Racismo prejudica o desenvolvimento e inclusão social de crianças negras

O Brasil é conhecido por ser um país pluricultural com grupos étnicos distindos: indígenas, brancos e negros. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 56,3% dos brasileiros se declararam pretos ou pardos em 2019. Essa maioria da população sofre e é prejudicada indistintamente com o racismo, que começa ainda na infância, já na educação infantil.

É isso o que demonstra o estudo “Racismo, Educação Infantil e Desenvolvimento na Primeira Infância”, publicado pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI) e que dissemina conhecimento científico sobre os efeitos do racismo estrutural no desenvolvimento das crianças negras na primeira infância.

Coordenada por Lucimar Dias, pedagoga e professora associada da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a publicação mostra que a educação infantil é um dos primeiros e mais importantes ambientes de socialização da criança, e é nesse espaço que ocorrem as interações sociais que impactam diretamente o desenvolvimento e a inclusão social dos pequenos. 

De acordo como texto, se as crianças convivem em espaços que oferecem como experiência relações sociais em que a imagem do negro é construída a partir de referências negativas, esperar-se que isso afete seu desenvolvimento emocional.

Um dos principais impactos, aliás, se dá justamente na aceitação da imagem. É na primeira infância que o ser humano começa a notar as diferenças físicas. Sendo assim, é fundamental que nesse período a criança se sinta aceita, acolhida e valorizada.

Além disso, o racismo traz implicações negativas para a saúde física e mental de crianças e adolescentes, como maior incidência de sintomas de ansiedade e depressão. Estudos sugerem que doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes tipo 2, distúrbios respiratórios e imunológicos podem ter raízes em adversidades vividas na primeira infância, como o racismo. Há também outros impactos do racismo no desenvolvimento e inclusão social das crianças, como problemas de socialização, inibição comportamental e estresse tóxico.

Caminhos possíveis para inclusão social e combate ao racismo na educação infantil

Além da garantia de acesso, a educação infantil precisa ter boa qualidade para cumprir sua finalidade de promover o desenvolvimento integral da criança pequena, o que pressupõe a existência de educadores preparados e materiais adequados para a educação das relações étnico-raciais. Confira alguns caminhos possíveis para uma educação infantil em favor da equidade racial elencados pelo estudo:

  • Políticas públicas que promovam a equidade racial, conforme disposto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei n.º 9.394/1996) e publicações do Ministério da Educação (MEC);
  • Gestão pedagógica que responda às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana;
  • Formação continuada dos professores sobre relações étnico-raciais;
  • Financiamento da educação de modo a considerar as desigualdades raciais e sociais e destinação de mais recursos às unidades de educação infantil que atendem às crianças negras e famílias de baixa renda;
  • Previsão orçamentária para a compra de material didático-pedagógico a serviço da educação das relações étnico-raciais.