Prefeitura de Recife lança espaços para aproximar crianças da leitura

As primeiras experiências do ser humano com o mundo acontecem na infância e deixam a sua marca, ajudando a construir a identidade de cada um, desde os primeiros passos. Com o objetivo de estimular o crescimento e o desenvolvimento nos primeiros anos de vida, a Prefeitura de Recife, juntamente com a Agência de Recife para Inovação e Estratégia (ARIES), instalou cinco Espaços de Leitura em comunidades atendidas pelo Programa Mais Vida nos Morros, que aliam infância, natureza e leitura. O projeto foi realizado por meio da Secretaria Executiva de Inovação Urbana e apoio da Fundação Bernard van Leer.

Espaço de leitura recebe crianças em Recife. Créditos: Edson Holanda

Com os espaços, as comunidades poderão trabalhar o fortalecimento dos vínculos entre a criança e o adulto de referência, ajudando no aumento do vocabulário de palavras, desenvolvimento da imaginação e da oralidade, além de oferecer um local agradável, lúdico e com toques da natureza para despertar os sentidos dos pequenos leitores.

Uma das primeiras contempladas pela iniciativa é a comunidade de Brasília Teimosa. Além dela, os novos equipamentos estão localizados estrategicamente em áreas do Mais Vida nos Morros perto das escolas municipais, em praças nos bairros de: Campo Grande, Iputinga, Morro da Conceição e Tejipió, ou seja, cinco das seis RPAs que existem no Recife foram contempladas, reforçando o objetivo de levar educação e equipamentos de qualidade para todas as áreas da cidade.

Lançamento do novo espaço de leitura recebeu atividade de contação de histórias. Créditos: Edson Holanda

“A ideia do projeto é envolver toda a comunidade em torno dos espaços, além de auxiliar no desenvolvimento das crianças desde a infância, para que elas criem a sua própria identidade por meio das experiências vivenciadas desde os primeiros passos”, comenta Camila Lopes, gestora do Projeto Primeiro a Infância (ARIES).

Os espaços são lúdicos e encantam o olhar das crianças ao redor. Cada local tem um módulo no formato de livro com a finalidade de incentivar a leitura na primeira infância, meta principal do projeto. É nesse grande livro que pode ser encontrado o acervo de edições disponíveis e com fácil acesso assim que é aberto.

Livros ficam à disposição das crianças. Créditos: Edson Holanda

Em cada comunidade, a composição dos espaços varia contendo banco, jardineira e abrigo. Em alguns deles, as ilustrações realizadas para a arte urbana tiveram a participação das crianças e dos moradores. Todos os livros disponíveis nos Espaços de Leitura foram doados pela Secretaria Executiva para a Primeira Infância e pela ARIES.

Em Boa Vista, municípios participam do primeiro encontro de cidades em prol da Primeira Infância

Depois de quase dois anos de atuação coletiva, trabalho em parceria e muita troca de experiências virtuais, os municípios que compõem a Rede Urban95 Brasil participaram, na última terça (17) e quarta-feira (18), do 1º Encontro da Rede Urban95 Brasil. O evento foi sediado por Boa Vista, capital de Roraima, que é referência internacional na descentralização de políticas públicas para as primeiras etapas da jornada da infância nos territórios diversos da cidade.

Cláudia Vidigal, durante a cerimônia de abertura do evento. Crédito: Andrezza Mariot – PMBV

Prefeitos, vice-prefeitos, secretários e técnicos de 23 cidades que compõem a Rede trocaram experiências e conheceram programas e serviços que deram à Boa Vista o título de Capital da Primeira Infância. O evento teve apoio da prefeitura local, Centro de Criação de Imagem Popular (CECIP) e Instituto Cidades Sustentáveis (ICS) e foi realizado pela Fundação Bernard van Leer e AVSI Brasil. A abertura oficial aconteceu no Teatro Municipal de Boa Vista, na manhã de terça-feira.

“Não é por acaso que esse primeiro encontro aconteceu aqui em Boa Vista, cidade pioneira da Rede junto com Recife e São Paulo. Era muito importante para nós mostrar a diversidade das cidades brasileiras e, portanto, mostrar como essa cidade amazônica conseguiu implementar programas integrados, integrais e intersetoriais de primeira infância”, conta Cláudia Vidigal, representante da Fundação Bernard van Leer no Brasil.

As equipes das cidades visitaram ações e projetos de referência para a primeira infância, como o Programa Família que Acolhe. Crédito: Pedro Medeiros

A programação do primeiro encontro presencial da Rede incluiu espaços para troca de experiências e lições aprendidas no processo de priorização das crianças no planejamento urbano que têm acontecido nas 23 cidades. Os representantes da Rede foram convidados a conhecer serviços e políticas públicas de Boa Vista pensadas para a Primeira Infância, como o Programa Família que Acolhe (FQA), referência nacional em cuidado com gestantes e crianças pequenas.

Além da sede do FQA, as visitas também incluíram uma creche modelo, o SPA do Bebê, localizado em uma unidade básica de saúde do Família Que Acolhe, o parque aquático e interativo da Praça do Nova Cidade e o Centro de Ciência, Tecnologia e Inovação de Boa Vista, onde são trabalhados dados e indicadores sobre primeira infância na cidade.

Prefeito de Jundiaí durante visita à creche modelo de Boa Vista. Crédito: Pedro Medeiros – Escola de Notícias

As visitas técnicas incluíram as instalações do SPA do bebê, espaço de socialização de bebês e cuidadores, intervenções urbanísticas voltadas para a 1ª Infância e programas com uso de tecnologia e análise de dados para promover serviços mais bem distribuídos.

“Participar do 1º Encontro Urban95 Brasil foi uma das experiências mais fantásticas da minha vida, tanto pessoal quanto profissionalmente. Além de tudo, foi um encontro de amor, um amor verdadeiro pelo próximo e de querer o bem. Tive a oportunidade de apresentar o projeto Ruas brincantes nas salas temáticas. Um dos momentos mais significativos do encontro, onde tivemos oportunidade de ver na prática o que os outros municípios estão fazendo”, compartilhou Lívia Barbosa, diretora de cultura em Uruçuca (BA).

“Tivemos a possibilidade de entender os desafios e oportunidades de cada uma das cidades. Falamos de serviços e como podemos avançar, também sobre a importância da mobilidade, independente da escala da cidade, como pensar em segurança e caminhos lúdicos. Tudo isso faz parte das políticas públicas, com olhar da primeira infância”, completou Claudio de Faria Rodrigues, secretário de Planejamento e Urbanismo de Mogi das Cruzes (SP).

Além das cidades Urban95, participaram do evento representantes da Fundação Bernard van Leer e dos parceiros: AVSI, Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip), Instituto Cidades Sustentáveis (ICS), Instituto de Tecnologias Geo-sociais (ITGS), Estúdio +1, Ateliê Navio, Allma Hub, Descobrir Brincando, Agência Recife para Inovação e Estratégia (ARIES) e o Instituto Alana.

Cidades apresentaram suas experiências durante o segundo dia de evento. Crédito: Pedro Medeiros – Escola de Notícias

Durante a programação do encontro também foram lançadas publicações voltadas para gestores, estudiosos e especialistas nos temas ligados à primeira infância. A ex-prefeita de Boa Vista, Teresa Surita, lançou o livro de sua autoria “A primeira infância é para sempre: guia de políticas públicas para crianças de 0 a 6 anos”, e a Global Designing Cities Initiative apresentou o guia “Desenhando Ruas para Crianças”, em sua versão em português. A iniciativa é parceira da Urban95 em diversos países e já prestou assessoria para cidades da Rede.

Outros nomes importantes também marcaram presença como o Prefeito da capital Boa Vista, Arthur Henrique Machado; Luiz Fernando Machado, Prefeito de Jundiaí (SP); Dalmy Crisóstomo da Silva, Prefeito de Alcinópolis (MS); Luziane Solon Oliveira, Prefeita de Benevides (PA); e Aldalice Nogueira Brasil, Primeira-dama do Crato (CE).

Evento reuniu 23 das cidades que compõe a Rede Urban95 Brasil. Crédito: Pedro Medeiros – Escola de Notícias

Cidades brasileiras participam de imersão em políticas públicas voltadas à primeira infância em em Londres

Representantes das cidades brasileiras de Caruaru (PE) e Fortaleza (CE) vivenciaram uma experiência única com gestores públicos de diversas partes do mundo. A Fundação Bernard van Leer promoveu, de 8 a 13 de maio, em Londres, na Inglaterra, a Urban95 Academy, um programa de educação para administradores municipais voltado para criar cidades melhores para a primeira infância.

Os municípios brasileiros foram escolhidos para compor o grupo de 11 cidades de diversos países que apresentam soluções promissoras para melhorar a qualidade de vida de suas crianças e famílias.

A equipe de Fortaleza foi composta de Elcio Batista, Vice-prefeito da cidade; José Iraguassu Teixeira Filho, presidente da FUNCI, e Tais Barreto Costa, coordenadora de programas especiais na Citinova. De Caruaru, estiveram presentes os técnicos da prefeitura Swami Lima, Julianne Pepeu e Carolina Cabral.

O curso teve como conteúdos estratégias, campanhas de comunicação e planos de implementação para políticas para crianças pequenas, com assessoria de parceiros técnicos da Van Leer. Também serviu para ampliação de network e para explorar a cidade de Londres da perspectiva dos pequenos.

Walking tour com Tim Gill e Liz Kessler em Londres

Segundo a Urban95, hoje mais de um bilhão de crianças crescem em áreas urbanas. E cidades podem ser um lugar maravilhoso para viver, mas também podem significar sérios desafios para o bem-estar de bebês, crianças e dos quem cuida deles – da falta de contato com a natureza à ausência de lugares para brincar, passando pela poluição do ar e pelo isolamento social.

A Urban95 Academy é um programa de liderança feito para administradores municipais aprenderem e desenvolverem cidades melhores para a primeira infância. A iniciativa é uma parceria entre a Van Leer e a London School of Economics and Political Science.

Cidades se reúnem para discutir o planejamento das cidades com foco n primeira infância.

Foram seis semanas de curso online, iniciado em janeiro, e uma semana presencial, encerrada na última sexta-feira. Na fase virtual, foram discutidos conteúdos de planejamento, projeto, políticas e programas voltados à infância e o uso do espaço público, planejamento de bairro, mobilidade e transporte. Também foram desenvolvidas análises, estratégias e habilidades de liderança.

O programa se baseia em pontos importantes para criar cidades para crianças:  foco no bem estar, na igualdade, no cuidado e na proximidade geográfica, e também no princípio de que se um espaço é saudável, seguro, limpo e interessante para bebês, ele será para todos.

Vice-prefeito de Fortaleza, Elcio Batista, experimenta o deslocamento na cidade com um carrinho de bebê.

As cidades que completam o programa são convidadas para integrar a rede global da Urban95 e também se habilitam para receber suporte técnico adicional da Fundação Bernard van Leer e de seus parceiros. No Brasil, 24 cidades já participam, e o programa tem abertura para receber novos integrantes.

Como vivem as crianças venezuelanas que buscam abrigo no Brasil?

A crise econômica e social na Venezuela transformou Boa Vista na principal porta de entrada para os imigrantes que chegam ao país em busca de oportunidades. Entre 2015 e 2017, o número de venezuelanos no Brasil cresceu mais de 900%, fazendo do país o quinto na América Latina em número total de refugiados. Com uma população estimada em pouco mais de 430 mil habitantes, a capital de Roraima viu crescer a pressão sobre suas escolas, hospitais, sistema de moradia e diversos serviços de assistência social.

A maternidade pública da cidade assistiu ao dobro de partos em um período de doze
meses, e a prefeitura teve de contar com apoio de agências internacionais para amortecer o impacto do crescimento acelerado da demanda por necessidades básicas dessa população. Acolhidos em abrigos temporários, organizados pela prefeitura em parceria com as Forças Armadas e a ACNUR (a agência para refugiados da ONU), recebem apoio jurídico e assistência para alcançar os direitos civis que ganham ao chegar ao Brasil. Além da emissão de CPF, podem solicitar visto de permanência e mesmo a inscrição em programas como o Bolsa Família.

No caso das crianças, a situação é sempre mais delicada, já que um conjunto de
vulnerabilidades se soma às experiências desses pequenos cidadãos. Projeções apontam que 1,5 mil venezuelanos estão em situação de rua na capital, entre os quais cerca de um terço tem menos de 18 anos. Nascidas em um contexto de dificuldades extremas, contam com os serviços oferecidos no Brasil para se desenvolverem nos importantes anos de sua formação.

Conhecida como Capital da Primeira Infância, Boa Vista desenvolveu uma série de
programas de referência no atendimento a gestantes e crianças pequenas, com destaque para o Família Que Acolhe (FQA). Em funcionamento desde 2013, é uma política pública que integra serviços da prefeitura para manter o acompanhamento das famílias da gestação aos seis anos. Já consolidado quando da explosão da crise migratória em 2017, o programa se viu obrigado a adaptar o atendimento para receber as estrangeiras, muitas das quais já chegaram ao Brasil em um momento avançado da gestação.

Uma facilitadora venezuelana foi contratada para estreitar o diálogo com as novas famílias e, com o apoio da Unicef e de organizações sociais que já atuavam na cidade, um grupo específico de venezuelanos foi criado no FQA. O tempo mostrou que a integração na sociedade também era uma demanda urgente e, com a intensificação da xenofobia, chegou-se à conclusão de que o melhor seria estabelecer grupos mistos. Essa decisão ajudou, inclusive, na adaptação das novas famílias à língua, à cultura e à vida na cidade.

Amarelinha do Família Que Acolhe. Foto: Fernando Teixeira

Andréia Neres é a titular da Secretaria Municipal de Projetos Especiais, que coordena hoje o programa no município, e conta que foram necessárias diversas adaptações para atender às demandas da nova população. E que, hoje, 22% das 1560 famílias cadastradas no Família que Acolhe são de origem venezuelana. Até junho de 2021, mais de 22 mil gestações já tinham sido acompanhadas no município, das quais pouco mais de 3 mil eram de mães venezuelanas.

“Nós entendemos que não é uma ação assistencialista, é um programa integral que atua e tem uma parceria muito forte com outras secretarias, como Saúde, Educação, Obras e Comunicação. Todo mundo participa de alguma forma do programa. Quando iniciamos a ideia era basicamente cuidar das adolescentes, aí surgiu a necessidade de olhar para outros grupos de mães e a gente foi ampliando”, explica.

O programa foi evoluindo e, com a chegada de crianças venezuelanas, novos desafios
surgiram. “No começo do atendimento havia dificuldade até mesmo de entrar nos abrigos e localizar as gestantes que precisavam de apoio, pois eram espaços grandes, com mais de seis mil pessoas. Conseguimos descentralizar os atendimentos, que hoje ocorrem também no Cras, uma forma de expandir o atendimento para a população em geral, completa Andréia.”

Hoje a cidade conta com sete abrigos estabelecidos, sendo dois deles voltados a
populações indígenas. A visitação domiciliar realizada a partir do “Criança Feliz”, do
Governo Federal, também teve sua metodologia aplicada com adaptações, permitindo uma atenção mais estruturada, contemplando muitas das famílias venezuelanas na cidade. O desafio da imigração permanece para aqueles que buscam fontes de renda, emprego digno e o acesso pleno a seus direitos, mas aos poucos a receptividade na experiência de Boa Vista nos lembra do poder da gestão integrada e das parcerias. O que foi fundamental em um momento de crise serve como inspiração para as políticas de todos os tempos.

Capital da primeira infância: Como políticas públicas transformaram Boa Vista (RR) em uma cidade para as crianças

Ao andar pelas ruas planas de Boa Vista (RR), o compromisso com a primeira infância é visível: praças convidam crianças a se conectar com a natureza; coloridos caminhos da primeira infância conectam serviços em trajetos lúdicos e arborizados; e nos equipamentos de saúde, educação e assistência, a primeira infância é prioridade absoluta.

Este compromisso irrevogável com as infâncias começa com uma política pública: o Programa Família que Acolhe (FQA) foi instituído em 2013 pela então prefeita Teresa Surita, na lei nº 1.545, com a missão de garantir o desenvolvimento integral das crianças a partir de ações intersetoriais para primeira infância e seus cuidadores, com especial atenção para gestantes e puérperas.

“Costumamos dizer que existe um antes e um depois do Programa Família que Acolhe”, explica Andréia Neres, secretária municipal de projetos especiais. “O programa conseguiu contextualizar a importância da primeira infância para toda a gestão, e isso reverberou na sociedade e nos espaços públicos. Se você falar sobre primeira infância em qualquer lugar da cidade, hoje a população tem entendimento do quanto é importante o cuidado nesta fase da vida.”

Intervenções urbanísticas facilitam deslocamento e fruição da cidade pelas infâncias em Boa Vista (RR) / Crédito: Fernando Teixeira.

Para tornar Boa Vista a capital da primeira infância, mudanças se deram em espaços urbanos e nos atendimentos básicos oferecidos pela rede. 

Boa Vista é uma cidade de formação recente, com 131 anos de idade. Com malha urbana planejada, a formação de suas ruas é radial, convergindo para o centro da cidade. “É uma cidade horizontalizada, praticamente não temos construções verticais. A densidade demográfica é muito baixa, o que permite que as pessoas tenham acesso ao centro com mais facilidade do que outros centros urbanos”, detalha Leonardo Paradela, presidente da Empresa de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (EMHUR).

Embora o planejamento urbano da cidade já incentive a mobilidade pedestal e a fruição de espaços da natureza, a consolidação do Programa Família que Acolhe (FQA) gerou uma transformação vital: a perspectiva das crianças sobre os espaços ganhou lugar e alterou a forma como praças e ruas são pensadas.

“A partir da inclusão da cidade na Rede Urban95, agregamos novos conceitos no urbanismo para fazer a criança usufruir do espaço público, interagindo e crescendo nele. Além das praças, implementamos caminhos da primeira infância, para que crianças e seus cuidadores percorram trajetos arborizados e lúdicos”, relata Leonardo.

Conheças estas e outras iniciativas que conferem à Boa Vista o título de capital brasileira da primeira infância: 

Programa Família que Acolhe (FQA): O programa intersetorial principia a mudança de paradigma sobre primeira infância na cidade. As famílias beneficiárias são convidadas a participar de momentos formativos sobre cuidados na primeira infância, e também recebem uma série de benefícios, como o enxoval e garantia de vagas nas Casas Mãe. O atendimento acontece tanto em grupos – os chamados Grupos FQA – como também em domicílio. Embora no início do programa os serviços tenham se concentrado na sede, nos últimos anos equipamentos de assistência social, saúde e educação também realizam atendimento, primando pela descentralização e pela intersetorialidade da política pública. Os cuidadores têm à sua disposição uma teia de atendimentos de saúde, como acompanhamento psicológico, ortodontia e outras áreas.

Na foto, sede do programa Família que Acolhe (FQA), política pública pioneira em atenção básica e que arvorou as perspectivas de primeira infância para toda a cidade / Crédito: Fernando Teixeira.

Universidade do Bebê: Parte do programa FQA, a Universidade do Bebê é um programa onde os grupos de gestantes, puérperas e cuidadores se reúnem quinzenalmente para aulas sobre temas como parentalidade positiva, fortalecimento de vínculo, estímulo ao desenvolvimento da criança, a brincadeiras e à leitura.

Projeto Selvinha Amazônica: Oito praças da cidade recebem a intervenção urbanística chamada Selvinha Amazônica. Os brinquedos visam aproximar as crianças da fauna e flora do bioma, estimulando o brincar e a conexão com a natureza. A maior delas, no Parque Rio Branco, tem mais de 160 instalações.

Caminhos da Primeira Infância: Próximo à Praça da Primeira Infância Clotilde Tereza Duarte de Oliveira, no bairro Nova Cidade, está o projeto-piloto de travessia segura para crianças e adultos. A ideia é interconectar serviços como creches e UBS em trajetos que ofereçam ludicidade e também contato com espaços verdes.

Casas Mãe: Localizadas em diversos pontos de Boa Vista, as Casas Mãe são espaços de educação para crianças de 2 a 4 anos cujas famílias participam do programa Família que Acolhe (FQA).

Sistema Cidade Social: Em parceria com a Fundação Bernard van Leer e com a AVSI Brasil, a prefeitura da cidade aposta em coleta e monitoramento de dados para melhorar os serviços do programa Família que Acolhe (FQA) e pautar as próximas ações da política pública.

Abrigos de ônibus adaptados: Para incentivar mudanças de comportamento e trazer a primeira infância como pauta para a cidade, alguns pontos de ônibus passaram por transformações, adicionando elementos lúdicos e acessibilidade.

 

1º Encontro Urban95 Brasil.

Nos dias 17 e 18 de maio, representantes das 24 cidades que compõem a rede terão a oportunidade de conhecer de perto estes e outros programas e serviços de Boa Vista durante o 1º Encontro Urban95 Brasil. Toda a visita poderá ser acompanhada em tempo real pelo Instagram da rede Urban95. Acesse: @Urban95br

 

Conhecendo o Programa Família que Acolhe – Apoio às famílias desde a gestação

Todos os dias, gestantes, cuidadores, puérperas e crianças de Boa Vista (RR) frequentam os serviços do programa Família que Acolhe (FQA). Em espaços como a Universidade do Bebê ou em outros equipamentos que aplicam a política pública, essas famílias aprendem e compartilham experiências sobre cuidados na primeira infância.

O programa, referência no Brasil e no mundo, foi tema do webinar “Conhecendo o Programa Família que Acolhe (FQA) – Apoio às famílias desde a gestação”, que aconteceu no dia 27 de abril e reuniu representantes das 24 cidades da Rede Urban95.

Programa Família que Acolhe (FQA) orienta gestantes, cuidadores e puérperas nos cuidados da primeira infância / Crédito: Prefeitura de Boa Vista

Andréia Neres, secretária municipal de projetos especiais, compartilhou como o programa tem evoluído sua metodologia ao longo dos oito anos de funcionamento, se adaptando às diferentes realidades de quase 8 mil beneficiários: “O Família que Acolhe tem por objetivo promover o desenvolvimento integral das crianças e o fortalecimento dos vínculos, entre elas e os cuidadores, em um ambiente saudável e de interações positivas. O público alvo é a criança e a sua rede de cuidadores, desde a gestação até os 6 anos de vida.”

A adesão de mães – e por extensão, a rede de cuidadores – ao programa estabelece o início de uma trajetória de cuidados. Se elas tiverem uma frequência satisfatória nas atividades e serviços propostos ao longo dos dois primeiros anos de programa, elas recebem inúmeros benefícios, como o enxoval, e também asseguram vagas nas Casas Mães, creches municipais diferenciadas.

Descentralização e tecnologia para aprimorar os serviços 

O Programa Família que Acolhe (FQA) tem uma trajetória de adequação dos serviços às realidades do território. Ele fornece dois tipos de atendimento: um deles são os grupos FQA, que realizam encontros quinzenais na sede ou em equipamentos espalhados pelo território; para as famílias que não conseguem comparecer presencialmente, é oferecida a oportunidade de visita domiciliar.

“O nosso público de entrada são as gestantes. Estimulamos que a entrada seja o mais cedo possível, para fazer uma avaliação e o encaminhamento para os grupos ou para a visitação familiar”, complementa Andréia. A prioridade é sempre encaminhar para os encontros grupais, pois em espaços como a Universidade do Bebê, mães, puérperas e cuidadores podem trocar experiências e contar com uma rede de profissionais.

Em espaços como a Universidade do Bebê, grupos FQA se encontram para trocar experiências e compartilhas aprendizados sobre primeira infância / Crédito: Prefeitura de Boa Vista.

Um dos esforços do programa tem sido a descentralização dos serviços. Embora a sede no bairro Pintolândia continue a ser um referencial de qualidade, seis Centros de Referência em Assistência Social (CRAS) pela cidade também ofertam o programa. A capilarização visa a aumentar o alcance da política, facilitar deslocamentos e também influenciar ações para a primeira infância já desenvolvidas nos centros.

Para garantir o monitoramento do programa, o FQA mantém uma parceria perene com o Centro de Ciência, Tecnologia e Inovação (CCTI) para coletar e sistematizar dados das infâncias em Boa Vista. Os indicadores coletados ajudam a aprimorar os serviços ofertados pelo programa e a mensurar resultados das políticas adotadas.

Assista ao webinar: Conhecendo o Programa Família que Acolhe (FQA) – Apoio às famílias desde a gestação.

Crianças ocupam rua de Canoas em ambiente lúdico, acessível e acolhedor

Rua Brincante abre espaço para alunos de escola municipal da cidade. Crédito: Guilherme Pereira

Um resgate das brincadeiras ao ar livre. É isso que a Prefeitura de Canoas, cidade gaúcha, tenta realizar com a Rua Brincante, inaugurada em março deste ano no bairro de Guajuviras.

A Rua Ernesto Che Guevara foi totalmente adaptada com paisagismo para receber a criançada para um mergulho no universo de histórias e brincadeiras. Na inauguração do espaço houve também uma Plenarinha numa escola próxima, que escutou sugestões que as crianças têm para a cidade.

Crédito: Guilherme Pereira

A Rua Brincante e a Plenarinha fazem parte de um conjunto de ações implantadas desde julho do ano passado, dentro da proposta da Rede Urban95 Brasil, iniciativa da Fundação Bernard van Leer, que desenvolve e compartilha experiências para o desenvolvimento na primeira infância.

Rua Brincante de Canoas. Crédito: Guilherme Pereira

Na chegada, a Rua Brincante tem um pórtico que remete ao lápis de cor. No chão, brincadeiras ensinam sobre as metamorfoses do mundo animal, por meio de jogo da velha, amarelinha e labirintos.

As pinturas no muro imitam uma minicidade onde as crianças podem interagir, completando o desenho e fingindo ser parte dele. “As travessias de pedestres são lúdicas, em formato de lápis e foguetes, para que de forma divertida a educação no trânsito também seja estimulada. Importante lembrar que a rua é para ser utilizada a qualquer tempo já que não é permitido estacionar”, diz a arquiteta e urbanista Jeruza Mattos, que atua no Escritório de Projetos da Prefeitura de Canoas.

Rua Brincante em Canoas. Crédito: Guilherme Pereira

Os bancos em altura menor dão às crianças autonomia para sentar e suas ilustrações estimulam a diversidade cultural.

A calçada tem árvores frutíferas identificadas, estimulando a interação com o meio ambiente. O palco, também em formato de minicidade, abriga eventos e apresentações voltados à primeira infância.

Rua Brincante abre espaço para a primeira infância. Crédito: Guilherme Pereira

A secretária do Escritório de Projetos, Joceane Gasparetto, diz que a prefeitura assumiu o compromisso de planejar a cidade a partir da perspectiva da primeira infância. “É um projeto de governo onde todos assumem a tarefa de adaptar as políticas públicas e equipamentos públicos para a primeira infância”, afirma. E complementa: “Estamos desenvolvendo projetos com interações positivas, contato com a natureza nos espaços urbanos, proximidade entre serviços e mudanças duradouras nos cenários, que moldam os primeiros anos da vida de nossos cidadãos”.

Crédito: Guilherme Pereira

Quando a política conversa pelas infâncias

Uma casa com dois cômodos onde uma mãe cuida de cinco filhos. Uma adolescente de 13 anos, uma criança de sete anos autista e trigêmeos com síndrome congênita do Zika vírus, tendo como única fonte de renda o Bolsa Família, na época na faixa de R$ 300. Quanto apoio é preciso oferecer para que esta família consiga sair de uma situação de vulnerabilidade como essa?

Em um país desigual como o Brasil, um dos nossos maiores desafios é garantir que
ninguém fique para trás quanto ao acesso a direitos e serviços, de forma que garanta nosso desenvolvimento pleno como pessoas. Independentemente da região geográfica onde nascemos, das crenças, cultura e situação financeira de nossas famílias, todos merecemos condições dignas para nascer e crescer.

Os desafios e oportunidades a que somos expostos começam ainda antes do nascimento, na gestação. Já sabemos, também, que é desproporcional o impacto do que experimentamos nos primeiros anos de vida, influenciando toda a nossa trajetória. Acolher e envolver as gestantes no sistema de cuidados é uma boa maneira de incluir as futuras crianças na rede de atenção de que vão precisar ao longo de sua formação, do pré-natal à matrícula escolar.

A responsabilidade pela prosperidade humana é de toda a sociedade, mesmo daqueles que não são cuidadores de crianças ou, talvez, não tenham tanto conhecimento sobre o assunto. Mas não se pode negar que é nas mãos dos governos que estão as demandas mais diretas e também mais básicas, como garantir que todas as crianças tenham acesso à creche de qualidade e, no futuro, a escolas bem equipadas e com educadores capacitados.

Atendimento do Programa Mãe Coruja Recife. Crédito: Prefeitura de Recife

Também é da gestão pública a função de ofertar ruas e espaços públicos de lazer bem
cuidados, convidativos e seguros, de forma que incentivem o uso da população. Habitação acessível, saneamento básico, cultura, segurança pública, emprego digno… Ufa! De todos os temas, talvez o maior desafio, e obrigação constitucional do Estado, seja a oferta de um sistema público de saúde de qualidade, que ofereça atendimento médico e políticas de prevenção a doenças para todos, O desafio não é pequeno.

Por outro lado, a saúde é a porta de entrada para o acesso a serviços e direitos públicos, muito em função do SUS, um amplo e complexo sistema de que dispõem os brasileiros. Para atender as demandas continentais do país e superar os predicados negativos que vêm acompanhando a política, é fundamental a união de esforços na mesma direção. Mas o pessimismo não é obrigatório, e temos casos inspiradores para compartilhar por aí.

Um bom exemplo é o programa Mãe Coruja Pernambucana, que está completando 15 anos de atenção às gestantes e às novas famílias, implantado em mais de 100 cidades. Inspirada na rede estadual, Recife desenhou seu próprio programa, considerando suas peculiaridades e os serviços e aparelhos públicos de que já dispunha. Ao invés de competir com o programa estadual, a ideia foi incorporar lições aprendidas e levar toda a experiência para o município.

Com base nos dados de mortalidade materno-infantil e de vulnerabilidade social dos
territórios, 10 bairros prioritários foram selecionados para implantar o Mãe Coruja Recife. A ideia é cadastrar a mulher ainda no período da gestação, de forma que ao nascer a crianças já esteja sob a atenção da gestão pública. O cuidado intersetorial garante o diálogo com oito secretarias municipais, que fazem a retaguarda da equipe de atenção básica, responsável pré-natal e saúde dos bebês.

Outra potencialidade do programa foi sua inclusão nos Compaz de Recife, espaços
multidisciplinares de convivência para crianças e famílias, que se tornaram referência
nacional como fábricas de cidadania. Esportes, lazer, programas de qualificação e diversos serviços jurídicos ofertados no mesmo local. Agora as gestantes e os bebês também contam com seu espaço por lá.

A vigilância positiva das gestantes permite monitorar o comparecimento às consultas e aos exames necessários, a vacinação das crianças e a realização de todos os atendimentos importantes para o crescimento. Ao mesmo tempo, mantém um diálogo íntimo com as novas mães, oferecendo apoio, informação e acolhimento. Os Espaços Mãe Coruja, chamados no programa estadual de canto Mãe Coruja, centralizam esses cuidados e se tornam referências para as famílias, que contam com médicos, enfermeiros, assistentes sociais e outros profissionais.

Ao completar sete consultas de pré-natal, a mãe recebe um kit com banheira, bolsa, fralda descartável e roupinhas de bebê. Assim como o Compaz, os espaços Mãe Coruja também oferecem cursos de capacitação para as mães em design de sobrancelha, manicure e corte de cabelo. Ao final, recebem um kit para começar a trabalhar, incentivando a geração de renda. Os bebês são acompanhados mensalmente no primeiro ano, depois a cada três meses e, a partir do terceiro ano, a avaliação periódica de acompanhamento é anual.

Quem nos trouxe a história que ilustra o início deste artigo foi a coordenadora municipal do Mãe Coruja Recife, Cláudia Soares, sobre uma família atendida pelo projeto, localizada pela equipe pouco antes do início da pandemia. “A gente começou com a intervenção intersetorial e se organizou para dar acesso aos direitos que ela tinha. Uns três meses depois, essa mulher chega no Espaço Coruja de batom, gente de batom! Foi uma coisa tão significativa pra mim que ela chegou de batom. Ela disse que estava indo no Compaz inscrever os meninos no esporte e quando perguntamos se ela queria alguma ajuda, ela disse não, que ia até lá resolver tudo. Aí a sensação de que a gente fez a diferença na vida dela”, conta a coordenadora.

Hoje são mais de 17 mil mulheres cadastradas no programa, que conta com 19 Espaços de atendimento, espalhados por 44 bairros de Recife. A perspectiva é passar de 50% das gestantes da cidade atendidas pelo projeto. Para a coordenadora, o programa apresenta o melhor indicador possível de uma política pública de sucesso: a indicação de uma mãe para outras. Amigas, parentes e vizinhas levam o programa no boca a boca, o que garante uma adesão constante de novas usuárias. Afinal, os melhores resultados a gente vê na prática, o eco dentro das comunidades!

Como pequenas intervenções podem transformar as cidades em benefício das crianças e impactar no desenvolvimento infantil

Muitas são as razões pelas quais a primeira infância deve ser priorizada no planejamento urbano e na criação de programas e serviços nas cidades. Com o objetivo de assegurar um apoio maior no desenvolvimento das crianças brasileiras, pequenas intervenções são organizadas e ampliam os olhares e os cuidados às crianças pequenas e suas famílias. Diversos setores, instrumentos e espaços institucionais estão envolvidos para dar vida aos conceitos oferecidos às cidades realizados pela Rede Urban95 Brasil. 

O que muda as cidades e o que transforma a realidade das pessoas são as pequenas ações. A sociedade está sempre à espera de grandes iniciativas ou grandes soluções para os problemas enfrentados que, realmente, são efetivos quando pensamos em políticas públicas. Mas as pequenas ações também têm grande relevância porque colaboram com todos aqueles que participam das iniciativas ou do problema, no sentido de solucionar, entender, enxergar e resolver por um outro ponto de vista. E alguns exemplos que a Urban revela mostram a eficácia desse tipo de intervenção na transformação da sociedade como um todo.

Dois bons exemplos de pequenas iniciativas aconteceram na Escola Municipal Profª Florisa Faustino Pinto, localizada em Mogi das Cruzes (SP). O primeiro se deu quando os alunos estavam estudando as questões históricas do bairro em que a unidade de educação está localizada e perceberam que não havia uma biografia da patrona registrada em sites de busca. O único recurso de pesquisa era uma moldura que ficava na entrada do prédio, porém, além de ter uma letra muito pequena e ilegível, ficava muito alta e eles não enxergavam para fazer a leitura de forma independente.

Após essa constatação, a escola decidiu trabalhar na produção da biografia com uma fonte mais adequada no quesito pedagógico e na altura da localização para facilitar o acesso para os menores. “Partindo dessa iniciativa, as crianças começaram a levantar outros aspectos que as incomodavam na rotina escolar, mostrando dificuldade de acesso a outras coisas devido à altura, e isso fez com que nosso olhar mudasse bastante, passando a enxergar certas situações na escola por outro ângulo”, comenta Monica Raquel de Souza Matheus Felismino, diretora da escola municipal localizada no Jardim Santos Dumont II, em Mogi das Cruzes.

Outro problema resolvido na escola foi em relação aos banheiros, que sempre geravam reclamações dos pequenos por conta de desperdício de água devido às torneiras ficarem abertas, e com os meninos entrando no banheiro das meninas. Como as indagações eram muitas, a organização da escola pensou em uma nova forma de comunicar isso a eles ao invés de uma chamada de atenção mais comum e realizou uma espécie de assembleia para entender o que estava acontecendo.

Com isso, a direção descobriu que as crianças não deixavam a torneira aberta por descaso com o desperdício de água, mas sim porque achavam o banheiro escuro, sentiam medo e, quando começavam a lavar a mão, abandonavam a torneira aberta e saíam correndo. Nesse bate-papo, também foi descoberto que os meninos entravam no banheiro errado porque, por estarem no primeiro ano na escola, esqueciam onde eram os banheiros que foram mostrados pelas professoras, e as placas eram feitas apenas com letras, sem desenhos, além de ficarem a 1,60m do chão, dificultando a visualização.

“Quando questionamos como poderíamos resolver essa questão, as próprias crianças verbalizaram suas ideias, solicitando que as portas dos banheiros fossem coloridas para que ficassem mais divertidas e o medo que sentiam fosse espantado e decidiram que a placa de sinalização deveria ficar mais embaixo, entrando em uma discussão para entender qual seria a altura ideal. Então, em conjunto, resolveram que deveriam ter letras e desenhos para quem ainda não soubesse ler e, ainda nessa conversa, os maiores entraram em um consenso para buscar a menor criança da escola e medi-la na porta, pois estando confortável para ela, estaria para todas”, conta Monica. “A ação foi bastante interessante e efetiva porque resolvemos o problema emocional do medo, do desperdício de água e da falta de identificação. Além disso, eles carregam a satisfação de terem suas ideias aceitas e implementadas”, finaliza a diretora.

Outro projeto bastante relevante é o realizado pela Secretaria de Educação em Campinas (SP). Foram disponibilizadas a todas as escolas da rede municipal da cidade mais de 100 poltronas de amamentação. Por meio de uma construção intersetorial e uma construção transversal que conecta a Secretaria de educação da cidade em parceria com as outras secretarias, o projeto pôde ser viabilizado de forma efetiva.

Antigamente, a cultura da comunidade em torno das creches municipais era de desmame prematuro de crianças pequenas para que pudessem frequentá-las. Hoje, médicos nos postos e centros de saúde sabem que foi criada essa estrutura nas creches, que permite que a mãe possa amamentar o seu bebê, o que resultou em uma grande diminuição do pedido de receitas de fórmulas para alimentação. Por esse motivo, esse projeto tem um simbolismo muito importante no que diz respeito à saúde e qualidade de vida dessas crianças.

Cadeira de amamentação instalada em creche municipal de Campinas. Crédito: Prefeitura de Campinas

“Outro ponto importante que percebemos é que, com essa iniciativa, trazemos a família para dentro da escola, mostramos a importância dessa amamentação para a vida saudável da criança e, ao mesmo tempo, acolhemos a mãe que faz parte desse desenvolvimento. Temos a relação de cuidar da criança, família, estado e sociedade”, explica Thiago Ferrari, coordenador da Primeira Infância de Campinas. “Internalizar a mãe na creche, por mais que tenha mães que não estejam amamentando, tem uma potência, um valor simbólico muito forte. É da família dentro da escola”, ressalta.

O projeto com as creches municipais de Campinas cria uma estrutura para receber essa mãe e seu bebê que ainda deve ser amamentado. E não é uma tarefa fácil, pois não se trata apenas de criar um espaço com acolhimento que tenha uma poltrona, é preciso ter uma estrutura para armazenar o leite e, além disso, o que é mais trabalhoso, conscientizar e treinar os profissionais para alimentarem essas crianças com o leite no copinho para que não haja o desmame, porque se colocar na mamadeira, isso vai acontecer.

Portanto, “é desenvolvido todo um trabalho de formação e envolvimento interno, que coloca a criança como prioridade, mostrando que dá para construir políticas públicas potentes intersetoriais e que refletem não só na qualidade de vida de uma criança, mas nas relações de toda uma comunidade, de toda uma estrutura setorial da prefeitura”, reforça Thiago.

Família que Acolhe, de Boa Vista, aposta na integração de serviços e acesso às políticas públicas locais

A cidade de Boa Vista, capital de Roraima, tem predicados de sobra para justificar o slogan que vem divulgando há quase uma década: o de capital da primeira infância no Brasil. E essa trajetória vem sendo liderada por um dos programas mais conhecidos no país, o Família que Acolhe. 

Entre os principais impactos dessa política pública estão a integração de todos os serviços básicos necessários para mães e filhos na primeira infância, garantindo que  as consultas, exames e procedimentos médicos sejam marcados e acompanhados. O programa também desburocratizou o acesso à educação e ao desenvolvimento social.

Antes mesmo de nascer, a criança já tem sua matrícula feita na creche e na pré-escola até os seis anos de idade, quando começa o ensino fundamental. Mães e familiares também têm acesso garantido a uma “educação familiar”, uma verdadeira “escola para pais”, para fortalecer os laços de afeto com a criança e a estabilidade familiar em situações muitas vezes complexas.

Amarelinha para as crianças no espaço do Família Que Acolhe. Crédito: Fernando Teixeira

Com base no conceito de uma “escola de pais”, foi criada na sede do programa a Universidade do Bebê, onde gestantes, novas mães e familiares recebem  informações sobre o desenvolvimento psicossocial das crianças. As famílias participam ainda de oficinas de música, coral e leitura, para criar uma cultura de promoção do hábito da leitura desde o berço. Também são entregues leite e enxovais para as crianças e vale-transporte para os pais.

Em 2014, o programa iniciou o Projeto de Formação em Desenvolvimento da Primeira Infância, para capacitar profissionais das áreas de saúde, educação, assistência social e comunicação. Grávidas, mães e bebês são acompanhados por uma equipe multidisciplinar de 180 pessoas. Além disso, proporciona consultas de planejamento familiar, para que mães adolescentes não repitam uma gravidez imprevista.

O Família que Acolhe é um programa multissetorial, gerido com recursos da prefeitura, e com a participação integrada das secretarias municipais de Gestão Social, Saúde, Educação, Comunicação e Finanças. Também envolve os Centros de Referência de Assistência Social (Cras), onde acontecem algumas atividades nos bairros

As atividades também acontecem nas Casas Mãe (modelo de creche da Prefeitura de Boa Vista) e na Unidade Básica de Saúde 24 horas Olenka Macellaro. A descentralização permite que mais famílias participem.

São atendidas crianças de 0 a 6 anos, gestantes cadastradas no Bolsa Família, inscritos em creches municipais, adolescentes gestantes e famílias e as educandas do sistema penitenciário.

“Se não houver envolvimento do gestor com a primeira infância, não há como avançar”, diz Teresa Surita, ex-prefeita de Boa Vista e criadora do programa. Segundo ela, aplicar no dia a dia do serviço público o conceito de desenvolvimento infantil, unindo saberes de diversas ciências, é um grande desafio que exige muito trabalho e sensibilidade dos profissionais envolvidos.

Fachada do espaço FQA. Crédito: Fernando Teixeira

“Ao assumir a prefeitura em 2013, não tive dúvidas de que transformar Boa Vista na Capital da Primeira Infância no Brasil seria o maior legado que poderia deixar para a nossa cidade. Naquela época, pouco se falava sobre primeira infância ou sobre as sinapses e conexões que acontecem no cérebro de uma criança, desde sua concepção. Ao contrário do que se pensa, investir na primeira infância não demanda tanto tempo. As crianças respondem muito rápido aos estímulos e para as famílias esse retorno é positivo e palpável, a curto prazo”, disse Teresa Surita. “Os três primeiros anos são para sempre.”

“As parcerias de estudiosos e organizações especializadas na primeira infância, principalmente na capacitação de nossos servidores nesse trabalho, como a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, Instituto Primeiros Anos e Instituto Alfa e Beto, têm sido muito importantes. Hoje estamos ampliando essa rede, em nível internacional, com envolvimento de entidades como a Fundação Holandesa Bernard Van Leer, a University of New York e a New York Academy of Sciences”, comemora a ex-prefeita.

Crianças brincam no espaço do Família Que Acolhe, em Boa Vista. Crédito: Fernando Teixeira

Fortaleza aposta em busca escolar ativa para recuperar defasagem causada pela pandemia

A evasão escolar é um dos grandes entraves para a conquista de bons indicadores nos sistemas públicos de ensino no Brasil. Por inúmeros fatores, ainda há crianças e adolescentes que acabam abandonando os estudos e, consequentemente, comprometendo o futuro profissional deles e das próximas gerações, piorando a qualidade de vida das famílias. 

Pensando nisso, a capital do Ceará, Fortaleza, implantou o Sistema de Busca Ativa, com o objetivo de erradicar a evasão escolar na cidade. O programa usa uma estratégia própria, com monitoramento em tempo real, para acompanhar 100% a frequência escolar dos estudantes da capital.

A Secretaria Municipal de Educação lembra que, segundo o Censo Escolar, de 2008 a 2018 o abandono no ensino fundamental na cidade caiu 93,8%, atingindo índice de apenas 0,4% em 2019.

O Busca Ativa tem metodologia desenvolvida pelos próprios funcionários da secretaria e atua em tempo real, permitindo proteger o tempo escolar das crianças, diminuindo as faltas e combatendo o abandono escolar. Atua envolvendo as secretarias municipais de Saúde, de Direitos Humanos e do Desenvolvimento Social e a Secretaria Estadual da Educação.

O acompanhamento vai do infantil I à Educação de Jovens e Adultos e prevê comunicações com a família ou com o aluno maior de idade, incluindo até a visita domiciliar e o acionamento do Conselho Tutelar, se necessário.

O método prevê qualificar gestores e técnicos nas escolas para sua aplicação. Além disso, uma equipe presta suporte aos estabelecimentos. Cada distrito tem um articulador e seis agentes dedicados ao programa. 

Alunos da rede pública de Fortaleza utilizam o laboratório de informática. Crédito: Prefeitura de Fortaleza

Durante a pandemia, o programa mudou suas características e passou a monitorar a frequência dos alunos às aulas virtuais.

O programa foi lançado em 2017, mas teve um importante impulso em 2021, com o Pacote Volta às Aulas, com a intenção de apoiar os alunos na volta às aulas pós-covid. Agora, conta com 1.300 agentes escolares distribuídos pelas regiões, possibilitando um melhor rastreio e acompanhamento da frequência.

“Temos conseguido promover diariamente mais de 20 mil atendimentos aos estudantes. Vamos atrás de cada um e tentamos trazê-los de volta à escola. Isso tem sido muito relevante para que a gente possa recuperar o processo de aprendizagem dos nossos alunos depois de um período tão difícil quanto esse que passamos”, afirma Dalila Saldanha, secretária municipal de Educação da capital.

Livro reflete sobre mulheres e crianças no contexto urbano

Grande proporção de territórios das cidades brasileiras apresenta formas de precariedade, urbanização incompleta ou inexistente, com índices majoritários de baixa qualidade de vida, onde os potenciais criativos e de liderança são soterrados pela pobreza, pela falta de recursos e pela ausência de oportunidades.

Segundo pesquisa publicada recentemente pela Fundação João Pinheiro, o Brasil tem um déficit habitacional de 5,8 milhões de moradias. Por outro lado, há 3,035 milhões de casas desocupadas por conta do valor alto do aluguel e 24,8 milhões de moradias com algum tipo de inadequação. Como, afinal, vivem estes quase 100 milhões de pessoas (considerando 3 habitantes por moradia), em sua grande parte mulheres e crianças?

Como enfrentam desafio tão cruel de não ter acesso a um teto, um bairro digno? Como enfrentam a fome e a violência cotidianas? A urgência por transformações eficazes no desenho urbano, em áreas de grande vulnerabilidade urbana e social, se traduz na necessidade de incluir na formação e qualificação de arquitetas, arquitetos e profissionais urbanos, recursos e habilidades multi, inter e transdisciplinares. É assim que, em conjunto com a formação técnica e teórica específica da profissão, poderão aprofundar seus conhecimentos nas essenciais questões de gênero e infância, dando dar melhor apoio ao trabalho em territórios vulneráveis.

Essa é a discussão provocada por “Cidade, Gênero e Infância”, publicação lançada e coeditada pela Romano Guerra e pela Pistache Editoria. Afinal, a vocação do desenho urbano é servir como instrumento de síntese entre teorias e práticas, com vistas a produzir efeitos concretos. Quando voltado para as demandas reais e prioritárias de cada território, pode contribuir para transformações positivas para as comunidades.

Para que seja possível romper o ciclo da desigualdade e as condições de vulnerabilidade, o investimento na primeira infância é ferramenta essencial. As condições dos primeiros anos de vida impactam significativamente na constituição física, psíquica e neurológica do indivíduo. Suas capacidades de desenvolvimento afetivo, cognitivo, de linguagem e de habilidades e estima, levarão sempre as marcas destes primeiros anos.

Na perspectiva da urgência de contemplarmos como prioridade absoluta a qualidade de vida das diferentes infâncias, cabe lembrar que, historicamente, as mulheres vêm
contribuindo de modo consistente para a melhoria da qualidade de vida em seus lares,
comunidades e cidades[1]. Entretanto, elas não são adequadamente reconhecidas no
planejamento e promoção de políticas públicas. Como resultado, a análise e as ações
projetadas para as cidades, serviços, equipamentos e infraestrutura falham ao não incluir as demandas e necessidades específicas das mulheres.

Conforme se enfatiza no texto do site internacional do gender-hub da ONU Women: “A
omissão às mulheres é persistente”.[2] Verificamos que, no Brasil, 85% das pessoas que cuidam de crianças pequenas são do sexo feminino. Se suas condições de vida são prejudicadas, a das crianças de quem cuidam também será afetada. E esta realidade é ainda mais grave nos territórios vulneráveis.

Uma das construções mais perenes e tristes da experiência na cidade grande é a
persistência da pobreza e do abandono de gente, que segue circulando nos faróis, nas
esquinas, debaixo dos viadutos, nos resíduos das avenidas. Estão nas ocupações, em
áreas alagáveis, em encostas, nas alças de viadutos das marginais, instáveis, insalubres, em vulnerabilidade e risco.

Esta realidade nos atravessa e coloca constante e contínua inquietação: esta experiência afetiva, emocional e constitutiva do ser como cidade, como cidadão, é um privilégio, não um direito garantido. Em tempos de mudanças e eventos climáticos extremos, os níveis de vulnerabilidade e risco se intensificam. O artefato cidade se expandiu, submetido ao paradigma dominante, cartesiano, científico e capitalista. De modo desigual, é violento, apagando memórias e pessoas, derrubando árvores, canalizando rios e córregos, asfaltando e dedicando a maior parte do espaço público a veículos motorizados. A restauração do ecossistema urbano foi definida como uma meta da Década da Restauração dos Ecossistemas (2021-2031), anunciada pela Organização das Nações Unidas.

Que a restauração contemple o ser na sua integralidade, como natureza, como parte da natureza. Neste sentido, o pensamento ancestral andino do Bem Viver (Vivir Bien)
apresenta alternativas para um mundo onde muitos mundos são possíveis, a partir da visão de “um todo”. A Pacha (Pacha Mama) traz a compreensão da necessidade de convivermos com uma multipolaridade de contradições, na busca de um equilíbrio dinâmico (sempre em transformação, nunca estático), com a complementaridade da diversidade e, finalmente, uma descolonização (do conhecimento, do imaginário, da experiência).

A comunidade do planeta está desafiada a redefinir, ou repensar, a ideia e o propósito
contidos na palavra desenvolvimento. Sem avanços civilizatórios e novos caminhos em
direção à equidade não haverá desenvolvimento. E a ideia de desenvolvimento, constituída como resultante do crescimento contínuo, é, em si, insustentável. Existem alternativas sistêmicas capazes de promover avanços civilizatórios por meio do reconhecimento dos direitos da natureza.

Estas alternativas, ao estabelecerem limites e barreiras ao extrativismo e objetificação da vida, estão sendo atacadas sem direito e chance de defesa. Só em um contexto em que a educação integral e, portanto, também ambiental não se implementou de modo universal é que uma comunidade em escala global convive com a vulnerabilidade e vive entre tantos riscos.

A experiência de estar em lugares distintos, distantes, diversos, sujeitos a vulnerabilidades múltiplas e, ainda assim, refúgio de tanta gente, é transformadora e capaz de constituir empatia, vínculo e compreensão do momento extremo em que vivemos.

Compreender que transformar esta realidade em direção à equidade, em defesa da vida, é responsabilidade coletiva e compartilhada, é urgente. Ao mesmo tempo, reconhecer a força de quem vive nestas condições, a resiliência e a capacidade de encontrar soluções e até a beleza em meio a tanta privação e precariedade, indicam caminhos possíveis de construção de alternativas sistêmicas, locais e transformadoras.

Importa dar atenção a como vivem crianças e mulheres em nossas cidades, constituindo registros, recortes do olhar e do sentir nos lugares, entre as pessoas, as mulheres e as crianças. Essa é uma expressão de um desejo de mudança, com urgência no presente.

Sem esse desejo transformado em prática, qual o sentido de nossa existência, de nossos saberes? Precisamos nos recordar que as crianças são o fundamento de nós mesmos. São estas algumas das reflexões, entre tantos registros distintos de experiências de transformação positiva que o livro “Cidade, Gênero e Infância” propõe.

Te convidamos à leitura!

Programa da Prefeitura de Fortaleza ajuda crianças e famílias na regularização de documentos essenciais

Tornar as pessoas verdadeiras cidadãs. Essa é a missão de uma iniciativa criada pela Prefeitura de Fortaleza (CE) para solucionar um problema tão essencial. Trata-se do programa “Sim, eu existo!”, que tem como objetivo não deixar crianças e adolescentes sem acesso à documentação básica, orientando as famílias a regularizarem a condição cidadã de todos.

Desde sua criação, em 2017, o “Sim, eu existo!” já ajudou mais de 800 pessoas a se registrarem tardiamente, ajudando a combater o problema de “invisibilidade” criado pela falta de documentação infantil.

A documentação é um passo essencial para o acesso à cidadania, saúde, educação e assistência social. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 2,45% das crianças que nascem em Fortaleza não são registradas, o que significa mais de 1.500 crianças por ano. Os motivos são diversos: falta de documentação dos pais, abandono, perda de documento do hospital, morte da mãe, entre outros.

A ação é desenvolvida por uma equipe de 11 pessoas da Fundação da Criança e da Família Cidadã (Funci), integradas com as secretarias da Educação, da Assistência Social e da Assistência dos Direitos Humanos, além de outras instituições.

Para fazer a primeira via da certidão de nascimento, basta os pais ou responsáveis ligarem gratuitamente e se cadastrarem na prefeitura, que irá encaminhar o processo, por telefone, WhatsApp ou, se necessário, visita presencial.

Os documentos necessários são: via amarela da Declaração de Nascido Vivo (DNV) entregue pela maternidade ou pelo profissional de saúde que acompanhou o parto (parto domiciliar), documento de identificação (com foto) e CPF dos pais. A equipe do programa toma as providências no caso de não existirem esses documentos.

“Há um percentual grande de mães e pais que não registraram seus filhos por não possuírem RG ou CPF, e nós do ‘Sim, eu existo!’ viabilizamos e providenciamos essa documentação, levando as famílias até o cartório com a Declaração de Nascido Vivo (DNV), assim que a criança nasce”, diz Maria Régia Macedo Delgado, coordenadora do comitê “Sim, eu existo!”.

Se os pais forem casados entre si, devem levar a certidão de casamento (caso não sejam casados, ambos devem estar presentes no momento do registro para que seus nomes constem). Nos casos em que os pais da criança não são casados entre si e o pai não está presente, a mãe poderá fazer o registro só em seu nome e, a qualquer momento, o pai poderá comparecer ao cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais (na presença da mãe) e reconhecer a paternidade voluntariamente.

Mães detentas também são contempladas pelo programa. “Quando a mãe chega ao presídio feminino com uma criança sem registro ou grávida e não tem condição de registrar, o próprio serviço social de lá cadastra para atendimento no 0800. Nós contatamos a avó materna para ser declarante e registramos o bebê”, explica Maria Régia.

O programa também atende adolescentes de 12 a 18 anos que foram abandonados pelas mães e criados pela avó materna. Nesse caso, é pedida a autorização judicial para que a avó seja a declarante do registro.

“A nossa missão é tornar essas pessoas verdadeiras cidadãs. A primeira infância é o nosso foco. Hoje 80% dos casos que chegam até nós são de crianças de 0 a 6 anos. Então, nosso foco é conseguir registrá-las logo ao nascer, o que também sai mais barato. Nós sabemos o quanto nosso trabalho é gratificante, muito realizador, afinal, tem um grande impacto na vida das pessoas. Tem mães que se emocionam e choram diante da dificuldade de receber o seu registro de nascimento. Somos gratos por ver essa alegria no rosto das famílias e isso não tem preço”, diz Maria Régia.

Guia de Acolhimento Familiar orienta sobre medidas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente

Você sabe o que significa “acolhimento familiar” e qual a sua importância para crianças e adolescentes que precisam ser temporariamente afastados de suas famílias originais? Trata-se de uma medida protetiva com importantes diferenças em relação à adoção. No acolhimento, uma família acolhedora cuida temporariamente em sua casa de uma criança ou adolescente (ou grupo de irmãos). 

Não há substituição de uma família por outra, mas parceria e colaboração, sendo preservados a identidade, os vínculos e a história da criança. A prioridade é o retorno da criança à sua família de origem. Já na adoção, que acontece apenas quando esse retorno não é possível, ocorre a transferência do poder familiar e o vínculo que se estabelece com a criança e/ou adolescente é permanente, de filiação.

Para esclarecer teoria e prática desse contexto, a Coalizão pelo Acolhimento em Família Acolhedora lançou online o Guia de Acolhimento Familiar, que tem como objetivo sanar dúvidas sobre essa alternativa de acolhimento prevista no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) como prioritária em relação ao acolhimento institucional.

Guia completo de Acolhimento Familiar (6 Cadernos)

O acolhimento é uma medida provisória, prevista em lei, tomada em casos excepcionais, e sua duração não deve superar 18 meses. Existem três modalidades de acolhimento por medida de proteção, e o acolhimento em família acolhedora é uma delas.

Nela, a criança ou adolescente é cuidado por outra família, a família acolhedora, parte do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (SFA). No período da medida, a família, devidamente preparada e orientada por profissionais, assume o cuidado e a proteção das crianças até que elas possam retornar à família de origem ou serem encaminhadas para a adoção definitiva. A família acolhedora tem a guarda provisória da criança ou do adolescente, vinculada a sua participação nesse Serviço.

É a modalidade preferencial pois, segundo especialistas, oferece afeto e proteção à criança ou adolescente em um momento difícil da vida, o que contribui para o desenvolvimento integral deles. A qualidade de atendimento que essa modalidade pode oferecer é especialmente necessária para as crianças na primeira infância, que encontram-se em uma etapa tão importante de seu desenvolvimento, na qual os vínculos afetivos são fatores determinantes.  No Brasil, entretanto, é uma prática que ainda é minoritária (4,9% dos casos) e dá seus primeiros passos, e por isso é essencial informar a respeito dela.

O guia, disponível é dividido em seis cadernos. O primeiro, leitura básica, apresenta o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (SFA), em seu contexto histórico no Brasil e no mundo; o segundo, especificamente útil para gestores de política de assistência social, trata do processo de implantação do SFA em consonância com a Política Nacional de Assistência Social e no âmbito do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente (SGD/CA); o terceiro oferece parâmetros gerais, relevantes para equipes técnicas que executam diretamente a modalidade e para órgãos gestores municipais responsáveis para monitorar e avaliar sua execução.

O quarto caderno descreve os processos de seleção e formação das famílias acolhedoras, detalhados passo a passo; finalmente, os cadernos 5 e 6 trazem subsídios teóricos, metodológicos e procedimentais, visando qualificar profissionais para atuar em situações recorrentes nesse Serviço; o 5 trata do acompanhamento dos envolvidos (criança, adolescente, família acolhedora e família de origem), e o 6, dos processos de transição e despedida rotineiros no acolhimento.

Fonte: www.familiaacolhedora.org.br

Finalmente, a Coalizão oferece uma “Cartilha Interativa sobre Acolhimento Familiar”, de acesso rápido, que resume os principais conteúdos do guia.

A Coalizão pelo Acolhimento em Família Acolhedora é um grupo de gestores, pesquisadores e lideranças nacionais no assunto, atores governamentais e não governamentais unidos para promover a ampliação do acolhimento familiar no Brasil.

São eles: Aconchego – Grupo de Apoio à Convivência Familiar e Comunitária, Aldeias Infantis SOS, Associação Brasileira Terra dos Homens, Fundação Bernard Van Leer, Instituto Fazendo História, Instituto Geração Amanhã, Movimento Nacional pró Convivência Familiar e Comunitária, Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da UNICAMP, Pastoral da Criança e Secretaria Nacional de Assistência Social do Ministério da Cidadania. A Coalizão conta também com as consultoras Adriana Pinheiro, Luciana Cassarino-Perez e Instituto Torre.

Mãe Coruja e o potencial do trabalho intersetorial para a primeira infância

Roda de Gestantes que fazem parte do Programa Mãe Coruja Recife

Uma das cidades pioneiras na Rede Urban95 Brasil, coleciona políticas públicas exitosas na área da primeira infância. Exemplo disso é o programa Mãe Coruja Recife, que há oito anos atende crianças, mães e gestantes de forma intersetorial e contabiliza números significativos: mais de 17 mil mulheres e 13 mil crianças estão cadastradas nos 19 espaços espalhados na cidade, o que proporciona cobertura em 44 bairros. “E não é só isso: há mais sete espaços já aprovados a serem inaugurados em bairros prioritários que foram mapeados por meio de um estudo epidemiológico. Com essa abertura, o Mãe Coruja Recife vai cobrir 53% dos bairros da cidade, que possui 94 no total”, comemora Cláudia Soares, Coordenadora Municipal do Programa Mãe Coruja Recife

Orgulhosa ao dizer que acompanha a iniciativa desde o início, Cláudia Soares explica que o Mãe Coruja Recife é um programa social que tem parceria com o programa Mãe Coruja Pernambucana, coordenado pelo governo do estado, e que completará 15 anos em 2022. “Este é um ótimo exemplo de integração entre estado e municípios, uma articulação muito bem-sucedida”, avalia.

O Mãe Coruja Recife funciona de maneira intersetorial, ou seja, dialoga com diversas secretarias estaduais e municipais. “Ao todo são oito secretarias envolvidas: desenvolvimento social, educação, segurança ao cidadão, mulher, esporte, turismo e lazer, trabalho e qualificação profissional. O programa foi pensado e espelhado a partir da experiência do Mãe Coruja Pernambucana, mas toda a sua gestão é feita pelo município”, explica Cláudia Soares.

Atenção para gestantes, bebês e cuidadores

O foco do Mãe Coruja está nas crianças, mas o atendimento começa ainda na gestação, cadastrando e acolhendo as mulheres durante a gravidez. Para isso, elas precisam morar em um dos bairros de cobertura e fazer de maneira correta e assídua o pré-natal no Sistema Único de Saúde (SUS). O acompanhamento funciona da seguinte forma: a gestante é cadastrada no sistema e tem a sua gestação acompanhada por diversos profissionais, até o parto e o período de puerpério.

A partir do nascimento, a criança é cadastrada no projeto e passa a ser atendida do seu nascimento até os seis anos de idade. Após esse período, passa a ser acompanhada pela escola, no ensino fundamental. “Essa configuração permite que haja um tempo de dedicação relevante aos participantes. O atendimento é individualizado, levando orientações sistemáticas mês a mês do que é importante para esse acompanhamento. E há, ainda, a possibilidade de participação em grupos que são realizados e facilitados tanto pela equipe do Coruja como pelas outras secretarias”.

Atendimento do Programa Mãe Coruja Recife. Crédito: Prefeitura de Recife

Apesar do trabalho integrado entre várias secretarias, Cláudia Soares reforça a importância da saúde como porta de entrada do projeto: “É no primeiro dia de consulta que a gestante recebe seu cartão de pré-natal, realiza os exames de rotina e é encaminhada para o Mãe Coruja. Porém, o programa não faz distinção e se define como ‘porta aberta’, já que também são recebidas diretamente nos espaços mulheres dos bairros atendidos, que são indicadas ou ficam sabendo da importância do projeto na vida de outras famílias”.

Além dos atendimentos, as participantes também têm acesso a alguns equipamentos para auxiliá-las. Um deles é entregue em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social, um kit para o bebê que a mãe recebe ao completar sete consultas de pré-natal, ou seja, ao chegar aos sete meses de gravidez. O kit é composto por banheira, bolsa, fralda descartável, roupinhas, toalha, fralda de pano, entre outros produtos. “Tudo é de muito boa qualidade, fazemos o possível para que essa criança nasça com dignidade”, reforça Cláudia.

Outro viés importante do Mãe Coruja Recife não está diretamente relacionado à gestação ou ao atendimento à criança. Diz respeito à formação profissional das mães e é realizado em parceria com a Secretaria de Educação e de Capacitação Profissional. Por meio dessa articulação são oferecidos cursos de qualificação de até 40 horas. Dentre as áreas atendidas estão design de sobrancelhas, manicure, corte de cabelo com máquina, estimulando a geração de renda das famílias.

O programa também aplica toda a experiência adquirida em oito anos de existência para promover um intercâmbio de ideias e experiências para outras cidades do estado que estão ingressando na rede para fortalecer as políticas de primeira infância. Além disso, atua junto à Unicef em Fortaleza, no que diz respeito às Unidades Amigas da Primeira Infância (UAPIs), participando dessa troca de informações, levando os resultados de todas as ações.

Crianças brincam no Espaço Mãe Coruja

Para subsidiar as atividades que envolvem diretamente mães e crianças, além do trabalho de interlocução com outras secretarias, cidades e estado, o Mãe Coruja Recife se apoia em materiais produzidos em parceria com a Fundação Bernard Van Leer. Fazem parte desse conteúdo uma cartilha para a gestante, um guia de implantação de rodas de gestão para profissionais, uma cartilha de desenvolvimento infantil voltado para pais e cuidadores e um manual operacional do Mãe Coruja.

“Esse material chega para dar apoio ao público atendido e aos profissionais que atuam no projeto. Para a construção dessas publicações houve o cuidado de usar fotos próprias do programa, já que isso gera um sentimento de pertencimento nas mulheres e crianças recifenses quando elas se reconhecem e veem seus filhos retratados ali”, complementa a coordenadora.

“Cidade, gênero e infância”: publicação reúne artigos que discutem possibilidades de desenvolvimento e empoderamento para mulheres e crianças em territórios urbanos

A forma como a cidade trata a primeira infância é um termômetro para a saúde e a vitalidade urbana como um todo. Atualmente, mais de 80% da população brasileira encontra-se em áreas urbanas. O dado evidencia a importância de a sociedade repensar seu modelo de urbanização, considerando todos – especialmente às crianças -, buscando o equilíbrio com a natureza e a construção de ambientes que favoreçam o movimento, a descoberta do novo e o encontro.

O livro “Cidade, gênero e infância”, organizado por Rodrigo Mindlin Loeb e Ana Gabriela Godinho Lima e publicado pelas editoras Romano Guerra e Pistache Editorial, dá atenção a este compromisso fundamental da sociedade: zelar pelo desenvolvimento saudável das crianças na primeira infância. A publicação será lançada em formato virtual na sexta-feira, 08 de maio, a partir das 18h30.

A publicação surge do Urban95 Challenge, realizado em 2017 pela Fundação Bernard van Leer, com a proposta de inserir a temática da primeira infância no Núcleo de Pesquisa em Cidade, Gênero e Infância, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em cooperação com o Instituto Brasiliana. 

“Que este livro possa nos conduzir, através das riquíssimas experiências relatadas por novas trilhas e caminhos capazes de fazer cidades espaços mais democráticos, de encontros com o outro, diferente de mim, com quem aprendo, respeito e evoluo”, espera a representante da Fundação Bernard van Leer no Brasil, Claudia Vidigal.

Planejada para se tornar referência na formação de arquitetas, arquitetos, urbanistas e profissionais de diferentes áreas do conhecimento, a publicação busca trabalhar em territórios urbanos e promover possibilidades de desenvolvimento e empoderamento para mulheres e crianças. 

São 22 textos e artigos de pesquisadores, especialistas e profissionais que trabalham no campo das infâncias, gênero e território. Os artigos trazem histórias de organizações referência nos temas – como Avante, CECIP, Centro de Excelência em Primeira Infância e Instituto Elos –, pesquisas acadêmicas sobre violência, espaço público e segregação territorial, pesquisas e experimentações práticas na transformação do território, experiências de incentivo à brincadeira no espaço público, envolvimento da comunidade, entre outros assuntos que trazem novas lentes à prática de arquitetos e urbanistas.

“Promover uma interlocução temática sobre cidade, gênero e infância neste momento significa convocar para a humanização das vidas e das relações entre atores sociais: crianças, jovens, adultos, famílias, comunidades, equipamentos sociais, políticos e educacionais. Significa realizar escutas e ações com olhares éticos e respeitosos, cujo ponto de partida e inspiração sejam realidades singulares e diversas dos diferentes contextos, culturas, territórios e infâncias”, escreve a antropóloga Adriana Friedmann em um dos textos do prefácio. 

Serviço

Lançamento do livro “Cidade, gênero e infância”

Quando: 8 de Abril, às 18h30

Onde: Youtube da Editora Romano Guerra

 

Sobre a equipe do livro

Rodrigo Mindlin Loeb (organizador)

Arquiteto e urbanista pela FAU USP e mestre em energia e meio ambiente pela Architectural Association School of Architecture de Londres. Com Eduardo de Almeida, é autor do projeto da Biblioteca Brasiliana USP, vencedora do Prêmio APCA 2013 na categoria Melhor Obra. Membro do GT Cidade, Infâncias e Juventudes do IAB-SP e do GT Infâncias e Juventudes do IAB Brasil que integra a Comissão de Política Urbana e representante na União Internacional de Arquitetos no grupo de trabalho Arquitetura e Infância. Com Ana Gabriela Godinho Lima, coordena a pesquisa “Cidade, gênero e infancia”, no âmbito do Termo de Cooperação Técnica celebrado entre a Universidade Presbiteriana Mackenzie e o Instituto Brasiliana, contando com financiamento da Fundação Bernard van Leer. É professor na FAU Mackenzie e diretor do Instituto Brasiliana, pelo qual é membro do Grupo Diretivo da Rede Nacional da Primeira Infância. Coordenador Executivo da Brigada pela Vida de São Paulo.

 

Ana Gabriela Godinho Lima (organizadora)

Arquiteta pela FAU USP, mestre em estruturas ambientais urbanas, pela mesma instituição, e doutora pela FE USP. Possui pós-doutorado pela School of Creative Arts da University of Hertfordshire. Atualmente, é professora na graduação e pós-graduação da FAU Mackenzie. Entre 2014 e 2019, com Luz Paz Agras e Emma Lopes Bahut, foi editora da Revista de Investigación y Arquitectura Contemporánea, publicada pela Escola Técnica Superior da Universidade de Coruña. Com Rodrigo Mindlin Loeb, coordenou a pesquisa “Cidade, gênero e Infância”, no âmbito do Termo de Cooperação Técnica celebrado entre a Universidade Presbiteriana Mackenzie e o Instituto Brasiliana, contando com financiamento da Fundação Bernard van Leer. Editora temática do periódico Cadernos de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, ligado ao Programa de Pós-Graduação da FAU Mackenzie

 

_____________________________

Sobre as editoras e o realizador

Romano Guerra Editora
A Romano Guerra Editora é especializada em livros de arquitetura, arte e cultura de alto padrão gráfico e editorial. Já publicou arquitetos e escritórios brasileiros de primeira linha, como Rino Levi, Paulo Mendes da Rocha, Lina Bo Bardi, Brasil Arquitetura, David Libeskind, João Filgueiras Lima (Lelé), Rosa Kliass, Marcos Acayaba, Abrahão Sanovicz, João Kon, Vilanova Artigas e outros. Suas edições, caracterizadas pela qualidade gráfica e conceitual, ganharam diversos prêmios. Abilio Guerra, Silvana Romano e Fernanda Critelli, arquitetos, são editores do Portal Vitruvius e da Romano Guerra Editora.

 

Pistache Editorial
A Pistache Editorial é uma editora independente, que busca levar o conhecimento arquitetônico e urbano a públicos diversos. Propõe difundir o conhecimento da técnica e dos aspectos sociais da arquitetura, incentivando o olhar crítico de crianças e adultos para a construção da cidade e de seus espaços.​ Realiza publicações infantis sobre arquitetura e urbanismo e organiza workshops e atividades educativas. Bianca Antunes, jornalista e mestra em desenvolvimento urbano, e Simone Sayegh, arquiteta e pedagoga, coeditaram os livros Casacadabra: Invenções para Morar (finalista Golden Cubes UIA) e Casacadabra: Cidades para Brincar.

 

 Instituto Brasiliana 

O Instituto Brasiliana é uma entidade privada sem fins lucrativos que articula diversos agentes sociais –  instituições e indivíduos – à promoção e concretização das ações que reconheçam e valorizam os diversos aspectos da cultura brasileira e os estudos sobre a primeira infância no Brasil. Volta seu olhar à compreensão e desenvolvimento de soluções aos problemas brasileiros, em especial nas grandes cidades, e desde 2016, desenvolve ações sobre garantia de direitos da infância e desenvolvimento urbano. Também dá suporte ao desenvolvimento de novas pesquisas acadêmicas no Núcleo Brasiliana de Pesquisa, no Mackenzie, fomentando pesquisas e novas especializações no campo da infância e urbanismo.

Primeira infância, o passo inaugural da jornada

Se pensamos a vida como uma jornada, os primeiros mil dias representam nosso primeiro passo, aquele que vai dar o tom da caminhada. Começando com o pé direito, com uma pisada firme e equilibrados por mãos carinhosas, é natural seguirmos com mais confiança pela vida. Até os três anos de idade, cada criança aprende mais do que durante todo o resto da sua vida, sendo um período de grande maleabilidade para moldar sua história. As urgências da primeira infância se endereçam aos cuidadores e a toda a sociedade, reforçando a necessidade de garantir o acesso pleno a serviços e direitos para os jovens cidadãos.

As quarenta semanas de gestação passam rápido e são um momento único para
que as futuras famílias se informem sobre seus direitos, as necessidades do novo
integrante e onde estão localizados os serviços que precisarão acessar. Já o trabalho de parto acontece na escala das horas, onde minutos de espera podem ser suficientes para prejudicar o bebê. Para garantir que as crianças sejam bem atendidas quando chegar o momento certo, a informação precisa chegar com antecedência aos cuidadores e os serviços precisam estar preparados para recebê-las. Quando falamos em desenvolvimento das crianças, o timing é fundamental.

Como cidadãos, temos direitos garantidos em lei mesmo antes de chegarmos ao
mundo. Mas, com o nascimento de um bebê, surge uma grande variedade de necessidades, novos cuidados e estímulos indicados. Especialmente no período neonatal, em que a mãe e a família estão se adaptando e criando rotinas, é importante atenção total para que todas as necessidades da criança sejam atendidas. São nessas quatro primeiras semanas de vida que se concentram as maiores taxas de mortalidade infantil, mesmo que o acesso aos cuidados apropriados possa salvar grande parte das crianças.

Com uma longa trajetória no campo dos direitos de crianças e adolescentes, a
economista Heloisa Oliveira trabalha com o conceito de jornada da infância para entender as inter-relações entre cada passo do desenvolvimento infantil. A diretora do recém-nascido Instituto Opy, que trabalha com a promoção da saúde e melhores condições para a primeira infância, entende a primeira infância como uma janela para a construção do futuro. Para melhorar o acesso das crianças aos serviços de que necessitam, o caminho apontado é a centralidade da criança no sistema, a integração dos serviços e a melhoria do acesso da população a eles.

“As políticas nacionais já preveem a assistência integral, mas muitas vezes o poder
público não conhece todos os desafios das comunidades em sua área de gestão e, por isso, não sabe como atender a suas especificidades”, afirma Heloísa. Como é nas cidades que estão as crianças e suas demandas de atendimento, ao olhar para a jornada infantil é preciso organizar os serviços de forma a atender as demandas daquela população no tempo certo de cada fase.

Incluindo a intersetorialidade no planejamento municipal, as cidades ganham
ferramentas para mapear as famílias que mais precisam de apoio ou que, possivelmente, vão demandar uma atenção extra para apoiar seus bebês. Também na realidade das cidades, informação é poder. Com os dados apropriados sobre o território é possível agir com eficiência, intervindo quando necessário para garantir que nenhuma criança fique para trás.

Cuidar das necessidades da primeira infância é garantir que os primeiros passos de
cada jornada estejam cercados de atenção, e que, no caso de qualquer queda ou desvio de percurso, seja possível ajudar aquele pequeno ser humano a retomar o seu caminho com segurança e qualidade de vida. Quando sociedade e Estado estão atentos às crianças, todos nós ganhamos.

“O agravamento da situação econômica no Brasil trouxe desafios ainda maiores
para a nutrição das famílias. Não é que elas não saibam que a fruta e a proteína são
importantes, mas o dinheiro só dá para comprar miojo e salsicha. Pode ser que ao atingir a idade escolar, a creche também passe a ser um espaço de segurança alimentar. Para tal, é preciso conhecer nossas cidades, entendendo onde estão nossas crianças e quais suas urgências”, reforça Heloísa.

Em Mogi (SP), gestantes e mães recebem atendimento especializado por telefone e os dados ajudam na construção de novas políticas públicas

Mesmo nas famílias mais estruturadas, o período de pós-parto, do nascimento de um novo membro, é extremamente delicado e a forma como lidamos com ele é decisiva para o equilíbrio físico e emocional de todos. Pensando nisso e, priorizando a saúde materna e das crianças na primeira infância, a Prefeitura de Mogi das Cruzes (SP) oferece desde 2014 o programa Alô Mãe Mogiana

Por meio da tecnologia básica, via ligação telefônica, a política pública conecta enfermeiras especializadas com gestantes e mães que acabaram de ter bebê. O objetivo é oferecer atendimento à distância para esse grupo de mulheres, prestando esclarecimento às principais dúvidas que costumam surgir durante esse período tão especial, mas que requer um olhar atento e cuidadoso.

O atendimento é feito por telefone, das 7h às 19h nos dias de semana, e a ligação é gratuita. São duas enfermeiras especializadas que se revezam monitorando o pré-natal, chamando as mães para a atenção básica, realizando o agendamento de consultas para os bebês e indo atrás das gestantes faltosas.

A relação com as gestantes começa no incentivo à realização do exame pré-natal na rede básica de atendimento à saúde. Para solicitá-lo, basta ir ao posto de saúde mais próximo. O pré-natal permite identificar precocemente problemas como hipertensão, anemia, infecção urinária e doenças transmissíveis pelo sangue de mãe para filho, facilitando o tratamento.

Semanas após o pré-natal, as enfermeiras do Alô Mãe fazem contato com todas as gestantes, e apresentam o programa, que irá acompanhar as futuras mamães durante toda a gestação e no período pós-parto. Mães que realizam o parto na Santa Casa da cidade também têm a orientação das enfermeiras.

A enfermeira Juliana Lorena de Meira, coordenadora de saúde da mulher e da criança na secretaria de saúde da cidade, lembra que o objetivo inicial do programa era acompanhar gestantes de alto risco, mas que o escopo se ampliou. “O programa permite gerar dados e indicadores que vão posteriormente orientar as prioridades do atendimento preventivo, ajudando a apontar futuras complicações e a agir nos casos identificados”, explica Juliana.

Mogi das Cruzes integrou a Rede Urban95 em 2021, reforçando seu compromisso com a primeira infância e o cuidado com os primeiros anos de vida. Conheça mais sobre a iniciativa, que já reúne 24 cidades brasileiras.

‘Bebetecas’ de Recife promovem interação entre crianças e cuidadores nos espaços públicos de leitura

Bebês estão levando as famílias para as bibliotecas de Recife (PE). Os novos espaços conhecidos como ‘Bebetecas’ são uma iniciativa da Prefeitura da capital pernambucana e propõem o fortalecimento da conexão entre cuidadores e suas crianças, além de oferecer estímulos e cuidado aos pequenos.

O novo equipamento integra a rede Compaz – Centro Comunitário da Paz (Crédito: Rodolfo Loepert/PCR)

O novo equipamento integra a rede Compaz (Centro Comunitário da Paz) e reforça a importância de espaços que acolham os propósitos dos pequenos de até seis anos, em consonância com o eixo central do Projeto Primeiro a Infância, um projeto da Agência Recife para Inovação e Estratégia (ARIES) através do financiamento da Fundação Bernard van Leer.

Ana Maria Bastos, empreendedora social e fundadora da Descobrir Brincando, empresa parceira do Projeto Primeiro a Infância, afirma que a bebeteca é um lugar para estimular a criatividade e a curiosidade infantil, com autonomia, facilitando que o adulto cuidador consiga enxergar esses processos. A iniciativa do projeto veio da necessidade de criar um espaço acolhedor para a pequena infância usando a estrutura dos Compaz da capital pernambucana e de suas bibliotecas, considerando as necessidades específicas das crianças.

O projeto parte do princípio de que, para desenvolver as potencialidades das crianças, é necessário construir uma relação saudável, segura e estável entre ela e o adulto cuidador. Para tanto, houve investimento tanto no projeto do espaço físico das bebetecas como no treinamento dos colaboradores. Ana Maria Bastos explica que as mediadoras treinadas vão funcionar como ponte para exercitar o olhar do cuidador para as atividades das crianças.

Além disso, também é importante a organização do local, com materiais, equipamentos e brinquedos que potencializam as iniciativas das crianças. “A gente fala que é o espaço do ‘sim’, foi tudo intencionalmente planejado”, diz Ana Maria.

Atualmente, as bebetecas estão junto às bibliotecas dos Compaz Eduardo Campos, Ariano Suassuna e Dom Helder, segundo Deborah Echeverria, gerente de planejamento e articulação da Rede de Bibliotecas pela Paz da Prefeitura do Recife. “Vamos fazer grupos com atividades permanentes, com atividades específicas, uma vez por semana, durante o semestre todo. Vamos abrir turmas divididas entre os bebês que não andam e as crianças que já andam”, detalha.

Deborah Echeverria explica ainda:”A ideia é que esses espaços sejam exclusivos para crianças e seus cuidadores, para privilegiar a família e a criança. é um espaço pedagógico, educativo, até mais para os pais do que para as crianças. Para que entendam a importância desse estímulo nos primeiros anos de vida. É um aprendizado que muita gente ainda não tem e vimos essa oportunidade nas bibliotecas do Compaz.”

As primeiras turmas devem começar já em abril ou maio, após uma intensa formação para os educadores, com foco para crianças de 0 a 4. É um projeto piloto que deve durar 3 meses. Depois disso o atendimento será ampliado: “Queremos potencializar essa ação. Temos uma parceria muito forte com o programa Mãe Coruja, que já trabalha com esse público, oferece atenção às gestantes e acompanha até as crianças completarem 6 anos de idade. Essa parceria é fundamental para um trabalho integrado”, complementa Deborah.

Trajetórias da primeira infância: um olhar integrado para os serviços

A jornada dos mil dias da vida da criança – tempo que compreende gestação, parto e os primeiros anos de vida – é também uma jornada vivida por toda sua rede de cuidadores. Por isso, os serviços e programas dos municípios devem cobrir as diferentes fases desta trajetória, trabalhando de maneira integrada para identificar vulnerabilidades.

Políticas públicas federais e estaduais para a primeira infância devem ser referência na construção de programas municipais (Crédito: Reprodução Facebook do Programa Mãe Coruja)

Foi para discutir como esta integração pode ocorrer na prática que o webinar Trajetórias da primeira infância: um olhar integrado para os serviços” reuniu as 24 cidades da Rede Urban95 no dia 23 de março. O encontro trouxe convidadas que ataram pontas complementares desta jornada: enquanto Heloísa Oliveira, diretora do Instituto Opy, trouxe referenciais de políticas consolidadas para pensar esta integração, Ana Sofia, coordenadora do programa Mãe Coruja Pernambucana, mostrou com esta articulação se dá na prática em seu Estado.

A tônica das falas das duas especialistas foi semelhante: é preciso olhar para o que já existe em termos de políticas públicas federais e estaduais e, a partir daí, construir programas municipais com impacto direto no território. “O que eu sugiro é não inventar a roda. O município pode se inspirar em práticas já existentes, se valendo delas para consolidar os próprios programas”, detalhou Heloísa.

Saúde como ponto de partida para integração de serviços 

Quando começam a pensar em seus programas para os primeiros mil dias das crianças, muitos municípios têm dúvida de por onde começar. Para Heloísa, a saúde é porta de entrada e eixo integrador de todos os outros serviços.

“Na saúde é que começam os direitos da criança e da mãe, muito antes da criança vir ao mundo. Ações de outras áreas, da educação à assistência social, podem ser acionadas e integradas ao serviço de saúde materna e infantil, por exemplo. É à medida que estas fases vão acontecendo que o atendimento se desenha”, explicou Heloísa.

Os dados coletados pela saúde neste primeiro contato principiam o mapeamento que todo município precisa fazer se quer olhar integralmente para a primeira infância. “Mapear é importante para planejar e organizar o fluxo dos serviços básicos para cada fase das crianças, de forma que você tenha referenciamento, para que as famílias saibam onde se dirigir e estes serviços estejam mais próximos, estabelecendo sistemas de busca ativa”.

É justamente na busca ativa e no mapeamento territorialmente sensível das cidades pernambucanas que se estrutura o programa Mãe Coruja Pernambucana, política pública estadual em vigor desde 2007. Criado para reduzir a mortalidade materna e infantil, o programa atua em 105 cidades, articulando serviços a partir de indicadores de saúde e fatores socioeconômicos.

Programa de Pernambuco é exemplo de serviços para a primeira infância (Crédito: Reprodução Facebook do Programa Mãe Coruja)

“O que vemos na prática quando vamos para o território é que às vezes uma política pública consegue acessar uma família, mas outra não. O Mãe Coruja articula as políticas públicas para que elas alcancem um grupo maior, principalmente gestantes e crianças em maior vulnerabilidade social”, detalhou Ana Sofia.

Os serviços oferecidos pelo Programa Mãe Coruja Pernambucana são intersetoriais e integrados. Eles começam na busca ativa e se desdobram em parcerias com a atenção básica e com a educação. À medida que a criança cresce, outros serviços começam a ser ativados, como a cultura e assistência social.

Todas as atividades desenvolvidas no Programa, sejam sobre aleitamento materno ou profissionalização das mães, se apoiam em programas e políticas que já atuam nos territórios, como a Estratégia Saúde da Família (ESF). “Temos que pensar no que já existe, no que já é política, porque estes programas são válidos para diversos contextos”, complementou a gestora.

Heloisa recordou políticas públicas consolidadas na legislação brasileira, como a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança – PIM e que podem servir como ponto de partida. “Temos boas políticas, com riqueza de detalhamento, de material e metodologia. Temos que olhar para o que já existe e preparar os profissionais que fazem o atendimento para serem este elo integrado com as demais políticas”.

Assista o webinar Trajetórias da primeira infância: um olhar integrado para os serviços:

5 ideias criativas para incrementar a atenção básica para crianças e famílias

Um dos princípios básicos da atuação em rede é a troca de experiências, o intercâmbio de ideias, as inspirações que podem surgir na atuação coletiva e em prol de uma causa comum. Na Rede Urban95 Brasil, os 24 municípios refletem a diversidade regional brasileira e estão em diferentes momentos na implementação de políticas públicas voltadas à primeira infância. E está justamente aí a riqueza desse processo: aprender com o diferente, apoiar quem está no começo da trajetória, ter as boas práticas como referência.

Rede Urban95 tem exemplos práticos de atenção à bebês e famílias (Crédito: Felipe Cardoso/Urban95 Brasil)

Pensando nisso, selecionamos ideias inspiradoras para a atenção básica à primeira infância:

1. Considerar a circulação de famílias com crianças na primeira infância no espaço físico dos equipamentos. Opções nesse sentido podem incluir uma sala de espera com área para bebês e crianças pequenas brincarem, banheiros com trocador (acessíveis a pessoas de todos os gêneros), bebedouros e torneiras em altura reduzida, área para estacionar carrinhos, espaço para amamentação, entre outros;

2. A criação de grupos de troca entre gestantes (preferencialmente, com idade gestacional próxima), em que podem ser abordados temas relacionados à gestação e aos cuidados com o bebê, como amamentação, preparação para o parto, mudanças na dinâmica familiar. Estes espaços facilitam a criação de vínculos comunitários e fortalecem a rede de apoio entre as mães e famílias, o que será valioso para a maternidade e parentalidade;

3. Oficinas de fortalecimento de vínculos entre cuidadores e bebês, com atividades como: mediação de leitura, contação de histórias, música, dança, livre brincar, artes, brincadeiras facilitadas, atividades na natureza. Além de prazerosos, esses momentos facilitam a interação de qualidade entre bebês/crianças e seus cuidadores, um dos fatores que promovem o desenvolvimento infantil saudável. Vale pensar intersetorialmente para a oferta de ações específicas, como ações de leitura com a Secretaria de Cultura e atividades na natureza com a Secretaria do Meio Ambiente;

4. Oferecer atividades físicas em grupo para gestantes (como yoga, dança materna, alongamento etc). São iniciativas que contribuem para o fortalecimento da saúde da gestante, bem como a criação da rede de apoio à família. Da mesma forma, aqui também é possível atuar de forma intersetorial, principalmente com a Secretaria de Esporte;

5. Propor oficinas para registros de história de vida do bebê e da família (“álbum do bebê” ou “álbum da família”). Esta prática auxilia na elaboração sobre as mudanças na vida familiar e na construção da identidade e do pertencimento do novo membro da família.

Boas práticas na Rede Urban95

Algumas experiências já vêm sendo testadas em municípios brasileiros, outras ainda são recomendações práticas dos especialistas e que podem servir como ponto de partida para novas políticas públicas. Conheça algumas práticas das cidades que integram a Rede Urban95 Brasil:

– No Recife (PE), o Centro Comunitário da Paz (Compaz) Governador Eduardo Campos acaba de inaugurar a primeira “Bebeteca” da cidade. O espaço, totalmente dedicado à primeira infância, vai acolher famílias e suas crianças, propiciando momentos de interação. Enquanto as crianças exploram o ambiente planejado para exercitar a criatividade e a autonomia, os adultos têm a oportunidade de observar e acompanhar a experiência. O espaço para a primeira infância no ambiente da biblioteca aproxima crianças e família do universo da leitura, literatura e conhecimento. O espaço foi cuidadosamente montado com equipamentos e materiais que propiciam um ambiente favorável a todas as suas dimensões de desenvolvimento: física, cognitiva, linguagem e socioafetiva.

– Em Boa Vista (RR), o projeto Baby Spa, lançado em 2019,  busca incentivar o cuidado e o desenvolvimento das crianças nos primeiros meses de vida. O espaço é um ambiente inovador, que oferece massagem Shantala e hidroterapia com banhos relaxantes de ofurô, entre outras atividades. Em 2021, o projeto foi ampliado e uma lei municipal prevê a instalação de baby spa nas Unidades Básicas de Saúde e Família Que Acolhe (FQA).

– Em Cascavel (PR), equipes dos Centros de Referência e Assistência Social (CRAS) e dos Centros de Convivência de Cascavel estão promovendo um ciclo de oficinas on-line para planejar ações voltadas a gestantes, puérperas, famílias e crianças de zero a seis anos. A proposta é combinar discussões teóricas e metodológicas com momentos voltados para a construção concreta dos planejamentos e reflexões sobre a prática, tendo ainda convidados em alguns encontros para compartilhamento de experiências. Entre as iniciativas oferecidas para gestantes e crianças estão as práticas com Bebês e Crianças Pequenas sob a perspectiva da abordagem Pikler (sobre aprender a olhar a criança a partir de si mesma, das suas possibilidades e dos seus limites), a Casa da Árvore (sobre brincar e conversar com crianças e suas famílias) e as Redes de Apoio.

‘Cresça com Seu Filho’ promove o desenvolvimento integral das crianças desde a gestação

Com uma trajetória consistente de políticas públicas voltadas à primeira infância, a cidade de Fortaleza (CE) vem se destacando em projetos e programas que já são referência nacional. Exemplo disso é o ‘Cresça com Seu Filho/Criança Feliz’, que visa ao desenvolvimento integral das crianças desde a gestação até os três anos de idade. Na prática, consiste em promover visitas às casas de famílias em situação de vulnerabilidade social e econômica.

Entre os objetivos do programa estão potencializar os conhecimentos e habilidades de mães, pais e cuidadores para promover o desenvolvimento das crianças em todas as dimensões; fortalecer os vínculos familiares em benefício das crianças, prevenindo situações de violência; favorecer a entrada das famílias na rede de proteção oferecida pela prefeitura; e, finalmente, monitorar e avaliar indicadores relativos ao desenvolvimento da criança na primeira infância.

Potencializar conhecimentos e habilidades de cuidadores para promover o desenvolvimento das crianças em todas as dimensões é o objetivo do ‘Cresça com Seu Filho’ (Crédito: Felipe Cardoso/Urban95 Brasil)

Na ponta final do processo está o agente comunitário de saúde, sob supervisão de um enfermeiro de saúde da família ou um supervisor intersetorial. “A estratégia é muito relevante por atender às famílias mais vulneráveis do território e por ser transversal à atenção primária. São os enfermeiros e agentes das equipes da estratégia saúde da família, os quais já possuem vínculo com a comunidade, que realizam o acompanhamento às gestantes e às crianças, utilizando a metodologia do programa através de visitas domiciliares” diz Emanuelle Carneiro Melo, responsável técnica pelo Cresça com Seu Filho/ Criança Feliz na Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza.

Algumas microáreas que não têm agente comunitário são atendidas por visitadores domiciliares e supervisores vinculados à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS). Segundo Emanuelle, eles contam com um guia para a realização de cada visita domiciliar, orientando o profissional em cada uma das atividades.

O programa recomenda que as visitas sejam semanais para as crianças e mensais para as grávidas.

Podem ter acesso ao programa todas as famílias com gestantes e crianças até 3 anos, independentemente de renda familiar ou de inscrição no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico). No caso das crianças, são selecionadas as mais vulneráveis. Em relação às gestantes, todas são consideradas.

O programa está em processo de expansão, e o objetivo da prefeitura é implantá-lo em todos os postos de saúde.

“As famílias que são acompanhadas pelo programa e os próprios agentes que as acompanham relatam os avanços que observam no desenvolvimento da criança no decorrer das visitas semanais que recebem. É muito gratificante ouvir esses depoimentos”, complementa Emanuelle.

Jornada da infância: o atendimento integral da primeira infância

Heloisa Oliveira participa do webinar da Rede Urban95 (Crédito: Arquivo Pessoal)

Um município com uma rede integrada e intersetorial estará mais equipado para lidar com os desafios dos territórios e também para garantir os direitos da primeira infância.

Conversamos com Heloisa Oliveira, que tem uma longa trajetória na gestão de organizações que atuam no campo da primeira infância e defendeu a importância da intersetorialidade e das políticas públicas integradas para a eficácia de programas e projetos. Confira a seguir:

Para começar, gostaria que você falasse sobre o conceito de “jornada da infância” e qual a importância desse processo para a primeira infância.

Heloisa: A vida da pessoa é uma grande jornada, que começa na gestação e vai até a velhice, a idade mais avançada. Essa primeira etapa, compreendida na primeira infância, pode ser fracionada. Você tem a jornada dos primeiros mil dias, que começa na gestação, compreende o primeiro e o segundo ano. Se você olhar isso como um grande caminho que está sendo percorrido pela pessoa, você consegue enxergar melhor como os serviços precisam estar disponíveis para ela.

Do ponto de vista do gestor, da política pública, é preciso o mínimo de planejamento para garantir que os serviços vão estar aparelhados e capacitados para prestar esse atendimento. Não podemos olhar as famílias como clientes, a família da saúde, a família da assistência social, pois uma mesma pessoa demanda todos esses serviços, muitos deles simultâneos.

Qual é a importância da intersetorialidade considerando as necessidades muito específicas em cada período?

Heloisa: Programas de atendimento básico precisam estar integrados e adequadamente referenciados com as famílias. Elas também precisam saber a que serviço se dirigir. Muitas vezes, numa cidade maior, que tem mais de um ponto de atendimento daquele serviço, a família não está especificamente orientada a qual se dirigir.

Outra questão importante é, ao receber uma família que vai ter um bebê, que todas as informações sejam dadas para essa mãe, para essa família, sobre exames, sobre nutrição. Se nas últimas semanas ela não tiver tomado uma série de providências, de cuidados, que possamos responder a tempo para reverter o caso.

Uma mãe adolescente entra no serviço de pré-natal, e as perguntas precisam ser feitas: está na escola? O que vai fazer? Tem que ter comunicação com a escola, um programa para que essa menina não se afaste dos estudos. Porque se ela se afastar da escola, é mais uma família pobre ali na frente. A gravidez precoce é multiplicador de pobreza, porque as mães se afastam da escola, mudam seu projeto de vida, sua jornada é totalmente alterada.

Tem dois aspectos importantes de que você fala, a comunicação e a agilidade, esta última complexa na gestão pública. Como as cidades podem melhorar nesse atendimento?

Heloisa: O que significa uma gestação? São 40 semanas. Uma semana passa muito rápido. Quando se tem a comunicação de uma gestação, já podem ter passado de 8 a 12 semanas. Só sobram 28 semanas para tomar todas as providências. Isso muitas vezes escapa na hora de falar sobre os cuidados, a questão da agilidade, do timing.

Grande parte dos problemas de mortalidade por causas evitáveis estão ligados a pequenas coisas que, com uma informação adequada, podem ser evitadas. Esses instrumentos que fazem parte dos programas de governo, como a caderneta da criança, são bons, são completos, mas muitas vezes a mãe não sabe ler com segurança. Precisaria que alguém passasse a orientação, mais do que só entregar a caderneta na mão. O serviço tem que estar preparado, tem que ter todo um reforço de comunicação.

A medicina de família é muito importante porque pode interceder na residência, ir até a família entre as consultas. Estamos falando de famílias que talvez não tenham condições de buscar ativamente este conhecimento?

Heloisa: A gente acha no Brasil que ter um programa de governo nacional de cuidado é suficiente, mas a gente esquece de um detalhe. A pessoa não vive na federação, na União, a pessoa vive já na comunidade. A gente precisa olhar, e por isso a Urban95 tem um trabalho importante, o ponto de partida, o papel da saúde nisso, porque ali você consegue garantir que a criança vá passando por essas fases com a garantia de que aquele pedacinho da jornada está bem encaminhado. Que aquele atendimento certeiro vai permitir que ela siga caminhando bem na jornada da criança.

Eu estou na última etapa da minha jornada, que eu espero que seja longa, e sou o resultado de uma grande jornada, onde fui cuidada pelos meus pais, professores, depois por mim mesma. Enfim, a gente é resultado da história construída ao longo de uma grande jornada.

Para uma mãe que tem uma família, acesso a cultura e educação, é razoavelmente fácil garantir as oportunidades para a jornada dos primeiros anos. Mas para quem está fora do acesso, é mais difícil oferecer isso aos próprios filhos. O grande desafio talvez seja transformar o círculo vicioso em virtuoso, em relação ao conhecimento, acesso da família e o que ela consegue ofertar à criança?

Heloisa: Hoje, principalmente agora depois da pandemia, que acentuou as desigualdades sociais, os desafios não são poucos. Precisamos entender quem é o público prioritário da política pública. Deve ser quem mais precisa delas, esses devem ser priorizados, e estou falando das famílias mais pobres.

Família pobre não é apenas a que não tem renda suficiente. A pobreza precisa ser entendida na sua real dimensão. Uma casa sem água, sem saneamento básico, uma casa sem condições de moradia, uma família que não tem acesso ao serviço de saúde, a educação, é uma família pobre. Por isso a política não pode ser tratada de forma diferente.

Ao olhar a pobreza só pela faixa de renda eu não consigo enxergar quais são os desafios daquela família. É muito importante que tudo seja pensado sob a lógica de uma pessoa que demanda diferentes serviços. Esses serviços dependem da etapa da jornada que essa pessoa está vivendo e da condição socioeconômica que ela tem. Essa condição vai determinar quais serão seus maiores desafios.

É uma situação complexa, um tema com muitos lados.

Heloisa: Eu diria que não é uma questão complexa, é uma questão do jeito de olhar. As políticas públicas nacionais preveem essa assistência, mas muitas vezes o poder público não conhece todos os desafios das comunidades em sua área de gestão, e por isso não conhece as formas de atender a esses desafios. Além de olhar para a jornada, você precisa organizar os serviços de forma a atender o que aquela comunidade precisa.

Muitas vezes as mães não querem a creche porque está longe da casa delas. Bom, então a creche está no lugar errado. Se a creche estiver perto das famílias, ela vai atender muito melhor. A forma de olhar pode mudar tudo. E tudo começa por conhecer melhor as realidades, principalmente das áreas mais vulneráveis de cada município.

A própria Urban95 tem projetos e ferramentas de mapeamento. Fazendo o mapeamento das famílias, o trabalho seguinte é identificar onde precisa ter um posto de saúde, uma creche ou um CRAS para atender melhor aquelas famílias.

E onde está o maior potencial do uso de dados no atendimento à família?

Heloisa: O georreferenciamento da população é fundamental para avançar nesse tipo de atividade, organizar e integrar serviços. É pré-requisito, mas não é suficiente, assim como alertas de risco não são suficientes. Avançamos com a vontade política e um olhar de integração, de que estamos falando de uma mesma pessoa, uma mesma família, detentora dos mesmos direitos. Assim entendemos que os serviços devem estar disponíveis ao mesmo tempo e dentro da mesma estrutura de governo.

A estratégia de saúde da família, se bem orientada nessa questão da integração do atendimento, é fundamental, porque tem a capilaridade. Se há georreferenciamento e uma estratégia da saúde da família bem estruturada, você pode fazer as coisas serem utilizadas de forma que até as semanas da gravidez sejam melhor cobertas pelos serviços. Temos de aproveitar ao máximo esses instrumentos para entregar os serviços no tempo certo.

Normalmente a gente fala que um prefeito tem um papel fundamental. Uma gestão municipal são dois terços da primeira infância. Se você falar dos mil dias, eles cabem dentro de uma gestão. Para o bebê que acabou de nascer, não adianta o que vai ser feito daqui quatro anos, importa o que está sendo feito agora.

Para avançar no debate, o Webinar “Trajetórias da primeira infância: um olhar integrado para os serviços” acontecerá no dia 23 de março, das 9h às 10h30. Com o objetivo de apoiar os municípios da Rede Urban95 na concepção e implementação de serviços para primeira infância, este webinar discutirá como a intersetorialidade entre serviços é fundamental para prevenção e fortalecimento de vínculos entre cuidadores e crianças.

O encontro virtual será conduzido pelo CECIP e terá como convidadas:

Heloisa Oliveira: Economista e diretora do Instituto Opy, Heloisa irá compartilhar conosco um resgate histórico do papel da intersetorialidade na qualidade de vida e acesso aos direitos da primeira infância.

Ana Sofia: A diretora geral de Políticas Estratégicas do programa Mãe Coruja mostra na prática como uma experiência intersetorial exitosa garante os direitos das gestantes na rede estadual de Pernambuco.

Inscreva-se.

Programa Florescer, em Teresina, atende mulheres em vulnerabilidade social e vítimas de violência e dá atenção especial às crianças dessas famílias

Cinco espaços dedicados a atender integralmente a mulheres e suas crianças em situação de vulnerabilidade social e expostas a violência doméstica e de gênero. Esse é o propósito do projeto Florescer, uma iniciativa da Prefeitura de Teresina (PI), iniciado em 2021.

A capital do Piauí faz parte do grupo de 24 municípios que integram a Rede Urban95 e o Florescer foi construído nesse contexto. O programa faz parte da rede de apoio a políticas para mulheres da prefeitura da capital do Piauí, e tem entre seus objetivos fortalecer o desenvolvimento da autonomia e autoestima das mulheres atendidas, numa perspectiva de igualdade de gênero.

O Florescer procura articular políticas públicas nos setores de saúde, educação, assistência social e qualificação profissional (Crédito: Prefeitura de Teresina)

O projeto contempla toda a família, oferecendo  acompanhamento às crianças, capacitação e atendimento psicológico às mulheres e também acolhendo os parceiros delas por meio de palestras e encontros educativos.

O Florescer procura articular políticas públicas nos setores de saúde, educação, assistência social e qualificação profissional, numa tentativa de gerar o empoderamento e a autonomia financeira das mulheres atendidas. Entre os cursos de capacitação oferecidos estão manicure e pedicure, balconista de farmácias e atendimento.

“Nosso trabalho não é isolado. Realizamos uma série de projetos em parceria com outras secretarias, certamente teremos uma grande repercussão social. Aqui temos muitas famílias abaixo da linha da pobreza, grande parte delas chefiadas por mulheres, e muitas estão à margem dos serviços públicos, instituições de ensino e mercado de trabalho”, diz Kárita Allen, secretária executiva de Planejamento Estratégico e Gestão da prefeitura de Teresina.

Ações para a primeira infância

O Florescer já se tornou um símbolo no atendimento às mulheres que vivenciam situações de vulnerabilidade social e violência doméstica e de gênero. Mas é no olhar para as crianças que vivem nessas famílias que o programa se volta para o cuidado com as próximas gerações, com um planejamento de longo prazo.

Para Kárita, o Florescer é uma “porta para reforço” de ações para a primeira infância. “Ele vai sanar uma lacuna que se percebeu ser muito forte na cidade – apoiar os filhos menores dessas mulheres. Elas não têm onde deixar os filhos, precisam de apoio no contraturno da escola”, justifica.

Às mais de 400 crianças entre 1 anos e 2 anos e 11 meses alcançadas pelo projeto, são oferecidas ações recreativas e lúdicas e brincadeiras. Ao completar 3 anos, elas são encaminhadas a escolas municipais de ensino infantil.

“Sempre nos referenciamos nas boas práticas de outras cidades. Boas práticas na gestão municipal nos inspiram o tempo todo. Na viagem que fizemos a Jundiaí (SP), por exemplo, tivemos a oportunidade de aprender com um sistema de educação que já vem dando certo, e nosso objetivo é fazer com que esse método seja inspiração para o desenvolvimento de melhorias dentro do nosso município. Por outro lado, o Florescer também pretende inspirar outras cidades”, afirma Kárita. E conclui: “Estamos expandindo o serviço na própria capital, mas sabemos que a realidade é nacional – mulheres que sofrem violência e que precisam de apoio para filhos pequenos.

Fortaleza cria coordenadoria para a primeira infância

Intensificar, sistematizar, planejar e consolidar as políticas públicas voltadas aos cidadãos de 0 a 6 anos. Essa é a proposta da nova Coordenadoria Especial da Primeira Infância, que acaba de ser inaugurada pela prefeitura de Fortaleza (CE). A iniciativa pretende ser um estímulo para outras cidades brasileiras.

A coordenadoria está a cargo da jornalista Patrícia Alencar de Macêdo e o objetivo é fortalecer políticas públicas destinadas à infância, estimulando o desenvolvimento nos primeiros anos, com ações integradas de saúde, educação e assistência social.

Segundo Patrícia, Fortaleza foi a primeira cidade a fazer um plano municipal para a primeira infância e, agora, também se destaca ao criar a coordenadoria voltada para o tema: “A cidade já vinha trazendo nas secretarias temáticas vários projetos voltados à primeira infância. Já havia uma compreensão na gestão da importância desse tipo de enfoque”.

“Veio então o entendimento de que todos os projetos para a primeira infância deveriam ser acompanhados em uma só secretaria”, disse Patrícia, que também atua como psicóloga e tem experiência anterior em cargos públicos.

A coordenadora explica que a proposta do novo órgão não é executar projetos e programas, mas, sim, acompanhá-los e monitorá-los. Para isso, o trabalho está distribuído em três coordenadorias específicas: gestão e monitoramento de dados; educação e pesquisa; e articulação (para otimizar o trabalho entre as secretarias). “Essas três áreas estão trabalhando juntas em prol da primeira infância”, disse Patrícia.

Segundo ela, a criação da coordenadoria gera um impacto simbólico: “A partir do momento que a gestão sinaliza para a sociedade esse cuidado em criar uma pasta exclusiva para a primeira infância, é uma demonstração de atenção e de preocupação. A repercussão na cidade foi incrível, fomos muito bem acolhidos.”

Questionada sobre o que cidades que querem seguir esse caminho devem fazer, Patrícia disse: “Cada cidade conhece a sua necessidade mais emergente. Mas quem procura acolher a primeira infância como nós temos acolhido tem condições de dar esse passo. Foi uma longa caminhada até aqui. Temos projetos muito inspiradores, premiados internacionalmente. O envolvimento, o investimento na primeira infância, antecede essa decisão. Estamos super dispostos e abertos a trocar experiências com outras cidades, queremos mostrar nossa experiência aqui e aprender também”.

Parceria

Taís Costa, coordenadora do Laboratório de Inovação de Fortaleza (Labifor), destacou a importância da nova coordenadoria na gestão municipal. Criado em outubro de 2021, o Laboratório faz parte da Fundação de Ciência, Tecnologia e Inovação da Prefeitura de Fortaleza (Citinova), e é responsável pelos projetos da Urban95 na cidade. A partir de agora, explica Taís, o trabalho será realizado em parceria com a Coordenadoria da Primeira Infância.

“A Coordenadoria da Primeira Infância será o ponto focal dos projetos com a Rede Urban95 e vai direcionar prioridades e fortalecer as políticas públicas voltadas para a primeira infância”, disse. “Vai fazer muita diferença para a sustentabilidade das nossas ações.”

 

Como escolher a via para implementar uma Rua de Brincar

Especialistas dão dicas para iniciar o programa e falam dos benefícios e impactos positivos

É possível melhorar as cidades para que elas sejam seguras, lúdicas e confortáveis para as crianças e para todos os seus habitantes. Uma das formas de fazer isso, seja em um município pequeno ou em uma metrópole, é por meio da implantação das Ruas de Brincar. Nesse espaço público dedicado à confraternização e socialização, as crianças podem despertar aprendizados, ser livres e brincar sem medo. Além disso, a implementação de uma Rua de Brincar é rápida e barata. Mas, como começar?

Para Letícia Sabino, mestre em planejamento de cidades e design urbano e fundadora da SampaPé, sempre é bom começar por um local em que haja demanda da população ou da comunidade por um espaço delimitado para diversão. “Pode ser uma rua local ou uma grande avenida. O importante é estar muito atento às pessoas, às possibilidades de atividades existentes – esportivas e culturais, por exemplo – nos espaços públicos ao redor e também se há, idealmente, espaços verdes.

Já para Lívia Barbosa, diretora de cultura de Uruçuca (BA) e idealizadora do “Ruas Brincantes” no município, a dica é não prejudicar o fluxo habitual. “É preciso escolher a rua com cuidado para que essa ação não interfira na movimentação básica da cidade. Por exemplo: atenção para não escolher uma rua que seja passagem para o hospital, cemitério ou algum outro serviço permanente”, explica.

Outra recomendação de Lívia é utilizar ruas com alguma infraestrutura de suporte por perto: “Em Uruçuca, optamos por escolher uma rua que tivesse um prédio público para nos dar suporte, inclusive com banheiro”, conta.

5 passos para implementar uma Rua de Brincar no seu município

Se você é gestor público:

  1. Ouvir as demandas da população
  2. Mapear espaços e ruas potenciais e escolher a rua
  3. Promover diálogos com a comunidade e com outras cidades que já implementaram a iniciativa para promovê-la com consistência
  4. Mobilizar e integrar o trabalho entre secretarias, para transformar a iniciativa em política pública que possa ser ampliada com o tempo
  5. Divulgar amplamente o evento

Se você é da sociedade civil:

  1. Estabelecer parcerias (escolas, gestão pública, organizações e comércio locais, lideranças comunitárias)
  2. Mapear oportunidades (ruas, espaços públicos, grupos culturais) e escolher a rua
  3. Realizar um organograma de responsabilidades (quem é responsável pelas diferentes atividades)
  4. Dialogar com o poder público e transformar a iniciativa em política pública que possa ser ampliada com o tempo
  5. Divulgar amplamente o evento

Ursula Troncoso, arquiteta e urbanista consultora na implementação do “Rua do Brincar” em Jundiaí (SP), dá dicas para o sucesso do evento, como identificar e listar os produtos necessários para que a programação seja um sucesso: cadeiras, elementos para gerar sombra, cones para fechar a rua, atividades esportivas, culturais e inclusivas. “É importante oferecer espaços para que a comunidade revele seus talentos, deixando que os moradores organizem e facilitem oficinas, por exemplo”, explica.

É importante garantir atividades diversas, envolvendo a comunidade, além de espaços de sombra e socialização. Acima, uma Rua de Lazer realizada com a comunidade e a escola em Jundiaí – SP. (Crédito: Cidade Ativa)

Impactos positivos

Para Ursula Troncoso, as reações das crianças são o melhor exemplo de que a iniciativa gera grandes impactos positivos: “Uma fala que me impactou muito foi a de uma criança que disse: ‘Eu nunca tinha brincado na rua antes’. Me marcou porque na minha infância eu ainda brinquei na rua. Mas hoje as crianças não brincam mais. Passam a maior parte do tempo dentro de casa, inclusive nos fins de semana”.

A arquiteta e urbanista ressalta que as Ruas de Brincas revelam às crianças e adultos uma outra relação com o espaço público. “Todos têm a oportunidade de estar juntos em um ambiente seguro e ao ar livre. Isso é muito bom”, afirma.

Em Uruçuca, as “Ruas Brincantes” tiveram grande adesão e 100% de satisfação. Todos os participantes da edição piloto avaliaram a iniciativa como positiva e afirmaram que voltariam a participar em um próximo evento. “A cidade é carente de espaços de lazer específicos para as crianças, então a escolha desse tipo de evento foi a opção ideal”, afirma Lívia.

Benefícios para as crianças 

A implementação de uma Rua de Brincar abrange muitos benefícios, já que é um espaço para:

  • Expandir as possibilidades de brincadeiras e aprendizados
  • Estimular conversas e convivência com pessoas de origens e contextos socioeconômicos diferentes
  • Diversão
  • Fugir do perigo do trânsito e do fluxo dos carros
  • Sair do vício do uso das telas
  • Sair do emparedamento (estar sempre em ambientes fechados)
  • Exercitar a imaginação

“Todos esses benefícios estimulam o cérebro das crianças e levam a um maior desenvolvimento fisiológico e biológico, porque permitem um maior convívio social, com mais qualidade pela capacidade de olhar longe, distante e a possibilidade de sentir o clima no corpo”, afirma Letícia Sabino.

Bolha Cinza integra ações do “Ato pela Terra”, reforçando o direito das crianças ao ar puro

A Rede Urban95 Brasil se uniu às dezenas de movimentos da sociedade civil e artistas para uma manifestação que ocorreu nesta quarta-feira (9), em Brasília, em frente ao Congresso Nacional.

O “Ato pela Terra” buscou pressionar as autoridades contra a aprovação de um pacote de projetos de leis responsáveis por impactar direta e irreversivelmente a Amazônia, os direitos humanos, o clima e a segurança pública. Participaram artistas como Caetano Veloso, Maria Gadú, Seu Jorge, Nando Reis, Bela Gil, Christiane Torloni, Letícia Sabatella, Bruno Gagliasso, Lázaro Ramos e Natiruts.

Ação da Campanha “Livre Para Brincar Lá Fora” em “Ato pela Terra” (Crédito: Criança e Natureza)

O Instituto Alana, parceiro da Rede Urban95 Brasil, participa do evento com a campanha global “Livre para Brincar lá Fora”, que procura conscientizar sobre os impactos negativos da poluição do ar, que afeta especialmente a saúde e o desenvolvimento de crianças e adolescentes. Para simbolizar esse inimigo invisível que, no Brasil, é em parte advindo das queimadas, uma bolha cinza gigante foi instalada na frente do Congresso Nacional.

“As crianças são as mais afetadas pela poluição, seja pela convivência com veículos motorizados, indústrias poluidoras ou queimadas. Garantir que a floresta permaneça de pé é proteger o direito ao ar puro para as crianças e qualidade de vida para todos nós”, defende Cláudia Vidigal, representante da Fundação Bernard van Leer no Brasil.

As crianças são as mais afetadas pela poluição (Crédito: Criança e Natureza)

Alguns dados relevantes que justificam a participação das organizações que atuam com o tema da infância no Ato pela Terra:

  • O ar poluído é responsável pela morte de pelo menos 600 crianças menores de 5 anos a cada ano em nosso país, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
  • No mundo, hoje, 93% das crianças respiram ar com níveis de poluição acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde, o que faz da poluição do ar a segunda maior ameaça à saúde pública após o Covid-19. Também segundo a OMS, a poluição mata meio milhão de crianças de até 5 anos no mundo.
  • As crianças respiram mais vezes por minuto do que um adulto, inalando poluentes que provocam asma, complicações pulmonares e danos ao desenvolvimento físico e cognitivo ao longo da vida. Há, ainda, evidências de que a exposição de gestantes e bebês à poluição eleva o percentual de morte fetal e o risco de mortalidade infantil.
  • Não  existe vacina para evitar os problemas decorrentes da poluição do ar, como parto prematuro, baixo peso ao nascer, asma, complicações pulmonares e problemas no desenvolvimento físico e cognitivo.
  • A maior parte das cidades brasileiras sequer têm um sistema para medir a poluição do ar, ou políticas públicas eficazes para mitigá-la.

O maior jogo de Amarelinha do Brasil fica em Fortaleza (CE)

Do início ao “céu”, um jogo de amarelinha (maré, avião ou sapata, dependendo do estado do Brasil) riscado no chão tem dez “casas” para serem puladas. Mas, em Fortaleza (CE) é diferente. Cearenses e turistas que visitam a Rua Almirante Jaceguai, na Praia de Iracema, encontram um jogo com 400 quadradinhos. É a maior amarelinha do Brasil, com 180 metros do início ao “céu”.

A amarelinha fica na Praia de Iracema, e tem 400 quadradinhos (Crédito: Prefeitura de Fortaleza)

A amarelinha gigante foi uma iniciativa da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania – AMC, instalada em agosto de 2021 quando houve a revitalização da sinalização do projeto Cidade da Gente, no entorno do Centro Cultural Dragão do Mar.

“A nova amarelinha é um instrumento lúdico, assim como os outros elementos de pintura no pavimento para interação entre crianças e público do Centro Cultural e dos demais equipamentos do entorno”, afirma Marcia Dias Soares,  gestora da – FUNCI – Fundação da Criança e da Família Cidadã, parceira da prefeitura e da Uban95 na iniciativa.

Junto à amarelinha foram desenhados outros diversos ícones que remetem a brincadeiras da infância, como controles de videogames e personagens do jogo PacMan.

Projeto Cidade da Gente

A proposta do Cidade da Gente, segundo Márcia Soares, demonstra a relevância em priorizar a população e garantir mais segurança viária em uma região de circulação intensa de pessoas, como o entorno do Dragão do Mar.

Os pedestres são o segundo grupo mais atingido por acidentes de trânsito fatais em Fortaleza, registrando um total de 31% do total de mortes no trânsito em 2020. Os dados atuais mostram que houve 50% na redução da velocidade média dos veículos e aumento de 41% de pessoas envolvidas em atividades culturais.

Fábrica das Infâncias Japy é um espaço cultural destinado às crianças

Em 2019, Jundiaí ingressou na Rede Urban95 Brasil e passou a receber orientações para realização de suas ações. Uma delas é a Fábrica das Infâncias Japy. No século XX, o espaço foi uma fábrica de tecelagem, com uma maioria de trabalhadoras mulheres. Em dezembro de 2021, tornou-se oficialmente a sede do Comitê das Crianças, vinculado à Unidade de Gestão de Cultura, fazendo parte do conjunto de equipamentos públicos da Prefeitura.

Assim como a antiga fábrica têxtil, a Fábrica das Infâncias leva este nome por sua nova vocação de tecer, de modo criativo e não convencional, experiências positivas e memoráveis para as crianças da cidade. É um espaço voltado para a experimentação artística, formativa, criativa e reflexiva sobre brincadeiras e infâncias.

Bebê em atividade na Fábrica das Infâncias Japy (Crédito: Pedro Amora/Prefeitura de Jundiaí)

“A Fábrica é um grande sonho porque, além de ser a sede do Comitê das Crianças, o que para nós é muito importante, nos deixa felizes em poder ocupar o espaço cultural. Queremos muito que seja só a primeira Zona da Infância da cidade”, diz Marcelo Peroni, gestor de cultura da Prefeitura de Jundiaí.

A Zona da Infância na cidade é um projeto de intervenção urbana que compreende vias com redução de velocidade, calçadas mais largas e zonas calmas para pedestres. Quem visitar a Fábrica vai poder aproveitar diversas instalações, como as pinturas do programa Jundiaí Pé de Infância, sobre a importância do olhar para a infância.

A escuta de crianças

Seguindo a ideia de que política é, sim, “coisa” de criança, Jundiaí coloca os pequenos cidadãos como foco na definição de políticas públicas. O Comitê das Crianças é um órgão formado por 28 integrantes de 8 a 11 anos que se reúne uma vez por mês para discutir como melhorar a cidade.

O processo de concepção da Fábrica contou também com a escuta especializada das crianças e esta experiência é relatada em exposições instaladas no local. As crianças do Comitê também contribuíram para a concepção do Parque Naturalizado na área verde que compõe o espaço e os alunos de escolas do entorno –  Emebs José Romeiro Pereira (o Geva), Maria de Toledo Pontes e Ramiro Araújo Filho – fizeram o percurso a pé da escola até o local e relataram suas opiniões sobre mobilidade.

Assista ao vídeo que mostra mais detalhes sobre a Fábrica das Infâncias Japy:

Crianças nas ruas: como garantir espaços brincantes e seguros

Crianças nas ruas brincando nas praças, nos parques, correndo nas calçadas e derrubando os muros imaginários que nos separam dos territórios. Quantas crianças moradoras das metrópoles têm a oportunidade de experimentar aquele saudoso ideal de infância marcado por brincadeiras de rua e autonomia para viverem o bairro sozinhas, garantindo a mobilidade para primeira infância?

Continue reading

A importância do trabalho integrado para implementar ruas de brincar

As Ruas de Brincar são uma política democrática, que funcionam bem em qualquer tamanho de cidade – não importa se o município é metrópole, como Brasília ou São Paulo, uma cidade média como Jundiaí (SP) ou pequeno como Uruçuca (BA), cidade de 21 mil habitantes no sul da Bahia. O importante é ter vontade, planejamento, diálogo e trabalho colaborativo.

O webinar “Ruas de brincar”, realizado para as cidades da Rede Urban95, mostrou diferentes experiências brasileiras, que garantiram um espaço público seguro para brincadeiras ao ar livre. O encontro contou com a participação de Letícia Sabino, mestre em planejamento de cidades e design urbano e fundadora da SampaPé, Ursula Troncoso, arquiteta e urbanista do Ateliê Navio, responsável pela implementação do “Rua do Brincar” em Jundiaí e Lívia Barbosa, diretora de cultura de Uruçuca e idealizadora do “Ruas Brincantes” no município.

Durante a conversa, que foi conduzida por Isabella Gregory, coordenadora do Urban95 no CECIP, e por Claudia Vidigal, representante da Fundação Bernard van Leer no Brasil, foram apresentadas três experiências sobre as ruas de brincar.

Rua: espaço público de transformação

Letícia Sabino começou o bate-papo ressaltando a importância das ruas como espaço público de transformação. “Abrir as ruas para as pessoas é promover a cultura do caminhar e humanizar as cidades, principalmente para as crianças que ainda estão formando seu conceito de cidade e convivência”, afirmou.

A fundadora do SampaPé desmistificou a ideia de que um espaço público seja apenas uma praça ou área delimitada, trazendo um conceito de Jan Gehl de que todo espaço entre os edifícios e lotes privados são espaços públicos. “Portanto, as ruas representam a maior parte do espaço urbano. A partir daí devemos refletir sobre o uso que fazemos desses espaços: estão sendo espaços mais inclusivos, de encontros, promovendo brincadeiras e diversão?”, questionou Letícia.

Ainda segundo Letícia, a abertura de ruas para as pessoas é uma estratégia de urbanismo barata, flexível e que gera muitos resultados positivos, pois ajuda a construir a médio e longo prazo um ideal de cidade mais lúdico: a rua deixa de ser uma via de trânsito e passa a ser percebida e vivenciada.

Diálogo, construção conjunta e trabalho integrado

Ao apresentarem suas experiências de Jundiaí (SP) e Uruçuca (BA), respectivamente, Ursula e Lívia destacaram a importância do diálogo constante entre os atores envolvidos e do trabalho integrado – entre poder público, moradores, organizações locais, comunidade escolar, comércio local e outras empresas privadas – para o sucesso do programa.

“As crianças, cuidadores, moradores e membros da comunidade precisam ser envolvidos desde o planejamento até a ativação, o evento em si”, afirmou Ursula Troncoso. A escuta e a participação da comunidade em Jundiaí contou com apoio da organização Cidade Ativa. Foram realizados o mapeamento dos atores locais, lideranças comunitárias, associações e estabelecimentos comerciais. Em seguida, foram realizadas conversas, reuniões, entrevistas e visitas para manter o engajamento dos envolvidos. Por fim, foi realizado o evento ao ar livre com o envolvimento e participação de todos. “Uma das lições aprendidas foi a de que a participação ativa da comunidade desde o planejamento até a ativação é essencial porque potencializa o sentimento de pertencimento e interesse no programa”, afirmou Ursula.

A idealizadora do “Ruas Brincantes” em Uruçuca, Lívia Barbosa, comentou a experiência da cidade baiana: “depende muito mais de recursos humanos do que financeiros”, disse. “Sem a participação de todos não seria possível efetivar a iniciativa. Contamos com apoio das secretarias de Saúde, Esportes, Ação Social, Administração, Comunicação, da comunidade escolar, dos moradores e do comércio local. É um trabalho que precisa ser integrado, os vários atores precisam trabalhar juntos”, afirmou.

Se você perdeu o encontro ao vivo, confira a gravação completa do webinar:

A importância da educação ao ar livre para crianças

Ver e sentir a beleza das flores, aproveitar um banho de chuva, plantar uma árvore, construir bonequinhos de galho, fazer uma coleção com elementos da natureza, brincar na areia, subir em árvores, construir cabanas, encontrar os amigos ao ar livre e descobrir como a vida se desenvolve são experiências importantes que nos colocam diante da beleza e do mistério da vida. Na primeira infância, a educação e os processos de desenvolvimento se beneficiam diretamente dessas interações.

Continue reading

Retrospectiva 2021 reúne avanços e conquistas da Rede Urban95 Brasil

Já está no ar a Retrospectiva Rede Urban95 Brasil 2021: como as cidades do ciclo de 2020 estão pensando a primeira infância, publicação produzida em parceria com o Instituto Cidades Sustentáveis (ICS) para divulgar os projetos e ações de destaque do último ano.

O material poderá ser usado como um guia para outras cidades, como referência e fonte de consulta. É um importante material para compartilhar com quem está junto na defesa do direito da criança à cidade e com gestores de outros municípios que desejem fortalecer as pautas da primeira infância em seus territórios.

Frente aos desafios de 2021, a Rede Urban95 avançou em articulações para repensar as cidades que estão priorizando a primeira infância. A publicação conta a história da Rede Urban95 no Brasil e traz ideias e estratégias para planejar e gerir políticas públicas, capacitar equipes técnicas, mobilizar redes, utilizar dados, implementar programas e serviços, mudar comportamentos e transformar espaços públicos.

Acreditamos que exemplos de sucesso e lições aprendidas pelas cidades apoiam a construção e consolidação de cidades mais acolhedoras para gestantes, crianças pequenas e seus cuidadores, com políticas públicas direcionadas e o planejamento de espaços públicos que promovam interações saudáveis, positivas e brincantes. Que as histórias reunidas até aqui pela Rede sejam fonte de inspiração para outros municípios, e que juntos continuemos avançando na direção de cidades melhores para todos nós!

Confira a publicação completa. E veja outros materiais em nossa biblioteca.

Racismo prejudica o desenvolvimento e inclusão social de crianças negras

O Brasil é conhecido por ser um país pluricultural com grupos étnicos distindos: indígenas, brancos e negros. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 56,3% dos brasileiros se declararam pretos ou pardos em 2019. Essa maioria da população sofre e é prejudicada indistintamente com o racismo, que começa ainda na infância, já na educação infantil.

Continue reading

A cidade reinventada: conheça o Mais Vida nos Morros

Recife, capital pernambucana, foi a primeira cidade brasileira parceira na Rede Urban95 Brasil, sendo o investimento na primeira infância uma estratégia inovadora do município para combater a criminalidade e a desigualdade nos bairros mais vulneráveis. Uma equipe administrativa e um comitê diretor intersetorial foram criados para orientar o trabalho e desenvolver uma lei municipal pela primeira infância.

A cidade, então, firmou uma parceria público-privada com a ARIES – Agência Recife para Inovação e Estratégia – para testar estratégias de mobilidade e espaços públicos inspirados na Rede Urban95 e várias iniciativas começaram a florescer. Uma deles é ampliação do Programa Mais Vida nos Morros para 40 comunidades, trazendo melhoria do espaço público, redução de lixo, e proteção contra desabamentos nos morros.

Crianças brincam na comunidade Burity (Valeria Cristina da Silva/Prefeitura de Recife)

Reinventar o lugar em que se vive

O Mais Vida nos Morros é uma política pública de inovação que reinventa a cidade e combate a desigualdade socioespacial a partir da promoção do desenvolvimento sustentável, do protagonismo comunitário e da promoção de um espaço urbano melhor para as crianças nas 545 comunidades de interesse social do Recife.

Cada comunidade escolhe suas prioridades e coloca a mão na massa para pôr os projetos em prática. Mas, para que isso se concretize, é preciso a participação de todos. Cada um contribui como quiser. Pode ser com o trabalho ou compartilhando seus conhecimentos, seus sonhos e suas ideias. O projeto realiza várias atividades, como oficinas de criatividade para crianças e adultos.

O Mais Vida nos Morros é inspirado em experiências da Colômbia, México e Venezuela que apontam para uma mudança no comportamento das pessoas quando o poder público realiza intervenções urbanas e estéticas em áreas desfavorecidas.

Para a arquiteta e urbanista espanhola Irene Quintáns, especialista em estudos territoriais, políticas sociais, mobilidade, habitação e gestão urbana, esse tipo de engajamento é um diferencial do Mais Vida nos Morros em relação a programas do chamado urbanismo tático no resto do mundo. Outro diferencial importante, segundo ela, é o contexto urbano vulnerável em que o programa atua e faz a diferença. “O Mais Vida nos Morros entra para resolver vários fatores de risco. Alguns são físicos, outros emocionais”, diz a especialista. “Não é um programa que põe tinta e pronto. É um programa que trabalha a autoestima das pessoas, o pertencer a um lugar, o cuidado próprio e comunitário”, reforça.

Praça da Alegria foi revitalizada por meio do Mais Vida nos Morros (Valeria Cristina da Silva/Prefeitura de Recife)

Essas experiências podem ser compartilhadas – no Recife e além – para que sirvam de inspiração e estimulem cada comunidade a repensar e reescrever seus caminhos. Alto José Bonifácio Alto José do Pinho e Alto do Maracanã são alguns dos bairros já finalizados.

O colorido dos morros chama a atenção, mas a inovação está presente nos detalhes que as fotos panorâmicas não mostram. No Vasco da Gama, as calçadas viraram um caminho lúdico, cheio de brincadeiras para as crianças. Já no Campo da União, um bequinho se transformou num campinho de futebol. Em Alto José Bonifácio, as vielas da comunidade se tornaram uma pista de corrida com escadarias e rampas. Na Lagoa Encantada, a praça virou um lugar de jogos, brincadeiras, encontros e ganhou uma horta comunitária.

Cuidadores usufruem de espaços revitalizados em comunidades, juntos das crianças (Valeria Cristina da Silva/Prefeitura de Recife)

Essas e outras soluções são pensadas para cada comunidade, mas nascem a partir de 10 objetivos comuns relacionados a engajamento comunitário e intervenções no território:

  1. Transformar micro vazios urbanos (espaços degradados, vulneráveis ou com acúmulo de lixo) em áreas de lazer, convivência ou espaços para as crianças;
  2. Implantar políticas para diminuição da quantidade de lixo que vai para os aterros municipais;
  3. Redesenhar e repensar toda a infraestrutura urbana da comunidade (escadarias, calçadas, becos e vielas) sob a perspectiva das crianças, especialmente na primeira infância;
  4. Integrar políticas públicas já existentes para a área beneficiada;
  5. Integrar os diferentes órgãos e secretarias do município, além de parceiros da iniciativa privada, em prol dos territórios beneficiados pelo programa;
  6. Empoderar todos os moradores (adultos, idosos e crianças) a partir da escuta ativa e da participação nas tomadas de decisão;
  7. Engajar os moradores na transformação da sua comunidade, exercendo cidadania ativa;
  8. Promover sustentabilidade e resiliência da comunidade a partir do protagonismo do morador;
  9. Promover uma mudança de comportamento dos moradores em prol da transformação e da sua preservação posterior;
  10. Reinventar a relação do morador com a sua comunidade despertando um sentimento de orgulho, autoestima e pertencimento.

Cantar, dançar e brincar: a importância da música na primeira infância

Desde que nascem, as crianças exploram o mundo com o seu corpo por meio dos seus sentidos e gestos e, assim, estabelecem relações e se expressam. Quando cuidadores introduzem desde a primeira infância linguagens como a música e a dança, crianças têm a oportunidade de produzir conhecimento sobre si e sobre o outro, entrelaçando corpo, emoção e linguagem.

Em casa, desde quando o bebê está dentro da barriga, ele é capaz de identificar a voz da mãe, e as canções cantadas durante esse período são capazes de estreitar o vínculo materno.

Depois do nascimento, ao cantar, embalar e fazer brincadeiras com o movimento e a dança, cuidadores estimulam formas primárias de comunicação que simultaneamente incentivam a aquisição da linguagem e o desenvolvimento da sensibilidade musical.

Mas, para que isso aconteça e a música entre no universo do aprendizado de uma criança, não é necessário possuir instrumentos musicais elaborados. As canções de ninar, cantigas de roda, os instrumentos de brinquedos e as músicas inventadas já contribuem para o desenvolvimento das crianças.

Ao longo da vida, o hábito de cantar pode deixar as atividades cotidianas mais leves e divertidas. Recordar cantigas antigas ou inventar músicas novas pode estimular a criatividade, a memória, movimentos e grandes sorrisos.

Ao ingressar na Educação Infantil, crianças pequenas têm acesso sistemático ao universo da música na primeira infância. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) na Educação Infantil diz que a criança tem o direito de expressar, como sujeito criativo, dialógico e sensível, suas emoções, necessidades, dúvidas, sentimentos, descobertas, hipóteses, questionamentos e opiniões por meio de diferentes linguagens.

No cotidiano da instituição escolar, crianças devem ter acesso a diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas e vivenciar diversas formas de expressão e linguagens, como as artes visuais (pintura, modelagem, colagem, fotografia etc.), a música, o teatro, a dança e o audiovisual.

É importante destacar que explorar som, ritmo, melodia, harmonia e movimento irá significar a descoberta e a vivência da riqueza de sons e movimentos que são produzidos a partir do corpo de cada um. A musicalização na escola é um conjunto de atividades que visa à sensibilização, e que busca ampliar os conhecimentos musicais da criança. Contribui para a socialização, alfabetização,, capacidade inventiva, coordenação motora, raciocínio lógico e matemático e estética.

Pé de Infância nas cidades e música na primeira infância

O Pé de Infância é uma iniciativa da Rede Urban95 em parceria com 11 municípios para promover mudança de comportamento no cuidado de crianças de zero a seis anos. Para ser desenhado o projeto contou, por um lado, com premissas científicas, e por outro, com cartografias afetivas das comunidades, participação de gestores dos municípios e participação de especialistas em Primeira Infância. Tudo isso para criar uma caixa de ferramentas que ajude cuidadores de crianças pequenas a incluir três comportamentos fundamentais em suas rotinas: brincar, cantar e contar histórias diariamente durante a primeira infância.

Murais com histórias e outros estímulos, como instrumentos musicais, podem estar integrados a todo o ambiente urbano para que cuidadores contem histórias, cantem ou leiam para as suas crianças. 

No mundo, todo há exemplos inspiradores, como em Nashville ou em São Francisco, nos Estados Unidos, onde são encontrados nos espaços públicos instrumentos musicais fixados nas paredes (como xilofones) e jogos coloridos que envolvem crianças em atividades físicas, criativas e divertidas

Também podemos nos inspirar na cidade de Medellín, na Colômbia, que introduziu rotas seguras para as crianças na primeira infância residentes de bairros com altos índices de violência. Elas andam juntas à escola com um grupo de adultos brincando e escutando música ao mesmo tempo. 

Em Accra, Gana, a equipe Playtime in Africa, da Fundação Mmofra, criou a jornada toddler exploration – ou exploração da criança pequena, em português – em um parque público local. Aproveitando as estruturas naturais, os elementos de brincar incluem instrumentos musicais, jogos e padrões de estampa locais. Esses atributos encorajam um tipo de brincar que ajuda bebês e crianças pequenas a desenvolverem habilidades sociais e também proporcionam uma oportunidade excepcional para que crianças de diferentes contextos socioeconômicos interajam.

Como construir cidades em que as crianças possam brincar ao ar livre todos os dias?

Entre os sonhos dos gestores dos municípios que compõem a rede Urban95 Brasil está o de construir cidades brincantes para todas as crianças. No dia 4 de fevereiro, os municípios se reuniram no “Webinar Chuva de Ideias – brincar ao ar livre” para reunir propostas e fazer possível este sonho, que é municipal, mas também mundial: o brincar está presente em pelo menos seis dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) estabelecidos pela ONU (Organização das Nações Unidas).

São muitos os benefícios do contato com a natureza e da brincadeira ao ar livre para as crianças: estimulam a criatividade, tornam o aprendizado mais ativo e explorador, favorecem vínculos sociais e trazem benefícios diretos à saúde. Mas existem barreiras de informação e estruturais que impedem que as crianças brinquem livres na cidade.

No workshop conduzido pela Allma Hub Criativo, organização especialista em comportamento e parceira técnica da Rede, os convidados falaram sobre estas barreiras e elencaram algumas saídas para que os gestores dos municípios possam se inspirar numa “chuva de ideias”.

O grande objetivo do encontro é encontrar possibilidades para que crianças de zero a três anos tenham um tempo para inventar seu mundo, em um espaço arejado com elementos da natureza de maneira diária e com mais tempo uma vez por semana.

O ‘brincar’ está presente em pelo menos seis dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) estabelecidos pela ONU (Foto: Felipe Cardoso/Urban95 Brasil)

Convidados inspiram os participantes a promover o brincar

Pai da Maria Flor, de quatro anos, Thiago Vinícius, fundador da Agência Solano Trindade, afirmou que um dos pontos chaves para o uso do território é que as crianças desenvolvam o sentimento de pertencimento. “Nosso intuito é produzir eventos e serviços que contribuam com a qualidade de vida do nosso povo do Campo Limpo e do Capão Redondo, que já foi considerado o ‘Triângulo da Morte’, pelos números de violência”. Hoje em dia, por meio da cultura e participação, ele afirma que o bairro agora também ocupa as páginas culturais, gastronômicas e de economia.

Depois de explicar como a ciência prova os benefícios dos contatos com a natureza, o pediatra e sanitarista Daniel Becker falou em consonância com Thiago Vinicius: “Para verdejar uma cidade é preciso ação das políticas públicas, e da sociedade civil organizada, trazendo a brincadeira como prioridade”. A parceria destes atores facilita que as praças e outros espaços verdes das cidades sejam  ocupados com atividades como feiras, brincadeiras e esportes . “A palavra chave é ‘participação’: os gestores entendendo junto com a comunidade o que ela precisa antes de planejar”, afirma.

A ativista Roberta Mourão, fundadora da Loa Terra, dedica seu trabalho a encontrar soluções para a conexão com a natureza nas cidades com iniciativas que promovem uma comunidade urbana mais sustentável, saudável e integrada. A Loa Terra é uma startup que une impacto ambiental e cultural a tecnologias sociais para transformar o espaço urbano e a relação das pessoas com a cidade, o alimento e a natureza.

Chuvas de ideias para garantir o contato com a natureza nas cidades 

Depois de assistir ao filme “Caminhando com Tim Tim”, os convidados foram incentivados a responder à pergunta: “Como fazer com que o Tim Tim (crianças de 0 a 3 anos) brinque em contato com a natureza todos os dias? “

Como todos os setores iniciativa privada, segurança, saúde, gestão, comunidade, assistência, trânsito, urbanismo, cultura, educação, segurança, saúde, iniciativa privada, assistência, comunidade, podem contribuir para implementar esta meta?

E se a gente criasse um canteirinho para bebês nos parques? E se toda mãe recebesse o mapa dos canteiros pé de infância? E se criássemos guias e mobilizações coletivas? E se as cuidadoras pudessem ter passe livre no transporte público aos fins de semana? E se as escolhas abrissem seu portão como extensão dos quintais? E se o brincar ao livre fosse prescrito nas receitas nas Unidades Básicas de Saúde?

A Allma Hub Criativo afirmou o compromisso de reunir as ideias de viabilizar os projetos que apoiem o brincar ao ar livre e em contato com a natureza.

Assista ao webinar completo:

Ruas de Brincar: a presença de crianças resgata espaços públicos

Fechar ruas para o tráfego de veículos em intervalos de tempo regulares garante a todos os moradores de um bairro um espaço público seguro para brincar, se encontrar, fazer exercício e respirar ar limpo. No mundo todo há exemplos de fechamentos temporários geralmente realizados pelo departamento de transportes com a colaboração dos departamentos de serviços sociais, como educação, saúde ou cultura. E isso pode ser um primeiro passo na direção de soluções permanentes, difíceis de implementar sem o apoio do cidadão local.

Na Cidade do México, no México, sob uma iniciativa do laboratório de inovação urbana LabCDMX, o governo fecha ruas regularmente na frente de escolas de bairros desfavorecidos para oferecer oportunidades de brincar ao ar livre. Em Libreville, no Gabão, o projeto Closing Streets for Children to Play (Fechando Ruas para as Crianças Brincarem) cria espaços seguros para crianças brincarem onde faltam espaços lúdicos, em alinhamento com a tradição local mais abrangente de reivindicação das ruas para eventos sociais como casamentos. Já em Bristol, no Reino Unido, há uma forte tradição de brincar nas ruas.

Ativação do programa “Ruas de Brincar” foi feita no bairro de Novo Horizonte, região oeste de Jundiaí (Foto: Felipe Cardoso/Urban95 Brasil)

Há mais de 40 anos em Bogotá, na Colômbia, e agora em toda América Latina, o fechamento regular e temporário de ruas realizado pelas prefeituras encoraja o uso da bicicleta, o caminhar e o encontro entre pessoas. Estudos mostraram que crianças brincando livremente nas ruas aumenta a interação entre vizinhos, o que incrementa o bem-estar dos cuidadores.

As ruas de Brincar de Jundiaí

No Brasil, a Urban95 está fomentando a implementação das Ruas de Brincar nas cidades da Rede, e uma iniciativa que se destaca é a cidade paulista de Jundiaí. Lá, um programa busca implementar políticas públicas que deem protagonismo às crianças nas tomadas de decisões e reforcem a importância do brincar. O Comitê das Crianças e o Ruas de Brincar são exemplos de alguns programas que já estão em andamento na cidade e que imprimem esse conceito na prática.

A iniciativa da Prefeitura de Jundiaí teve início em 2019 como parte do Programa Cidade das Crianças, que prevê a retomada do espaço público da rua para o brincar ao ar livre. A proposta consiste em bloquear o fluxo de veículos de determinada rua aos domingos e feriados para que as crianças possam brincar, conversar e se divertir na rua com maior segurança.

“A experiência é tida como um dos principais resultados da articulação com a comunidade, visto que toda a aproximação, conexão e reconhecimento do local culminaram na realização de uma Rua de Brincar construída com base na colaboração e cooperação de pessoas e grupos do bairro interessadas, envolvidas e solícitas, que revelaram perfis fortemente a favor da infância nos espaços públicos e na sensibilização de cuidadores sobre o tema”, afirma o Ateliê Navio, escritório de arquitetura responsável por estruturar, elaborar e conduzir um Plano de Engajamento com a comunidade local, assim como a preparação e organização da ativação piloto da Rua de Brincar que ocorreu em dezembro de 2021.

“Uma das coisas importantes do programa Rua de Brincar é que a iniciativa é do próprio morador”, afirma Ursula Troncoso, arquiteta e urbanista do Ateliê Novo. “As nossas crianças têm o direito de estar na rua e fazem parte da cidade”, defende.

Confira o registro de uma ativação do programa “Ruas de Brincar” no bairro de Novo Horizonte, região oeste da cidade de Jundiaí:

Programe-se para o webinar Ruas de Brincar

Em fevereiro, as 24 cidades da Rede Urban95 se encontram para debater e aprender sobre o tema Ruas de Brincar. Todos estão convidados para o webinar “Ruas de Brincar – Iniciativas para exercer o brincar como direito”. Será no dia 23 de fevereiro, quarta-feira, das 9h às 10h30. Para participar, basta realizar a inscrição, que é gratuita.

O começo da vida lá fora: a experiência prática da cidade de Jundiaí

Conexões genuínas entre as crianças e a natureza podem revolucionar o futuro. E essa descoberta ainda é possível nos grandes centros urbanos do mundo. Evidências científicas apontam que a falta de contato com a natureza pode contribuir para problemas físicos e mentais. No filme “O Começo da Vida 2  – Lá Fora”,  idealizado e produzido por Maria Farinha Filmes, Instituto Alana e Fundação Boticário, os principais especialistas no tema mostram como essa conexão pode fazer parte da cura para os maiores desafios da humanidade contemporânea e da construção de uma vida de mais bem-estar e felicidade.

“Garantir o direito das crianças ao contato direto e cotidiano com a natureza é um desafio sistêmico que demanda uma mudança de paradigma. Este filme nos conta como o confinamento da infância já era uma realidade, e vem contribuir para relembrar a sociedade de que é fundamental devolver às crianças a chance de viver uma infância livre, saudável e rica em natureza”, afirma Laís Fleury, coordenadora do Programa Criança e Natureza do Instituto Alana.

A experiência de Jundiaí

O filme revela que esse pensamento tem sido transformador em diversas cidades pelo planeta que valorizam e promovem uma maior conexão com o mundo natural. No longa, é possível conhecer diversas experiências onde esse movimento provou-se potente, como em Jundiaí (SP), um dos municípios que compõem a Rede Urban95 Brasil por acreditar que o bem-estar dos bebês e das crianças é o melhor indicador para qualificar uma cidade vibrante, próspera e saudável.

Marcelo Peroni, gestor de Cultura de Jundiaí, durante encontro do Comitê das Crianças (Foto: Felipe Cardoso/Urban95)

“Normalmente, a relação das crianças com a cidade é quase nenhuma, é construída a partir das imagens vistas pela janela do carro”, avalia Sylvia Angelini, diretora do departamento de Urbanismo, planejamento urbano e meio ambiente da cidade de Jundiaí. Para Marcelo Peroni, gestor da unidade de Gestão Cultural de Jundiaí, “uma cidade que é melhor para as crianças tem mais compromisso com a vida. A cidade como um todo precisa ser uma área possível de convivência”.

A criação de um Conselho de Crianças para consulta aos pequenos sobre algumas ações do município voltadas a esse público incrementou a participação social no município, tão importante para garantir a longevidade dos projetos. O Comitê é composto atualmente por 12 meninos e 12 meninas. “Nós, cidades, temos que nos unir. Não podemos ser uma ou 10 cidades das crianças. Devemos almejar um Brasil cheio de cidades que escutam e valorizam os direitos das crianças”, afirma Peroni.

Assista ao filme e conheça melhor a cidade:

Ações intersetoriais garantem conexão com natureza e infâncias saudáveis

O momento pede atenção à saúde das crianças. Dados medidos durante a pandemia de Covid-19 apontam que a prevalência de sintomas de ansiedade e depressão infantil dobrou, chegando a um percentual de 25,2%. Segundo especialistas, parte importante da causa está na redução do contato com a natureza – o número de crianças que brincavam ao ar livre uma vez por semana caiu de 50% para 34%, no Brasil. A boa notícia é que o tratamento é a própria cidade. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda acesso diário a ambientes verdes e naturais, acolhedores e seguros, onde seja possível brincar livremente por pelo menos uma hora. É tarefa do poder público e das gestões municipais estimular o desemparedamento.

Na opinião do pediatra e sanitarista Daniel Becker, a pandemia agravou um problema que já enfrentávamos no contexto das infâncias urbanas e que só será remediado com investimento na primeira infância, em políticas públicas e na garantia de direitos. “Vivemos em uma sociedade desigual e injusta, em que as pessoas têm pouco tempo fora das extensas jornadas de trabalho, pouco acesso a áreas verdes próximas de casa e vivem com medo da violência. A resposta é emparedar as crianças e recorrer às telas, o que traz prejuízos importantes à saúde e uma epidemia de hipermedicalização”. As consequências envolvem atraso no desenvolvimento, deficiência de linguagem, problemas de sono e memória, déficit de atenção e hiperatividade.

Micro parques naturalizados em Fortaleza (CE) (Foto: Felipe Cardoso/Urban95 Brasil)

Para Daniel, é preciso ter um olhar específico para a infância nesse momento e garantir as condições necessárias para recuperar as perdas de desenvolvimento e de saúde psíquica, emocional e mental deste período, que ainda estamos atravessando. Um passo fundamental é desconfinar as crianças e devolver a elas o direito ao livre brincar. “É preciso cultivar uma urbanidade de melhor qualidade. Investir em cidades voltadas para as famílias e em ambientes acolhedores que estimulem atividades externas. A natureza é o melhor lugar para uma criança brincar e a brincadeira é a melhor atividade para ela. Verdejar as cidades melhora a qualidade de vida em múltiplos sentidos”.

A coordenadora das áreas de cidade e educação do programa Criança e Natureza, Paula Mendonça, concorda com a prescrição: “Natureza, na infância, sempre foi saúde e, nesse momento, é também remédio. Tem um papel restaurativo fundamental e é muito importante retomar e ampliar esse contato”. Paula chama atenção para o papel dos espaços naturais no desenvolvimento integral infantil. “A natureza sempre foi palco do desenvolvimento humano e de todas as nossas habilidades físicas e emocionais. A diversidade de espécies, formas e de fenômenos favorece o desenvolvimento cognitivo pela curiosidade, como um laboratório investigativo. E acolhe a diversidade de ritmos das crianças”.

Ideias para desemparedar e trazer a natureza para o dia a dia

Se a receita é desemparedar, como podemos fazer diferente e garantir o direito das crianças à cidade e à natureza? Para Paula, o fundamental é que os espaços verdes façam parte do cotidiano, o que, para muitos, ainda não é uma realidade. Em pesquisa recente que ouviu mil famílias em todo o Brasil, 42% dos entrevistados disseram não ter uma área verde adequada próxima a suas casas. É urgente, portanto, que os ambientes naturais sejam bem distribuídos entre os bairros, planejados e conservados de modo a permitir que as crianças os frequentem diariamente.

A estratégia mais eficiente inclui uma resposta sistêmica, com responsabilidades compartilhadas e participação da comunidade e dos diversos atores da gestão pública. É importante que diferentes setores estejam envolvidos – saúde, educação, assistência social, esporte e lazer, desenvolvimento urbano e meio ambiente – colaborando e pensando juntos propostas coletivas que priorizem os direitos das crianças e acolham seus cuidadores.

Ações integradas resultam em iniciativas como os micro parques naturalizados Seu Zequinha e José Leon, em Fortaleza (CE), cidade que faz parte da rede Urban95. Desenvolvidos a partir de um projeto intersetorial pioneiro no país, os parques verdes e multifuncionais, que revitalizaram áreas esquecidas e degradadas, foram concebidos com participação popular e têm a proposta de servir de modelo para outros 40 espaços.

Esses espaços verdes se conectam com escolas e outros equipamentos públicos frequentados pelas crianças no dia a dia, para que as famílias não sejam as únicas responsáveis pelo contato direto e frequente com a natureza. “As necessidades infantis precisam ser priorizadas nos instrumentos municipais de planejamento. Uma cidade boa para as crianças é uma cidade boa para todos e a responsabilidade de cuidado, proteção e promoção de uma boa infância é de toda a sociedade e das instituições”, lembra Paula.

As crianças têm o direito de brincar ao ar livre (Foto: Felipe Cardoso/Urban95)

Cidades mais verdes: por onde começar

Por Paula Mendonça*

Cinco pontos essenciais para o poder público começar a priorizar a conexão das crianças com a natureza:

1. Aumento e distribuição de áreas verdes e espaços naturais na cidade

É fundamental garantir ambientes com biodiversidade como parques e praças, bem cuidados e de fácil acesso, em todos os bairros. Para que o contato com a natureza faça parte do cotidiano, é importante que as famílias possam chegar a estes espaços a pé e frequentá-los sem preocupações em relação a segurança, comodidade, conservação e limpeza.

2. Segurança viária e planejamento de trajetos e caminhos

Para que os trajetos sejam parte da vivência ao ar livre, é preciso planejar os caminhos para permitir segurança e autonomia: As ruas são seguras e sombreadas? As calçadas são acessíveis para pessoas com deficiência, idosos e cuidadores com carrinhos de bebê? Há bancos e pontos em que seja possível parar, se necessário? As sinalizações de perigo na malha viária estão na altura da criança?

3. Esverdeamento dos equipamentos públicos

Escolas, CRAS, unidades de saúde e demais equipamentos públicos frequentados pelas crianças e seus cuidadores podem ser aliados importantes para garantir os benefícios do contato com a natureza, investindo em áreas verdes e elementos naturais nos pátios e espaços internos de convivência e lazer.

4. Planejamento intersetorial

A formação de grupos intersetoriais de planejamento é um ponto chave para a construção de cidades mais verdes e amigáveis, que priorizem as necessidades das crianças em seu plano diretor e incluam o direito à natureza no Plano Municipal pela Primeira Infância. Um planejamento integrado permite uma visão global das necessidades e mais eficiência na distribuição dos orçamentos.

5. Participação infantil

Espaços de escuta e participação infantil fomentam a formação cidadã e permitem às crianças compartilhar seus desejos, fazer parte dos processos de decisão e sonhar a cidade onde vivem, desenvolvendo um sentimento de pertencimento.

*Paula Mendonça é coordenadora das áreas de cidade e educação do programa Criança e Natureza

Tecnologia na infância: riscos e oportunidades

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o uso de telas e tecnologia na infância, mesmo que de forma passiva, está associado a inúmeros impactos no seu crescimento e desenvolvimento, como na primeira infância, atrasos na fala e linguagem, transtornos de sono, transtornos mentais futuros, déficit de memória e atenção, além de outros distúrbios.

Continue reading

Cidades mais verdes e amigáveis para desemparedar a infância

Como garantir o direito das crianças à cidade e à natureza? O webinar Desemparedamento das infâncias: por uma cidade mais verde discutiu ideias e estratégias para criar espaços abertos e com elementos naturais, seguros e integrados ao dia a dia. O encontro, com participação de Paula Mendonça, coordenadora das áreas de cidade e educação do programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, faz parte das iniciativas Urban95 e reuniu representantes das cidades da rede na manhã de 31 de janeiro. Esta edição teve ainda a presença de Claudius Ceccon, fundador do CECIP – Centro de Criação de Imagem Popular, instituição organizadora do webinar.

Felipe Cardoso/Urban95

A conversa foi conduzida por Claudia Vidigal, representante da Fundação Bernard van Leer no Brasil, que introduziu o tema propondo uma reflexão sobre possibilidades para vivermos com menos paredes e muros e mais conexão entre espaços: “Essa vem sendo a ideia da Rede Urban95. Tem aparecido um desejo de integração, de olhar para fora e pensar como a gente integra a escola com a praça, com os caminhos, com os serviços”.

Na sequência, a supervisora da iniciativa Urban95 no CECIP, Bianca Antunes, apresentou um panorama das ações realizadas nos municípios acompanhados pela organização. Entre os destaques, a plenarinha de Canoas (RS), para incluir a escuta das crianças nos diagnósticos do PMPI, a primeira edição do projeto Ruas Brincantes, em Uruçuca (BA), e os workshops sobre comunicação e mudança de comportamento com o consultor da Fundação Bernard van Leer Sam Sternin, em Mogi das Cruzes (SP) e São José dos Campos (SP).

Ideias para favorecer o brincar livre e o aprendizado na natureza

Trazendo um retrato das infâncias urbanas atuais – crianças passando 90% do tempo em espaços fechados, média de 5 horas em frente às telas e menos de 1hora por dia ao ar livre – Paula Mendonça explicou o conceito de desemparedamento e falou sobre os benefícios de conviver com a natureza para o desenvolvimento infantil. “Natureza é saúde na infância. É um laboratório de investigação para as crianças, que se relacionam e se vinculam com o ambiente através da inteligência do seu corpo, da movimentação e do brincar livre”, afirmou.

E como favorecer a criação de cidades mais verdes, acessíveis e amigáveis às crianças? Para Paula, a solução está em oferecer uma resposta sistêmica e multisetorial, com atuação de áreas diversas da gestão municipal, participação da comunidade e escuta infantil. Parques naturalizados, rotas seguras para andar a pé e aprender pelo caminho, ruas de lazer e intervenções lúdicas para brincar nos deslocamentos são algumas das possibilidades.

As inspirações foram muitas: enquete on-line sobre memórias de infância, referências de vídeos e publicações para se aprofundar no assunto, exemplos de cidades que estão promovendo o desemparedamento no Brasil e pelo mundo, e, para finalizar, um relato de Hannah Mendes, representante de Fortaleza (CE), que contou sobre sua experiência com a implantação de micro parques naturalizados, projeto pioneiro no Brasil, hoje replicado em outras regiões.

Para saber mais, confira o vídeo completo do encontro, que também contou com momentos de troca entre os participantes.

Cidades da rede Urban 95 discutem como criar crianças sem violência

Motivados por descobrir quais são as questões básicas que afligem as famílias e que aparecem como desafio nas relações com as crianças, a Fundação Bernard van Leer, por meio da rede Urban95 Brasil, convidou os municípios a pensarem sobre os temas que são necessários para que os gestores se atentem ao apoiar as famílias e garantir os direitos das crianças.

“Para a gente não olhar só para os espaços públicos, para as praças, para este monte de coisa que as cidades também precisam, querem e vão olhar, mas também olhar para as coisas básicas. Foi um processo super bonito de escuta da cidades”, diz a representante da Fundação Bernard van Leer no Brasil, Claudia Vidigal.

“É necessário interromper os ciclos de violência”, afirma psicanalista especialista em comunicação consciente (Foto: Felipe Cardoso/Urban95 Brasil)

Entre os temas levantados com mais urgência estão a não violência e as maneiras de empoderar famílias para criar crianças, tema debatido no dia 4 de fevereiro no “Webinar Chuva de ideias – Educação não violenta”, que teve a educadora parental Elisama Santos como convidada palestrante e foi conduzido pela Allma Hub Criativo, organização especialista em comportamento e parceira técnica da Rede.

“Para muito além do não bater ou não gritar com as crianças é importante percebermos a importância da não violência para as cidades e interromper os ciclos de violência”, afirmou a psicanalista especialista em comunicação consciente.

Elisama motivou os gestores das cidades a entenderem que a violência está inserida em um contexto social que precisa mudar por inteiro, para que mudem as relações interpessoais: “Não é somente sobre bater ou não bater, não é somente o imediato. Estamos falando de uma construção do que é o normal”.

A violência física e psicológica ainda é um grande problema dentro das famílias, aponta a pesquisa “Primeira Infância para Adultos Saudáveis”, realizada com 7.038 cuidadores de crianças de 0 a 5 anos residentes em 16 municípios cearenses, incluindo a capital, Fortaleza.  No total, 84% dos pais entrevistados acreditam ser necessário palmadas ou castigo para educar. Os dados evidenciam a importância de preparar os profissionais que trabalham com as famílias.

“Nós não ensinamos as crianças a lidarem com sentimentos porque também não fomos ensinados. É responsabilidade de todos nós enquanto gestores, enquanto comunidade, ensinar as crianças a lidarem com sentimento porque isso é a base da não violência. A base da não violência é essa responsabilidade emocional, a empatia com o sentimento do outro. Isso só é possível quando sei reconhecer meu limite”, explica Elisama, que é autora do livro “Conversas corajosas: Como estabelecer limites, lidar com temas difíceis e melhorar os relacionamentos através da comunicação não violenta”.

A pesquisa também evidencia as diferenças de gênero que envolvem o tema. As mulheres são as maiores responsáveis pelos cuidados com as crianças e as mais sobrecarregadas mentalmente. “Isso que você está sentindo, essa vontade de esganar essa criança é normal, é humana. Você está cansada”, exemplifica a psicanalista, dirigindo-se às mães. Ela provoca os participantes a pensarem como as políticas públicas podem auxiliar as mães para que tenham um mínimo de apoio possível. “Para que ela não esteja com essa dor. Quando nosso barulho interno está muito alto, qualquer barulho externo vai enlouquecer a gente.”

“Essa mãe não sabe que aquela criança tem dificuldade de entender o conceito de ‘não’, que aquela criança não está desafiando ela. Para entender tudo isso, a gente precisa de apoio, de estudo, de entendimento, pois temos uma uma ignorância gigantesca de como nosso corpo funciona, de como nós funcionamos, as especificidades de cada um de nós”, completa Elisama.

Depois de todo este acúmulo trazido por Elisama, os gestores dos municípios foram convidados a fazer um exercício de propor mudanças na educação e na saúde, numa chuva de ideias. E se as dicas de educação não violenta estivessem na carteira de vacinação das crianças? E se as professoras de Educação Infantil recebessem capacitação sobre alfabetização emocional?

Todas as ideias serão organizadas pela Allma Hub Criativo, que serão sistematizadas e devolvidas para as cidades como estratégias e possibilidades e viabilidade de implantação.

Assista ao webinar completo:

Emergência climática e primeira infância: qual é a relação?

O planeta enfrenta crises socioambientais e políticas, em grande medida uma resposta das mudanças climáticas que já estão em curso no planeta. Resultado da atuação humana, suas consequências podem ser sentidas em todo o mundo, mas sabemos que algumas pessoas são mais vulneráveis a suas consequências do que outras.

Quando atingidas por eventos climáticos extremos, as crianças são as que mais facilmente morrem ou sofrem prejuízos em suas condições de vida. Seja por enchentes, secas, queimadas, poluição, tempestades ou outros eventos. As consequências passam pela insegurança alimentar, acesso à serviços e direitos básicos, como água potável. Os efeitos são claros: desnutrição e diarreia, deslocamentos forçados e proliferação de doenças, impactando diretamente o direito à vida, à saúde e um desenvolvimento pleno.

Não apenas as futuras gerações estão ameaçadas. Hoje, 160 milhões de crianças vivem em áreas de secas e outras 500 milhões em zonas de enchentes recorrentes, além das 115 milhões que convivem com ciclones. Para elas é urgente dar condições saudáveis de desenvolvimento para toda essa geração.

São as crianças pequenas as mais afetadas pela emergência climática

Famílias com crianças na primeira infância têm direitos garantidos por lei 

Por estarem em um período único do seu desenvolvimento, as crianças com até 6 anos são as mais vulneráveis, tanto social como biologicamente. Com seus sistemas nervoso-cerebral e imunológico ainda em desenvolvimento, se apresentam como vítimas ideais de doenças e violências resultantes de eventos climáticos adversos. 

Também são os mais afetados pela poluição ambiental. Seus pulmões têm de 2 a 3x a capacidade de absorção de poluentes por grama de massa corporal. As crianças andam pelas ruas na altura de onde os carros emitem seus gases, o que aumenta também sua expsição.

A OMS estima que 88% das doenças resultantes das mudanças climáticas ocorrem em crianças de até 5 anos e, após eventos climáticos extremos, são mais facilmente atingidas pelo trabalho infantil e exploração sexual. 

Desigualdade social e emergência climática

Famílias vulneráveis com crianças pequenas demandam atenção dos gestores e planejadores urbanos

E como em outros temas, as desigualdades se acumulam e andam juntas. As crianças de grupos minoritários, como negros, quilombolas, ribeirinhos e indígenas,  também são as mais atingidas pelas alterações climáticas, o racismo ambiental.

Para proteger nossas crianças, e assim o futuro do planeta, é urgente enfrentar os desafios climáticos e socioambientais. Planejar e executar políticas mais efetivas para reduzir as emissões de CO2 e proteger as comunidades é um imperativo para que as crianças na primeira infância sejam menos afetadas pela emergência climática e possam acessar políticas de cuidado e segurança social.

A importância de brincar com elementos da natureza na primeira infância

Brincar na natureza é fundamental para o desenvolvimento integral das crianças na primeira infância, pois são ambientes livres e instigantes, propícios ao aprendizado e ao desenvolvimento da linguagem. Esse contato com elementos da natureza apoia todos os marcos de uma infância saudável – imunidade, memória, capacidade de aprendizado, sociabilidade e disposição física. Pesquisa do Programa Criança e Natureza, do Instituto Alana e da Sociedade Brasileira de Pediatria, aponta ainda que esses benefícios são mútuos: assim como as crianças precisam da natureza, a natureza precisa delas.

É brincando ao ar livre que as crianças aprendem sobre o mundo, inclusive sobre a importância de cuidar e preservar seus ambientes. A natureza também estimula relações sociais e de vizinhança mais vibrantes, pois podem se tornar espaços de convivência, lazer e brincadeiras. Para as crianças, o brincar na natureza é importante para a criatividade em formação, especialmente para aquelas crianças que estão crescendo em grandes centros urbanos.

Os elementos da natureza ajudam as crianças a criarem um senso de autorregulação e gerenciamento de riscos, estimulam a prática de atividade física, combatendo a obesidade e outros problemas, assim como influencia positivamente a redução dos sintomas de condições comuns hoje em dia, como o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. São inúmeros os benefícios para a saúde geral dos bebês e crianças pequenas, com consequências diretas e indiretas para pais e cuidadores.

O que as cidades estão fazendo?

Conheça iniciativas apoiadas pela rede Urban95 Brasil na construção de cidades mais amigáveis para as crianças

Na natureza são inúmeros os estímulos ao aprendizado e desenvolvimento integral das crianças na primeira infância, o que pode ser um desafio para aquelas crianças que vivem em cidades. Mas existem intervenções e metodologias que podem trazer mais verde e espaços de convivência e brincar livre. Conheça algumas ações das cidades brasileiras:

Niterói

Caminhos mais verdes para pedestres e ciclistas

Em parceria com a Rede Urban95, a Prefeitura de Niterói está requalificando um trecho para pedestres e ciclistas com foco na circulação de crianças de 0 a 6 anos. O Rotas Caminháveis é um projeto intersecretarial que pensa na criação de trajetos lúdicos e interativos para proporcionar um caminhar agradável e seguro para as crianças e famílias. Ao longo de toda a rota-piloto, parte do espaço destinado para os carros foi transformado em espaço para os ciclistas e pedestres.

Uma ciclofaixa foi instalada com a pintura de “vagas verdes”, aumentando a largura da calçada e melhorando a qualidade ambiental do percurso e a segurança dos pedestres. Floreiras foram instaladas no trajeto, criando uma zona de proteção. Dezenas de vagas de carros foram retiradas, impactando na qualidade do ar e gerando menos poluição visual e experiências mais promissoras para o desenvolvimento das crianças pequenas.

Fortaleza

Microparques naturalizados mudam a cara da cidade

Fortaleza foi a primeira das cidades a criar um projeto-piloto de parques naturalizados dentro do programa Fortaleza Mais Verde. A capital cearense já conta com dois parques naturalizados, espaços urbanos verdes que oferecem mais uma opção de natureza para bebês, crianças e famílias. A ideia é utilizar elementos da natureza, como galhos e árvores, além da própria geografia local, para desenvolver espaços infantis.

Além de um espaço de lazer e descanso, “bolhas verdes” como essa ajudam a amenizar as temperaturas nas cidades, incentivam a biodiversidade, a ocupação do ambiente público e o estreitamento das relações comunitárias, mostrando como iniciativas de escala local podem beneficiar a todos. Áreas degradadas foram recuperadas para o uso de crianças e famílias, com benefícios sociais e ambientais, e transformadas em “microparques” urbanos.

Caruaru

Conectando rotas infantis com zonas verdes e saudáveis

A cidade está investindo na instalação de parques naturalizados ao longo de rotas de pedestres com o objetivo de conectar áreas escolares e espaços públicos, fazendo da circulação na cidade uma oportunidade de colocar as crianças em contato com a natureza. Caminhos mais verdes, lúdicos e seguros e que incentivam o brincar, a prática esportiva e o lazer.

As áreas ao redor dos dois parques já instalados também sofreram intervenções urbanísticas para que se tornem mais seguras para as crianças pequenas e suas famílias. Elementos de xilogravura foram inclusos para dar mais identidade e aproximar a comunidade dos espaços.

A importância das brincadeiras na primeira infância

Brincar é uma atividade universal e tem função crucial no desenvolvimento e capacidade de aprendizado de uma criança. A organização cultural de uma sociedade pode influenciar os tipos de brincadeiras que as crianças experimentam, onde e com quem essas atividades acontecem. Sob o ponto de vista das crianças, a importância do brincar na primeira infância se relaciona com sua liberdade de experimentar o mundo e a possibilidade de escolher seus amigos.

As brincadeiras na primeira infância trazem benefícios sociais, emocionais e cognitivos. Os bebês aprendem sobre eles próprios e sobre o mundo com interações lúdicas e brincadeiras simples com seus pais e cuidadores. Como os excelentes observadores que são, beneficiam-se de brincadeiras de imitação, que tendem a criar interesse por parte dos pequenos. As crianças pequenas têm nas brincadeiras elementos de interação que são impulsos importantes para seu desenvolvimento físico e social ao inventar brincadeiras, dividir objetos e se relacionar por meio de jogos e brincadeiras.

Do faz de conta à ciência

Os bebês e crianças pequenas são os mais criativos exploradores 

As brincadeiras de faz de conta, por exemplo, dão a base para o desenvolvimento de habilidades de empatia, a capacidade de colocar-se no lugar do outro, de planejar em grupo e de autorregulação. As brincadeiras na primeira infância se relacionam com movimento e criatividade e, especialmente quando sob a supervisão de um adulto, introduzem as crianças a novas linguagens e experiências intelectuais.

Pesquisas já demonstraram que a liberdade de explorar, descobrir e ser inventivo é a base intelectual que vai permitir sua escolarização, seu interesse pela ciência e a descoberta do mundo ao seu redor. Durante os primeiros anos de vida, a exploração do mundo se dá de forma prática, com as mãos na terra e a descoberta de sua vizinhança, seu bairro e sua cidade. Para tal, é importante que as cidades invistam em espaços adequados para o brincar na primeira infância e que a comunidade se aproprie dos espaços lúdicos coletivos.

Cidades que proporcionam oportunidades de brincar são melhores para as crianças pequenas e seus cuidadores

As possibilidades de exploração interativa e brincadeiras ajudam a moldar a experiência no território 

Apesar de sua importância para a saúde, bem-estar e desenvolvimento cognitivo, as brincadeiras na primeira infância raramente são levadas a sério pelos gestores, planejadores urbanos, governos e tomadores de decisão. Seja por omissão ou desconhecimento sobre a importância do brincar na primeira infância livre e interativo. Mesmo que as crianças pequenas não percam sequer uma oportunidade de explorar o seu entorno em busca de opções de brincadeiras, é importante que os espaços disponíveis para elas sejam limpos, seguros, acessíveis e cercados de oportunidades interativas.

Para que as crianças possam correr, brincar, explorar, imaginar e se sujar, os pais e cuidadores devem sentir que o espaço da cidade é adequado para sua idade e receptivo com suas necessidades específicas. E para que a brincadeira das crianças já em idade escolar não se circunscreva ao aprendizado curricular, é fundamental que as cidades apostem em espaços públicos verdes, onde as crianças possam ter contato com a natureza e elementos naturais, compartilhando experiências criadas com outras crianças da vizinhança. A cidade pode convidar ao brincar na primeira infância com benefícios para todos.

Conheça algumas Atividades para Primeira Infância

Transformar comportamentos para ativar a cidade

O que faz uma nova praça ser utilizada? Ou uma campanha de vacinação ser adotada pela comunidade? Quais estratégias podem contribuir para que cuidadores utilizem serviços desenhados para eles? Antes de mais nada, é preciso transformar comportamentos.

Esse foi o foco do webinar Comunicação e mudança de comportamento, da Urban95, realizado por Sam Sternin, consultor da Fundação Bernard van Leer. O especialista tem mais de 15 anos de experiência trabalhando com mudança de comportamento e gestão adaptativa, em parceria com agências da ONU, ONGs, fundações privadas e governos locais e nacionais.

Realizado no dia 3 de dezembro de forma on-line, o evento contou com a presença de representantes das 11 cidades que entraram na Rede Urban95 em 2021. Esses municípios estão sendo acompanhados pelo CECIP Centro de Criação de Imagem Popular, responsável pela organização do webinar.

O encontro foi iniciado com a fala da representante da Fundação Bernard van Leer, Claudia Vidigal, celebrando os primeiros meses de trabalho das 11 cidades e as conquistas já realizadas nesse tempo. “Essa é uma rede que vai se construindo nas relações entre as cidades, mas sobretudo na relação entre as pessoas”, destacou.

A mudança de comportamento e a Urban95

Sam Sternin introduziu a temática contextualizando que a ideia da iniciativa Urban95 é criar uma cidade que contribua para transformar comportamentos, e não apenas o ambiente físico. Dessa forma, é possível construir uma cidade que funciona para todos e todas.

Isso não é fácil – afinal, quantos de nós sabemos que fazer algo é errado e mesmo assim fazemos? Por isso, para haver uma mudança efetiva de comportamento não basta apenas promover a informação.

“Nossa missão não é apenas informar os cuidadores sobre os bons comportamentos, precisamos ajudá-los a superar a lacuna entre as boas intenções e as boas práticas”, explicou. É preciso construir ferramentas efetivas de comunicação e engajamento, essenciais para informar e impulsionar novas ações, hábitos e garantir que espaços, programas e serviços sejam utilizados pela comunidade.

Para superar as barreiras, é necessário identificar os motivadores comportamentais que bloqueiam a mudança e desenvolver soluções com base nos resultados. “Diferentes tipos de barreira requerem diferentes tipos de suporte, de apoio, de ajuda e diferentes ações para permitir que a pessoa as supere”, explicou. O evento contou com dinâmicas de identificação de barreiras, criação de soluções para e estudos de casos concretos.

Quer saber mais? Confira o vídeo completo do Webinar Comunicação e mudança de comportamento, da Urban95:

Caruaru é a primeira cidade da Rede Urban95 a receber um alerta de risco no projeto alertas primeira infância

Caruaru recebeu nesta semana no dia 8/12 a visita de Filipe Rocha, do Instituto de Tecnologias Geo-Sociais (ITGS), para validar os resultados do primeiro alerta de risco implantado pelo projeto Alertas Primeira Infância no município. Além da validação do alerta “criança fora da escola”, foram discutidas possíveis ações de resposta e verificados outros importantes dados para a primeira infância no município.

Resultados do alerta serão utilizado no projeto municipal Criança na Creche

O trabalho intersetorial envolveu as secretarias de planejamento (SEPLAG), saúde (SMS), educação (SEDUC) e assistência social (SDSDH), além de visitadores do programa Criança Feliz. A partir da integração de dados do E-SUS, Cadastro Único, Bolsa Família, matrículas escolares e lista de espera da educação foi possível identificar pela plataforma quais crianças do município não estão matriculadas na rede municipal de ensino e que também não constam nas listas de espera por vagas.

Partindo de um caso identificado pelo alerta, foram discutidos os atuais protocolos de busca ativa realizada tanto pela educação quanto pelo programa Criança Feliz, e também o papel da plataforma no monitoramento do caso, concentrando o registro das informações geradas no acompanhamento das equipes.

Os resultados do alerta serão utilizados no programa municipal Criança na Creche, que visa colocar crianças em vulnerabilidade nas escolas. Desta forma, os resultados do projeto colaboram na otimização das buscas ativas da educação e da assistência social e auxiliam Caruaru no desafio de levar crianças para a educação infantil nas unidades de ensino que já estão construídas.

Servidoras e ITGS discutem monitoramento do alerta

SOBRE O PROJETO ALERTAS PRIMEIRA INFÂNCIA

Fruto da parceria entre o Instituto de Tecnologias Geo-Sociais (ITGS) e a Fundação Bernard van Leer, o Projeto Alertas Primeira Infância tem como objetivo fortalecer a cultura de dados e identificar crianças e gestantes em situação de risco nos municípios da Rede Urban95. Por meio de uma plataforma de integração de dados que incorpora a perspectiva dos serviços públicos municipais, o projeto visa apoiar os municípios no desenvolvimento de ações de cunho tecnológico que melhorem e monitorem a qualidade de vida na primeira infância.

Cidades da Rede Urban95 trocam experiências no último webinar de 2021

O webinar de encerramento dos trabalhos da Rede Urban95 Brasil em 2021 apresentou um panorama da experiência das cidades brasileiras que estão pensando e intervindo em seus espaços públicos a partir das necessidades dos bebês, crianças pequenas e cuidadores. O evento on-line ocorreu no dia 03 de dezembro e reuniu 10 cidades da Rede para um encontro de trocas e confraternização.

Ao final de um ano de trabalho, os municípios começam a colher os frutos de todos os esforços realizados pela primeira infância, como intervenções instaladas pelas cidades, campanhas de mudança de comportamento e passos certeiros para a confecção de planos e leis municipais que garantam os direitos das crianças.

A representante da Fundação Bernard van Leer no Brasil, Claudia Vidigal, destacou os caminhos trilhados na construção dos planos locais pela primeira infância que deverão ser o foco da Rede no próximo ano. “Em um momento em que a população brasileira está especialmente vulnerável, é importante voltar aos básicos e olhar para as demandas de assistência social, saúde e educação. Tenho certeza que 2022 será um ano de muitas realizações para a Rede Urban95 Brasil.”

Fortaleza (CE)

Mariana Gomes, gerente de projetos no Laboratório de Inovação da Prefeitura de Fortaleza, apresentou ao grupo o histórico de políticas para a primeira infância no município, com aprovação de um completo Plano Municipal pela Primeira Infância, ainda em 2014. Com uma proposta de integração de programas e políticas, o documento vem se desdobrando em diversas ações nos últimos anos.

Com a entrada na Rede Urban95 Brasil, Fortaleza conquistou dois microparques urbanos para a cidade – espaços com elementos de parques naturalizados e que contaram com participação ativa da comunidade para sua elaboração. Implantados em áreas socialmente vulneráveis da cidade, tornaram-se respiros verdes para as crianças e famílias.

Crato (CE)

Na cidade cearense de Crato, o destaque foi para as intervenções lúdicas, que aproveitaram as escadarias da cidade para transmitir a ideia de direitos das crianças para toda a comunidade. Desenhos e mensagens estampando conceitos de forma colorida e lúdica. O investimento somente permitiu a intervenção ao redor de um centro educacional, tornando o trajeto preferencial das crianças mais interessante e atrativo.

Além dos avanços na elaboração do plano municipal temático, a cidade está recebendo uma consultoria da parceria Allma Hub Criativo para desenvolver um projeto voltado à parentalidade e educação não violenta, pensando em ambientes mais acolhedores e responsivos para o desenvolvimento dos futuros cidadãos.

Brasileia (AC)

Membro do Comitê Municipal Intersetorial dos Programas Primeira Infância Acreana e Criança Feliz, no município de Brasileia, Fabrício Rocha contou sobre a experiência de revitalização da Praça Leonardo Barbosa, com uma proposta voltada ao lazer de crianças. Já na praça Hugo Poli, foram feitas pinturas interativas e um cantinho da leitura para promover o hábito de ler livros entre as crianças e famílias.

O coreto da cidade também foi revitalizado para esse público e agora conta com um espaço de leitura e contação de histórias. Recentemente, a cidade recebeu uma visita de equipes técnicas do projeto Urban95, e para 2022 novas ações devem inspirar Brasileia.

Aracaju (SE)

Cecília Leite, da Prefeitura de Aracaju, compartilhou a experiência da cidade pela implementação do Plano Municipal pela Primeira Infância. Com o estabelecimento de um grupo intersetorial, a cidade conseguiu fazer um amplo levantamento de indicadores e um robusto diagnóstico sobre bebês, crianças e cuidadores.

A cidade segue com uma agenda densa para avançar em 2022! Com a metodologia do Pé de Infância, a cidade está desenvolvendo ações em conjunto com a comunidade, que sugeriu novas intervenções.

Ilhéus (BA)

A cidade baiana está finalizando a implementação de intervenções do projeto Pé de Infância dentro de uma unidade do Centro de Referência de Assistência Social (Cras), uma proposta apresentada pela representante da Prefeitura Municipal de Ilhéus, Joelia Sampaio.

A cidade também está em diálogo com um centro universitário local para pensar em outras intervenções no território. Essa conexão com a comunidade potencializa o trabalho da cidade e contribui para a implementação de políticas cada vez melhores.

Pelotas (RS)

Carmem Roig, da Prefeitura de Pelotas, trouxe uma retrospectiva das políticas já desenvolvidas na cidade com foco em crianças pequenas e cuidadores, como programas de atendimento à primeira infância voltados à educação psicossocial. A cidade investe na promoção dos cuidados interativos e cultura de cuidado e segurança para a primeira infância, incluindo as gestantes.

A cidade comemora ainda a criação do Comitê Intersetorial em 2021, passo importante para reunir programas e concentrar sinergias locais. A novidade para o próximo ano é o projeto de qualificação de vias de acesso, calçadas e muros próximos a centros de saúde e de educação, áreas com grande fluxo de crianças.

Niterói (RJ)

Kallena Lima, da Prefeitura de Niterói, falou sobre a estratégia da cidade para o ano que se encerra, muito voltada à sensibilização das secretarias, formação de grupos de trabalho e novas parcerias. O próprio prefeito fez a assinatura de carta-compromisso pela primeira infância, reforçando o compromisso coletivo da gestão com a pauta.

Merecem destaque também programas como o Pedal das Crianças e Infância mais Verde, que traz um compilado de programas ligados à sustentabilidade. A proposta é fazer o monitoramento da qualidade do ar à altura de uma criança e ao longo de rotas com grande circulação delas. Uma tentativa de olhar sob a perspectiva dos 95 cm, literalmente.

Campinas (SP)

Thiago Ferrari apresentou os avanços do Programa Primeira Infância Campineira, um plano completo para a construção de uma cidade mais amigável para crianças no interior de São Paulo. Ele reforçou a importância da sensibilização dos secretários municipais e técnicos que atuam em áreas de interesse da primeira infância na cidade.

A cidade de Campinas espera que a base concreta que vem sendo desenvolvida vá se transformar em ações concretas em 2022, com foco na mudança de comportamentos e na adoção da pauta da primeira infância.

Jundiaí (SP)

Marcelo Peroni destacou o engajamento pessoal do prefeito de Jundiaí na agenda da primeira infância, mas também a importância da intersetorialidade e do engajamento da equipe técnica. A cidade comemora um completo Observatório da Primeira Infância, hoje com 117 indicadores com enfoque sobre esse público.

A cidade conta ainda com o Comitê das Crianças, instituído desde 2018, em que participa ativamente no processo de construção de políticas e priorização de demandas. A cidade agora está investindo em projetos de promoção do contato com a natureza, com plantio de árvores e hortas urbanas.

Caruaru (PE)

Julianne Pepeu contou para a Rede Urban95 sobre o realinhamento do plano municipal que já existia na cidade, mas que nunca havia sido implementado. Com apoio do Instituto da Infância (Ifan), a cidade conseguiu realizar a reescrita do plano de forma que refletisse mais a realidade local.

A cidade comemora outra grande realização: a implementação de dois parques naturalizados que promovem o brincar ao ar livre, o desemparedamento das crianças e o uso dos espaços públicos. A comunidade está recebendo instruções sobre o uso e cuidado com o espaço, e campanhas de conscientização sobre a importância do contato com os ambientes naturais estão apoiando a população nessa aproximação.

Em 2022, as 24 cidades que integram a Urban95 Brasil seguirão em rede para ampliar a agenda da primeira infância no Brasil. São elas: Aracaju (SE), Boa Vista (RR), Brasileia (AC), Campinas (SP), Caruaru (PE), Crato (CE), Fortaleza (CE), Ilhéus (BA), Jundiaí (SP), Niterói (RJ), Pelotas (RS), Recife (PE), São Paulo (SP), Alcinópolis (MS), Alfenas (MG), Benevides (PA), Canoas (RS), Cascavel (PR), Mogi das Cruzes (SP), Paragominas (PA), São José dos Campos (SP), Sobral (CE), Teresina (PI) e Uruçuca (BA).

É hora de Natureza: pesquisa aponta que 87% das famílias notaram que a natureza fez muita falta para as crianças

Mil mães, pais e responsáveis por crianças brasileiras de 0 a 12 anos, foram entrevistados para a pesquisa “O papel da natureza para a saúde das crianças no pós-pandemia”, sobre os impactos do afastamento repentino que sofremos da natureza. O levantamento propõe um olhar sobre as crianças que vivem em centros urbanos e a urgência de retornarmos ao verde.

Como parte da Campanha É hora de Natureza, o estudo inédito foi idealizado pelo programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, em parceria com a Fundação Bernard Van Leer e o WWF-Brasil. A execução foi da Rede Conhecimento Social, com uma abordagem quantitativa, via questionário, e outra qualitativa, com 10 famílias.

Para os cuidadores os impactos positivos do contato com a natureza são claros, com 75% das famílias afirmando que querem aumentar o contato com a natureza no pós-pandemia, levando as crianças mais vezes para praças e parques, já que perceberam que isso as ajudou a atravessar a pandemia com mais saúde e bem-estar.

Se antes da pandemia, cerca de 70% das crianças tinham a oportunidade de brincar ao ar livre até uma vez por semana, esse número cai para 45%, com efeitos diretos sobre os pequenos. 81% das famílias percebeu efeitos positivos do contato com a natureza para que as crianças passassem pela pandemia com mais saúde e bem-estar.

A Campanha É hora de Natureza também publicou um Manifesto pela pelo contato das crianças com a natureza, áreas de lazer verdes e que promovam o desenvolvimento integral dos pequenos, a saúde, o bem-estar e a vida comunitária.

Veja mais detalhes da pesquisa e acesse aos dados completos.

É Hora de Natureza

Acreditamos que É hora de Natureza porque:

É na Natureza – um remédio sem efeitos colaterais – que poderemos contribuir para a recuperação da saúde e bem estar das crianças e adolescentes que já estavam confinados, sobretudo nas grandes cidades.

É na Natureza e a céu aberto que o brincar livre, principal forma de expressão das crianças, pode acontecer sem pressões consumistas, fomentando a criatividade, a iniciativa, a autoconfiança, a capacidade de escolha e de decisão.

É na Natureza que podemos amenizar as consequências do sedentarismo e da obesidade infantil, incluindo seus desdobramentos, como baixa motricidade – falta de equilíbrio, agilidade e habilidade física – e retrocessos nas expressões oral e corporal.

É na Natureza que temos grandes chances de diminuir o estresse, prevenir problemas como depressão e ansiedade, melhorar a qualidade do sono e da visão, além do medo do contato social, e organizar a retomada da socialização e da valorização da vida.

É na Natureza que o desemparedamento da infância nas escolas se dá em sua maior potência, por meio de aulas, atividades e brincadeiras ao ar livre, nos espaços abertos das escolas ou em territórios educativos como praças, parques e ruas.

É na Natureza que fortalecemos e valorizamos as áreas verdes públicas como lugares de convívio, saúde e bem estar e fomentamos o acesso a elas e a todos os seus benefícios para toda a população.

É na Natureza que a participação social de crianças, adolescentes e jovens ganha força na definição do planejamento urbano de espaços de circulação e permanência como modo de cidadania ativa.

É na Natureza que podemos contrabalançar os impactos da exposição à tecnologia na vida de crianças e adolescentes, tão amplificados durante a pandemia.

É na Natureza que pulsa o alerta de que precisamos incluir o valor real dos serviços ecossistêmicos nos planos de reestruturação econômica pós-pandemia, estabelecer padrões de produção e consumo que respeitem os recursos finitos do planeta e respondam à emergência climática.

É na Natureza que a criança desenvolve afinidade a ela, aprecia e zela pelo mundo à sua volta porque o respeita e o reconhece como seu ambiente de pertencimento.

 

Campanha #LivreParaBrincarLaFora torna a poluição do ar visível com uma grande bolha cinza

A poluição do ar é a segunda maior ameaça à saúde pública após a Covid-19. Trata-se de um problema global que afeta em especial as crianças: 93% delas respiram ar com níveis de poluição acima do recomendado.

Em comparação aos adultos, crianças inalam até 50% a mais de ar considerando seu tamanho e peso, o que aumenta significativamente a dose de poluição respirada. A ingestão desses gases poluentes, todos os dias, também causa danos ao desenvolvimento físico e cognitivo ao longo da vida.

Pequeno homem-aranha em contato com a bolha cinza da campanha #LivreParaBrincarLaFora em Fortaleza (Crédito: Felipe Cardoso/Escola de Notícias)

Diante deste cenário, a campanha global #LivreParaBrincarLaFora (originalmente Free To Play Outside) pretende tornar visível a poluição do ar e os impactos negativos na saúde das crianças e do planeta. A iniciativa foi idealizada pelo programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, em parceria com o Parents For Future, movimento de famílias que apoiam os jovens nas suas reivindicações para conter a crise climática, e apoiada pela Fundação Bernard van Leer.

“Não existe vacina para evitar os problemas decorrentes da poluição do ar, como parto prematuro, baixo peso ao nascer, asma, complicações pulmonares e problemas no desenvolvimento físico e cognitivo. A solução está em pararmos o problema na fonte, ou seja, nos escapamentos e nas chaminés entre outras queimas, de onde saem a maioria desses poluentes”, alerta JP Amaral, coordenador do programa Criança e Natureza do Instituto Alana.

A jornada da grande bolha cinza começou em São Paulo e desde então já viajou para três outras cidades parceiras da Urban95 em todo o Brasil.

Boa Vista (RR)

Em Boa Vista, a visita da bolha cinza foi combinada com uma atividade de plantio de árvores para crianças. A atividade foi apoiada pelo Família que Acolhe, programa que atende crianças e famílias desde o nascimento até os seis anos de idade, por meio do acesso integrado aos serviços de saúde, educação e desenvolvimento social. As crianças que participaram do plantio terão uma placa com seu nome registrado na árvore.

Fortaleza (CE)

Em Fortaleza, a visita da bolha marcou o lançamento de um microparque e também o anúncio que a cidade vai desenvolver um Marco Regulatório para o Monitoramento da Qualidade do Ar na cidade com apoio da Parceria por Cidades Saudáveis, da Bloomberg Philanthropies. A iniciativa, que tem colaboração da ONU e da Vital Strategies, contempla um apoio de US$ 75 mil para o planejamento e execução do projeto.

Niterói (RJ)

Em Niterói, a bolha fez parte de um evento na Praia de Icaraí para conscientizar sobre como o trânsito contribui para a poluição do ar da cidade e promover alternativas como o ciclismo. O evento gerou grande interesse, com muitas crianças e famílias interagindo com a bolha e tirando fotos.

Assista ao vídeo em que JP Amaral explica sobre a campanha:

Livros na primeira infância

Estudos já comprovaram que a leitura desde a gestação pode trazer inúmeros benefícios para o desenvolvimento dos bebês, que, mesmo não compreendendo os termos, aprendem a captar a voz dos pais e cuidadores, estimulando o aprendizado e a formação de vínculos. Assim como o cantar, ao contar histórias para os bebês e crianças pequenas, estamos apresentando novas possibilidades de linguagem, interação e criatividade. A leitura na infância também se relaciona com a continuidade desse hábito na vida adulta, com benefícios diversos para o desenvolvimento social dos indivíduos. Continue reading

A importância do desenvolvimento na primeira infância

O investimento e o cuidado com o desenvolvimento da primeira infância, desde a gestação e, especialmente, nos três primeiros anos de vida, está diretamente relacionado à construção de uma sociedade mais próspera. 1 milhão de sinapses se formam por segundo no cérebro de uma criança pequena. Isso significa que os estímulos recebidos durante essa fase da vida são absorvidos e contribuem para o desenvolvimento físico, intelectual e psicossocial da criança, o que pode colaborar para um adulto com capacidade de conduzir com autonomia a sua vida. Continue reading

Brasileia (AC) dá primeiros para Construção do Plano Municipal pela Primeira Infância

A Prefeitura de Brasileia (AC), concluiu a oficina “Construção do Plano Municipal pela Primeira Infância”, uma parceria da cidade com o Projeto Planos Primeira Infância, uma parceria do Instituto da Infância e Rede Urban95.

A atividade reuniu técnicos das secretarias municipais de Assistência Social, Saúde, Educação, Planejamento, Cultura, Conselho Tutelar, Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente, todos motivados pelo desejo de beneficiar as crianças brasileenses de idades entre 0 e 6 anos.

Uma das missões do grupo de trabalho foi revisar os eixos estratégicos constantes no texto que o município concebeu em 2018 como proposta de PMPI.  “Para que a gente possa sonhar com um futuro melhor, nós temos que parar, sentar, planejar, elaborar os nossos projetos e executar”, afirmou prefeita Fernanda Hassem.

Próximos passos

As próximas ações incluem sistematizar o conteúdo produzido na oficina para validação do Comitê Municipal Intersetorial.

Em seguida, os textos serão submetidos à aprovação dos gestores de cada pasta da administração. No início de 2022, haverá uma escuta de crianças, passo fundamental para garantir que o Plano atenda às expectativas e anseios do público que se propõe a beneficiar.

Após a prefeita validar as ações finais propostas pelo Comitê, será iniciado o trabalho de redação do texto final do Plano, seguido da articulação do Comitê junto ao Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente e à Câmara de Vereadores para aprová-lo. Por fim, a meta é chegar à homologação do Plano Municipal pela Primeira Infância de Brasileia em forma de lei em 2022.

Niterói (RJ) ganha primeiro parque naturalizado como parte do projeto Rotas Caminháveis

Como seriam nossas cidades se fossem pensadas para atender a todos os moradores de todas as idades? Teriam rampas e calçadas largas? Ciclovias para facilitar os deslocamentos? Áreas verdes e lazer em todos os bairros?

“Entre várias ideias, a presença de ambientes naturais e áreas verdes é consenso entre especialistas quando se trata de impactos ambientais e sociais positivos para todos, especialmente para aqueles que vivem boa parte do tempo entre o asfalto e o concreto dos grandes centros urbanos. Mais ainda para as crianças que vivem nessas cidades”, aponta a consultoria Ciranda da Vida, responsável pela implementação dos parques naturais da cidade de Niterói (RJ).

Crianças na inauguração da Rotas Caminhaǘeis do Barreto (Crédito: Felipe Cardoso/Urban95 Brasil)

Os parques urbanos têm se mostrado verdadeiros respiros naturais no cotidiano das grandes cidades, enquanto os microparques são soluções interessantes para incrementar a vitalidade dos bairros e facilitar o acesso de famílias e crianças. Usando troncos, galhos e a própria topografia dos terrenos, esse conceito cria espaços de convívio, aprendizado e brincadeiras, além de ser uma forma simples e barata de ampliar a rede de áreas verdes urbanas.

O Parque Naturalizado no bairro do Barreto, na zona norte da cidade, surge no contexto do programa Rotas Caminháveis para Primeira Infância, um projeto intersecretarial que pensa a criação de trajetos lúdicos e interativos para proporcionar um caminhar agradável e seguro para as crianças e famílias.

A escolha da área levou em consideração a presença de escolas, creches e a proximidade com o Parque Municipal Monteiro Lobato, conhecido como o Horto do Barreto, justificando a grande circulação de crianças. O traçado considera a caminhabilidade e segurança de pessoas com mobilidade reduzida e ciclistas, além de promover uma caminhabilidade mais agradável e lúdica para as crianças e seus cuidadores.

Crianças participam de oficina de Educação para o Trânsito durante implementação do Rotas Caminháveis do Barreto (Crédito: Felipe Cardoso/Urban95 Brasil)

Dessa forma, o programa fomenta a adoção de uma vida comunitária animada pela presença da infância. “É desejável promover sentimentos de memória com o espaço, como forma de envolvimento das crianças ao bairro e do bairro às crianças”, explica a Ciranda da Vida, parceiro da Urban95 na implementação do projeto.

A promoção da segurança de forma ampla é pensada pelo programa de forma intersetorial, envolvendo diferentes instâncias do poder municipal e atores do território.  A praça Flávio Palmier conta com um bosque, e a presença das árvores contribuiu ainda mais para que este local fosse escolhido para ser o primeiro Parque Naturalizado da cidade.

Entre os meses de novembro e dezembro de 2021, o parque naturalizado foi construído com oficinas, rodas de brincadeiras, planejamento coletivo com moradores, contribuição das crianças e até contação de histórias.

Confira nas imagens a instalação do brinquedo “trepatocos”, construção de jogos no piso utilizando caminhos de bolachas de madeira,o brinquedo de aro de cipó, Instalação de troncos para subir, com agarras de escalada. Também houve plantio de mudas de ervas com crianças e famílias da comunidade e equipes da prefeitura.

Prefeitura de Brasileia recebe equipe Urban95 para planejar novas ações voltadas à primeira infância na cidade

A Urban95 Brasil marcou presença na cidade de Brasileia durante esta semana. Entre os dias 22 e 24 de novembro, ministraram oficinas para a equipe da prefeitura a assessora de projetos do Instituto Cidades Sustentáveis, Carol da Terza, a gerente do Projeto Planos Primeira Infância, do Instituto da Infância (Ifan), Neilza Buarque, e o coordenador do instituto, Fellipe Dias. As oficinas pela primeira infância aconteceram no Centro de Convivência do Idoso de Brasileia e foram encerradas com a entrega de certificados para todos.

Diversas secretarias estiveram nos encontros, além de participantes do Comitê Intersetorial da Primeira Infância, estabelecido em 2020 na cidade. A prefeita Fernanda Hassem acompanhou todas as atividades, assim como membros do Conselho Tutelar e do Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente. O encontro serviu como oportunidade de troca de experiências e boas práticas entre todos os agentes locais engajados na pauta da primeira infância.

Primeira Infância - Brasiléia

Servidores e equipes participaram de encontros de formação e planejamento da cidade para a primeira infância.

A prefeita reforçou a importância do evento para o planejamento da cidade em ações pela primeira infância. “Nossa equipe está muito determinada a fazer com que Brasileia seja uma cidade que protege e cuida de suas crianças. Agradecemos todo carinho da Rede com a nossa cidade”, afirmou.

Ao final das atividades, a equipe técnica da Rede Urban95 dedicou-se ao mapeamento de espaços e equipamentos públicos com potencial de receberem intervenções com o olhar dos bebês, crianças pequenas e cuidadores. Esses espaços são postos de saúde, escolas, creches, instituições de assistência e outros potenciais do espaço urbano, como praças e parques. Com essas informações em mãos, a cidade ganha uma ferramenta para olhar seu território de forma mais integrada e pensar em novas intervenções que tenham como foco as prioridades de bebês, crianças pequenas e cuidadores.

A semana foi encerrada com encontros individuais com o secretariado da cidade e uma reunião de alinhamento com a prefeita, em que foram apresentados os resultados do trabalho da equipe técnica e sugestões para a atualização do Plano Municipal pela Primeira Infância (PMPI) de Brasileia. O Plano contará com a participação de vereadores, equipes da prefeitura e sociedade civil.

Sobre o Projeto Planos Primeira Infância

Parceria do Instituto da Infância com a Fundação Bernard van Leer e Instituto Cidades Sustentáveis, o Projeto Planos Primeira Infância tem como objetivo qualificar a governança municipal da primeira infância em dez municípios que fazem parte da Rede Urban95. Desenvolver Planos Municipais pela Primeira Infância (PMPI) é uma das estratégias para garantir e incluir na agenda da gestão pública tais contribuições à população dessa faixa etária da infância.

Comunidade de São José, no Caramujo em Niterói (RJ) recebe pinturas interativas em espaços públicos

Em março de 2020, a cidade de Niterói (RJ) foi escolhida para compor a Rede Urban95 e participou da prototipação da campanha “Pé de Infância”, contribuindo com o processo de escutas que subsidiaram o desenvolvimento da proposta. Recentemente, com o acúmulo deste conhecimento, a cidade iniciou um processo de pinturas na Comunidade de São José, no Caramujo, região norte, em espaços do bairro que estavam inativos.

“Quando visitamos o local, vimos crianças ociosas sentadas nas proximidades. Comecei então a pensar em algo para colocar ali”, explica Giselle Brand, coordenadora geral do PRODUIS.(Programa de Desenvolvimento Urbano e Inclusão Social), um programa cujos principais objetivos são a melhoria das condições de urbanização e saneamento ambiental de bairros de baixa renda.

O processo de aplicação do Pé de infância se deu em algumas etapas. Depois de escolher as peças na caixa de ferramentas, a equipe do PRODIUS digitalizou as imagens para vetorizar e escalonar as peças nas aplicações onde seriam feitos os projetos.

“Medimos o local e escalonamos as peças para aplicação nos arquivos digitais em escala real. Foram feitas impressões para que os pintores utilizassem como moldes, garantindo a fidelidade dos projetos. Marcados os esboços, os pintores misturam as tintas especiais e foram produzindo os tons próximos às peças da caixa de ferramenta”, relata Giselle.

Para as letras das escadas foram feitos moldes em cartolina aplicadas como uma pintura stencil. “Nas letras e detalhes mais artísticos contratamos um pintor com formação mais artística para arremates finais”, explica.

Além disso, todos os brinquedos da praça da Comunidade de São José foram construídos nas medidas do conceito Urban95, que chama a atenção das pessoas para pensarem e projetarem cidades pela perspectiva de quem tem apenas 95 cm de altura, tamanho médio de uma criança por volta de três anos de idade.

Confira as imagens:

 

A relação entre o Plano Nacional Primeira Infância e as cidades

“Os municípios vão ter outra fisionomia a partir do momento em que decidem dizer: as crianças são cidadãs e têm direito à vida plena na cidade como qualquer outra pessoa”. Foi assim que o professor Vital Didonet começou sua fala para as novas cidades Urban95 na Oficina sobre o Plano Nacional Primeira Infância.

O encontro online aconteceu no dia 16 de novembro de 2021 e trouxe referências para a elaboração e implementação do Plano Municipal pela Primeira Infância. As 11 cidades que entraram na iniciativa este ano estão fazendo esse processo com apoio e acompanhamento do CECIP Centro de Criação de Imagem Popular.

A representante da Fundação Bernard Van Leer, Claudia Vidigal, falou sobre os avanços das cidades nos últimos meses. “Esse processo de parceria com a rede Urban95 não só dá os frutos que a gente busca estrategicamente, nos documentos e nos planos municipais pela primeira infância, mas também na mudança da realidade que acontece no território para cada uma das crianças”.

Em seguida, a coordenadora da Urban95 no CECIP, Isabella Gregory, contou que as concepções de infância têm sido discutidas nos encontros com os comitês intersetoriais de cada município. Uma das propostas da oficina foi aprofundar a visão da criança como sujeito de direitos e ser integral.

Referência na articulação de políticas públicas para a primeira infância, Vital é especialista em Educação Infantil, coordenador de participação social na elaboração do projeto de lei do Marco Legal da Primeira Infância e assessor legislativo da Rede Nacional Primeira Infância – RNPI.

Imagem do professor Vital Didonet, que fala sobre a relação entre o Plano Nacional Primeira Infância e as cidades

Professor Vital Didonet em evento da RNPI (Crédito: Isabella Gregory)

A visão das infâncias nos planos de ação

Na oficina, o professor explicou a relação entre concepções de infância, leis, políticas públicas e planos de ações. Para isso, traçou a trajetória dos principais documentos e marcos legais sobre a criança, pontuando diferenças e convergências.

“A criança é pessoa, é digna, é sujeito de direitos. O direito à educação é um direito dela, não é uma concessão da sociedade, não é um benefício oferecido, uma caridade que se dá. É um direito inalienável. Porque a criança é cidadã.”

– Vital Didonet, especialista em Educação Infantil e assessor legislativo da Rede Nacional Primeira Infância – RNPI

Essa visão integral da criança serviu de base para a criação de documentos e marcos legais, entre eles o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Marco Legal da Primeira Infância. “Essas definições legais geraram políticas públicas, que foram para os planos de ação: nacional, estaduais e municipais. Então é preciso que a gente tenha na nossa cabeça concepções claras do que é ser criança.”

Os planos, segundo o especialista, organizam, instrumentalizam e definem o que será feito, onde, para quem, quando e por que meios. “Sem planos a gente fica atendendo demandas emergenciais. O plano se antecipa às demandas, porque tem um olhar abrangente para toda a realidade complexa da sociedade”.

PMPI, um plano intersetorial 

Nas últimas décadas, o Brasil teve grandes avanços na construção de planos de ação a favor da infância e da primeira infância. Nesse sentido, o Plano Nacional Primeira Infância (PNPI) veio para integrar os demais planos. “Esses planos não dialogavam entre si e, no entanto, a criança estava presente em todos eles. Para superar essa fragmentação, construímos um plano integral e integrado, que atende todos os direitos da criança de forma articulada”.

Por isso, o Plano Municipal pela Primeira Infância deve ser elaborado a partir das diretrizes do plano nacional, levando em conta a visão integral da criança e também a participação de diferentes atores. “Cada um vai se certificar do seu papel. O responsável pelo trânsito, ele vai pensar em passagens para pedestres, em tornar o ônibus acessível para a mãe com bebê de colo. Já o responsável pelo planejamento urbano vai pensar na iluminação pública, no esgoto que corre pela rua e prejudica a saúde da criança”.

Quer saber mais? Confira o vídeo completo da Oficina sobre o Plano Nacional Primeira Infância:

 

Município de Pelotas (RS) apresenta Diagnóstico da Primeira Infância com vistas à construção de seu Plano Municipal pela Primeira Infância

Na última quinta-feira (18), o município de Pelotas (RS) apresentou seu Diagnóstico da Primeira Infância, etapa-base da caminhada pela construção do Plano Municipal pela Primeira Infância. Apresentado em seminário online, o documento foi desenvolvido pelo Comitê Municipal Intersetorial da Primeira Infância de Pelotas em parceria com o Instituto da Infância – IFAN, por meio do Projeto Planos Primeira Infância (realização do IFAN com a Fundação Bernard van Leer e Instituto Cidades Sustentáveis).

Prefeita de Pelotas durante apresentação online do Diagnóstico da Primeira Infância

O estudo reúne números em indicadores setoriais que se relacionam direta ou indiretamente com a realidade das crianças de 0 a 6 anos da cidade de Pelotas. Os dados nas áreas de saúde, educação infantil, assistência social e outras permitirão ao Comitê Intersetorial identificar os desafios que se impõem à gestão pública no tocante à qualidade de serviços que a mesma oferece à população de primeira infância.

A exposição do Diagnóstico da Primeira Infância foi realizada por representantes das diversas secretarias do município e contou com a audiência de membros do Ministério Público; do presidente da Câmara de Vereadores da cidade, Cristiano Silva; do secretário estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura, Luiz Henrique Viana, e da prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas. A gestora do executivo agradeceu aos parceiros da Rede Urban95 e reafirmou o Diagnóstico como passo fundamental no desenvolvimento de políticas em benefício da primeira infância do município. “Nós precisamos saber onde estamos para poder identificar onde queremos chegar e por que meios queremos chegar. Por isso nós precisamos do diagnóstico e precisamos de todos envolvidos nisso. Vocês veem aqui secretários e equipes de praticamente todas as secretarias da Prefeitura porque essa proposta de governo de cuidar e proteger a infância vai ser uma política transversal que vai envolver a todos”, afirmou a prefeita.

A leitura dos dados sócio-demográficos compilados no documento foi realizada por Jacqueline Dutra, representante da Secretaria Municipal de Saúde e responsável por coordenar as atividades do Projeto Planos Primeira Infância com o Comitê Intersetorial de Pelotas. A técnica agradeceu ao Instituto da Infância pelo suporte e orientação que este vem prestando ao grupo de técnicos e aos colegas de Comitê pela parceria e dedicação empenhadas na elaboração do Diagnóstico.

Neilza Buarque, consultora do Projeto Planos Primeira Infância, comentou a apresentação da equipe e lembrou a próxima fase de trabalho na construção do Plano Municipal pela Primeira Infância de Pelotas: a partir dos dados reunidos, identificar os desafios para a primeira infância da cidade e traçar estratégias e ações que possam vir a solucioná-los ao longo dos próximos dez anos, tempo de vigência do PMPI.

Caruaru (PE) inaugura parque naturalizado no Monte Bom Jesus

A cidade de Caruaru (PE) inaugurou em novembro o segundo parque naturalizado com o objetivo promover o contato das crianças com a natureza e, ao mesmo tempo, tornar a rota de casa para a escola mais segura, iluminada, sinalizada e divertida.

O território escolhido para ser o parque naturalizado piloto na cidade de Caruaru foi o Monte Bom Jesus, inserido no coração da cidade e reconhecido espaço de visitação aos finais de semana por moradores e turistas.

As crianças de Bom Jesus brincando no novo parque naturalizado do bairro

“As paisagens naturais para o brincar ajudam as cidades, já que têm um custo menor para serem implantadas porque reaproveitam material e ampliam as áreas verdes. Isso propicia vários serviços ambientais, como solo permeável, para evitar enchentes, bem como vegetação para regular a temperatura e para purificar o ar. Podemos dizer que são uma solução baseada em natureza ideal para as infâncias”, explicou o secretário de Planejamento, Gestão e Orçamento, Swami Lima em entrevista ao portal G1.

O Monte Bom Jesus é uma elevação geográfica, com 88 metros acima do nível médio da cidade de Caruaru e com 630 metros de altitude, o que garante uma visibilidade considerável a partir de muitos locais do município, assim como, propicia uma bela vista panorâmica da cidade.

“O Parque Naturalizado do Monte Bom Jesus surge como uma oportunidade única de integrar o novo Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) ao espaço público e à comunidade existente, permitindo que as aulas possam acontecer ao ar livre, valorizando e ressignificando o processo de aprendizado, aproximando as crianças da natureza e da morfologia muito particular desse território”, aponta a consultoria Ciranda da Vida, responsável pela implementação dos parques naturais da cidade de Niterói (RJ).

A prefeitura destaca também que a escolha teve ligação direta com a própria configuração do espaço escolar e da possibilidade de desenvolver o conceito do “Desemparedamento da Infância” e da aplicação da Caixa de Ferramentas do Programa Pé de Infância, que promove a transformação dos ambientes escolares por meio de brincadeiras, pinturas e mensagens lúdicas, de modo a favorecer um melhor ambiente para o ensino e aprendizagem e do próprio contexto urbanístico da comunidade.

Parque Naturalizado Bom Jesus é inaugurado

O Parque Naturalizado do Monte Bom Jesus também foi escolhido porque existia a disponibilidade de terreno adjacentes do CMEI e quadra da escola.

O processo de  construção do parque contou com formação contínua dos representantes das equipes da prefeitura, escuta das crianças a partir de rodas de brincadeiras brasileiras, roda de conversas e recepção de famílias em conjunto com as educadoras do CMEI e realização de piquenique com a comunidade em parceria com a CMEI e a prefeitura. Para as crianças, o primeiro parque naturalizado de Caruaru dispõe de escultura escalável com troncos de algarobeira e esculturas em madeira e barro.

Confira mais imagens no instagram.

Veja algumas atividades para a primeira infância que ajudam no desenvolvimento infantil

Os primeiros anos são fundamentais na criação de uma base que irá impactar a vida adulta e o desenvolvimento infantil, sobretudo na primeira infância, o qual depende de estímulos. Milhares de informações são absorvidas o tempo inteiro no cérebro de um bebê e irão impulsionar a evolução das habilidades motoras e emocionais, do controle de comportamento, lógica, linguagem e memória. Continue reading

Fortaleza retoma Leitura na Praça por toda a cidade

Sabendo da importância da leitura como estímulo ao desenvolvimento integral na primeira infância, a Prefeitura de Fortaleza, cidade que integra a Rede Urban95, desenvolve desde 2019 o projeto Leitura na Praça, que oferta livros infantis, atividades de leitura e contação de histórias em espaços públicos da capital cearense. O programa estava paralisado em função da pandemia, mas acaba de ser retomado e já empolga crianças de várias idades. A intenção é passar dos 50 quiosques de leitura por todos os bairros.

Fortaleza - Leitura na Praça

Projeto de incentivo à leitura é retomado em Fortaleza (Crédito: Prefeitura de Fortaleza)

Quiosques metálicos são instalados em praças e parques, como uma espécie de biblioteca móvel, e recebem um kit com 30 títulos, sendo 12 exemplares de cada, totalizando 360 livros em cada stand. O acervo abrange a faixa etária de 0 a 12 anos.

A instalação dos stands de leitura conta com a participação direta da comunidade, que recebe capacitações para a autogestão dos espaços. O responsável atua de forma voluntária, firmando um Termo de Compromisso com a Prefeitura de Fortaleza para definir o horário de funcionamento e o sistema de organização daquele espaço de leitura.

O programa Leitura na Praça segue orientações do Plano Municipal pela Primeira Infância de Fortaleza (PMPIF), criado pela Lei n.º 10.221, de 13 de junho de 2014. Como forma de integrar as políticas municipais de cuidado e promoção da cidadania entre crianças de 0 a 6 anos, o Plano indica um olhar para a cidade pela perspectiva das crianças, e o incentivo à leitura em espaços públicos é um bom exemplo de ação concreta para os pequenos.

Com apoio da Rede Urban95 Brasil, a cidade também está realizando intervenções do projeto Pé de Infância nos espaços onde o Leitura na Praça acontece, integrando cores, formas e músicas ao espaço urbano e arredores. Ao lado de cada quiosque de leitura, a prefeitura pretende realizar intervenções lúdicas e que estimulem o acesso à cidade e a circulação de bebês, crianças e cuidadores.

Conheça também: Instituto Cidades Fortaleza

O jogo como ferramenta: boas práticas urbanísticas para a primeira infância brasileira

Respondendo a pergunta “Se você pudesse vivenciar uma cidade a partir da altura de uma criança de três anos, o que mudaria?”, o grupo Lila Coletiva cria materiais e projetos que propõem estratégias e ferramentas direcionadas ao desenvolvimento de desenhos urbanos e ações comunitárias para a primeira infância.

O “Caderno de Ferramentas: soluções para de primeira infância em espaços públicos e modos ativos de deslocamento em Aracaju”, é resultado do chamamento feito em fevereiro de 2021 pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e pela Fundação Bernard van Leer. A metodologia serviu de base para outra publicação que acaba de surgir: “O Jogo como ferramenta: boas práticas urbanísticas para a primeira infância brasileira”. Ele nasce do desejo de aproximar tanto a administração pública quanto a sociedade civil dos desafios que enfrentamos nas cidades de maneira lúdica e de fácil entendimento.

A proposta de jogo parte de soluções de desenho urbano baseadas em normas e conhecimento técnico, experiências empíricas vivenciadas no contexto brasileiro e das diretivas do Manifesto Urban 95 para a Primeira Infância, acreditando que a reunião desses diferentes eixos contribuirá para o estabelecimento de soluções que guiarão decisões próximas às diferentes realidades brasileiras.

“Um jogo pode ser feito com cartas, dados coletados, estratégias, decisões, associações, tabuleiros, peças, corpo, entre outros elementos, mas ao ser codificado por um conjunto de regras, adquire um modo operacional de ação, um objetivo a cumprir e um tipo de relação entre os jogadores. São práticas especializadas que podem ser conectadas e realizadas em uma mesa, em uma casa ou em uma calçada”, exemplifica o grupo na apresentação.

A ideia de criar um jogo veio com a proposta de construir uma ferramenta de linguagem de compreensão universal em que acadêmicos, técnicos, gestores públicos e a população consigam dialogar com o mesmo instrumento.

“O jogo surge como um artefato que possibilita compartilhar os variados desejos, anseios e necessidades para a cidade, associando-os a possíveis soluções. Não existe vencedor!”, afirmam. A ação do jogo é ativar diversos sujeitos a construírem, durante a associação de cartas, possibilidades de cenários urbanos.

Em um evento online no canal do IAB, o arquiteto Igor Miranda contou sobre o processo de trabalho e apresentou o material que estará disponível para download em breve.

Assista ao vídeo:

A Coletiva Lilla e a busca por territórios inclusivos

Fundada em 2020, a Lila Coletiva é formada por uma equipe multidisciplinar que conta com vários profissionais do nordeste brasileiro.

A premissa do grupo é aproximar a sociedade civil e a gestão pública das questões urbanas, facilitando seu entendimento, ampliando o debate e contribuindo para a formação de territórios cada vez mais inclusivos.

Crato (CE) realiza Planejamento Estratégico do Plano Municipal pela Primeira Infância

O Comitê Municipal Intersetorial pela Primeira Infância do Crato (CE), cidade que integra a Rede Urban95, está a poucos passos de consolidar seu olhar sobre o que deseja para as crianças de 0 a 6 anos nos próximos dez anos.

Mais de 30 participantes, entre técnicos de secretarias municipais e representantes de organizações da sociedade civil, estiveram presentes no Seminário de Planejamento Estratégico do Plano Municipal pela Primeira Infância (PMPI) do Crato nos dias 4 e 5 de novembro.

Os servidores da cultura, educação, saúde, assistência social, desenvolvimento agrário, conselho tutelar e de outros setores da administração municipal foram convidados a pensar sobre os desafios que a gestão pública precisa enfrentar para garantir mais qualidade à sua primeira infância.

O Comitê traçou um plano de ação para inúmeros desafios que o município precisa superar, como ampliar o número de vagas na Educação Infantil, melhorar a mobilidade das crianças da zona rural, garantir maior cobertura vacinal, combater a desnutrição e reduzir a taxa de mortalidade infantil

Em declaração ao Portal do Ifan (Instituto da Infância), Ticiana Cândido, secretária de Desenvolvimento Social do Crato, o seminário proporcionou dias muito intensos, de muito aprendizado coletivo. “Contamos com a mediação do Ifan [Instituto da Infância], que vem nos ajudando como um diferencial na construção do nosso Plano Municipal pela Primeira Infância. Esses dois dias deram uma alavancada na construção do nosso Plano”, afirma.

Valorização da Primeira Infância

Não é a primeira vez que o município do Crato se propõe a pensar em uma legislação em prol da primeira infância. Em 2016, por incentivo do Selo Unicef, uma comissão intersetorial formada majoritariamente por entidades da sociedade civil chegou a elaborar um PMPI e aprová-lo no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA).

O servidor Pedro Lucas Juvino, que atua na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS) como mobilizador de adolescentes do NUCA (Núcleo de Cidadania dos Adolescentes do Crato, iniciativa do Unicef) e integrante do Comitê Intersetorial pela Primeira Infância do município, conta ter participado do processo de criação daquela versão do Plano.

Desta vez, ele espera que as ações previstas pelo Plano não fiquem somente “no papel”. “Me sinto extremamente honrado em participar novamente dessa construção e espero que a gente também consiga executá-la, que o Plano não fique como o anterior, apenas na letra da lei”, compartilhou ao Portal do Ifan.

Com informações do portal Instituto da Infância