As crianças devem ser protegidas de conteúdos impróprios e excesso de telas
Os meios de comunicação e a comunicação digital têm uma centralidade importante no Brasil atualmente. Ao mesmo tempo em que há muitas oportunidades para debater o tema da primeira infância em diferentes segmentos da sociedade, o consumo de notícias e conteúdos nos meios de comunicação coloca inúmeros desafios e riscos para a promoção e a defesa dos direitos das crianças na primeira infância. Entre outros temas, destacam-se o uso da imagem, o estímulo ao consumismo e a qualificação da cobertura noticiosa.
O campo dos direitos humanos considera a imprensa um vetor decisivo para a divulgação de informações de interesse público, na definição de temas prioritários para a agenda de legisladores e para assegurar visibilidade aos diversos temas de interesse público.
A ANDI – Comunicação e Direitos é uma organização que, desde 1996, produz estudos e análises quantiqualitativas sobre a cobertura que meios de comunicação de todo o país dedicam aos mais variados assuntos – com particular atenção aos direitos da infância e da adolescência.
O 10º documento “Primeira infância na mídia”, publicado este ano e realizado em parceria com a Rede Nacional Primeira Infância (RNPI), é uma análise sobre a cobertura de temas da primeira infância realizada pela mídia brasileira. A pesquisa monitorou a cobertura de 35 veículos noticiosos brasileiros, impressos e on-line, ao longo de 2018 e 2019.
Alguns resultados
A análise de mais de três mil matérias mostrou que a cobertura sobre a primeira infância se concentra em três temas principais: saúde, violência e educação infantil. Nesse conjunto, são predominantes questões sobre saúde na primeira infância, mas também estão contemplados aspectos relativos à saúde materna – concernentes ao pré-natal, parto, puerpério e amamentação.
As matérias sobre violência contra a criança aparecem em segundo lugar, com 18% das notícias dos jornais de alcance nacional. Em seguida, aparecem os textos sobre educação infantil, representando cerca de 13% do total da amostra analisada.
Com percentuais menos expressivos, as matérias sobre convivência familiar e comunitária e sobre parentalidade ocupam entre 4% e 5% do noticiário nos três grupos de veículos.
A criança e a cidade
Os impactos do uso de telas sob a primeira infância urbana
Entre os tópicos invisibilizados na cobertura, está a utilização dos espaços públicos e sua adequação às necessidades das crianças na primeira infância. Essa temática se apresenta como o foco central da discussão em menos de 1% das matérias analisadas, com índices equivalentes a 1% nos jornais de alcance nacional. Os números apresentam um leve aumento quando consideradas todas as menções relativas à utilização dos espaços públicos para a primeira infância, identificadas em 1% das matérias publicadas em jornais de alcance nacional.
Os avanços e constantes inovações trazidas pela era digital apresentam novos desafios à relação entre infância e comunicação. Apesar da atualidade do tema e da sua importância no debate sobre o desenvolvimento infantil, a exposição das crianças às telas não alcança expressão na cobertura noticiosa sobre a primeira infância.
O impacto da exposição precoce a telas e a exposição da imagem de crianças em redes sociais somam 3% e 4% das matérias publicadas pelas revistas. Nos demais veículos, esses números são mais baixos. Destaque apenas para os jornais de circulação local/regional, que mencionam os impactos da exposição precoce às telas em 2% das matérias analisadas.
As revistas também concentram o debate sobre o uso de dados de crianças para fins comerciais (2%). Em contrapartida, não consideram questões relativas à publicidade infantil e a outras formas de comunicação comercial dirigida à criança. Esses temas são cobertos de maneira lateral pelos demais veículos, com percentuais equivalentes a 0,3%.
Foto de capa: Escuta de crianças em Benevides (PA) / Crédito: Prefeitura de Pará.