pesquisa Quantas fez uma pesquisa qualitativa e quantitativa, entrevistando em profundidade uma parcela dos mais de 30 mil cuidadores impactados. Os resultados surpreenderam: em apenas 3 meses, mudanças de comportamento aconteceram em um índice de 8% a 15%, com recuos significativos de práticas não encorajadas – como gritar com a criança, no caso do Cria na Paz – e o aumento de práticas incentivadas – como contar histórias, no caso da Caixa Brincar, Cantar e Contar Histórias.
“Mudar comportamento é algo muito difícil, e, sendo pesquisadores especializados em mensurar comportamentos, nosso olho arregalou quando vimos a magnitude da mudança em um curto período de tempo”, explica Karla Mendes, gestora da Quantas. “Na caixa de contar histórias, por exemplo, ouvimos relatos de pais que falaram sobre descobrir o prazer de contar histórias. Não é sobre incluir burocraticamente uma ação na rotina, mas fazê-lo com gosto, ver o resultado dessa interação ao observar a alegria de sentar no chão e ler um livro com sua criança”.
Resultados na prática: a experiência do Cria na Paz em Caruaru
Caruaru (PE), que já tinha aplicado com sucesso a campanha Brincar Livre em 2022, testou em 2023 a caixa Cria na Paz em 31 creches, impactando diretamente 3.992 crianças e intersetorialmente mais de 14 mil. O processo começou em agosto, com uma formação para servidores com a escritora Elisama Santos, especialista em educação não violenta, consultora da caixa. Depois, os servidores sensibilizados se reuniram com as famílias e estabeleceram um fluxo de atividades e conteúdos da campanha dentro do grupo de Whatsapp.
“Pílulas, frases e pensamentos sobre educação não violenta alcançaram primeiro os professores, depois os grupos de pais e aí se irradiaram para a família. Esse é o motivo de grande adesão a campanha Cria na Paz. Ela consegue entrar no dia a dia das famílias sem tomar tempo, trazendo uma mensagem relevante”, relata Swami Lima, assessor de projetos especiais da prefeitura de Caruaru.
Vídeos da campanha e as mensagens de Whatsapp fizeram a diferença no cotidiano da cuidadora Priscila de Vasconcelos e de sua filha, Paola, de 2 anos e 7 meses. “No grupo de Whatsapp, vinha um vídeo que mostrava como aplicar parentalidade positiva no dia a dia, como era simples mudar um comportamento e ter uma relação melhor com a criança. Os materiais ajudam a contornar com leveza a questão das birras. Foi uma experiência enriquecedora”.
Caruaru teve um aumento de 5% nos números de cuidadores que nunca aceitam práticas de nível alto de violência (xingar ou bater), aumento de 11% na atitude de “sair perto para se acalmar”. 88% dos impactados disseram que a caixa ajuda a ter mais paciência e entender melhor a criança que desobedece.
“Percebemos o quanto essas cuidadoras estão desejosas por apoio e conteúdo para ajudar a cuidar de seus filhos. As jornadas de WhatsApp são um exemplo do quanto elas usam o conteúdo e formam um novo repertório”, arremata Ana, que acrescenta que o uso do Whatsapp propicia que estes cuidadores possam escolher a hora mais propícia de acessar o conteúdo, de acordo com sua rotina.
Todas as cidades que implementaram as caixas Pé de Infância têm planos de institucionalizar as práticas, aumentando o número de equipamentos e servidores impactados. A Allma também se prepara para lançar em larga escala a quarta caixa de ferramentas, Papai Tá Aqui, incentivando paternidades positivas e possíveis. Fique ligado nos canais de instagram da Urban95 e da Allma Hub para mais novidades.