“Espaços públicos e mobilidade para a primeira infância” foi tema de encontro da rede Urban95

Evento online promoveu debate sobre as possibilidades de repensar a cidade para a primeira infância, partindo da reformulação da mobilidade urbana e das intervenções em espaços públicos.

Um olhar cuidadoso para o planejamento e o desenho urbano das nossas cidades pode ter um impacto significativo para o começo da vida das nossas crianças. Por isso, as cidades que integram a rede Urban95 para a primeira infância participaram do 4º webinar, com o tema “Espaços públicos e mobilidade para a primeira infância”, na terça-feira (3/11).

A Clarisse Linke, Diretora do ITDP Brasil – Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento, trouxe reflexões sobre como pensar a mobilidade em nossas cidades com o olhar para a primeira infância; apresentando exemplos de experiências exitosas na implementação de projetos, ações e políticas de mobilidade.

O IDTP é uma organização que visa a promoção do transporte sustentável e equitativo no mundo, para garantir o acesso à cidade, reduzir emissões de carbono e a desigualdade social. Segundo a Clarisse, a temática da primeira infância abriu uma porta de reflexão para pensar a mobilidade urbana sob uma nova perspectiva.

Ela iniciou sua apresentação com a reflexão sobre a experiência que as pessoas têm na rua que, segundo ela, não promovem segurança. “Os acidentes de trânsito, por exemplo, são uma das principais causas das mortes de crianças em diversos países”, afirma, apresentando os dados da análise da Child Health Initiative.

A velocidade de semáforos e dos carros, além da estrutura pouco humanizada, que valoriza mais a propriedade privada – os carros – do que as pessoas, mostra o quanto as cidades são desenhados para adultos hábis, que são um percentual pequeno da população. A Lei Nacional da Mobilidade Urbana (2012) inverte as prioridades, colocando os pedestres à frente.

A partir daí, “como transformar os deslocamentos em caminhos que explorem o lúdico e o potencial criativo de nossas crianças e sejam ao mesmo tempo seguros?”, questiona Clarisse.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), as crianças devem ter pelo menos 30 minutos de atividades físicas diariamente. Mas, onde elas podem se exercitar? “A gente banaliza essa falta de espaço (para as crianças)”, conta Clarisse, mostrando o exemplo de um empreendimento do programa Minha Casa, Minha Vida, em que não há espaços para circulação, nem pontos de ônibus próximos.

“A rua é um espaço ideal para a gente crescer e se entender tanto no coletivo, como indivíduos”, afirma. “A gente precisa redesenhar a rua e nossos sistemas de mobilidade”.

Redes orientadas pela conectividade, que priorizam o deslocamento de pessoas, incentivam o pedestre e o ciclista, fortalece o desenvolvimento local e com variedade de tamanhos nas quadras e largura das ruas, são critérios importantes para garantir a maior circulação das pessoas nas ruas.

Sobre o futuro da mobilidade, Clarisse acredita que “a pandemia nos traz a oportunidade de pensarmos em um modelo de cidade que permite todas as circulações, em tempos e escalas diferentes”. Para ela, quando gente olha para a primeira infância a gente pensa em como criar espaços confortáveis e adequados para todos, com acesso sensível ao sistema de transporte público.

Cristiana Gonçalves Pereira Rodrigues, Gerente de Projetos de Desenho Urbano na SP Urbanismo – Empresa Municipal de Projetos Urbanos, também participou do encontro e apresentou como os espaços públicos podem contribuir para desenvolvimento das crianças na primeira infância.

Ela apresentou a iniciativa do Territórios Educadores, que realiza ações em alguns locais da cidade de São Paulo, partindo dos princípios de proteção e priorização de pedestres e ciclistas, de suporte à permanência no espaço livre público, atração do público e ativação dos espaços e que potencializam as apropriações existentes.

Com exemplos de ativação, em que brinquedos foram instalados em espaços públicos, Cristiana afirma que a interação é um aprendizado importante, pois ela ela contribui com o desenvolvimento de funções cognitivas nos primeiros anos de vida); e a sua importância não é conhecida entre os cuidadores, que colocam a interação como 4º item mais importante para o desenvolvimento da criança e realiza essa interação apenas em momentos de deslocamento entre casa e escola.

A partir deste conhecimento, o projeto desenvolveu as Trilhas Educadoras, que são intervenções urbanas que transformam os caminhos das crianças pela cidade; e as Estações Educadoras, que são espaços que estimulam a criança a rolar, rastejar, sentar, equilibrar, andar, escalar e esconder-se, e reforça seu relacionamento com seu cuidador(a).

“Está havendo uma reflexão sobre como serão os espaços públicos pós-pandemia, mas na verdade, a gente já vem pensando na qualificação e importância do espaço público muito antes”, afirma Cristiana, sobre os impactos da covid-19 na iniciativa. Para ela, as reflexões continuam, como sempre aconteceram.

Após as apresentações Clarisse e Cristiane realizaram um debate, respondendo também à perguntas dos participantes.

A Rede Urban95 é uma iniciativa da Fundação Bernard van Leer e do Instituto Cidades Sustentáveis, reunindo 14 cidades com o objetivo comum de desenvolver e fortalecer programas e políticas para crianças de 0 a 6 anos de idade. Recentemente, integraram a Rede as seguintes cidades: Aracaju (SE), Brasiléia (AC), Campinas (SP), Caruaru (PE), Crato (CE), Fortaleza (CE), Ilhéus (BA), Jundiaí (SP), Niterói (RJ), Pelotas (RS) e Ubiratã (PR).

A iniciativa visa estimular os municípios a incorporarem, no planejamento e na gestão, o foco no desenvolvimento da primeira infância, a partir de ações e políticas públicas efetivas neste campo. Esse workshop foi o segundo de uma série de capacitações do programa.