PARA OUVIR: “As políticas de educação infantil são um direito das crianças e também das mulheres”, afirma Raquel Lyra

Prefeita da cidade pernambucana de Caruaru, Raquel Lyra foi a primeira mulher eleita ao executivo local, ainda em 2016. Reeleita no último ano com mais de 100 mil votos, é hoje também Presidente do G100 (grupo das cidades com mais de 80 mil habitantes e alta vulnerabilidade socioeconômica e baixa renda per capita), dentro da Frente Nacional dos Prefeitos, FNP. Essa posição de liderança reflete o trabalho que a prefeita da maior cidade do interior de Pernambuco tem desenvolvido em sua gestão, especialmente em políticas para as crianças.

Nossa convidada do último episódio do podcast Futuros Urbanos contou mais sobre a entrada de Caruaru na Rede Urban95 Brasil, os desafios e investimentos da cidade e políticas para bebês, crianças pequenas e seus cuidadores. “Fui eleita com um grande sonho, escrito em meu plano de governo, que é transformar a cidade pela educação. Poder garantir às crianças desde cedo o desenvolvimento integral em suas várias faces de sociabilidade, educação, nutrição”, se apresenta Raquel.

Ouça a conversa completa:

Para tal, o maior desafio da prefeita tem sido a expansão da rede escolar, que foi quadruplicada desde o início da gestão, além de passar por uma expansão e requalificação dos espaços infantis. O programa “Primeira Infância de Caruaru” agrega programas intersetoriais do município e que tem como foco os bebês e crianças pequenas, de forma que os serviços cheguem integrados. A Prefeitura tem investido no uso e análise de dados para aprimorar os serviços públicos e cercar as crianças do que precisam para ter suas necessidades de desenvolvimento plenamente atendidas.

Raquel Lyra reforçou também a importância da Rede Urban95 na avaliação dos impactos e resultados das políticas que a cidade tem desenvolvido. “As trocas com outras cidades, o uso de tecnologia e a integração de dados fez com que Caruaru desse um grande salto de qualidade e eficiência na oferta de serviços. Afinal, infância só temos uma, não podemos perder as crianças que estão aqui e agora”, completa a prefeita.

Fortaleza e Jundiaí são algumas das cidades da Rede que já estão compartilhando experiências com Caruaru, um trabalho em conjunto e que corta caminhos para a gestão. Na conversa Raquel reforçou também a importância de sensibilizar as equipes, e afirma que os servidores de Caruaru estão passando por uma grande transformação em seu modelo mental. A prioridade de Caruaru é a primeira infância, que está sendo considerada desde o desenho de cada programa e projeto.

A cidade está desenhando a primeira conexão de um centro de educação infantil para a estação ferroviária da cidade, uma intervenção em parceria com a Rede Urban95 para adaptar o percurso das crianças, desde a saída da escola. Observando calçadas e ruas seguras, intervenções urbanas lúdicas e outras ideias inovadoras, a Caruaru se prepara para construir uma cidade melhor para todas as crianças.

Primeira infância e espaços públicos

Estratégias de acesso ao espaço público, como meios de transporte seguros e um planejamento de bairro que considere as famílias, apoiam um desenvolvimento infantil pleno, já que os bebês e crianças pequenas dependem de um ambiente limpo, saudável e estimulante. São também formas de garantir aos pequenos alguns direitos básicos de todos os que vivem nas cidades, como infraestrutura urbana, serviços públicos e lazer. O acesso à cidade contribui ainda para a construção de um pertencimento e sentimentos de comunidade, em que todos são agentes no território.

Para os bebês e crianças pequenas, o acesso aos espaços públicos está diretamente relacionado com a segurança, conforto e bem-estar que o território oferece aos olhos dos cuidadores, já que as crianças não circulam sozinhas pela cidade. Calçadas largas e bem iluminadas, travessias viárias seguras e a presença de bancos, banheiros e espaços de descanso ao longo das rotas urbanas também apoiam as famílias a ocuparem os espaços públicos.

O design urbano para famílias também considera a perspectiva de bairros, onde as famílias podem realizar suas principais atividades a pé. Um bairro que ofereça fácil acesso e promova a utilização de serviços essenciais com uma viagem curta (15 minutos) e acessível em custo vai beneficiar diretamente os primeiros anos de vida da criança, ou seja, a primeira infância. Um bairro que proporcione uma comunidade animada, solidária e segura e um entorno confortável e estimulante para o desenvolvimento de crianças pequenas e para o bem-estar de seus cuidadores. 

As ruas, calçadas, praças e parques públicos permitem trocas e a criação de vínculos com a cidade e entre a comunidade. Como desbravadoras natas, as crianças estão constantemente testando e aprendendo quando interagem com o espaço e pessoas ao seu redor, e as mais simples experiências podem significar muito para seu desenvolvimento. Defendemos a promoção de lugares seguros, acessíveis, confortáveis e estimulantes para bebês, crianças e seus cuidadores e cujo uso seja promovido ativamente com o objetivo de maximizar a frequência, qualidade e intensidade de interações positivas entre crianças e seus cuidadores.

Crianças e o acesso à cidade

Cuidando daqueles que vivenciam a cidade de formas diferentes

Atualmente, mais de um bilhão de crianças moram em cidades. Cidades podem ser lugares maravilhosos para crescer, mas também podem apresentar sérios desafios para a saúde e o bem-estar de bebês, crianças pequenas e das pessoas que cuidam deles – que vão da escassez de espaços na natureza e de lugares seguros para brincar, poluição do ar e congestionamentos de tráfego ao isolamento social. Ao mesmo tempo, a urbanização está crescendo tão rapidamente que as cidades representam uma oportunidade única para ajudar bebês e suas famílias a prosperarem. 

Para o desenvolvimento cerebral máximo, crianças pequenas precisam de uma alimentação saudável, proteção e – decisivamente – muitas oportunidades de brincar e de serem amadas. Isso significa que bebês e crianças pequenas precisam de cidades com espaços seguros e saudáveis, onde os serviços essenciais sejam de fácil acesso, que permitam interações afetuosas frequentes e responsivas com adultos carinhosos e que ofereçam um entorno seguro e fisicamente motivador para brincar e explorar.

As cidades podem incentivar o acesso dos bebês, crianças pequenas e cuidadores ao espaço público de diversas maneiras, inclusive com intervenções práticas para transformar o espaço urbano considerando um design urbano para famílias. Um desafio é propagar esses princípios de design para que eles exerçam mais impacto sobre áreas mais vulneráveis. Urbanistas e designers podem apoiar um desenvolvimento infantil saudável criando e instalando espaços que facilitem o bem-estar da criança e do cuidador e que promovam comportamentos positivos de cuidado.

Cuidados responsivos e a importância dos cuidadores

A relação entre os bebês e crianças pequenas com seus cuidadores tem uma grande influência em todas as esferas de seu desenvolvimento. Em um período em que os cérebros se desenvolvem mais rapidamente do que nunca, as experiências vividas têm um impacto profundo e duradouro sobre a saúde e capacidade de aprender e de se relacionar. As experiências vividas durante esse período moldam permanentemente nossos cérebros, com marcas para o resto da vida adulta. 

Os cuidadores são responsáveis pela segurança e saúde das crianças, assim como por sua alimentação, acesso a serviços de saúde e educação. As experiências e cuidados oferecidos pelos pais e cuidadores são a base de oportunidades para o desenvolvimento dos bebês, razão pela qual é tão importante que esses adultos recebam apoio material e comunitário, orientação adequada e tenham acesso a todos os direitos e serviços de que necessitam para oferecer as melhores oportunidades às crianças, em um ambiente estável, saudável e estimulante.

Estudos mostram que um cuidado afetuoso, estimulante e responsivo é um dos melhores indicadores de que essas crianças serão bem-sucedidas na escola e adultos mais felizes e bem-sucedidos. Sabemos, por outro lado, que crianças que passam por uma sequência de situações de estresse, negligência ou violência de diversas formas durante a primeira infância têm comprometimentos perenes em sua estrutura cerebral e de relações interpessoais. Condições como a depressão materna, que afeta hoje 13% das novas mães em todo o mundo e 20% daquelas que vivem em países de renda baixa, atrapalha o vínculo entre mãe e filho e tem efeitos negativos sobre seu desenvolvimento.

Práticas parentais negativas e o desenvolvimento na primeira infância

Mães, pais e cuidadores têm demandas específicas na cidade

Castigos físicos e psicológicos são particularmente prejudiciais para bebês e crianças pequenas devido a seu maior potencial para lesões físicas, à incapacidade da criança entender a motivação por trás do ato e à falta de ferramentas cognitivas para compreensão. Sabemos também que, em situações de vulnerabilidade, os cuidadores têm mais dificuldade em oferecer as melhores condições para os bebês e crianças, material e emocionalmente, razão pela qual é importante investir em políticas de atenção integral aos bebês, crianças pequenas e suas famílias. 

As práticas parentais negativas incluem dificuldade em relações responsivas, boa interação com os filhos e atenção à necessidade de serviços médicos, educativos e de assistência. Crianças cujos cuidadores sofrem de alguma doença mental têm um risco maior de atrasos no desenvolvimento, assim como problemas de saúde mental e social na vida adulta. Embora a maior parte das pesquisas tenha se concentrado no papel da saúde mental das mães, há fortes evidências que enfatizam a influência dos pais e de outros cuidadores primários. 

O entorno físico também é um fator que afeta a saúde mental dos cuidadores, como a percepção de segurança e a oferta de espaços públicos confortáveis, os níveis de ruído, calor e qualidade do ar nas cidades, além da oferta de áreas verdes e opções de lazer. Os planejadores urbanos e gestores públicos podem contribuir para os cuidadores de bebês e crianças pequenas ao incluir a pauta da acessibilidade, segurança e oferta de espaços de convivência familiar nos projetos das cidades, incentivando experiências mais agradáveis e que diminuam o estresse cotidiano. 

Praças, parques e áreas de descanso ao longo das rotas caminháveis, a implementação de calçadas largas e travessias de pedestre são alguns exemplos de intervenções urbanas que ajudam os pais e cuidadores a se sentirem mais seguros nos espaços públicos, incentivando sua presença com crianças.

Qualidade do ar e primeira infância – Urban95 Convening 2021

Urban95 Convening é o evento anual da Fundação Bernard van Leer, este ano tratando sobre a importância da qualidade do ar nas cidades, como ela afeta a primeira infância e possíveis soluções. Realizado em parceria com o Instituto Saúde e Sustentabilidade, o evento aconteceu nos dias 8 e 10 de setembro, com especialistas de diferentes áreas apresentando dados sobre o contexto brasileiro. Gestores públicos e sociedade civil também debateram propostas e projetos em andamento em âmbito municipal e estadual.

Confira os principais pontos discutidos em cada palestra, a partir das facilitações gráficas realizadas pelo Coletivo Entrelinhas.

*Clique nas imagens para vê-las com melhor qualidade

DIA 1 – ENTENDENDO A PANDEMIA INVISÍVEL

Contextualização da poluição do ar no Brasil e a sua relevância em bebês e crianças

Dra. Evangelina Vormittag, médica patologista e idealizadora do Instituto Saúde e Sustentabilidade

Contextualização da poluição do ar no Brasil e a sua relevância em bebês e crianças

Impacto da poluição do ar na saúde dos bebês e crianças

Dr. Carlos Augusto Mello da Silva, Presidente do Departamento Científico de Toxicologia e Saúde Ambiental da Sociedade Brasileira de Pediatria

impacto da poluição do ar na saúde dos bebês e crianças

Litigância climática e estratégica na defesa do direito das crianças

Danilo Farias, Advogado no projeto de Justiça Climática e Socioambiental do Instituto Alana

litigância climática e estratégica na defesa do direito das crianças

Qualidade do ar nos espaços da primeira infância

Luana Ferreira Vasconcelos, pesquisadora na Universidade de São Paulo
Ursula Troncoso, comanda o Ateliê Navio e é consultora da Urban95 no Brasil

qualidade do ar nos espaços da primeira infância

Reflexões final e debate com a comunidade

Marcel Martin, Coordenador do portfólio de transportes no Instituto Clima e Sociedade

reflexões final e debate com a comunidadeDIA 2 – EXPERIÊNCIAS E INICIATIVAS EM CIDADES BRASILEIRAS

O Estado da Qualidade do Ar no Brasil

Carolina Genin, diretora do Programa de Clima do WRI Brasil

O Estado da Qualidade do Ar no Brasil

Experiência em Fortaleza

Luiz Alberto Saboia, presidente da Fundação de Ciência, Tecnologia e Inovação – Citinova da Prefeitura Municipal de Fortaleza

Experiência em Fortaleza

Experiência em Belo Horizonte

Fabiano Pimenta, Subsecretário de saúde de Belo Horizonte

Experiência em Belo Horizonte

A iniciativa de monitoramento de qualidade do ar por equipamentos de baixo custo no estado do Acre

Dra Rita de Cássia Nogueira Lima, procuradora do Ministério Público do Acre

A iniciativa de monitoramento de qualidade do ar por equipamentos de baixo custo no estado do Acre

Reflexões final e debate com a comunidade

Hannah Arcuschin Machado, projects manager na Vital Strategies

Reflexões final e debate com a comunidade

As gravações dos eventos estão disponíveis no Canal da Urban95 no YouTube:

Encontro Nacional 08/09 >> ENTENDENDO A PANDEMIA INVISÍVEL
Encontro Nacional 10/09 >> EXPERIÊNCIAS E INICIATIVAS EM CIDADES BRASILEIRAS

 

Programas e projetos acolhedores para a primeira infância

O Plano Nacional pela Primeira Infância, aprovado em 2010, é uma referência importante para a construção de ações e agendas locais, atribuindo ao governo e à sociedade um compromisso com a primeira infância. O Marco Legal da Primeira Infância, instituído pela Lei 13.257 de 2016, recomenda a elaboração de Planos Municipais da Primeira Infância para a articulação da gestão pública local, indicando objetivos e prioridades para que as cidades possam garantir o acesso das crianças a serviços e direitos.

Mas o Brasil também conta hoje com uma diversidade de programas e projetos que se dedicam a gerar transformações positivas na vida dos bebês, crianças pequenas e seus cuidadores, melhorando indicadores de desenvolvimento da primeira infância e ampliando o acesso a direitos e oportunidades para as crianças.

Conheça algumas das iniciativas inovadoras pela agenda da primeira infância:

Observatório da Primeira Infância

Criado com o propósito de contribuir com o movimento de colocar a criança no foco da gestão pública e do desenvolvimento urbano justo e sustentável, o Observatório da Primeira Infância é uma ferramenta para gestores, planejadores urbanos e sociedade. Afinal de contas, a cidade que se atenta às demandas da primeira infância promove, antes mesmo do nascimento, a cidadania. 

O Observatório da Primeira Infância reúne 130 indicadores específicos sobre temas que se dirigem à primeira infância, selecionados de três fontes distintas, sendo a Urban95, da Fundação Bernard van Leer; o Programa Cidades Sustentáveis, que conta com indicadores alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU; e o Prêmio Cidade da Criança. Com dados em mãos, gestores e planejadores podem se orientar sobre a elaboração de políticas específicas para os cidadãos de zero a seis anos.

Primeira Infância Melhor (PIM)

O Programa Primeira Infância Melhor (PIM) nasceu em 2003 e hoje está em uma dezena de cidades gaúchas, atendendo a 35 mil famílias e 5 mil gestantes por ano. O objetivo do programa é integrar o atendimento da assistência, da educação e da saúde para alcançar o protagonismo das famílias no desenvolvimento infantil, incentivar a cidadania, a educação, a autoestima e, consequentemente, quebrar o ciclo da pobreza.

Pioneiro na orientação e acolhimento familiar, o programa ajudou a reduzir a mortalidade materna no estado, que antecipou o cumprimento da meta estabelecida nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). A promoção do desenvolvimento integral na primeira infância, da gestação aos 6 anos, é reforçada pelo fortalecimento de vínculos familiares e melhores índices de atendimento e acesso a serviços, entre eles saúde, creches, conselho tutelar etc.

Programa Criança Feliz

Criado em 2016 pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário para integrar ações nas áreas de educação, saúde, justiça e cultura, para crianças de 0 a 3 anos, o programa é tido como apoio importante no desenvolvimento das ações de primeira infância. 

Mãe Coruja Pernambucana

Criado em 2007 e tornado lei em 2009, o projeto integra 11 secretarias e beneficia 105 municípios, que contam com o acompanhamento das gestantes durante o pré-natal e crianças até seus 5 anos. O programa alcançou redução da mortalidade neonatal e dos índices de baixo peso ao nascer e aumentou a presença das gestantes no pré-natal e o aleitamento materno, diminuindo ainda o índice de gravidez na adolescência. Oferece apoio integral às gestantes e aos seus bebês com um olhar atento ao desenvolvimento integral nos primeiros anos de vida. 

São Paulo pela Primeiríssima Infância

Promove ações pelo desenvolvimento integral, da gestação aos três anos. Surgiu a partir dos avanços do Programa Primeiríssima Infância, que impulsionou a articulação entre diferentes setores da gestão pública, especialmente nas pastas da saúde, educação infantil e desenvolvimento social. O atendimento interdisciplinar aproxima profissionais da área de saúde, gestão, educação infantil e desenvolvimento social, com soluções testadas em mais de 40 municípios paulistas.

“As mudanças climáticas são uma emergência médica com efeitos sentidos pelos mais pobres”

A sessão de encerramento do Urban95 Convening Brasil recebeu gestores públicos e técnicos de diversas cidades para conhecerem as iniciativas brasileiras de combate à poluição que já estão pensando sobre a pauta do ar limpo para bebês e crianças. A edição de 2021 contou com dois dias de debates, 8 e 10 de setembro, integrando as atividades da agenda global da Rede Urban95, que acontecem nos dias 2 e 14 de setembro.

Com a intenção de ouvir aqueles que estão executando políticas e ações no território, o evento recebeu o presidente da Fundação de Ciência, Tecnologia e Inovação (Citinova) da Prefeitura Municipal de Fortaleza, Luiz Alberto Saboia, Sonia Knauer e Fabiano Pimenta, subsecretário de saúde de Belo Horizonte, e a Dra. Rita de Cássia Nogueira Lima, procuradora do Ministério Público do Acre, que compartilhou a experiência de formação da Rede Estadual de Monitoramento da Qualidade do Ar.

A diretora do Programa de Clima do WRI Brasil, Carolina Genin, abriu a mesa com um panorama sobre “O Estado da Qualidade do Ar no Brasil”, estudo que sistematizou o atual conhecimento que temos sobre o tema no Brasil, com seus desafios e prioridades. “Temos um problema, mas também temos soluções à mão. E nossa primeira recomendação é a criação de uma política nacional, sistêmica e mais robusta de qualidade do ar, que dê conta da complexidade do Brasil”, afirma Carolina.

Conduzido pela WRI junto a diversos parceiros, o projeto reuniu informações sobre as fontes de poluição do ar no Brasil, seus impactos e as formas de controle atualmente e organizou 10 indicações claras para a tomada de decisão em prol do ar limpo. Em conjunto, indica um caminho a ser trilhado pelo país na direção de um ar mais limpo e saudável para bebês, crianças e todos nós.

São elas: o alinhamento aos padrões internacionais; a criação de políticas de incentivo para reduzir assimetrias locais; fortalecimento da ciência de dados e do sistema de monitoramento atmosférico nacional; o alinhamento de políticas nacionais de controle de poluentes atmosféricos; o fortalecimento de sinergias e compatibilização entre políticas de qualidade do ar; a promoção de pesquisas sobre a economia da qualidade do ar e sua interface com a desigualdade socioeconômica no Brasil; desenvolvimento de políticas regionais e nacionais para a gestão de queimadas e a promoção de formas mais equitativas de participação social no tema, com poderes de decisão.

Mudanças Climáticas

Felipe Cardoso/Urban95 Brasil

Ar limpo na prática: o que as cidades estão fazendo

Com mais de 5 milhões de deslocamentos diários, sendo 63% por transporte motorizado, a capital cearense vem investindo na transformação de suas ruas, calçadas e percursos urbanos pensando na segurança e conforto de pedestres e ciclistas. Com 55% de seus estudantes afirmando que caminham até a escola, ruas seguras se tornaram uma prioridade da gestão. Luiz Alberto Saboia apresentou a experiência de implementação de áreas de trânsito calmo em zonas de alta circulação de crianças, “devolvendo o protagonismo para os pedestres e requalificando os espaços da cidade”. “Ao se aproximarem de uma zona escolar, hoje as pessoas entendem que a prioridade ali é o pedestre, são as crianças”, completa.

O projeto Cidade para as Pessoas, outra iniciativa local, alcançou a redução da velocidade média dos veículos na área em 50%, e a ideia de Fortaleza é replicar as áreas seguras ao redor de todas as escolas do município.

O subsecretário de promoção e vigilância em saúde de Belo Horizonte, Fabiano Geraldo Pereira Júnior, apresentou projetos desenvolvidos na cidade pela promoção da saúde respiratória, como o Programa Criança que Chia, que estabeleceu uma rede integrada de atenção a crianças e adolescentes com doenças respiratórias agudas e crônicas.

Sonia Knauer, técnica da Prefeitura de Belo Horizonte, complementou a exposição com os avanços da cidade no combate à mudança do clima, que culminou no desenvolvimento de um Plano Municipal de Redução das Emissões de GEE, já em sua segunda revisão.

“A medida que as mudanças climáticas acontecem e os seres humanos avançam sobre as áreas selvagens, cinco novas doenças infecciosas surgem por ano, além aquelas provocadas pelas enchentes e ondas de calor. Sabemos que a redução das emissões está diretamente ligada à qualidade do ar. As mudanças climáticas são uma emergência médica e seus efeitos são sentidos pelos mais pobres, por isso é tão importante fortalecer a participação social nesse tema. Para que as pessoas saibam o que está acontecendo”, defende Sonia.

A experiência do estado do Acre no combate à poluição foi apresentada pela procuradora do Ministério Público, Dra. Rita de Cássia Nogueira Lima, que acompanhou de perto o surgimento da Rede de Monitoramento da Qualidade do Ar no Acre. O estado vem capacitando gestores e servidores públicos quanto à importância do ar limpo para todos, além de implementar tecnologias para apoiar a redução das emissões.

No encerramento do Urban95 Convening Brasil, Carolina Genin lembrou ao grupo que o papel da sociedade civil é justamente dar asas e conectar projetos que estão acontecendo em locais distantes, mas que possuem tecnologias inovadoras e de baixo custo. Como um canal de trocas, o evento propôs pontes entre cidades e suas soluções, que podem ser escaladas e replicadas.

“O fim da poluição deve ser a nova agenda nacional, como já foi em décadas anteriores o combate ao tabagismo e ao HIV”

Edição brasileira do Urban95 Convening 2021 discute caminhos para aprimorar a qualidade do ar para bebês e crianças pequenas com roda interdisciplinar debate

O primeiro dia do Urban95 Convening Brasil reuniu gestores, técnicos e especialistas de diferentes áreas para uma sessão de debate sobre a qualidade do ar e seus impactos sobre a primeira infância, especialmente a que vive hoje nas cidades brasileiras. Os participantes conheceram dados e estudos recentes sobre os efeitos de curto e longo prazo da poluição, hoje associada a mais óbitos do que o trânsito em nosso país.

Representantes das cidades da Rede Urban95 escutaram também sobre as especificidades dos bebês e crianças em seus primeiros anos de vida quando são atingidos por partículas de poluição e toxicidades no ar. Pensando na importância das lideranças locais e na necessidade de circulação e permanência dos pequenos nos espaços públicos, o monitoramento do ar, atividades de conscientização e a criação de zonas de proteção para a primeira infância foram algumas das ideias incentivadas ao longo do evento, que aconteceu nessa quarta-feira (08/09), de forma virtual. 

“Reunimos cidades que já estão olhando para a questão da qualidade do ar e do ambiente urbano para bebês e crianças pequenas em muitos campos, representados aqui da medicina à arquitetura. Acreditamos que todas as áreas do conhecimento se relacionam com esse tema e podem contribuir. Lembrando a chegada da COP 26, que acontece agora em novembro, a ideia é manter a pauta no ar, literalmente.” Assim a representante da Fundação Bernard van Leer no Brasil, Claudia Vidigal, deu as boas-vindas aos participantes do Urban95 Convening, destacando a interdisciplinaridade da mesa.

Felipe Cardoso/Urban95 Brasil

Saúde e desenvolvimento infantil no contato com a poluição

Trazendo um retrato da poluição do ar no Brasil e a sua relevância em bebês e crianças, a idealizadora do Instituto Saúde e Sustentabilidade, Dra. Evangelina Vormittag, fez um chamado para que todos possam se apropriar da gravidade de seus efeitos para a primeira infância, especialmente aqueles que têm poder decisório nas cidades.

“A primeira informação relevante é a magnitude de como a poluição pode afetar os bebês, ainda na barriga. Imaginávamos que um feto estivesse protegido da poluição do ambiente externo, aquela a que a mãe está exposta, mas já temos pesquisas com evidências de partículas no lado fetal da placenta, ou seja, houve transposição da poluição do ambiente. Não apenas o bebê pode receber partículas pela corrente sanguínea, mas há uma constatação nova e irrefutável de que a poluição pode levar à morte das crianças”, afirma a médica patologista.

As crianças estariam mais expostas à poluição do que os adultos, inclusive pela absorção da pele e o hábito de levar as mãos à boca. Além disso, seu desenvolvimento físico ainda não está completo, e pulmão por exemplo, só vai estar totalmente desenvolvido aos 6 anos de idade, período durante o que não contaria com todas as camadas de proteção no órgão, o deixando ainda mais exposto à contaminantes. Em contextos rurais, a exposição pode acontecer até mesmo dentro de casa, como no caso do fogão a lenha.

A Dra. Evangelina destaca ainda que já existem leis no Brasil que tratam o tema da poluição, mas que elas não são seguidas de forma rígida. “Apesar de existir a Lei Nacional de Inspeção Veicular ela não é executada nos estados e, mesmo em São Paulo onde existe uma lei específica para o monitoramento dos ônibus municipais, a regra nunca foi implementada. Eu, se fosse gestora, enfrentaria a questão da substituição do combustível do transporte como primeiro desafio!”, completa. A médica defendeu como caminho a construção de uma política nacional de qualidade do ar, que já está em trâmite no Congresso Nacional.

Presidente do Departamento Científico de Toxicologia e Saúde, da Sociedade Brasileira de Pediatria, o Dr. Carlos Augusto Mello da Silva abordou em sua participação no encontro os impactos mais imediatos da poluição na saúde de bebês e crianças, como mau desempenho em testes cognitivos, prejuízos ao desenvolvimento motor e até mesmo aumento de distúrbios neurocomportamentais e diabetes. Pesquisas indicam relação direta entre a qualidade do ar durante a gestação e efeitos sobre o desenvolvimento do sistema nervoso central e do sistema endócrino das crianças.

“Tivemos grandes avanços na questão da poluição indoor, no ambiente doméstico, pelo combate ao tabagismo no Brasil, que chegou a alcançar uma posição muito boa de abandono ao cigarro em comparação com muitos países, inclusive da Europa Ocidental. O saneamento público também avançou muito. Creio que a questão da poluição ainda não é a pauta da vez, mas pode se tornar, a depender do conjunto da sociedade. Precisamos trabalhar juntos nestas pautas, para que os gestores públicos se sensibilizem, como aconteceu com o tabagismo, o HIV e as campanhas de imunização”, afirma Carlos.

Por uma política do ar puro!

Sobre o aspecto legal da exposição de bebês e crianças à poluição, o advogado Danilo Farias falou sobre litigância climática e estratégias na defesa dos direitos para a primeira infância. O advogado do projeto Justiça Climática e Socioambiental, do Instituto Alana, mostrou caminhos para alcançarmos cidades com um ar mais respirável para as crianças e apresentou um histórico da legislação sobre poluição no Brasil.

A manhã se encerrou com um bate-papo entre a pesquisadora da Universidade de São Paulo, Luana Ferreira Vasconcelos e a consultora da Rede Urban95 Brasil, Ursula Troncoso. “Quanto menor o poluente, maior sua capacidade de penetrar no trato respiratório e causar danos à saúde, em curto e longo prazo”, explicou Luana sobre os efeitos nocivos da poluição do ar à saúde das crianças e seu desenvolvimento. 

Úrsula Troncoso apresentou algumas ideias de mitigação enfrentamento à poluição em escala local, como o monitoramento da qualidade do ar, campanhas de conscientização e a criação de zonas de proteção, lugares de convivência da primeira infância onde se proponha a redução de poluentes. A apresentação partiu de pesquisa realizada com apoio técnico da WRI, parceira de longa data da Fundação Bernard van Leer, que resultou no recém lançamento de uma cartilha sobre poluição do ar e a primeira infância.

O encerramento do evento se deu com as provocações do Coordenador de portfólio de transportes no Instituto Clima e Sociedade, Marcel Martin, que pontuou sobre a posição dos gestores municipais e seu papel na formulação de políticas públicas locais. “O ar não respeita limites administrativos, mas é nas cidades que acontecem estas emissões”, afirmou. Um convite à reflexão dos participantes sobre como as cidades podem se posicionar de forma integrada em relação a agenda do ar limpo.

O evento contou ainda com a facilitação gráfica do Coletivo Entrelinhas. Na sexta feira, 10/08, acontece o segundo dia da Urban95 Convening 2021 Brasil, e a programação completa pode ser conferida aqui. A manhã será dedicada a projetos e iniciativas brasileiras de sucesso no combate à poluição do ar.

Incluir: Entenda mais sobre Quais os problemas que a poluição do ar pode causar

 

Urban95 Convening Brasil discute qualidade do ar e primeira infância

O ar puro é um princípio essencial de cidades saudáveis, seguras e vibrantes, nas quais bebês e crianças pequenas possam se desenvolver plenamente. Por outro lado, estes grupos ficam mais próximos das fontes de poluição, como escapamentos de veículos, e consomem mais ar. Uma criança de 3 anos respira em média 2x mais oxigênio do que um adulto, tornando-as muito mais vulneráveis. Saiba mais sobre quais os problemas que a poluição do ar pode causar.

Qualidade do ar e primeira infância

Já sabemos que a qualidade do ar afeta de forma desigual os pequenos, e que a exposição a altos níveis de poluição antes do nascimento, e nos primeiros anos de vida, pode ter consequências perigosas para a vida toda. Com essa preocupação em mente, a Fundação Bernard van Leer convida para o Urban95 Convening Brasil, que acontece nos dias 8 e 10 de setembro, em sessões online das 10h às 12h.

As inscrições estão disponíveis gratuitamente.

Como um problema global, regional e local, soluções diferentes e integradas são necessárias para reverter a poluição que afeta nosso planeta, como mudanças na legislação, campanhas de mudança de comportamento e intervenções urbanas que amenizem seus efeitos. O evento propõe observar as evidências sobre o estado da qualidade do ar e sua conexão com os primeiros anos de vida, para que possamos pensar juntos em ideias e propostas garantam ar puro para bebês, crianças pequenas e seus cuidadores.

Para conhecer um pouco mais sobre o tema antes do evento, leia a publicação “Policy brief: A poluição do ar na Primeira Infância” .

Saiba mais sobre: Qualidade do ar e primeira infância

As cinco dimensões da primeira infância

Os primeiros anos de vida

Um momento único para investir no desenvolvimento das crianças

Em seus primeiros mil dias de vida, as crianças respondem mais rapidamente às interferências, estímulos e experiências do que em qualquer outro momento, fazendo deste período uma janela crucial de oportunidades para o desenvolvimento humano.

Da mesma forma, quando expostas de forma prolongada a experiências adversas na primeira infância, como negligência, violência, abuso ou disfunções familiares, o desenvolvimento infantil pode afetar de forma adversa suas funções superiores e, consequentemente, sua integração plena na sociedade quando adultos. 

As 5 dimensões do desenvolvimento infantil

O cuidado integral oferece oportunidades únicas para os bebês e as crianças pequenas

Para um desenvolvimento pleno de suas potencialidades, os bebês e crianças pequenas precisam de acesso à saúde, uma nutrição adequada e saudável, estímulos motores, sensoriais e um cuidado amoroso por parte dos seus cuidadores, os protegendo do estresse e diversas formas de violência.

O modelo de nutrição de cuidados, ou cuidados de criação, incluem componentes inter-relacionados de saúde, nutrição, proteção e segurança, aprendizagem precoce e cuidados responsivos. Essas 5 dimensões do desenvolvimento infantil apontam cuidados essenciais para o desenvolvimento pleno dos bebês e crianças pequenas, e constituem a base de uma vida feliz e saudável na vida adulta. 

Com o exercício dos cinco domínios, as crianças podem aproveitar todo o seu potencial de desenvolvimento, contando para isso com seus pais, cuidadores e toda a sociedade. Os cuidados com as dimensões do desenvolvimento podem ser  promovidos e incentivados pela gestão pública, oferecendo acesso à serviços, informações e intervenções que ajudam os pais e outros cuidadores a assegurar que as crianças cresçam saudáveis e protegidas de perigos.

  • Saúde

As condições de saúde de uma criança afetam diretamente seu desenvolvimento

A dimensão da saúde na primeira infância inclui também pais e cuidadores, sendo fundamental uma abordagem de saúde da família para garantir o acesso pleno à serviços e direitos. Sabemos, ainda, que quando cuidamos da saúde física e mental dos cuidadores aumentamos sua capacidade de atender as necessidades infantis.

Os serviços de saúde são importantes na prevenção de doenças e promoção do bem-estar integral, se iniciando ainda no pré-natal. O cuidado com as gestantes pode assegurar os nutrientes adequados durante a vida intrauterina, favorecendo o desenvolvimento cerebral, bem como a prevenção de doenças e o incentivo à amamentação 

  • Nutrição

A nutrição adequada começa ainda na gestação

Um ambiente ideal promove o desenvolvimento dos bebês e crianças ainda durante a gravidez, considerando que a saúde da mãe afeta diretamente o estado nutricional do feto. A desnutrição materna também pode acarretar baixo peso ao nascer e aumenta o risco de doenças crônicas na vida adulta. 

Após o nascimento, a nutrição dos cuidadores afeta inclusive a capacidade de oferecer cuidados adequados à criança, resultando em problemas como amamentação insuficiente, desnutrição proteico-calórica e carência de micronutrientes.

  • Cuidado responsivo

Apoiar o cuidador para atender as necessidades dos bebês e das crianças 

Violência, negligência e maus-tratos podem ter efeitos fortes e duradouros sobre a estrutura cerebral das crianças, afetando suas funções psicológicas, comportamentos de risco na vida adulta e desenvolvimento profissional e econômico. A criação de um ambiente seguro, amoroso e seguro reduz os riscos de violência, melhoram a interação entre pais e filhos e seu conhecimento sobre o desenvolvimento infantil.

Os cuidados responsivos são os mais próximos da criança, e se referem à capacidade de todos os cuidadores da criança (cuidadora de crianças), sejam pais, avós ou professores, a perceber e responder aos sinais desta criança de maneira oportuna, sem negligência nem hiper estimulação.

4) Segurança e proteção

Ambientes seguros para bebês, crianças e suas famílias

Perigos físicos, emocionais e riscos ambientais são ameaças para o desenvolvimento pleno e saudável dos bebês e crianças pequenas. No caso das grandes cidades, além da violência sistêmica a poluição é uma questão central e que afeta de forma desproporcional a primeira infância, especialmente aquelas em famílias vulneráveis.

As cidades devem garantir às crianças pequenas e suas famílias um acesso adequado à alimentação de qualidade, sendo um foco de destaque o cuidado com famílias em risco de insegurança alimentar. Além da obrigação constitucional em fornecer localmente os serviços básicos de infraestrutura, a garantia de que as famílias tenham acesso à água e esgoto tratados é condição fundamental para a segurança e proteção na primeira infância.

5) Aprendizagem inicial

Oportunidades para os bebês e as crianças pequenas têm de interagir com o mundo

Reconhecemos que cada interação, seja positiva ou negativa, contribui para o desenvolvimento cerebral das crianças e estabelece as bases para o seu desenvolvimento. Aqui podemos pensar em relações interpessoais e também com o ambiente, fundamental para que os bebês e crianças pequenas possam experimentar suas cidades, explorar o território e criar vínculos com o espaço urbano. 

As interações vividas durante os primeiros anos têm um impacto grande sobre o desenvolvimento integral das crianças e também são base para aprendizados posteriores. A formação neurológica e emocional deste período é marcante e pode influenciar o indivíduo por toda sua vida.

Espaços públicos e mobilidade para primeira infância

Em um dia comum, uma criança na primeira infância e seus cuidadores demandam diversos serviços e espaços da cidade, como creches, postos de saúde e praças. Experiências nas ruas da cidade e nos espaços públicos que elas oferecem são de extrema importância, mas acabam sendo escassas se o planejamento urbano não contar com um olhar voltado à primeira infância.  Continue reading

Cidades e infâncias: a influência do território no desenvolvimento infantil

Existem muitas razões para priorizar a primeira infância no planejamento urbano e no desenho de programas e serviços. Para começar, 83% das crianças brasileiras vivem em cidades, segundo dados do IBGE de 2015. Além disso, 2 em cada 5 crianças vivem na pobreza ou na extrema pobreza, como mostram dados do IBGE de 2019. Ou seja, a relação entre cidades e infâncias é uma realidade muitas vezes desigual e insustentável, e que precisa urgentemente ser reparada.

Um dos caminhos para isso é entender as necessidades da primeira infância e tomar decisões a partir delas. Para apoiar gestores e equipes técnicas das prefeituras nesta missão, reunimos uma série de referências sobre por que e como construir cidades a partir da perspectiva de bebês, crianças pequenas e de seus cuidadores.

Aqui, você vai encontrar os seguintes conteúdos sobre cidades e infâncias:

  • Seis razões para priorizar a primeira infância no município
  • O que é e como criar uma cidade cuidadora
  • Ideias para transformar espaços públicos
  • Cidades e Infâncias: webinar temático Urban95

Considere que este é um material de consulta, que pode ser lido, relido e compartilhado sempre que for necessário discutir, ou até mesmo justificar, a importância das cidades para oferecer um bom começo para as crianças.

Seis razões para priorizar a primeira infância no município

O Guia para elaboração do Plano Municipal pela Primeira Infância é um documento fundamental para inspirar e orientar a criação deste importante documento. Além de trazer diretrizes e roteiros, o texto apresenta seis razões para as crianças de até 6 anos serem a agenda prioritária do município:

1) Crianças têm direitos

Cuidado, educação, proteção, atenção à saúde, brincar, convívio familiar e comunitário. Essas são apenas algumas das condições básicas para as crianças sobreviverem e se realizarem na existência. São também direitos das crianças garantidos por lei.

Em primeiro lugar, a Constituição Federal Brasileira determina o atendimento de crianças e adolescentes pela família, pela sociedade e pelo Estado com absoluta prioridade. Já o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece a forma como os direitos devem ser atendidos. Por fim, o Marco Legal da Primeira Infância traz diretrizes para políticas públicas focadas em crianças de até 6 anos.

O Ministério Público (MP), a Defensoria Pública, os Tribunais de Justiça, os Conselhos de Direitos e Tutelares têm atuado para defender os direitos da criança. Em parceria com a Secretaria de Educação, por exemplo, esses órgãos podem garantir o acesso à creche. Neste sentido, a articulação intersetorial é necessária para promover a proteção integral de crianças e adolescentes.

Assista ao vídeo sobre marcos e leis com relação ao direito à cidade, produzido pelo CECIP Centro de Criação de Imagem Popular para o curso online MOB. PI – Participação Infantil e Políticas Públicas para a Cidade:

2) O cuidado integral na infância é uma demanda social

É dever da família, da sociedade e do Estado proteger a criança e cuidar dela para que tenha vida plena e desenvolva seu potencial humano. Ou seja, as famílias não devem cuidar sozinhas de seus filhos e filhas. E nem podem, já que precisam trabalhar fora de casa.

Está na Constituição Federal, no artigo 7o, inciso XXV, que é direito dos trabalhadores urbanos e rurais a “assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até cinco anos de idade em creches e pré-escolas”. Ainda que muitas vezes a responsabilidade pela criança recaia sobre a mulher, o direito é da família. E o Estado precisa estar presente para atender a esta demanda social.

3) O argumento da educação

Pesquisas mostram que uma educação infantil de qualidade aumenta as chances da criança aprender mais no ensino fundamental e médio. Isso porque as primeiras experiências formam a base para que todas as demais aconteçam.

E não estamos falando apenas de conteúdo. Tanto que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) define seis direitos de aprendizagem na educação infantil: conviver, expressar, brincar, participar, explorar e se conhecer.

4) O argumento da justiça social

Todas as crianças nascem com imenso potencial, mas algumas têm mais chances do que outras para se desenvolver plenamente. Para quebrar o círculo da pobreza, é preciso apoiar e fortalecer as competências das famílias em cuidar e educar as crianças pequenas. Assim,  garantimos um bom começo de vida para todas.

É dever de toda a sociedade evitar que o meio se torne fator de desigualdade no desenvolvimento das crianças. O cuidado integral da primeira infância, por meio de políticas de equidade, é a estratégia mais eficaz para promover a igualdade desde cedo.

Assista ao vídeo sobre as seis razões para os governos colocarem as crianças na agenda pública, produzido pela Rede Nacional Primeira Infância:

5) O argumento da economia

Investir na educação infantil e em programas para a primeira infância não só traz um alto retorno, como gera economia de recursos. E muitos estudos já comprovaram este benefício. O mais conhecido foi realizado por James Heckman, Prêmio Nobel de Economia em 2000.

Segundo seus cálculos, o valor aplicado na educação das crianças evitou gastos entre sete e dez vezes maiores em programas de reeducação, correção e assistência social de adolescentes e adultos do mesmo nível socioeconômico que não tiveram a oportunidade de  frequentar aquele programa. Segundo ele, investir na primeira infância pode mudar a realidade de um país.

Estudos brasileiros também chegaram a conclusões semelhantes. Ricardo Barros e Rosane Mendonça, por exemplo, encontraram uma taxa de retorno ainda maior do que a de Heckman: entre 12,5% e 15%. Além de ser um dever do poder público, também é estratégico aplicar recursos financeiros na atenção à primeira infância.

6) O argumento das ciências

A neurociência vem comprovando que os primeiros anos de vida são os melhores para desenvolver estruturas de pensamento, de emoções, de interações. São as chamadas “janelas  de oportunidades”, que precisam ser aproveitadas no tempo certo. Mais tarde as oportunidades podem não ser tão eficientes.

Os conhecimentos produzidos pela pedagogia, psicologia e outros campos sobre a primeira infância são confirmados, aprofundados e ganham precisão com as análises feitas pela ciência do cérebro. Esses estudos mostram que a primeira infância é a mais sensível e a que mais facilmente se estrutura ou se desestrutura.

Isso significa que as marcas das experiências (sobretudo, as de caráter emocional) são mais profundas e duradouras do que em outros períodos da vida. Isso não significa que se pode estigmatizar uma pessoa por ter sofrido uma lesão em seu cérebro, ou vivenciado experiências que a levaram a atitudes antissociais. Apenas reforça a importância do cuidado integral das crianças nos primeiros anos de vida.

Agora que já entendemos porque a primeira infância é tão importante, vamos trazer os conceitos para a prática? Assim, fica mais fácil entender como se dá a relação entre cidades e infâncias nos territórios.

O que é e como criar uma cidade cuidadora

Acolher a presença das crianças nos espaços urbanos é uma forma de cuidar da infância. Para a arquiteta e urbanista Irene Quintáns, essa é a definição de uma “cidade cuidadora”:

“A palavra cuidar vem do latim cogitare, pensar. Uma cidade que cuida é aquela que destina tempo, energia e recursos para pensar: pensar em como incluir em suas ações as complexas e variadas necessidades da cidadania e, especialmente, daqueles que mais cuidados demandam.”

– Irene Quintáns, no texto Cidade para crianças, urbanismo e mobilidade urbana, escrito para o curso MOB.PI – Participação Infantil e Políticas Públicas, produzido pelo CECIP.

Então, a cidade que cuida das crianças é aquela que garante condições de vida saudáveis, seguras e públicas. A cidade saudável proporciona bem-estar físico, emocional e cognitivo. Ela também é segura quando reafirma o espaço da criança nos espaços, e a interação com seu entorno. E é pública ao considerar a criança como parte imprescindível do coletivo.

E como isso se traduz nos territórios? Existem diversos caminhos desenhados nos Guias para o desenvolvimento de bairros amigáveis à Primeira Infância, desenvolvidos pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) em parceria com a Fundação Bernard van Leer. Na primeira de quatro publicações, são apresentados quatro motivos para criar políticas públicas com foco na primeira infância:

1) Sensação de segurança: da criança e de seu cuidador

Elementos de estresse na cidade, como veículos em alta velocidade e violência, limitam o acesso e a mobilidade das famílias. Tanto que muitas vezes vemos parques e espaços abertos sendo mais ocupados por homens e jovens, e menos por mulheres e crianças mais novas.

Essa sensação de insegurança também gera um estado de alerta e hipervigilância, que leva à ansiedade. Quando sustentada por um certo período de tempo, essa ansiedade aumenta o hormônio cortisol no corpo. É o chamado estresse tóxico, que pode diminuir a capacidade das crianças de explorar e aprender.

2) Ambientes de cooperação

Os eventos de vida mais significativos para crianças nos primeiros anos de vida são atividades comuns que acontecem diária e repetidamente. Por exemplo, com o que e como eles são alimentados, a higiene diária, a qualidade do ar que respiram e a água que bebem, o que, como e com quem brincam.

Interações responsivas, divertidas, significativas e tranquilas com seus cuidadores são oportunidades para explorar suas capacidades e seus arredores. Isso garante o desenvolvimento de uma função cognitiva aprimorada, uma sensação de segurança em relacionamentos futuros e um senso de domínio em relação ao ambiente físico.

Assista ao vídeo Caminhando com Tim Tim, produzido por Genifer Gerhardt, que mostra como a relação de uma criança com a cidade é rica em trocas, afetos e aprendizados:

3) Frequentar espaços ao ar livre regularmente

Para as crianças de até seis anos, tudo é uma oportunidade para aprender. Principalmente a partir do uso do corpo para caminhar, equilibrar-se, correr, pular, escalar, rolar ou cair. Por isso, é preciso integrar a brincadeira ao ar livre no fluxo da vida urbana, e não apenas como um evento especial, como um passeio planejado a um parque.

Em nome da segurança, muitas vezes as cidades impõem restrições máximas às crianças pequenas, como limites de circulação, espaços a ocupar e altura de brinquedos, por exemplo. O resultado são experiências e espaços tediosos e, portanto, subutilizados. Existem muitas organizações em todo o mundo que estão redesenhando parquinhos para que as crianças se sintam mais atraídas e se tornem mais aventureiras.

4) Crianças precisam do verde

Pesquisas já mostraram diversas vezes que espaços verdes reduzem o estresse em crianças e adultos e melhoram sua saúde mental. Além disso, árvores e vegetação urbanas são elementos que ajudam a diminuir o comportamento agressivo nas cidades, e foram associados à redução do crime. Essas e outras informações podem ser encontradas no Guia global de desenho de ruas, da NACTO (National Association of City Transportation Officials).

O contato com a natureza, ao lado de seus cuidadores, estabelece calma e um ritmo lento de estímulo que não estressa os sentidos dos bebês. Para as crianças entre dois e seis anos, o contato com a natureza aprimora seu senso de compreensão do próprio corpo e cria um senso de capacidade e autoconfiança.

Ambientes com variedade de texturas para explorar – árvores para escalar, folhas secas para pisar, pedras para construir estruturas imaginárias – são os elementos mais benéficos para o cérebro em crescimento, tanto estrutural quanto emocionalmente.

Cidades e infâncias: webinar temático Urban95

O que é uma cidade que prioriza a primeira infância, afinal? E como isso acontece, na prática? Este foi o tema do “Webinar Cidades e Infâncias: a influência do território no desenvolvimento infantil”, realizado pelo CECIP Centro de Criação de Imagem Popular. A instituição está responsável pela articulação com as 11 novas cidades Urban95.

Para início de conversa, a coordenadora de projeto Isabella Gregory falou dos avanços de cada cidade. Em seguida, foi a vez da representante da Fundação Bernard van Leer no Brasil, Claudia Vidigal, falar sobre porque investir na primeira infância.

Depois, a arquiteta e urbanista Ursula Troncoso, que é consultora Urban95, abordou os problemas e oportunidades das cidades para as crianças de até 6 anos, com apresentação de casos de sucesso no Brasil.

Por fim, os participantes ainda se reuniram em grupos para pensar em ações práticas e intersetoriais com foco em crianças pequenas e seus cuidadores. O webinar Cidades e Infâncias foi o primeiro de uma série de encontros formativos para os novos integrantes da rede Urban95.

Assista ao vídeo do Webinar Cidades e Infâncias: a influência do território no desenvolvimento infantil, realizado pelo CECIP para a Urban95:

Ideias para transformar espaços públicos: cidades e infâncias na prática

A Urban95 disponibiliza uma série de materiais de apoio com boas práticas e ideias para incluir a primeira infância no planejamento urbano. Um exemplo é o Guia de pontos de ônibus que acolhem a primeira infância, que traz ideias simples de intervenções para garantir segurança, conforto, interação social e inspiração para crianças, cuidadores e todos os cidadãos.

>> Conheça a biblioteca da Rede Urban95 Brasil

Para apoiar de forma mais concreta, a Urban95 criou a iniciativa Pé de infância, que oferece elementos e propostas de intervenções lúdicas em espaços públicos. O projeto foi desenhado a partir de premissas científicas, cartografias afetivas das comunidades e participação de gestores municipais e especialistas em primeira infância.

Quer levar o Pé de infância para a sua cidade? Então entre em contato com a equipe do CECIP/Urban95!

Quando o assunto é cidades e infâncias, existem muitas referências e inspirações como estas que apresentamos. Continue acompanhando os canais e redes sociais da Urban95 para conhecer outras ações com foco em bebês, crianças pequenas e seus cuidadores.

Saiba mais sobre o que é Desenvolvimento Integral da criança

Parques naturalizados para Primeira Infância

O que são parques naturalizados?

Por um brincar mais natural

Parques naturalizados são espaços ao ar livre e multifuncionais, desenvolvidos a partir de elementos naturais e com múltiplas possibilidades de interação, exploração e criação. Com a proposta de utilizar elementos da natureza, como troncos, galhos e a própria topografia dos terrenos para criar espaços de convívio, lazer e brincadeiras, os parques naturalizados representam um movimento mundial e trazem um conceito lúdico e educativo para as cidades.

Também são uma forma de promover o brincar livre, as interações com vizinhos e o vínculo com o espaço público. O contato da comunidade com a natureza traz benefícios para todas as idades, criando novas áreas verdes, parques e praças no ambiente urbano. Parques naturalizados oferecem sombra e locais de descanso, podem ser fonte de alimento e oferecem aos adultos um caminho de volta à própria infância.

Natureza e Cidades Sustentáveis

Como as cidades podem apoiar o desenvolvimento integral na infância?

Pesquisas comprovam que o contato com a natureza contribui para o desenvolvimento integral
da criança. Os brinquedos pensados a partir de elementos naturais são espaços mais dinâmicos, incentivam a criatividade e a imaginação, experiências sensoriais e motoras mais desafiadoras para os bebês e crianças pequenas.

O contato com a natureza é um elemento essencial para a saúde física, mental e emocional na infância, apoia a construção de vínculos afetivos para que as crianças aprendam a respeitar todas as formas de vida e contribui para o desemparedamento da criança, inclusive nas escolas. Reconhecemos que a cidade pode ser um território lúdico e educativo, para além dos muros escolares.

Para benefício da gestão pública, os parques naturalizados podem ser implantados a um custo mais baixo, uma vez que reaproveitam materiais já existentes, como troncos e resíduos da poda urbana. Mas são também um caminho para construir cidades mais verdes e vivas, com espaços públicos seguros, acessíveis e amigáveis para as crianças.

Natureza e primeira infância

Criando espaços verdes perto dos bebês, crianças pequenas e suas famílias

O contato com a natureza promove a saúde e o bem-estar de toda a comunidade, das gestantes e bebês aos mais idosos. Pesquisadores são categóricos em afirmar que brincadeiras ao ar livre e o contato com a natureza trazem inúmeros benefícios para o desenvolvimento integral das crianças, especialmente aqueles que vivem em centros urbanos.

Os parques naturalizados são uma estratégia simples, barata e efetiva para promover o contato com a natureza nas cidades, bem como uma forma de promover o contato cotidiano entre as crianças e os espaços abertos. Uma dessas estratégias consiste em transformar os espaços de brincar frequentados por crianças e famílias, como os parquinhos públicos, praças e pátios escolares em ambientes mais naturais, desafiadores e ricos em oportunidades de interação, tanto entre as pessoas quanto com a natureza.

Essa estratégia também inclui a criação de parques naturalizados em áreas abandonadas ou vazias, mesmo que seu uso seja temporário. Estes microparques, ou “parques de bolso”, podem ser implantados rapidamente e com baixo custo, podendo ganhar escala nos municípios e proximidade com os bairros.

Crédito da foto: Praça naturalizado em Alcinópolis (MS). Foto por Alicce Rodrigues.

Ação coletiva reúne 10 cidades brasileiras para marcar o mês da Primeira Infância

Mensagens serão projetadas em edifícios e monumentos urbanos a partir deste domingo (22)

O Brasil celebra, pela primeira vez, em agosto o Mês da Primeira Infância. Para marcar essa mobilização, a partir deste domingo (22), 10 cidades brasileiras, de diferentes tamanhos e regiões do País, estarão reunidas numa estratégia de intervenção urbana que visa a chamar atenção para a importância de políticas públicas que priorizem gestantes, bebês, crianças e cuidadores.

O Agosto Dourado foi precursor da agenda com o incentivo à amamentação e o Dia da Gestante, comemorado em 15 de agosto. Mas, falar da primeira infância vai além de oferecer uma cobertura de pré-natal e apoio ao aleitamento materno. Pensar na infância é atender pais e cuidadores com serviços públicos de qualidade, é preservar os espaços públicos limpos e iluminados, é pensar em intervenções urbanas lúdicas como parte de todas as ruas. Com o objetivo de dar pleno atendimento aos direitos dos bebês e crianças pequenas, a escolha de um mês específico reforça a mobilização da sociedade civil, a criação de políticas públicas e a visibilidade do tema.

As cidades envolvidas nesta iniciativa fazem parte da Rede Urban95 Brasil, que hoje reúne um total de 24 municípios brasileiros. O objetivo é promover, desenvolver e fortalecer programas e políticas públicas voltadas ao bem-estar e qualidade de vida das crianças de 0 a 6 anos nas cidades brasileiras. O projeto apoia os municípios na elaboração de diagnósticos locais sobre a experiência e o acesso do público infantil e seus cuidadores aos espaços urbanos, disponibilizando dados para embasar a construção de políticas públicas mais assertivas para a primeira infância e alinhadas a outras agendas estratégicas locais. A secretaria estratégica da rede, composta pela Fundação Bernard van Leer e Instituto Cidades Sustentáveis, oferece apoio técnico nos temas de urbanismo e mobilidade, com foco em crianças pequenas e seus cuidadores, além de uma consultoria para o aprimoramento de ações e políticas públicas na área.

Agenda de projeções urbanas: 

22/08 – Brasília (DF) | Congresso Nacional
23/08 – Campinas (SP) | Paço municipal
24/08 – Jundiaí (SP) | Ponte Torta
25/08 – Caruaru (PE) | sede da Via Parque
26/08 – Aracaju (SE) | Arcos do Atalaia
27/08 – Fortaleza (CE) | Centro Cultural Belchior
28/08 – Crato (CE) | Museu Histórico do Crato
29/08 – Niterói (RJ) | MAC
30/08 – Pelotas (RS) | Largo do Mercado Público
31/08 – Brasiléia (AC) | Praça Hugo Poli

Assista ao vídeo das projeções urbanas no canal do YouTube Rede Urban95 Brasil.

Sobre a Urban95
A Urban95 é uma iniciativa global que busca incluir a perspectiva de bebês, crianças pequenas e cuidadores no planejamento urbano, nas estratégias de mobilidade e nos programas e serviços oferecidos nas cidades. Por isso, considera a experiência de uma criança de três anos de idade que, em média, tem até 95cm de altura. Saiba mais.

Planejando cidades sob as lentes da primeira infância

O planejamento das cidades sob as lentes da primeira infância é uma forma de melhorar o bem-estar e a qualidade de vida de todos, afinal, uma cidade boa para crianças é boa para todos. Existem algumas estratégias que visam tornar as cidades mais acessíveis, seguras e com mais mobilidade para bebês, crianças pequenas e seus cuidadores, que raramente têm voz no planejamento, no design e nas políticas urbanas. 

A Rede Urban95 ajuda planejadores de transporte e mobilidade, arquitetos e urbanistas a entender como seu trabalho pode influenciar no desenvolvimento infantil. De maneira importante, também os ajudamos a identificar e a ampliar formas rentáveis de melhorar como famílias com crianças pequenas vivem, brincam, interagem e se movimentam nas cidades. 

Como utilizar as informações entre setores para priorizar os primeiros anos

Os diversos setores do poder público e da iniciativa privada podem se unir para trazer informações importantes sobre o que acontece nas cidades, criando novas estratégias para melhorar os indicadores relacionados à primeira infância. Com dados qualificados em mãos, gestores públicos e sociedade têm subsídios para planejar cidades que apliquem o design family friendly, onde as crianças pequenas possam circular pelas cidades e experimentar ambientes próximos, seguros e com oportunidades de brincar pela cidade 

Mobilidade

A mobilidade é um aspecto muito importante no dia a dia dos cuidadores, das crianças pequenas e dos bebês. Em uma cidade, a locomoção pode se tornar muito difícil, devido à pouca estrutura para que o deslocamento de crianças e cuidadores seja seguro, agradável e realmente proporcione momentos de conexão entre os envolvidos e de aprendizado para os pequenos.

Atualmente, um dia a dia funcional das pessoas com as crianças é composto por idas e voltas da escola, do playground, trabalho, lojas, visitas a parentes, entre outros. Quando esses locais são próximos, é possível fazer tudo isso de forma mais rápida e sem se expor a muitos riscos.

Mais linhas de trens podem ser adicionadas, soluções para passar menos tempo no trânsito podem ser implementadas, ônibus elétricos, ciclovias, entre outras. Calçadas largas, sombreadas e com bancos para descanso ou intervenções lúdicas, travessias de pedestre frequentes e bem sinalizadas também são estratégias urbanas importantes para garantir o acesso dos pequenos às ruas das cidades.

Planejamento e construção de espaços públicos

O planejamento público relacionado à construção e organização de espaços é muito importante no que tange ao impacto que causam na qualidade de vida das pessoas, em especial na primeira infância. A distância entre os lugares frequentados pelos cuidadores, bebês e crianças afeta quanto tempo eles podem ficar com suas famílias, tendo interações de qualidade nos espaços disponíveis.

Com um trabalho focado nas crianças pequenas, é possível trazer uma experiência melhor para todas as pessoas. Espaços públicos e transporte que considerem o design para o cuidado tendem a promover a qualidade de vida e o bem estar de todos que vivem nas cidades, com a criação de novas áreas verdes, espaços de convivência e vias mais seguras.

Quando o poder público se preocupa com a primeira infância criando espaços para fazer pausas, sentar e brincar, não só as crianças se beneficiam. Os pais e cuidadores também conseguem descansar e desenvolver uma relação de afeto e confiança com a criança, mas para isso é preciso pensar na segurança, acessibilidade, conforto e na capacidade dos espaços de oferecerem experiências educativas e lúdicas. 

Além de uma boa infraestrutura para crianças pequenas, bebês e lactantes, também podem oferecer opções criativas para que as crianças possam aprender e desenvolver suas habilidades motoras e cognitivas. O design centrado na família ajuda as famílias a oferecerem às crianças um bom começo de vida e pode aumentar a resiliência climática da cidade, gerar enormes benefícios econômicos e de outros tipos, e oferecer uma plataforma para investimentos que tendem a unir forças políticas

Crédito da foto: Crianças em parque naturalizado de Alcinópolis (MS).  Crédito: Alicce

O que é ser Urban95: a experiência de Jundiaí

Jundiaí (SP) é uma cidade que acolhe as crianças de todas as idades. E as ações que o município do interior paulista vem aplicando em benefício da primeira infância mostra exatamente o que é ser Urban95. Essa experiência foi contada pelo prefeito de Jundiaí, Luiz Fernando Machado, durante o webinar de boas-vindas aos novos integrantes da rede.

Ao lado de Carolina Bezerra, primeira-dama de Fortaleza (CE) entre 2013 a 2020, Luiz Fernando foi um dos anfitriões do encontro. Prefeito de Jundiaí por dois mandatos, de 2016 a 2024, o gestor destacou que a parceria da iniciativa com o poder público é fundamental para concretizar ações para crianças pequenas e suas famílias no município.

“Eu sempre tive a convicção muito clara de que as boas fundações, quando se somam ao poder público, têm a capacidade de fazer a escala do que é a sua intenção. O que estamos vivendo em conjunto é a realidade de implementar em larga escala aquilo que é importante para a vida das pessoas. E isso só é possível ser feito a partir do setor público”.

 

O que é ser Urban95

A potência da parceria entre a Urban95 e o município vem da união entre teoria e prática, segundo o prefeito. “A Fundação Bernard van Leer, além dos aportes financeiros, pode nos fazer o melhor aporte que necessitamos, que é o da boa formação científica para aplicação da política pública”.

O webinar de boas-vindas das novas cidades Urban95 foi realizado pelo CECIP Centro de Criação de Imagem Popular. A instituição é responsável pela integração das novas cidades à iniciativa. Além dos anfitriões de Jundiaí e Fortaleza, participaram do evento a diretora da Fundação Bernard van Leer, Cecilia Jones, a representante da fundação no Brasil, Claudia Vidigal, e os prefeitos dos 11 municípios que passaram a integrar a rede.

Quer saber como foi o evento? Assista ao vídeo completo no canal do CECIP no YouTube!

Conheça: Mundo das Crianças Jundiaí

 

5 lições de Fortaleza para as novas cidades Urban95

Ao longo dos últimos anos, a cidade de Fortaleza (CE) vem desenvolvendo uma série de políticas públicas para a primeira infância. Por isso, o município foi um dos anfitriões do webinar de boas-vindas das novas cidades Urban95, e apresentou 5 lições de Fortaleza na implementação de ações para a primeira infância.

O evento foi realizado pelo CECIP Centro de Criação de Imagem Popular, instituição responsável pela integração das novas cidades à iniciativa. Além de Fortaleza, o encontro contou com a recepção de Luiz Fernando Machado, prefeito de Jundiaí (SP).

Quem representou a capital cearense foi Carolina Bezerra, primeira-dama da capital cearense entre 2013 e 2020. Em sua fala inspiradora, ela trouxe 5 lições de Fortaleza para quem está chegando agora à rede.

Confira as 5 lições de Fortaleza (CE):

1) Fazer projetos piloto

É preciso começar pequeno, segundo Carolina. Isso porque ações pontuais ajudam a traçar os caminhos para a larga escala: “É preciso primeiro experimentar e mudar rumos, porque a gente só conhece o projeto quando vai para campo”.

2) Garantir orçamento

Carolina conta que Fortaleza começou a pensar na primeira infância quando o tema ainda era pouco difundido, 10 anos atrás. “No começo, a gente implorava por verba. Hoje, com a importância que essa política tem, não podemos mais admitir isso. Precisamos lutar pelo orçamento e pela garantia deles no Plano Plurianual (PPA)”.

3) Mobilizar o gabinete do prefeito

É fundamental ter um órgão ou assessor especial vinculado ao gabinete do prefeito para articular políticas intersetoriais para a primeira infância. Carolina afirma que isso não só é possível, como necessário. Afinal, a intersetorialidade aumenta a eficiência dos projetos.

4) Implementar programas inovadores

Carolina contou que Fortaleza apostou na inovação, sem deixar de garantir os serviços básicos. “Os programas inovadores foram a chave para que as famílias começassem também a enxergar a primeira infância com outra ótica. E para que passassem a nos cobrar e a se tornarem aliadas da prefeitura”.

5) Ter bons parceiros

A lição final da anfitriã foi sobre a importância das parcerias. “Fortaleza construiu com bons parceiros, e certamente a rede Urban95 foi uma das melhores mãos que a gente segurou. E a principal mensagem que eu queria deixar é que com parceria, confiança e paciência eu tenho certeza que cada um de vocês vai brilhar na execução das políticas para a primeira infância”.

Além da acolhida dos anfitriões, o webinar de boas-vindas das novas cidades Urban95 teve a presença da diretora da Fundação Bernard van Leer, Cecilia Jones, e da representante da fundação no Brasil, Claudia Vidigal. Também participaram os prefeitos dos 11 municípios que passaram a integrar a iniciativa.

Quer saber como foi o evento? Então assista ao vídeo completo no canal do CECIP no YouTube!

A importância do brincar na primeira infância

A brincadeira é uma das principais atividades na vida dos bebês e das crianças pequenas. Brincando, a criança aprende a se comunicar, desenvolve a imaginação e diversos tipos de habilidades, inclusive motoras. O brincar na primeira infância tem um papel central no desenvolvimento infantil, como uma porta de entrada para desvendar sensações e sentimentos, inclusive na relação com seus cuidadores. Saiba a importância do brincar na infância.

Importância do Brincar na Infância Continue reading

Pelotas adere ao projeto Pé de Infância

Cidade comemora 4 anos do Pacto pela Paz com assinatura de adesão ao projeto da Rede Urban95 e plantio coletivo

A prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, assinou termo de compromisso para adesão ao projeto Pé de Infância, da Rede Urban95, na quarta-feira (11/08). As ações realizadas se integram ao eixo Urbanismo do Pacto Pelotas pela Paz, que pensa a ocupação dos espaços e intervenções que aumentem a segurança na cidade e incentivem a cultura de paz.

Pé de Infância - Pelotas

Prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, assina termo de adesão ao Pé de Infância

Na data, a cidade de Pelotas celebrou os quatro anos do Pacto pela Paz com a apresentação de indicadores criminais decrescentes no município desde 2017, comprovando o sucesso da iniciativa. Para a prefeita do município, os dados comprovam “que a cidade está no caminho certo e, ao mesmo tempo, serve como compromisso com o futuro. Precisamos manter essa queda e realmente fincar a bandeira da paz no nosso município”, completou Paula.

Durante a comemoração, foi realizado o plantio de flores em um canteiro intitulado “Vidas que Florescem”. O ato representou as 181 vidas preservadas a partir da implementação do Pacto Pelotas pela Paz.

O projeto Pé de Infância chega a Pelotas com grande potencial para reforçar os projetos que já estão pensando a cultura de paz como parte do eixo de mudança de comportamento nos espaços públicos e nas oportunidades que moldam os primeiros seis anos cruciais da vida das crianças.

Com ações para incentivar o cantar, o brincar e a contação de histórias para os pequenos, oferece uma Caixa de Ferramentas para ajudar cuidadores de crianças pequenas a incluírem esses três comportamentos fundamentais em suas rotinas diárias.

A Caixa de Ferramentas foi criada por uma equipe de multiprofissionais e se divide entre materiais institucionais, guias e manuais e ideias de ações para a mudança de comportamento. A iniciativa visa ao cuidado de crianças de 0 a 6 anos, mas traz benefícios para toda a comunidade, afinal, uma cidade boa para crianças é boa para todos nós.

Sistemas de transporte pensando em mobilidade para famílias

Ajudar os planejadores de transporte e mobilidade, arquitetos e urbanistas a identificarem formas de melhorar o deslocamento de famílias com crianças pequenas nas cidades

Sistemas de transporte costumam ser planejados para que adultos se desloquem por longas distâncias nos dois sentidos, seguindo a lógica funcional do trabalho. Cuidadores com bebês e crianças, no entanto, se deslocam pelas cidades de forma diferente, com pequenas paradas em que demandam o apoio diário de múltiplos serviços e pessoas, normalmente localizados perto de suas residências. 

A criação de sistemas de transporte público que levem em consideração esses outros padrões de mobilidade pode ajudar, e muito, na promoção do acesso à cidade. Os trajetos que conectam famílias aos serviços de saúde, educação, alimentação e outras necessidades cotidianas podem ser priorizados no planejamento, inclusive com a criação de rotas caminháveis.

O preço do transporte público também é uma barreira comum à mobilidade das famílias mais vulneráveis. Diminuir o custo e ampliar as opções de transporte pode melhorar o bem-estar tanto do cuidador como da criança e reduzir os níveis de estresse de ambos. Uma boa infraestrutura das calçadas, a redução da violência no trânsito e da poluição do ar contribuem também para um deslocamento seguro e agradável das famílias e estimulam o caminhar.

O que as cidades podem fazer?

A decisão política como motor da promoção de uma mobilidade que considere as crianças e cuidadores

As prefeituras têm papel central na garantia de sistemas de transporte público seguros e acessíveis para todos, na manutenção das calçadas, pontos de ônibus próximos aos lugares frequentados por cuidadores e rotas utilizadas por eles. O transporte também é um serviço, e melhorar essa experiência promove o bem-estar do cuidador e o acesso das famílias aos serviços que necessitam. 

Uma boa iniciativa está no uso dos sistemas de transporte de forma integrada, garantindo que a baldeação entre um meio e outro seja o mais ininterrupta possível. Outras estratégias frequentes incluem transferências gratuitas e tarifas integradas entre serviços, a melhoria da frequência e da previsibilidade do sistema de transporte. 

Em conjunto, essas práticas podem promover uma experiência de deslocamento mais segura e confortável para bebês e crianças pequenas, incentivando a ocupação e interação com o território. Uma cidade que promove a mobilidade para famílias de forma segura, acessível e barata é uma cidade acessível para todos.

Mobilidade ativa e desenvolvimento infantil

As ações de gestores e planejadores urbanos influenciam diretamente a vida dos bebês e crianças que vivem nas cidades

Caminhar a pé é uma forma de mobilidade confiável e sem custo. Esse modo de locomoção favorece a ida a vários destinos em uma única viagem, o que é característico do dia a dia do cuidador, oferece oportunidades educativas e lúdicas para as crianças e incentiva a interação com o ambiente. Andar pelas ruas é uma forma de conhecer as cidades.

Para os cuidadores, por outro lado, o deslocamento pode ser uma fonte de estresse, com os traslados no transporte público e as ruas nem sempre amigáveis para os pequenos. Como são as responsáveis pela circulação de bebês e crianças pela cidade, um planejamento urbano que considere a primeira infância deve atender, necessariamente, a um projeto de mobilidade para famílias.

Os desafios urbanos podem ser amenizados com um planejamento melhor dos espaços, como a instalação de áreas de descanso e alimentação ao longo das rotas, intervenções urbanas que criem oportunidades para brincar, cantar e contar histórias. Como um parque de diversões ou uma grande sala de aula a céu aberto, as cidades podem ser espaços de descoberta e aprendizagem para os bebês e crianças. 

Que tal aplicar algumas ideias na sua cidade?

Crédito da foto de capa: Ponto de ônibus em Boa Vista (RR). Fotos por Andrezza Mariot.

Pensando cidades para crianças

Espaços que consideram as necessidades dos bebês, das crianças e de seus cuidadores promovem cidades mais justas, saudáveis e vibrantes

A iniciativa Urban95 procura dar voz aos bebês, crianças pequenas e cuidadores no planejamento urbano, nas estratégias de mobilidade e nos programas e serviços destinados a eles nas cidades. A criação de áreas dedicadas à primeira infância pode ter grande impacto na qualidade de vida das cidades, integrando intervenções urbanas e espaços públicos para os pequenos e seus cuidadores, além de acesso aos serviços urbanos fundamentais. As cidades podem se tornar mais amigáveis com um planejamento de bairro e a criação de rotas estratégicas, entre outras ideias.

Os bebês e as crianças precisam de ambientes seguros e saudáveis para usufruir das cidades, onde os serviços básicos sejam de fácil acesso e o entorno seja estimulante e acessível, permitindo interações frequentes, afetuosas e responsivas com adultos carinhosos e que lhes ofereçam novas experiências.

Com o esforço de apoiar a criação de cidades para crianças, a Urban95 vem reunindo uma série de ferramentas e estratégias, que podem ser resumidas em três lições para as cidades:

  1. Design para cuidar: bebês e crianças pequenas não andam pelas cidades sozinhos, aqueles que cuidam deles decidem para onde ir e quanto tempo ficar. Esses cuidadores precisam se sentir seguros e confortáveis;
  2. A proximidade importa: o bom transporte público é importante, assim como caminhar com segurança, conforto e chegar com rapidez aonde você precisa ir;
  3. “Pense nos bebês” como um princípio universal de design: de uma perspectiva de design, a vulnerabilidade, a dependência e a forte vontade de explorar e brincar dos bebês e crianças significam que, se um espaço é seguro, limpo e interessante o suficiente para eles, é provável que seja bom para todos.

Construindo cidades para as crianças

O design e o planejamento urbano podem ajudar ou impedir o desenvolvimento dos bebês e das crianças pequenas

As cidades podem contribuir para tornar o percurso mais fácil e rápido para que famílias com carrinhos e crianças com suas perninhas ainda pequenas cheguem a destinos cotidianos. Recursos que permitam o explorar e o brincar nas paradas de ônibus tornam a espera mais fácil para as crianças e criam oportunidades valiosas de aprendizagem e interação social.

 Transformar espaços inutilizados ou degradados em jardins comunitários, pequenos parques ou parquinhos naturais é uma estratégia para disponibilizar mais espaços para que crianças brinquem e famílias se encontrem. Esses espaços podem permitir que bebês e crianças tenham acesso à natureza, fortalecendo o sentido de comunidade e melhorando a qualidade do ar e a consciência ambiental. Territórios que pensam a perspectiva de bebês, crianças pequenas e seus cuidadores são mais saudáveis, seguros e instigantes para todos.

Cidades mais verdes

Áreas verdes mitigam o impacto urbano e contribuem para o bem-estar das crianças e de seus cuidadores

Governos desempenham um papel crítico na criação e manutenção de parques e praças em zonas urbanas. Em uma cidade, áreas verdes numerosas, acessíveis e bem-localizadas mitigam o impacto de temperaturas extremas, da poluição do ar e de condições climáticas adversas sobre o bem-estar das crianças e de seus cuidadores. Políticas e sistemas sobre a redução das emissões de gás carbono, assim como a inclusão de áreas verdes nas leis de construção e zoneamento, também podem fazer a diferença. 

Cidades mais limpas

Crianças precisam de contato regular com a natureza e são mais vulneráveis à poluição 

É importante garantir a qualidade do ar de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) nas áreas em que crianças passam a maior parte do tempo, como creches, centros de saúde, escolas, ruas, parques, praças e parquinhos. Bebês e crianças são mais vulneráveis à poluição do ar do que crianças mais velhas e adultos, já que respiram uma quantidade maior de ar por quilo de peso corporal. A exposição regular à poluição afeta negativamente o desenvolvimento cognitivo e mental. 

Cidades mais seguras 

Reduzir o tráfego perto de serviços pode ajudar a melhorar a qualidade do ar e tornar mais seguro o trajeto de cuidadores e crianças pequenas

A altura das crianças pequenas as coloca constantemente perto do escapamento dos carros em movimento, e o trânsito também aumenta a probabilidade de colisões, de problemas de estacionamento, entre outras questões. Restrições de tráfego reduzem fatores estressantes, como barulho, poluição do ar e risco de colisões, liberam espaço para mais elementos naturais e podem contribuir para uma maior interação social ao oferecer mais espaços onde permanecer e descansar. 

O espaço liberado pelos carros pode gerar mais áreas de brincar ao ar livre perto de onde as famílias moram. Possíveis intervenções incluem redução dos limites de velocidade, planejamento de ruas que reduzam o espaço e a velocidade para os carros, criação de zonas exclusivas para pedestres e eventos temporários para defender a circulação de menos carros em nossas cidades. Ruas multimodais também têm demonstrado muitos benefícios para todos os habitantes da cidade.

Crédito: Cidade das Crianças, em Jundiaí (SP) / Crédito: Prefeitura da cidade.

Brasiléia comemora 111 anos com intervenções para a primeira infância 

Praça central da cidade traz as crianças pequenas para a pauta urbana

Brasiléia, representante acreana da Rede Urban95 Brasil, vem se engajando nas políticas voltadas para primeira infância, construindo cada vez mais caminhos para tornar a cidade mais amigável para crianças pequenas e seus cuidadores.

Durante a semana de comemoração aos 111 anos da cidade, que aconteceu entre 26 de junho e 4 de julho, um conjunto de intervenções e eventos foram realizados na cidade e a prefeita, Fernanda Hassem, fez questão de incluir a primeira infância. Fruto da articulação com a Rede Urban95 e o engajamento da equipe de técnicos da prefeitura, ferramentas do Pé de Infância ganharam vida na Praça Hugo Poli.

Criança brinca em intervenção do Pé de Infância/Crédito: Raylanderson Frota

Pinturas no piso para incentivar brincadeiras, contação de histórias e a ‘muretinha da fama’, que registra a marca das crianças da cidade, estão entre as estratégias para atrair os pequenos para o brincar. Os cuidadores também são convidados a entrar na brincadeira e se conectarem com as crianças por meio de mensagens que despertam a imaginação.

Este projeto faz parte da primeira etapa de intervenções urbanas voltadas para a primeira infância em Brasiléia. Muito mais está por vir nos próximos meses. A ideia é expandir as ações para o restante da cidade, levar o olhar cuidadoso para a primeira infância por meio de intervenções práticas em todos os bairros.

Família brinca em intervenções do Pé de Infância no centro de Brasiléia/Crédito: Raylanderson Frota

Para Maria Castro, coordenadora técnica da Secretaria Municipal de Educação, o projeto foi um sucesso, crianças e cuidadores se envolveram nas brincadeiras e na contação de histórias. A equipe da prefeitura está engajada para a expansão das ações voltadas para a primeira infância no município e segue contando com o apoio da Rede Urban95 para concretizá-las.

Criança interage com intervenção do Pé de Infância/Crédito: Raylanderson Frota

“Medir para aprimorar” é o caminho para cidades que investem na primeira infância

Cidades Urban95 acompanharam o 12º webinar temático com um olhar para esforços e impactos quando falamos de primeira infância e espaços urbanos

As cidades da Rede Urban95 se reuniram na manhã de quinta-feira (05/08) para o webinar “Avaliação e monitoramento de políticas para a primeira infância”. O evento contou com a participação de Eduardo Marino, da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Andressa Lopes Ribeiro da WRI Brasil, e Tânia Batistela Torres, representante da Prefeitura Municipal de Canoas e consultora do método Quali-Urb Infância, para rotas escolares. O grupo discutiu alguns caminhos para beneficiar bebês e crianças pequenas nas cidades e desenvolver respostas mais efetivas para suas necessidades.

Assista ao webinar completo.

Representante da Fundação Bernard van Leer no Brasil, de onde lidera a iniciativa Urban95, Claudia Vidigal abriu o evento relembrando o histórico da fundação com o monitoramento de políticas em São Paulo, especialmente na parceria com o Instituto Cidades Sustentáveis, de onde surgiu o Mapa da Desigualdade da Primeira Infância. Com 26 indicadores nas mais diversas áreas da administração pública, o Mapa aponta prioridades e necessidades dessa população nos 96 distritos da capital paulista.

“A partir do Mapa, foram definidos 10 territórios prioritários para intervenção com foco na primeira infância e, com o avanço das ações, os Territórios Educadores estão cada vez mais próximos de se tornarem realidade. Avançamos em parceria com o município de São Paulo para entender cada vez melhor os territórios”, completa Claudia.

Eduardo Marino, da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, apresentou dados de alguns programas voltados ao desenvolvimento da primeira infância nos Estados Unidos, com destaque para o Perry Preschool, iniciado nos anos 60 com grande impacto nas concepções sobre desenvolvimento infantil, tendo sido replicado em diversas escolas estadunidenses.

Ele destacou ainda a importância da qualidade dos programas para garantir sua efetividade, sendo o monitoramento a garantia de que nenhum impacto negativo possa ser justificado. “Estamos ofertando programas de qualidade para as crianças? E com qual o impacto? Estas perguntas são as duas principais razões para a monitorar e avaliar”, resume.

Primeira Infância: Avaliação e Monitoramento
Facilitação gráfica do webinar (crédito: Coletivo Entrelinhas)

 

Voltando ao município de São Paulo, o programa São Paulo pela Primeiríssima Infância ganhou destaque pela capacidade de monitoramento qualitativo e intersetorial, incluindo as 5 dimensões para o diagnóstico de indicadores do cuidado, que estão relacionados ao eixo da saúde, nutrição, segurança e proteção, cuidado responsivo e aprendizagem inicial.

Um método para avaliar rotas escolares

Andressa Lopes Ribeiro, da WRI Brasil, e Tânia Batistela Torres, da Prefeitura Municipal de Canoas, apresentaram às cidades da Rede Urban95 Brasil o projeto Quali-Urb Infância, que propõe um método para o monitoramento da qualidade do ambiente urbano ao longo de rotas escolares. Desenvolvendo caminhos seguros e lúdicos entre a casa e a escola, a ferramenta apoia a criação de territórios educadores para além dos muros da escola e com a participação das crianças e cuidadores.

A metodologia tem um componente de percepção que aproxima os usuários e ajuda a entender quais atributos urbanos que tornam o trajeto até a escola a pé ou de bicicleta mais seguro, confortável e interessante para crianças de 0 a 6 anos e seus cuidadores. Permite ainda um detalhamento do que precisa ser aperfeiçoado em relação à segurança pública e viária, à caminhabilidade, à atratividade das rotas e ao nível de bem-estar que o espaço oferece aos cuidadores.

Tânia Batistela Torres apresentou as três etapas de planejamento, coleta e análise dos dados, aplicadas por meio das ferramentas de manual, questionário e planilha eletrônica. “É importante que as três etapas sejam seguidas de forma completa, para garantir a consistência e padronizar o método. É um passo a passo.”

O evento contou com a facilitação gráfica do Coletivo Entrelinhas, que registrou o debate e as intervenções durante todo o processo. As cidades da Rede Urban95 seguem em diálogo e troca para fortalecer a agenda da primeira infância nos municípios. Assista:

Primeira infância e os impactos na educação

A primeira infância é um período único, marcado por múltiplas e rápidas descobertas cognitivas, de informações, sensações, sentidos, entre outros. Quando os primeiros anos de vida são marcados por um acesso adequado a serviços e espaços de qualidade, a presença de cuidadores carinhosos e que os protejam de todas as formas de violência, a tendência é que a criança tenha uma vida escolar melhor e possa desenvolver plenamente suas capacidades cognitivas.  Continue reading

Para ouvir: O impacto da educação para o trânsito na primeira infância

Episódio do podcast Futuros Urbanos entrevista prefeito e secretária de Niterói

Niterói teve dois projetos – “A Rota Caminhável do Barreto” e “Pré-natal do trânsito” – selecionados para integrarem a plataforma Arbo.

A Arbo é uma ferramenta tecnológica do IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil) para divulgar e conectar as boas práticas em projetos, programas e políticas públicas que se utilizam de arquitetura e urbanismo. Com o apoio da Urban95 selecinou iniciativas focadas na primeira infância.

O Futuros Urbanos, podcast do Instituto Cidades Sustentáveis, dedicou um episódio para uma conversa com o Prefeito de Niterói, Axel Grael, e a Secretária do escritório de gestão de Projetos, Valéria Braga. Os gestores compartilharam as transformações que têm acontecido no município em prol da primeira infância.

A cidade de Niterói (RJ) integra a Rede Urban95 de cidades brasileiras para a primeira infância. Escute a entrevista na sua plataforma de streaming preferida.

Sobre Futuros Urbanos

Disponível nas principais plataformas digitais, o podcast Futuros Urbanos, do Instituto Cidades Sustentáveis, aborda além dos problemas das cidades, compreendendo as desigualdades sociais, apresentando soluções, e contando histórias de experiências que deram certo e podem servir de inspiração e estímulo. O objetivo é sensibilizar e mobilizar a sociedade e governos locais para o desenvolvimento justo e sustentável das cidades.

A Urban95 está crescendo: conheça as 11 novas cidades da rede no Brasil

A partir de julho, 11 novas cidades brasileiras passam a integrar a Rede Urban95. Os novos municípios assumiram o compromisso de criar e fortalecer ações com foco na primeira infância em espaços públicos, gerenciamento de dados, programas e serviços com apoio do programa da Fundação Bernard van Leer.

As cidades vão receber suporte e acompanhamento do CECIP – Centro de Criação de Imagem Popular, instituição parceira da Urban95, para construir diagnósticos sobre a primeira infância, desenvolver o Plano Municipal pela Primeira Infância e implementar ações com uso de investimento semente.

Os novos membros passaram por um cuidadoso processo seletivo, que levou em conta aspectos como comprometimento do gestor, diversidade, intersetorialidade, políticas para primeira infância e transparência. Esses municípios se juntam aos outros 13 que já fazem parte da Urban95 e estão implementando ações e projetos para a primeira infância em seus territórios.

Conheça as novas cidades Urban95 no Brasil:

  • Alcinópolis (MS)
  • Alfenas (MG)
  • Benevides (PA)
  • Canoas (RS)
  • Cascavel (PR)
  • Mogi das Cruzes (SP)
  • Paragominas (PA)
  • São José dos Campos (SP)
  • Sobral (CE)
  • Teresina (PI)
  • Uruçuca (BA)

Saiba mais sobre a Rede Urban95.

ACESSE E CONFIRA TODOS OS PROJETOS DA URBAN 95

Por um Hub de Comunicação e boas ideias para a primeira infância

Defesa da Primeira Infância

Mais de 80 participantes se encontraram virtualmente na quinta-feira, 11/07, para uma conversa sobre as ferramentas que podem ajudar as cidades a engajar a pauta da primeira infância e dar visibilidade para esta agenda tão importante. Com o tema Estratégias de comunicação para a primeira infância, o 11º Webinar Temático da Rede Urban95 Brasil segue uma série de encontros mensais entre as cidades, onde processos e experiências acumuladas desde o ano passado são compartilhadas.

A Urban95 acredita que a defesa da primeira infância junto aos tomadores de decisão pode ser influenciada positivamente com o apoio de ferramentas de comunicação, potencializando ações e impactos.

“O nosso desejo é que os canais de comunicação da Rede Urban95 tragam a diversidade do país e das cidades brasileiras para a pauta nacional. Precisamos ocupar, não apenas as ruas, mas o espaço destas pautas que podem representar tão bem a nossa diversidade e as possibilidades para a gestão pública. Tem muita coisa bonita por aí, vamos mostrar para o resto do Brasil”. Assim deu boas vindas aos presentes a representante da Fundação Bernard van Leer no Brasil, Claudia Vidigal.

Para dialogar com as cidades da Rede estiveram na mesa virtual a coordenadora de comunicação do Instituto Cidades Sustentáveis, Luanda Nera, e a fundadora da Allma Hub Criativo, Ana Paula Dugaich. Entre as estratégias de engajamento para gestores locais, e a própria sociedade, o grupo debateu a criação de pautas ligadas à primeira infância e a mobilização de comunicadores locais, parcerias de conteúdo, redes sociais, a utilização de elementos visuais e lúdicos, tão ricos na infância, entre outros.

Para o fortalecimento contínuo da pauta, a Rede debate a formação de um hub de comunicação temático, onde a atuação única das cidades e instituições se integra ao alcance de multiplicadores de conteúdos que apoiam a agenda da primeira infância. Luanda Nera lembra que a participação das cidades é fundamental para fortalecer o trabalho em rede, compartilhando ações e conquistas.

“Se, por um lado perdemos a possibilidade de estar juntos fisicamente, a pandemia trouxe a oportunidade de reunir cidades do Brasil todo em uma só roda, uma grande oportunidade para trocas sobre os caminhos e experiências já testadas”, afirma.

Ana Dugaich apresentou algumas experiências de comunicação prática para uso das cidades, como a jornada do whatsapp, que propõe enviar ‘missões’ para pais e cuidadores realizarem atividades educativas e estimulantes para as crianças durante um período de 21 dias. Segundo muitas teorias sobre mudança de comportamento, este é o tempo necessário para que nosso cérebro absorva um novo hábito, como uma semente que pode influenciar o desenvolvimento da criança e a relação com os pais e cuidadores a longo prazo.

As intervenções urbanas que já colorem cidades como Fortaleza e Jundiaí foram compartilhadas como exemplos de ações de engajamento para as cidades, além de conteúdos audiovisuais, guias e matérias de capacitação.

“Buscamos conteúdos que as pessoas se interessem, sempre com uma linguagem visual e verbal. Com uma caixa de ferramentas completa e prática para os gestores, acreditamos que é possível trazer consistência para a pauta da primeira infância. Nosso desafio é traduzir teorias em linguagem e ações populares, e para isto os conteúdos devem fazer sentido dentro da realidade das pessoas”, explica a fundadora da Allma Hub.

Ao longo dos próximos meses, as cidades da Rede Urban95 contarão com uma assessoria técnica e prática na área de comunicação, apoiando as equipes locais para que a agenda da primeira infância esteja cada vez mais sólida e reconhecida.

Assista o webinar completo no nosso Canal do YouTube:

Pé de Infância: projeto de mudança de comportamento é apresentado para as cidades da Rede Urban95

Projeto foi apresentado pela parceira técnica Allma Hub Criativo e será lançada dia 24/05

Pé de Infância

Com o objetivo de incentivar comportamentos positivos na primeira infância, o programa Pé de Infância foi apresentado para as cidades da Rede Urban95 durante webinar realizado em 07/05.

O projeto da Urban95 foi realizado pela Allma Hub Criativo, organização especialista em comportamento e parceira técnica da Rede. “Aceitamos o desafio de transformar teoria em prática, pegar todo o repertório teórico e estratégico de uma fundação mundial [a Fundação Bernard van Leer], que tem muitas práticas testadas, e localizar isso em nosso país, nos municípios que a gente trabalha”, afirma Ana Marques, consultora da Allma.

Para o Pé de Infância ser efetivo e se desenvolver como planejado, a Allma buscou atentar-se ao que os teóricos da primeira infância, mas também ao que comunidades, crianças e cuidadores, dizem. Por isso, Thais Ferreira, mãe, periférica e ativista, participou do processo de escuta como consultora para a criação do projeto.

“A gente precisou desta escuta atenta para as vozes, precisou ter 95 centímetros de altura e olhar a cidade na perspectiva da criança pequena, precisou chamar o Brasil de ‘Brasis’, a infância de ‘infâncias’ e pensar no adultocentrismo, que impera as coisas e hostiliza, muitas vezes, e tratar a criança no centro de tudo e trabalhar uma perspectiva totalmente invertida”, explica Ana.

O resultado desta busca é o uso de uma linguagem visual e verbal acessível e cativante para a população em geral, que disponibiliza uma caixa de ferramentas com ações e produtos para apoiar na gestão fundamental e municipal da primeira infância.

Pé de Infância

Intervenções do projeto Pé de Infância nas ruas de Jundiaí – SP (Crédito: Prefeitura de Jundiaí)

Tudo no Pé de Infância tem o objetivo de ser simples como uma brincadeira de criança, para atrair, provocar interesse e engajar as pessoas no cuidado dos bebês e crianças pequenas.

A singeleza desta caixa de ferramentas também se mantém para os gestores. “Tudo o que a gente precisa entender é que as crianças pequenas precisam de conexão afetiva, interações positivas e com significado”, conta Ana.

O projeto (projetos para cidades pequenas), que foi testado nas cidades de Jundiaí (SP), Fortaleza (CE) e Ubiratã (PR), integrantes da Rede Urban95, disponibiliza para os municípios estratégias e peças de comunicação de  materiais institucionais; mudança de comportamento; e guias de operação e implementação.

Os materiais para promover essas experiências para as crianças estarão disponíveis a partir do dia 24/05 no site: www.pedeinfancia123.com.br.

Recordar a infância e cuidar do presente

Antes de apresentar o Pé de Infância, os gestores, técnicos e funcionários das 14 cidades que integram a Rede Urban95 receberam o convite para imaginar a criança que eram aos cinco anos de idade. A proposta foi feita pelo educador e poeta André Gravatá.

O coautor do livro “Volta ao mundo em 12 escolas” levantou reflexões sobre a infância com poesias como “Questão 111”, de Manoel de Barros:

“O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás de casa.
Passou um homem depois e disse: Essa volta que o rio faz por trás de sua casa se chama enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás da casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.”

(BARROS, M. O livro das ignorãças. Rio de Janeiro: Record, 2001.)

“Porque esse homem empobrece essa imagem dessa criança?”, questionou Gravatá, impulsionando a avaliação sobre como os adultos podem interferir na criatividade, imaginação e desenvolvimento das crianças.

“A poesia pode ser esse lugar dos adultos se misturarem novamente com o mundo, é um dos jeitos de brincar de imaginar”, afirma ele.

Para Gravatá, os adultos tomam decisões que interferem na vida das crianças e requer uma perspectiva a partir dela. “Percepção requer envolvimento”, diz, convidando todos e todas a se envolver com a primeira infância a partir também das memórias de suas próprias experiências.

Ana Marques comenta que “as crianças que acabaram de chegar ao mundo encontraram uma crise sanitária muito grande, então, nosso trabalho é um resguardo desta criança que está nascendo agora”.

Para retratar o Pé de Infância, é usada a imagem de um broto nascendo, simbolizando o convite para regar coletivamente essa semente. “As crianças pequenas precisam acreditar que o mundo é bom”, afirma Ana.

Siga a Rede Urban95 e da Allma Hub Criativo no Instagram para acompanhar o lançamento do Pé de Infância.

Assista ao webinar completo de apresentação do Pé de Infância no canal do YouTube Rede Urban95 Brasil.

A Rede Urban95 é uma iniciativa da Fundação Bernard van Leer e do Instituto Cidades Sustentáveis, reunindo 14 cidades com o objetivo comum de desenvolver e fortalecer programas e políticas para crianças de 0 a 6 anos de idade. Recentemente, integraram a Rede as seguintes cidades: Aracaju (SE), Brasiléia (AC), Campinas (SP), Caruaru (PE), Crato (CE), Fortaleza (CE), Ilhéus (BA), Jundiaí (SP), Niterói (RJ), Pelotas (RS) e Ubiratã (PR).

A iniciativa visa estimular os municípios a incorporar, no planejamento e na gestão, o foco no desenvolvimento da primeira infância a partir de ações e políticas públicas efetivas neste campo. Este webinar é parte de uma série de capacitações do programa.

Pé de Infância - Projetos para cidades pequenas
Foto: Felipe Cardoso/Escola de Notícias – Urban95

 

CONHEÇA MAIS SOBRE O PROJETO PÉ DE INFÂNCIA E DEMAIS PROJETOS URBAN 95

 

4 Cidades da Rede Urban95 projetam espaços ideais para crianças

Workshop em parceria com a Nacto discute intervenções urbanas e estratégias para melhorar o acesso e qualidade das experiências na infância em exercício coletivo

“Esse é o meu momento favorito, onde podemos imaginar o cenário dos nossos sonhos para incluir bebes, crianças e cuidadores nas cidades, mãos a obra!” E assim, com muita inspiração, Skye Duncan recebeu cidades da Rede Urban95 para um workshop online sobre o planejamento sob a perspectiva das crianças pequenas, que ocorreu na última quinta (06.05).

Na continuidade do webinar que reuniu recentemente as cidades da Rede, a representante da NACTO (National Association of City Transportation Officials) facilitou exercícios interativos com as possibilidades de intervenções urbanas, e a cidades puderam trocar informações sobre as ações que estão executando localmente. Estiveram presentes representantes de Campinas (SP), Caruaru (PE), Pelotas (RS) e Niterói (RJ), além de consultores da NACTO e da Rede Urban95.

Defesa da Primeira Infância

Projeto Pacto de Paz em Pelotas foca no desenvolvimento dos bebês (Crédito: Michel Corvelo)

Pelotas compartilhou as experiências com o Rotas da Primeira Infância, que fez intervenções com foco no uso de pedestres e ciclistas, criando conexões entre serviços de saúde, educação e áreas próprias para crianças, inclusive um micro parque. No principal acesso viário há agora uma ciclovia, de um lado, e de outro uma larga calçada.

Em seu recém aprovado Plano de Mobilidade, a cidade regulamentou temas e prioridades em muita sinergia com a ideia de uma cidade amiga da criança, como o foco na equidade, o incremento do transporte ativo, a inclusão social e acessibilidade, perpassada por elementos de uma gestão democrática.

“O desafio agora é incrementar o projeto com intervenções gráficas e mobiliário urbano (mobiliário urbano lúdico) para  podermos replicá-lo pela cidade, gerando uma transformação com potencial de impacto em Pelotas”, conta a arquiteta e urbanista da Prefeitura Municipal, Carmem Roig.

Em Caruaru, o foco está sendo a mediação entre crianças e espaços públicos a partir do lúdico, especialmente em áreas de acesso a equipamentos educacionais no centro da cidade. Em diálogo com um projeto mais amplo de transformação de zonas degradadas, as intervenções têm como eixo central a relação entre infância e mobilidade ativa.

Secretário de Planejamento de Caruaru, Swami Lima apresentou a próxima etapa de execução pela Prefeitura, onde características locais serão aproveitadas no conceito de parques naturalizados. “Nossa ideia é conectar o centro de educação infantil, que está na região central da cidade e próximo à linha férrea, com outros serviços e espaços públicos próprios para as crianças. Que se tornem vias mais agradáveis, seguras e verdes”, completou.

A equipe da Prefeitura de Campinas compartilhou com o grupo um projeto desafiador de intervenção na zona central da cidade, que prevê a requalificação da área com estratégias voltadas ao uso da comunidade. Mas não é de hoje que o município vem desenvolvendo políticas urbanas com foco nos pedestres, no uso dos espaços de bairro e proteção à primeira infância.

O Plano pela Primeira Infância Campineira indica a inserção dos bebês e crianças pequenas na cidade e a necessidade de adaptá-la a este público. De forma complementar, o Plano Diretor de 2018 e o Plano Municipal de Mobilidade priorizam políticas para pedestres e a redução de acidentes. O novo plano de requalificação da área central segue as mesmas diretrizes: pedestres e ciclistas devem ter prioridade.

“Conectar áreas urbanas e zonas verdes com foco na criação de uma cidade para as pessoas, é essa nossa meta”, resume Daniela Zacardi, Arquiteta da Prefeitura de Campinas.

Defesa da Primeira Infância - Urban95

Niterói organiza eventos virtuais de estímulo à leitura (Crédito: Prefeitura de Niterói)

Helena Porto compartilhou os avanços da experiência de Niterói, que tem trabalhado em um projeto ousado de intervenções urbanas, criando áreas verdes e agradáveis com foco nas crianças e no acesso da comunidade.

Já em funcionamento, o projeto CaminhaNit mistura mobilidade, educação e sustentabilidade em trajetos guiados entre casa e escola. Agora a cidade trabalha em um piloto inovador, a construção de uma rota caminhável que integre CaminhaNit, programas de monitoramento da qualidade do ar e a implementação de micro parques.

“Nosso planejamento inclui a priorização de alguns territórios e a participação da comunidade, especialmente crianças, na formatação das intervenções. Esperamos que o Rotas Caminháveis possa ser replicável em outras áreas da cidade”, completa Helena.

Brincadeira interativa para pensar a cidade perfeita

Na segunda parte da atividade a equipe da NACTO mediou um jogo interativo para que as equipes exercitassem o planejamento de espaços urbanos voltados aos pedestres e ciclistas. Alargamento de calçadas, implantação de ciclovias, vias exclusivas para ônibus e, mesmo a criação de parques e pequenas praças, foram colocados em um quebra-cabeça virtual para acesso de todos.

A atividade foi uma oportunidade de exercitar ferramentas já conhecidas pelos planejadores urbanos, mas de uma forma diferente, inovando o pensamento sobre caminhos e soluções para as demandas de cada uma das cidades. A brincadeira rendeu inspiração e boas ideias que as equipes levarão para suas cidades, onde seguirão trabalhando no desenvolvimento das intervenções locais.

“A resistência é gigante na luta contra os carros e por uma cidade que acolha as pessoas, mas em um ano tão difícil para todo o mundo, é inspirador poder trabalhar para pensar cidades melhores”, afirmou Carmem Roig, da Prefeitura Municipal de Pelotas.

A Rede Urban95 é uma iniciativa da Fundação Bernard van Leer e do Instituto Cidades Sustentáveis, reunindo 14 cidades em defesa da primeira infância (cidades das crianças) com o objetivo comum de desenvolver e fortalecer programas e políticas para crianças de 0 a 6 anos de idade. Recentemente, integraram a Rede as seguintes cidades: Aracaju (SE), Brasiléia (AC), Campinas (SP), Caruaru (PE), Crato (CE), Fortaleza (CE), Ilhéus (BA), Jundiaí (SP), Niterói (RJ), Pelotas (RS) e Ubiratã (PR).

A iniciativa visa estimular os municípios a incorporar, no planejamento e na gestão, o foco no desenvolvimento da primeira infância a partir de ações e políticas públicas efetivas neste campo. Este webinar é parte de uma série de capacitações do programa.

ACESSE E SAIBA POR QUE É IMPORTANTE BRINCAR NA PRIMEIRA INFÂNCIA

 

Como utilizar informações para priorizar os primeiros anos e pensar mobilidade sob a perspectiva de um bebê

Defesa da Primeira Infância

Em webinar realizado pela Urban95, Skye Duncan fala sobre o planejamento das cidades sob a perspectiva das crianças pequenas

“No Brasil, 1 em cada 3 crianças é considerada acima do peso ou obesa. com base nisso temos a oportunidade de repensar as nossas ruas”, afirma Skye Duncan, diretora do programa global Designing Cities Initiative da NACTO, durante webinar temático da Rede Urban95 “Planejando cidades sob as lentes da primeira infância”, em 29 de abril.

Skye Duncan, diretora do programa global Designing Cities Initiative da NACTO

Apresentando dados como esse, Skye mostrou como o planejamento da cidade pode impactar no desenvolvimento infantil. “Infelizmente, mais de 80% dos jovens em todo mundo não estão fazendo atividades físicas. E nossas ruas não são confortáveis no momento para que possam caminhar ou correr. Também não vemos nossas crianças andando ou pedalando para a escola, pois não é seguro”, explica, citando também a média de 500 crianças que morrem diariamente no mundo devido a acidentes de trânsito.

A observação de números que mostram a realidade das crianças nas cidades, pode e deve impulsionar a gestão pública a transformar as ruas e todo espaço público em ambientes mais seguros e menos estressantes.

Segundo Skye, ao considerarmos o desenvolvimento do cérebro do bebê em seus primeiros anos, em vários aspectos como, por exemplo, a linguagem, em que as vias sensoriais estão construindo a função cognitiva, podemos contribuir para que as suas conexões sejam feitas corretamente, diminuindo os obstáculos para seu crescimento.

Para isso, ela aponta que há princípios para essa contribuição, como os momentos de lazer com a família. Ao planejar espaços recreativos, que proporcionam também o contato com a natureza, para que bebês e seus cuidadores possam usufruir, as cidades estão impulsionando parte importante do crescimento de seus mais jovens cidadãos.

A Rede Urban95 é uma iniciativa da Fundação Bernard van Leer e do Instituto Cidades Sustentáveis, reunindo 14 cidades com o objetivo comum de desenvolver e fortalecer programas e políticas para crianças de 0 a 6 anos de idade. Recentemente, integraram a Rede as seguintes cidades: Aracaju (SE), Brasiléia (AC), Campinas (SP), Caruaru (PE), Crato (CE), Fortaleza (CE), Ilhéus (BA), Jundiaí (SP), Niterói (RJ), Pelotas (RS) e Ubiratã (PR).

A iniciativa visa estimular os municípios a incorporar, no planejamento e na gestão, o foco no desenvolvimento da primeira infância a partir de ações e políticas públicas efetivas neste campo. Esse webinar é parte de uma série de capacitações do programa.

Assista ao Webinar “Planejando as cidades sob as lentes da primeira infância” completo.

Para ouvir: as mudanças em Jundiaí ao escutar as crianças

Episódio do podcast Futuros Urbanos entrevista prefeito e secretário de cultura de Jundiaí

O que acontece quando uma cidade considera a experiência das crianças nos espaços públicos? Ouvir as crianças sobre a experiência delas na cidade pode levar a gestão a realizar mudanças significativas que, nem sempre, necessitam de grandes investimentos.

O Futuros Urbanos, podcast do Instituto Cidades Sustentáveis, dedicou um episódio para uma conversa com Luiz Fernando Arantes Machado, prefeito da cidade de Jundiaí (SP), e o secretário de cultura Marcelo Peroni. Os gestores compartilharam as transformações que têm acontecido no município a partir da escuta ativa das crianças e seus cuidadores.

A cidade de Jundiaí (SP) integra a Rede Urban95 de cidades brasileiras para a primeira infância. Saiba mais sobre Mudanças Jundiaí. Escute a entrevista na sua plataforma de streaming preferida.

Veja os exemplos de boas práticas para a primeira infância da cidade de Jundiaí (SP)

Jundiaí, uma cidade para as crianças

Conheças as boas práticas da cidade para crianças do interior de São Paulo, que integra a Rede Urban95

Com o objetivo promover ambientes adequados e oportunidades de desenvolvimento para os primeiros anos da vida das crianças, a Urban95 convida líderes, planejadores, arquitetos e urbanistas a pensar as cidades sob a perspectiva dos 95 cm (mundo sob a perspectiva da criança)– a altura média de uma criança saudável de 3 anos.

Conheça algumas das propostas que estão apoiando a construção e fortalecimento de políticas para a primeira infância pelo Brasil e mundo afora. E que as boas ideias e exemplos de sucesso possam inspirar e mobilizar outras cidades em prol do desenvolvimento integral das crianças!

Conheça as boas práticas da cidade de Jundiaí (SP)

A Prefeitura de Jundiaí, cidade do interior paulista, tem se dedicado a pensar o futuro do município de forma inovadora e estratégica, priorizando ações, políticas e projetos voltados à primeira infância.

Desde a implementação da Política Municipal da Criança, em 2017, a cidade estabeleceu a orientação de seu planejamento com foco no desenvolvimento saudável e seguro dos pequenos cidadãos, favorecendo o acesso e ocupação de espaços públicos seguros, que promovam a mobilidade, o contato com a natureza e a interatividade.

Ainda no mesmo ano, sete cidades da região assinaram a carta de intenções do Programa São Paulo pela Primeiríssima Infância, uma iniciativa do Governo do Estado de São Paulo em parceria com a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal pela promoção do desenvolvimento integral das crianças, do nascimento aos três anos.

Conheça mais sobre as ações de Jundiaí, ouvindo a entrevista com o prefeito e o secretário de Cultura no podcast Futuros Urbanos.

Em 2018, Jundiaí foi a primeira cidade do Estado de São Paulo e a segunda no país a integrar a Rede Latino Americana Cidade das Crianças, assumindo o compromisso de viabilizar ações em torno da participação das crianças e suas perspectivas.

Mas o caminho trilhado pela cidade no tema começou alguns anos antes. Desde 2012 a Prefeitura promove a Semana do Bebê, evento anual que organiza atividades para conscientizar a comunidade sobre a importância do desenvolvimento infantil e a difusão de práticas adequadas.

Brincar - Jundiaí

Ruas de Brincar é uma das iniciativas de Jundiaí (Crédito: Prefeitura de Jundiaí)

Equipamentos públicos de saúde (unidades básicas e de saúde da família), educação (creches) e assistência social (Cras) são mobilizados em diversos bairros da cidade, com uma programação que inclui contação de histórias, cinema infantil, oficinas de shantala, orientações de saúde bucal, oficinas nutricionais, palestras, oficinas de confecção de brinquedos, roda de música, teatro, entre outras.

O Plano Diretor Jundiaí aprovado em 2019 dedica um capítulo inteiro às crianças, se estabelecendo como um instrumento fundamental para garantir a continuidade desse olhar estratégico ao longo do tempo e consolidando um trabalho integrado.

Para aprimorar a formulação de políticas públicas para a infância a cidade assistiu à criação de um Grupo de Trabalho intersetorial, que por sua vez acompanhou a criação do projeto Rotas Seguras e Ruas Temporárias para o Brincar, ambos direcionados à melhora da circulação de crianças entre os equipamentos públicos disponíveis no território.

Plano Diretor Jundiaí

Reunião entre o prefeito de Jundiaí e o Comitê da Criança (Crédito: Prefeitura de Jundiaí)

Comitê das Crianças

Diretrizes sobre o tema da primeira infância foram incorporadas em diversas áreas da administração, como uma proposta transversal para a gestão da cidade. Assim, o olhar para as crianças pequenas superou intervenções urbanísticas e de infraestrutura para alcançar uma forma inovadora de pensar a ocupação e acesso à cidade.

A criação de um Conselho de Crianças para consulta às crianças sobre algumas ações do município voltado a esse público trouxe o incremento da participação social, tão importante para garantir a longevidade dos projetos. O Comitê é composto por 24 crianças (12 meninos e 12 meninas).

Caminhos lúdicos para brincar

O “Ruas de Brincar” é uma iniciativa integrada ao programa “Cidade das Crianças” que busca incentivar junto às crianças e adultos,(crianças brincando na rua), o resgate às brincadeiras, inclusive em eventos do calendário municipal, como o Domingo no Parque e a Corrida das Crianças.

A Prefeitura disponibiliza cavaletes estilizados, com desenhos do artista italiano Frato e com a frase “Perdoem o transtorno. Estamos brincando por vocês”, que indicam o espaço da Rua de Brincar. Quem gerencia o fechamento das ruas são os próprios moradores do bairro, incentivando a participação da comunidade.

Pé de Infância

Intervenções da iniciativa Pé de Infância (Crédito: Prefeitura de Jundiaí)

A partir da experiência da cidade com a Rede Brasileira Urban 95, o projeto Pé de Infância realiza intervenções lúdicas em espaços públicos da cidade, praças, pontos de ônibus e outros.

As pinturas têm como objetivo incentivar a brincadeira de rua, contação de histórias, resgate às memórias e canções infantis. O próprio nome da campanha é um trocadilho com a ideia de que um ambiente saudável, que promova a brincadeira e o aprendizado lúdico, será o mais fértil para que as crianças cresçam e floresçam como as plantas.

Entre a Casa e a Escola

‘Entre a Casa e a Escola’ propõe uma qualificação do caminho dos alunos da rede pública para suas escolas. O projeto piloto foi feito na EMEB Deodato Janski, onde estudam cerca de 500 alunos e 70% vão para a escola caminhando. Para compor o diagnóstico, além das vistorias dos técnicos em conjunto com os moradores do bairro, foi iniciado um processo de escuta das crianças para saber o que elas acham do seu caminho para a escola e como gostariam que ele fosse.

O primeiro resultado do projeto foi a remodelação da praça em frente à escola, inaugurada em dezembro de 2017. A área recebeu remodelação paisagística, recuperação da iluminação e do passeio, arquibancada para assento e pintura de lousa na parede, para servir como extensão do ambiente educacional das escolas municipais que ficam nas proximidades. Artistas do bairro também contribuíram com intervenções de grafite no local.

Mundo das Crianças Jundiaí

Espaço inovador, estimula o contato e a interação com a natureza, o brincar e a experiência, por meio de estações de brinquedos, paredes de escalada, quadras esportivas, pista de skate, áreas verdes para lazer, cultura e aprendizagem, fontes interativas e trilhas.

Mundo das Crianças

Mundo das Crianças foi inaugurado em dezembro de 2020 (Crédito: Prefeitura de Jundiaí)

Administrado pela DAE Jundiaí, o Mundo das Crianças Jundiaí é a extensão da área de preservação da represa que abastece a cidade. Inaugurado em 2021 com 170 mil m2 de área para brincadeira, diversão, aprendizagem e interação com a natureza, chegará a um total de 500 mil m2.

A preservação ambiental é um dos maiores intuitos do projeto, que concretiza diversas propostas sobre a infância que o município vem desenvolvendo em relação ao ambiente urbano e o planejamento de políticas públicas.

Mundo das Crianças - Jundiaí

Mundo das Crianças é um espaço de interação com a natureza (Crédito: Prefeitura de Jundiaí)

Com extensa área verde, o local conta com diversidade na fauna e flora e mais de 13 mil árvores plantadas. Aproxima os pequenos dos elementos naturais e essenciais para seu desenvolvimento integral e o despertar da consciência ecológica. Além de muito educativo, o contato com a água, com a terra e com a natureza desenvolve a imaginação, criatividade e o movimento.

Além disso, todas as áreas são nominadas com referências à Serra do Japi, para aproximar as crianças e demais frequentadores da biodiversidade presente na reserva natural da região.

Mundo das Crianças - Cidade das crianças

Mundo das Crianças em Jundiaí (Foto: Prefeitura de Jundiaí)

 

O impacto da gestão pública no fortalecimento de vínculos e o papel das famílias acolhedoras

As cidades da Rede Urban95 participaram de webinar com exemplos de iniciativas de cuidado

No Brasil, temos exemplos de protagonismo do Estado no cuidado com a primeira infância, de políticas públicas que buscam olhar de forma integral para o desenvolvimento das crianças pequenas. Participaram do encontro online das cidades da Rede Urban95, realizado na quinta-feira (15/03), Teresa Surita, ex-prefeita de Boa Vista (RR), e Jane Valente, assistente social, mestre e doutora em serviço social pela PUC/SP, coordenadora do Plano Municipal pela Primeira Infância Campineira – PIC.

As convidadas apresentaram exemplos de “Programas e projetos acolhedores” de famílias e crianças, que visam a garantia ao acesso a serviços, o acompanhamento do desenvolvimento, a oportunidade de acesso ao conhecimento; na garantia para as crianças de uma convivência familiar e comunitária em situações de alta complexidade.

Teresa apresentou resultados do Programa Família que Acolhe, desenvolvido em Boa Vista. “Se não houver envolvimento do gestor com a primeira infância, não há como avançar”, afirmou ao iniciar sua fala. A criação de um projeto de intersetorialidade apresenta desafios de integração de equipe interna para rediscutir a cidade. Para tornar a decisão de transformar a cidade na melhor capital do Brasil em qualidade de vida para a primeira infância, foi necessário buscar conhecimento, planejar ações a médio e longo prazo e construir parcerias com organizações que tinham o mesmo objetivo.

Teresa Surita, ex-prefeita de Boa Vista, capital da 1ª infância no Brasil

“Você não pode tratar a pobreza pobremente”, acredita Teresa. Por isso, o plano estratégico também era de universalizar a atenção à primeira infância com equidade e qualidade nos serviços prestados. Assim, criou-se um Comitê na prefeitura, com participação das secretarias de Obras, Saúde, Comunicação e Tecnologia, Educação e Social, com a presidência do secretário de Finanças, para garantir a aplicação de recursos nos projetos.

Uma vantagem para o desenvolvimento do Programa Famílias que Acolhe, foi o fato do município também ser responsável pelo Ensino Fundamental, que possibilita a continuidade do acompanhamento das crianças, que começa na gestão até os 6 anos de idade. “Naturalmente, a gente continua com acompanhamento porque elas continuam na mesma rede”, explica.

Ainda durante a gestação da criança, a Universidade do Bebê é uma escola para os pais com foco no bebê, do pré-natal aos dois anos de idade, desde a assistência no parto até a vaga na creche. “Essa é uma forma de acompanhar a criança a partir do momento que ela é gerada até entrar na nossa rede”, conta.

A partir de então, o programa conta com o “Leitura desde o Berço”, em que pais leem livros para seus filhos, o que contribui para o maior desenvolvimento das crianças, que aprendem mais palavras, e com a diminuição da violência doméstica. E também há as visitas domiciliares, o atendimento médico e as as intervenções urbanas, que foram incentivadas também pela parceria com a Urban95, entre outras iniciativas que visam o fortalecimento dos vínculos familiares, como a Oficina de Brincar.

São atendidas pelo “Família que Acolhe”, crianças com idade entre 0 e 6 anos, gestantes cadastradas no Bolsa Família, participantes das creches municipais com atendimento e apoio integral à mães de famílias de baixa renda com filhos entre 2 e 4 anos de idade,  adolescentes gestantes e suas famílias, e educandas dos sistemas penitenciários.

Jane Valente apresentou o histórico do Serviço de acolhimento em Família Acolhedora. Para ela, os avanços da primeira infância têm o desafio de olhar para as crianças em medidas protetivas e o acolhimento familiar.

Jane Valente, Coordenadora do Plano Municipal pela Primeira Infância

Jane Valente, Coordenadora do Plano Municipal pela Primeira Infância Campineira – PIC

Ela lembrou sobre a cultura de institucionalização do Brasil, em que uma criança em situação familiar vulnerável entrava em um orfanato. “O senso comum era de que as famílias empobrecidas não tinham como cuidar de seus filhos. Então, o Estado tomava para si. Bastava ser pobre que já era motivo de retirar criança”.

Com o marco da Constituição Federal, que desencadeou a criação de outros instrumentos como o Artigo 226 e o ECA, a Caravana dos Deputados e a pesquisa do IPEA, criou-se o Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária e o Marco Legal da Primeira Infância.

“A vivência da situação de risco pode proporcionar novas vulnerabilidades”, afirma Jane, que explica o caráter dirigente da Constituição Federal como instrumento de redução de riscos, que contribui para a formação de sujeitos coletivos e políticos. Assim, as famílias acolhedoras se enxergam cidadãos fazendo parte do Estado e cuidando dessas crianças.

As Famílias Acolhedoras têm o papel de abrigar uma criança que está em situação de vulnerabilidade, por um período que pode durar até 18 meses (a média hoje é de 8 meses). É importante distinguir a adoção, neste caso. Uma família cadastrada na fila de adoção, por exemplo, não pode ser uma Família Acolhedora.

Jane também destaca que, para além da pobreza, a assistência social hoje trabalha para a redução e para o enfrentamento de situações de vulnerabilidade e de risco que independem de classe social, seguindo diretrizes do ECA.

“Todo e qualquer trabalho ligado ao acolhimento familiar e a medida protetiva deve trabalhar de forma transversal”, conta Jane. “É isso que supõe a proteção integral de crianças e adolescentes”. Sendo assim, diversas políticas públicas, mas principalmente Assistência Social, Saúde e Educação, olham de forma coletiva para essas crianças.

Jane concorda com Teresa sobre fazer políticas mais ricas para as pessoas empobrecidas e afirma que “a família acolhedora ainda merece um olhar com destaque porque há crianças que podem ter a prevenção mesmo em sua alta complexidade”.

Veja como foi o webinar completo e tenha acesso a resultados dos programas no nosso canal do YouTube.

“É papel do adulto transformar as cidades mais amigáveis para as crianças”

Em webinar realizado pela Urban95, Tim Gill compartilhou sobre como a criação de espaços públicos de lazer contribuem para o desenvolvimento dos centros urbanos e apresentou exemplos no mundo

 

O trabalho desenvolvido pela Urban95 no mundo foi um impulso para que o estudioso Tim Gill passasse a se atentar mais à perspectiva de crianças e seus cuidadores em suas pesquisas. Os diferentes estágios da infância e as diferenças entre os padrões de locomoção de um cuidador e um bebê, de um adolescente e de um trabalhador médio (que é o foco dos transportes) apontam para a necessidade de construir programas de acessibilidade para esses diferentes públicos.

Tim Gill lança livro sobre parquinhos urbanos

Em webinar realizado pela Urban95 em 25 de fevereiro, Tim Gill compartilhou sobre como a criação de espaços públicos de lazer para as crianças podem contribuir para o desenvolvimento dos centros urbanos, apresentando conceitos trabalhados em seu livro “Parquinhos urbanos: como o planejamento e o design adequados para as crianças podem salvar cidades”, lançado pela Fundação Bernard van Leer (FBvL).

O impacto dos carros

Para Gill, é necessário reconhecer a dominância dos carros e que são a principal barreira para dar às crianças um bairro mais amigável. Apesar de serem perigosos, fazerem mal ao meio ambiente, ocuparem muitos espaços das ruas e contribuem com a poluição, a dependência do carro foi colocada dentro das cidades por centenas de anos e vai levar tempo, esforço e uma vontade moral para vencer tudo isso.

“Ao levar em consideração especialmente a crise climática, acidentes, a obesidade e a inatividade para apontar alternativas como a caminhada e a pedalada, esse caso moral sobre o carro é enaltecido quando a gente traz a visão e as vozes das crianças para dentro do quadro como um todo”, afirma Gill.

O papel dos adultos e a liberdade das crianças

“A minha abordagem foca na experiência das crianças, nas suas liberdades diárias e na expansão de suas liberdades, que também têm a ver com os seus direitos como crianças”, conta Gill que, com sua experiência em ouvir as crianças, sempre as escuta dizer sobre o desejo de mais liberdade, para ver seus amiguinhos, por exemplo, e, inclusive, de se locomover pela cidade.

Por isso, Gill aponta que o processo participativo não tem funcionado e não vai funcionar até que haja uma defesa em nome das crianças para levar às municipalidades as suas soluções: “Precisamos reconhecer as experiências das crianças, em suas diferentes culturas. Mas, a gente não pode dar às crianças o trabalho de transformar as suas cidades em mais amigáveis, pois é o nosso papel como adultos fazê-lo e eu quero um papel de liderança nessa transformação” afirma.

Gill sugere que os adultos se conectem com suas próprias infâncias. Quando ele pede às pessoas que compartilhem como gostavam de brincar quando eram crianças e seu lugares preferidos, elas se lembram de locais naturais, de liberdade, de aventura e também perigo. Isso mostra, segundo ele, que as experiências na infância podem proporcionar também um senso de responsabilidade. “Quando você é criança, não é possível conhecer o mundo ao seu redor quando simplesmente se é colocada de um playground a outro. Ainda há espaço para o parquinho, mas eu queria ver mais variedade e, figurativamente, maior liberdade”.

Durante o encontro, Tim Gill conversou com representantes de três cidades, sobre suas iniciativas locais para bebês e crianças pequenas e suas experiências no ambiente urbano.

Cidade para Crianças

Secretário de Inovação Urbana do Recife fala sobre experiência com Programa Mais Vida nos Morros

O protagonismo comunitário

Representando o Brasil, Tullio Ponzi, Secretário Executivo de Inovação Urbana da Prefeitura do Recife e idealizador do Programa Mais Vida nos Morros, falou da experiência da capital pernambucana.

Segundo Ponzi, o envolvimento do secretariado com a pauta da primeira infância foi uma importante decisão política para o avanço das iniciativas na cidade. “Houve um momento em que vários secretários, desde saúde e educação até controladoria geral do município e área de finanças estavam envolvidos e coordenando, cada um, na sua secretaria, ações em uma comunidade, de forma simultânea”, lembra.

No entanto, o protagonismo comunitário foi um fator primordial para o sucesso das intervenções. “Esses dias, em visita em uma comunidade, à pedido da gestão, para o início de uma intervenção em um espaço que havia muito lixo e nenhuma zeladoria, pude caminhar e encontrar na mesma calçada desse ponto um jardim feito pelos próprios moradores, em frente à praça”, conta. Essa iniciativa local foi inspirada nas ações que a prefeitura tem realizado.

“Chama atenção a beleza das comunidades, o colorido, as intervenções, e quando a gente visita, a gente observa as crianças se apropriando do espaço público. O direito de brincar na rua, na frente de casa, está começando a surgir e é muito importante. A gente vê as mães com os bebês nos espaços públicos”, conta.

Para o secretário, há inovação na participação que o cidadão exerce na solução para os problemas locais. Inclusive, as crianças também passaram a participar das discussões do planejamento na sua comunidade. “Acho que a gente conseguiu desenvolver um modelo onde o urbanismo social passa a ser uma estratégia, não só de redesenho do espaço urbano sobre a perspectiva das crianças para as crianças, mas para promover uma forma de democracia colaborativa”.

Cidades amigáveis para crianças - Programa Mais Vida

Programa Mais Vida nos Morros em Recife foi exemplo citado no webinar

Além de playgrounds

Anuela Ristani, vice-prefeita de Tirana, Albânia, contou a trajetória da cidade até a criação de diversos playgrounds. “Nós começamos muito de baixo. Para a população de Tirana de um milhão de pessoas, não havia nenhum espaço público de playground, apenas locais onde as próprias pessoas criavam seus próprios espaços de lazer”, recorda.

Para mudar esse quadro, a prefeitura investiu na criação de um parque infantil por mês e hoje há 60 playgrounds e quatro em construção na cidade. No entanto, ela conta que não trata-se apenas de construir playgrounds, mas de criar criar áreas de pedestres onde as pessoas de várias idades possam brincar.

No centro de Tirana há um espaço para recreação, considerado um dos melhores para as crianças, que antes era uma rotatória por onde milhares de carros passavam diariamente. “Elas podem simplesmente chegar e brincar à vontade toda a tarde e toda noite, no verão ou no inverno. É um local onde há brincadeiras o tempo todo”, conta.

Outro projeto da prefeitura, financiado pela Nacto (Associação Nacional de Oficiais de Transporte da Cidade) e outras organizações, transformou ruas próximas às escolas para garantir que as crianças brinquem em segurança na entrada e saída das aulas. “As pessoas são convencidas quando você envolve crianças. Nossa primeira ambição seria limitar o trânsito de algumas horas e nós conseguimos convencer as pessoas a simplesmente fecharem as ruas para os carros mas também retirar os estacionamentos, tudo para as crianças poderem brincar, atravessar a rua sem perigo”.

A participação da comunidade no desenho urbano

A arquiteta e urbanista Bosmat Sfadia-Wolf, de Tel Aviv, Israel, apresentou o desenvolvimento da cidade para a primeira infância. Segundo ela, o maior sucesso até agora foi a mudança de perspectiva dos líderes locais, que influencia diretamente nos trabalhos junto ao prefeito e tomadores de decisão para a reflexão sobre o papel da cidade no desenvolvimento das crianças.

“Uma pergunta que nunca havia sido feita anteriormente em relação ao espaço público é: qual é a nossa responsabilidade em criar áreas amigáveis para crianças brincarem com as suas famílias?”, conta Bosmat. “As pessoas pensavam mais sobre bem-estar e educação quando falávamos de infância e quando trouxemos o desenho urbano foi um divisor de águas”.

A partir daí, começaram a colocar em prática aprendizados de outros países e iniciaram a busca por entender a história das crianças em Tel Aviv. “Onde as crianças se encontram? Como é que elas brincam? Como é que os pais se encontram? Como as famílias se encontram?” foram alguns dos questionamentos. “Nós permitimos que o público também participasse e apoiasse esse tipo de trabalho. Nós estamos criando a demanda para os pais e para os cidadãos em geral, pois uma vez que eles vejam algo que eles gostem, eles vão pedir também para a comunidade”, explica Bosmat.

Agora, a criação dos próximos playgrounds e melhores oportunidades de brincadeira para as crianças e a comunidade é uma medida de sucesso em Tel Aviv. “Nós podemos medir o tempo de brincadeira entre criança e cuidador, mas também o quanto o público em geral debate e acha que é algo que eles querem ter também instalado em seus próprios bairros. Queremos ter escala e alcançar todas as comunidades, de todos os bairros, sobretudo os lugares de baixa renda”.

Saiba mais sobre: Cidade para crianças

As 14 cidades brasileiras da Rede Urban95 participaram do webinar, disponível para assistir (em inglês). O livro do Tim Gill ainda não está disponível em português. Acesse a amostra (em inglês).

As 5 dimensões da Primeira Infância

O Instituto da Infância (IFAN), sob o Projeto Plano Primeira Infância (projeto pela Primeira Infância), promoveu a formação dos municípios da Rede Urban95, com o objetivo de subsidiá-los na construção ou realinhamento do Plano Municipal Primeira Infância (PMPI).

O teor do encontro partiu da perspectiva técnico, político e operacional para essa construção, cujos temas são: 1) As 5 dimensões do desenvolvimento infantil; 2) Plano Nacional da Primeira Infância; 3) Marco Legal Primeira Infância e 4) A importância das parcerias para o investimento no desenvolvimento infantil.

O seminário, que ocorreu em 11/03, contou com a participação da Professora Gabriela Buccini, da Universidade de Nevasca, EUA, em que expôs o modelo da nutrição do cuidado, como resultado de uma série produzida pela Revista Lancet sobre o desenvolvimento infantil.

Numa perspectiva para a ação, foi apresentado as 5 dimensões do desenvolvimento infantil: saúde; nutrição; cuidado responsivo; segurança e proteção e aprendizagem inicial. Também enfatizou-se as 5 estratégias para a construção dos PMPIs: 1) Liderar e investir; 2) ter foco nas famílias; 3) Fortalecer os serviços; 4) Monitorar o processo; 5) Implementar em escala e inovar.

Para a promoção de uma sociedade justa não se pode perder o foco nos dados e informações. Gabriela recomendou o monitoramento e chamou a atenção para a diversidade das infâncias em cada território, além de destacar que “quando cuidamos da criança estamos cuidando de todos os ciclos de vida”

Para saber mais assista a aula completa no YouTube da Rede Urban95.

Para ouvir: O investimento na primeira infância previne a violência nas cidades

Episódio do podcast Futuros Urbanos entrevista prefeita de Pelotas

O quanto pode impactar na segurança de uma cidade o investimento na primeira infância? No episódio do podcast Futuros Urbanos, produzido pelo Instituto Cidades Sustentáveis, a Prefeita de Pelotas (RS), Paula Mascarenhas, e Joseph Murray, Ph.D, professor da Universidade Federal de Pelotas, falam sobre como uma parceria entre a prefeitura local e a universidade tem buscado entender quais os fatores do curso da vida são determinantes para a prevenção de problemas de conduta e violência na sociedade, sobretudo na infância. Com exemplos práticos, os dois apresentam projetos locais que focam no desenvolvimento de crianças pequenas e bebês, por meio do Pacto Pelotas Pela Paz.

A cidade de Pelotas integra a Rede Urban95 de cidades brasileiras para a primeira infância. Escute a entrevista na sua plataforma de streaming preferida.

Sobre Futuros Urbanos

Disponível nas principais plataformas digitais, o podcast Futuros Urbanos, do Instituto Cidades Sustentáveis, aborda além dos problemas das cidades, compreendendo as desigualdades sociais, apresentando soluções, e contando histórias de experiências que deram certo e podem servir de inspiração e estímulo. O objetivo é sensibilizar e mobilizar a sociedade e governos locais para o desenvolvimento justo e sustentável das cidades.

Rede Urban95 reforça o papel da natureza no desenvolvimento integral das crianças

As cidades da Rede Brasileira Urban95 discutiram o tema Primeira infância e Natureza em seu primeiro webinar do ano, que reuniu mais de 70 participantes nessa terça-feira (19/01). O encontro trouxe os desafios, oportunidades e exemplos práticos de acesso à natureza em espaços urbanos, com destaque para a promoção de projetos com foco na primeira infância.

Os convidados Lais Fleury, Coordenadora do programa Criança e Natureza do Instituto Alana, e Guilherme Blauth, Consultor de brincadeiras e espaços naturais, trouxeram algumas experiências de parques naturalizados, proposta que prioriza materiais naturais, estruturas móveis e a interação com a biodiversidade local na instalação de áreas de lazer e recreação.

Cidades são inspiração por aí

A cidade de Jundiaí, integrante da Rede Urban95, colocou recentemente em funcionamento o parque Mundo da Criança, com um conceito inédito de integração entre brincadeiras, aprendizado e o contato com a natureza. Com acesso gratuito, a estrutura é um exemplo de como reunir experiências sensoriais e a promoção do conhecimento dos pequenos em um mesmo espaço, além de perpassar a sensibilização ambiental.

São 120 mil metros quadrados de gramado, 12 mil mudas de plantas nativas e mais 1,5 mil mudas de plantas frutíferas e exóticas plantadas no interior de São Paulo, um complexo que inclui 14 quadras, teatro ao ar livre, pista de skate, parkour e ciclovia.

A Coordenadora da Rede Nossa São Paulo, Carolina Guimarães trouxe exemplos internacionais de cidades que estão incluindo espaços seguros, acessíveis e naturais no planejamento urbano, como Nova Iorque e Santiago.

A capital chilena desenvolveu as chamadas “Praças de Bolso”, uma série de terrenos e espaços públicos desocupados que foram transformados em pequenas áreas de uso comunitário e parques para as crianças pequenas. Já na cidade estadunidense, os “Pocket Parks”, são literalmente parques de bolso, ou “pequenos espaços de respiro, comuns e acessíveis para as comunidades locais”, segundo Carol.

Municípios: uma lupa sobre a primeira infância

Reunindo cidades parceiras da Rede Brasileira Urban95 e especialistas no tema da primeira infância, foi destacada por todos os oradores a importância de se articular trocas entre técnicos municipais, aqueles que podem fazer a diferença na realidade da população, especialmente as crianças. Mais do que nunca, e em função do isolamento social, é fundamental entender as especificidades e desafios que cada comunidade está enfrentando para o acesso das crianças a um desenvolvimento pleno.

Para discutir o impacto da pandemia sobre o contato das crianças com a natureza, a Coordenadora do programa Criança e Natureza do Instituto Alana trouxe o conceito de transtorno do déficit de natureza, termo não médico pra descrever o fenômeno que tem impactado as crianças por estarem sendo privadas de brincar na natureza. Com consequências para a saúde em diversos aspectos, o isolamento tem reflexo no desenvolvimento do peso, sono, menos oportunidade de desenvolvimento motor e psicossocial.

Quanto menos acesso à cidade, mais são empurradas para as telas, o que justifica o dado de que, durante a pandemia, 1 em cada 3 crianças está com sobrepeso no Brasil”, alerta Laís. Ela explica que o contato com a natureza contribui para o desenvolvimento integral da criança (o que é desenvolvimento integral da criança) em função da infinidade de opções que oferece para a experiência do corpo, o principal canal da linguagem de conhecimento humano.

Desenvolvimento Integral da Criança

Com projetos desde 1994, o Instituto Alana tem a missão de honrar as crianças e proporcionar boas condições para esse momento tão fundamental do desenvolvimento humano. Já o programa Criança e Natureza, surgiu pela necessidade de encontrar possibilidades alternativas ao imposto pela urbanização vertical e acelerada das cidades brasileiras, favorecendo o acesso de as crianças à natureza.

Com a Rede Urban95, compartilha a agenda por espaços públicos com mais natureza, acessíveis e favoráveis à presença das crianças, e que sejam pilares do planejamento urbano dos municípios brasileiros.

Retomando o tema dos impactos da pandemia, Laís Fleury destacou o debate sobre a volta das escolas como um desafio e uma oportunidade para a agenda de integração entre natureza e educação.

“As escolas começam a ver a cidade com parte do espaço pedagógico disponível e, para tal, é grande a importância do diálogo intersector e a participação das crianças. Um bom exemplo é a possibilidade de salas de aula temporárias, montadas em espaços ao ar livre e que permitam medidas de proteção”, completou Laís.

Dentre todos os desafios encontrados pelas cidades brasileiras, é unânime o entendimento sobre a importância de se ampliar os canais de escuta das crianças, com exercícios de participação e controle social, a promoção de espaços mais lúdico, a priorização de elementos naturais, livres de publicidade infantil e sua distribuição igualitária na sociedade.

Com formação e experiências múltiplas, Guilherme Blath tem focado seus trabalhos na intersecção entre arte, natureza e infância, ponto de encontro ideal para os parques naturalizados.

“Porque todos os parquinhos são iguais? Com aquele fundo de areia e pouca natureza, com as mesmas cores e cada vez mais materiais plásticos e emborrachados.” Com essa provocação Guilherme iniciou sua participação no 6º webinar temático da Rede Urban95.

Ele propõe que as estruturas fixas usualmente ofertadas para as crianças não oferecem muita diversidade de experiências, são espaços onde as crianças já sabem o que fazer. São ambientes artificiais para as crianças, que permitem experiências iguais

Os parques naturalizados, por outro lado, oferecem contato com a biodiversidade local, incentivam a criatividade e o potente fluxo de desenvolvimento das crianças, quando estão em ambientes propícios. Suas estruturas móveis permitam interação e agência das crianças, tem baixo custo de instalação e utilizam materiais mais sustentáveis, como resíduos da poda urbana, bambu e serragem

Ao contrário do playground convencional, o parque naturalizado é pensado para ser impermanente e necessita de uma renovação constante, o que pode ser um desafio para a gestão pública. A ideia é que a comunidade participe de seu cuidado e manutenção, uma gestão compartilhada que também incentive o engajamento local.

Na rodada final de debate, a experiência de Fortaleza na gestão coletiva de espaços públicos foi compartilhada com o grupo, com reflexões interessantes para cidades que estão buscando repensar o planejamento de seus territórios a partir de um olhar sobre a primeira infância.

Se como citou a Coordenadora carol Guimarães, “os espaços urbanos são laboratórios vivos da realidade”, é sobre suas experiências que devemos incidir para promover o bem estar e a saúde de toda a sociedade.

A Rede Urban95 é uma iniciativa da Fundação Bernard van Leer e do Instituto Cidades Sustentáveis, reunindo 14 cidades com o objetivo comum de desenvolver e fortalecer programas e políticas para crianças de 0 a 6 anos de idade. Recentemente, integraram a Rede as seguintes cidades: Aracaju (SE), Brasiléia (AC), Campinas (SP), Caruaru (PE), Crato (CE), Fortaleza (CE), Ilhéus (BA), Jundiaí (SP), Niterói (RJ), Pelotas (RS) e Ubiratã (PR).

A iniciativa visa estimular os municípios a incorporar, no planejamento e na gestão, o foco no desenvolvimento da primeira infância a partir de ações e políticas públicas efetivas neste campo. Esse workshop foi o sexto encontro, de uma série de capacitações do programa.

 

Inspiração para 2021

A Urban95 Brasil começou sendo instigada a se reinventar diante das necessidades de adaptação provocadas pelo Covid-19. Por isso, foi realizada uma série de webinars para promover trocas e nivelar conhecimento sobre a primeira infância entre as 14 cidades que integram a rede. O 5º webinar (e último de 2020), que foi realizado em dezembro, teve o objetivo de fortalecer o aprendizado em rede e o compartilhamento das experiências até então.

“É sempre muito inspirador ver o potencial que uma rede pode trazer para municípios engajados e servidores abertos a aprender e construir junto. Estamos muito felizes com os diversos avanços, que são diferentes de acordo aos tempos e conhecimento das cidades, mas que já têm frutos relevantes para a agenda da primeira infância”, afirma Carolina Guimarães, coordenadora da Rede Urban95.

Apesar do ano difícil, as cidades puderam avançar em suas ações, cada uma a seu tempo, conforme suas especificidades. Durante o processo, até agora, foi possível ampliar os conhecimentos sobre os eixos estratégicos do programa Urban95 e a agenda da primeira infância.

Neste último encontro online, todas as cidades tiveram a oportunidade de falar sobre suas experiências e aprendizados. Para cada uma delas, os webinares temáticos impulsionaram vários diálogos durante o ano. Alguns exemplos são as conversas em Ilhéus (BA), Campinas (SP) e Niterói (RJ) que foram geradas a partir do encontro sobre gerenciamento de dados, que ocorreu em setembro.

Reflexões sobre as possibilidades ainda a serem exploradas para o desenvolvimento de projetos para a primeira infância também foram feitas durante a reunião. Os municípios de Brasiléia (AC) e Caruaru (PE) compartilharam sobre o quanto ainda podem avançar nesse sentido e como estão inspirados a colocar em prática o que têm aprendido com a Rede Urban95.

Outras cidades contaram como algumas ações foram impulsionadas, como nos casos de Ubiratã (PR), que deu escala à estratégia de mudança de comportamento e está fortalecendo a comunicação na agenda da primeira infância; e Crato (CE), que está mapeando recursos para a revitalização de praças e planejando com um novo olhar para a primeira infância.

Até o começo de dezembro, a única que havia recebido recursos sementes que Urban95 disponibiliza para os municípios que integram a rede era Fortaleza (CE), que foi utilizado no programa “Fortaleza Mais Verde”, que tem o objetivo de transformar áreas públicas com áreas verdes que estão degradadas em pequenos parques urbanos. Foram mapeadas mais de 300 áreas públicas e duas delas já foram revitalizadas e se tornaram espaços para as crianças e seus cuidadores usufruírem, nas regiões de Francisco de Sá e José León.

“Nesse projeto piloto, contamos com a parceria e apoio da Rede Urban95. Com isso, percebemos que podemos melhorar o processo com a comunidade e garantir mais segurança e conforto para crianças pequenas e cuidadores. Por isso, a gente ampliou os acessos aos espaços verdes que já eram previstos no conceito dos micro parques”, conta a assessora técnica da prefeitura Taís Barreto Costa.

A cidade de Jundiaí (SP) fez o uso do recurso semente em meados de Dezembro e inaugurou o Mundo das Crianças, um espaço que tem a proposta inédita de integração entre a brincadeira, o aprendizado e o contato com a natureza. Para Marcelo Peroni, Gestor de Cultura, participar da rede é de extrema relevância, sobretudo para uma cidade que quer ser reconhecida como uma “cidade das crianças”.

“Durante esses meses que a gente está fazendo parte da rede, algumas coisas muito importantes aconteceram. A primeira delas foi uma maior sensibilização na cidade e a gente conseguiu de fato novas adesões ao conceito da primeira infância e a importância do olhar, não só dos agentes políticos, mas também dos servidores e da população”, conta Marcelo.

Carmen Roig, arquiteta e urbanista da prefeitura de Pelotas (RS) há 30 anos, afirmou que a rede foi uma motivação diante da pandemia. “A rede fez com que a gente pudesse enxergar as coisas sob a perspectiva da criança. Tínhamos resistência da maioria dos planejadores, mas agora temos tudo favorável, pois há a nossa vontade política e uma equipe técnica em sintonia com esse pensamento da Urban95”, afirma.

Com o programa Pacto Pela Paz, a cidade gaúcha busca a prevenção da violência, formado por um conjunto de estratégias que buscam a redução da criminalidade e a promoção de uma cultura de paz, sobretudo a partir das crianças.

Todas as 14 cidades que integram a rede Urban95 compartilharam suas experiências e expectativas. A iniciativa da Fundação Bernard van Leer e do Instituto Cidades Sustentáveis visa estimular os municípios a incorporarem, no planejamento e na gestão, o foco no desenvolvimento da primeira infância, a partir de ações e políticas públicas efetivas neste campo.

Em 2021, a rede continua a receber apoio técnico nos seguintes eixos de atuação: tomada de decisões com base em dados; espaços públicos e natureza; mobilidade para famílias; e utilização de Serviços.

Fortaleza torna-se referência para a primeira infância com parques naturalizados

A Rede Urban95 trouxe novas perspectivas para a proposta de microparques em Fortaleza, apresentando os parques naturalizados como solução para favorecer o contato da primeira infância com a natureza. Com participação da comunidade, o projeto está desenvolvendo os “parques de bolso” Seu Zequinha e José Leon, mas pretende-se que os dois possam ser modelos para outros 40 espaços. 

A estratégia da cidade contou com o apoio técnico do projeto Ciranda da Vida e do programa Criança e Natureza, do Instituto Alana. A ideia é dar escala ao Fortaleza Mais Verde, programa municipal voltado à recuperação de espaços degradados e expansão de áreas verdes.

A experiência de Fortaleza comprova que os ambientes naturais promovem a saúde e o bem-estar de toda a comunidade, das gestantes e bebês aos mais idosos. Como elemento essencial para a saúde física, mental e emocional, o contato com a natureza ensina sobre o respeito a todas as formas de vida e contribui para o desemparedamento das crianças, inclusive nas escolas. 

Os parques naturalizados estão transformando a experiência de crianças e suas famílias nos espaços públicos, como um convite à ocupação das cidades e um lembrete sobre a importância do contato com a natureza. Para os gestores locais, o convite é para repensar o potencial das áreas urbanas e como espaços esquecidos podem virar áreas de convivência, brincadeira e descanso para a comunidade. 

O que são parques naturalizados?

Espaços planejados para oferecer contato com a natureza em ambientes urbanos

São espaços multifuncionais, ao ar livre, desenvolvidos a partir de elementos naturais e com diversas possibilidades de interação, exploração e descobertas para as crianças. Buscam incentivar o brincar livre, a convivência, o vínculo com o espaço público, com a natureza e o prazer de estar a céu aberto. A disposição dos mobiliários e as estruturas levam em conta a idade e as necessidades das crianças de várias idades, além do conforto dos cuidadores.

O conceito desses espaços se baseia no uso de elementos naturais e na geografia local para pensar o desenho de equipamentos e mobiliário que seja educativo, instigante e que incentive intervenções criativas e a interação com outras crianças. São utilizados troncos, galhos e a própria vegetação dos terrenos para criar lugares de convívio e brincadeira mais livres, com múltiplas possibilidades de movimento, relaxamento ou encontro, especialmente pensando em crianças e suas famílias. 

Os parques naturalizados devem oferecer possibilidades de desafios que não representem riscos reais para a integridade das crianças, como rampas, árvores para subir e bancos de areia. Como estratégia urbana, os parques naturalizados e microparques são boas soluções para a transformação de áreas abandonadas, revitalizando locais perigosos rapidamente e com baixo custo. Esse foi o caso do parque Seu Zequinha, anteriormente uma área degradada da cidade. 

Para a comunidade, são fontes de sombra e alimentos no espaço público, vinculam a comunidade com o espaço público e conectam os adultos com experiências da sua infância. Os parques naturalizados também são uma forma simples e econômica de ampliar a rede de áreas verdes urbanas, melhorando a qualidade do ar e o bem-estar ambiental para todos. Cidades mais verdes são boas para bebês, crianças pequenas e todos nós!