Ajudar os planejadores de transporte e mobilidade, arquitetos e urbanistas a identificarem formas de melhorar o deslocamento de famílias com crianças pequenas nas cidades
Sistemas de transporte costumam ser planejados para que adultos se desloquem por longas distâncias nos dois sentidos, seguindo a lógica funcional do trabalho. Cuidadores com bebês e crianças, no entanto, se deslocam pelas cidades de forma diferente, com pequenas paradas em que demandam o apoio diário de múltiplos serviços e pessoas, normalmente localizados perto de suas residências.
A criação de sistemas de transporte público que levem em consideração esses outros padrões de mobilidade pode ajudar, e muito, na promoção do acesso à cidade. Os trajetos que conectam famílias aos serviços de saúde, educação, alimentação e outras necessidades cotidianas podem ser priorizados no planejamento, inclusive com a criação de rotas caminháveis.
O preço do transporte público também é uma barreira comum à mobilidade das famílias mais vulneráveis. Diminuir o custo e ampliar as opções de transporte pode melhorar o bem-estar tanto do cuidador como da criança e reduzir os níveis de estresse de ambos. Uma boa infraestrutura das calçadas, a redução da violência no trânsito e da poluição do ar contribuem também para um deslocamento seguro e agradável das famílias e estimulam o caminhar.
O que as cidades podem fazer?
A decisão política como motor da promoção de uma mobilidade que considere as crianças e cuidadores
As prefeituras têm papel central na garantia de sistemas de transporte público seguros e acessíveis para todos, na manutenção das calçadas, pontos de ônibus próximos aos lugares frequentados por cuidadores e rotas utilizadas por eles. O transporte também é um serviço, e melhorar essa experiência promove o bem-estar do cuidador e o acesso das famílias aos serviços que necessitam.
Uma boa iniciativa está no uso dos sistemas de transporte de forma integrada, garantindo que a baldeação entre um meio e outro seja o mais ininterrupta possível. Outras estratégias frequentes incluem transferências gratuitas e tarifas integradas entre serviços, a melhoria da frequência e da previsibilidade do sistema de transporte.
Em conjunto, essas práticas podem promover uma experiência de deslocamento mais segura e confortável para bebês e crianças pequenas, incentivando a ocupação e interação com o território. Uma cidade que promove a mobilidade para famílias de forma segura, acessível e barata é uma cidade acessível para todos.
Mobilidade ativa e desenvolvimento infantil
As ações de gestores e planejadores urbanos influenciam diretamente a vida dos bebês e crianças que vivem nas cidades
Caminhar a pé é uma forma de mobilidade confiável e sem custo. Esse modo de locomoção favorece a ida a vários destinos em uma única viagem, o que é característico do dia a dia do cuidador, oferece oportunidades educativas e lúdicas para as crianças e incentiva a interação com o ambiente. Andar pelas ruas é uma forma de conhecer as cidades.
Para os cuidadores, por outro lado, o deslocamento pode ser uma fonte de estresse, com os traslados no transporte público e as ruas nem sempre amigáveis para os pequenos. Como são as responsáveis pela circulação de bebês e crianças pela cidade, um planejamento urbano que considere a primeira infância deve atender, necessariamente, a um projeto de mobilidade para famílias.
Os desafios urbanos podem ser amenizados com um planejamento melhor dos espaços, como a instalação de áreas de descanso e alimentação ao longo das rotas, intervenções urbanas que criem oportunidades para brincar, cantar e contar histórias. Como um parque de diversões ou uma grande sala de aula a céu aberto, as cidades podem ser espaços de descoberta e aprendizagem para os bebês e crianças.
Que tal aplicar algumas ideias na sua cidade?
Crédito da foto de capa: Ponto de ônibus em Boa Vista (RR). Fotos por Andrezza Mariot.