A experiência de São Paulo no olhar para as desigualdades na primeira infância
Sabemos que, para garantir que nossos bebês e crianças pequenas atinjam seu pleno potencial de desenvolvimento, é preciso investir em políticas sólidas e intervenções durante os seus primeiros anos de vida. Como um momento crucial para o desenvolvimento infantil, a primeira infância traz necessidades muito específicas e, quando privada dessas demandas, pode ter comprometimentos de longo prazo.
Em São Paulo, chega a variar em 53 vezes o tempo que uma família tem que esperar para conseguir uma vaga em creche pública. Essa diferença depende do bairro onde vivem as crianças, sendo a República o distrito de melhor valor, e Marsilac, no extremo sul da capital paulista, o pior. Por lá, a demora para ser matriculada em uma creche próxima de sua casa passa dos quatro meses de espera.
Esses são dados do Mapa da Desigualdade 2021, lançado pela Rede Nossa São Paulo com comparativos da cidade. O mapeamento ajuda a visualizar os melhores e piores bairros para ser um bebê, criança pequena e cuidador na cidade, ou seja, um retrato da desigualdade na primeira infância. Em 2020 foi desenvolvido o Mapa da Desigualdade da Primeira Infância, que buscava levantar os piores e os melhores distritos da cidade para as crianças viverem. Com indicadores temáticos, permitiu um zoom nas diferenças territoriais que marcam a capital.
Outros dados do levantamento apontam desigualdades sistêmicas no acesso aos serviços de saúde, educação, cultura, oportunidades de emprego e transporte de qualidade. Ao mesmo tempo, os dez distritos com mais favelas na cidade reúnem mais de 20% da população infantil – e, onde há mais crianças na primeira infância, a renda média familiar mensal está abaixo da média geral da cidade.
Caminhos e soluções para as cidades
Os primeiros anos de vida são definidores para as oportunidades de atingir plenamente o desenvolvimento físico, social e psicológico dos indivíduos
Dados nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que a maioria das adolescentes grávidas no Brasil são mulheres de baixa escolaridade, negras e moradoras de regiões menos desenvolvidas economicamente, reforçando que a desigualdade sistêmica não é uma exclusividade de São Paulo. Bebês e crianças de famílias em situação de vulnerabilidade social terão mais dificuldade em alcançar o desenvolvimento infantil pleno, acesso à educação de qualidade, alimentação adequada, estímulos positivos e serviços urbanos, gerando desigualdade na primeira infância.
Nesse sentido, as cidades podem contribuir com a implementação de sistemas de transporte público seguros, acessíveis e de qualidade para a população, de forma que todas as crianças possam se deslocar pela cidade e acessar seus espaços de qualidade. Promover e incentivar a criação de áreas urbanas verdes, praças de bairro e jardins de uso comunitário também é uma forma de criar ambientes mais democráticos para a primeira infância e seus cuidadores.
Cidades da Rede Urban95 têm trabalhado com a perspectiva dos alertas de risco na primeira infância, como forma de medir e monitorar contextos de possível risco de vulnerabilidade para crianças e famílias. Por exemplo, “criança fora da escola”, um indicador de possível ameaça para o desenvolvimento infantil. A partir daí, são pensadas ações de resposta em prol do bem-estar da criança.
Sobre o projeto Alertas Primeira Infância
Fruto da parceria entre o Instituto de Tecnologias Geo-Sociais (ITGS) e a Fundação Bernard van Leer, o Projeto Alertas Primeira Infância tem como objetivo fortalecer a cultura de dados e identificar crianças e gestantes em situação de risco nos municípios da Rede Urban95.
Por meio de uma plataforma de integração de dados que incorpora a perspectiva dos serviços públicos municipais, o projeto visa apoiar os municípios no desenvolvimento de ações de cunho tecnológico que melhorem e monitorem a qualidade de vida na primeira infância.